1.31.2012

Um divã em Nova Iorque

























Quem está sentado no "divã" do psicólogo Paul Weston (o irlandês Gabriel Byrne) que não o próprio? Aquilo que no final da primeira temporada de In Treatment se tornara óbvio – não fugindo ao vector dominante da ficção televisiva norte-americana recente (recente mas em sentido amplo), esta é uma série que avança "descascando" a psicologia do protagonista, para dar a observar a vulnerabilidade que existe além da confiança e carisma aparentes –, fica de novo claro nos primeiros instantes da época seguinte, quando a Paul é anunciado, por parte do pai de um dos seus pacientes, que este lhe movera um processo judicial por negligência na terapia: que terá facilitado um acto de suicídio que talvez pudesse ser evitado.
Paul encontra-se pelo todo numa situação de grande fragilidade. Tem 53 anos, está divorciado e distante dos filhos e da mulher que continuam em Baltimore, tendo-se mudado para Brooklyn onde vive e recebe os pacientes. De cada vez que novo caso se lhe apresenta, o espectador deixa de se fixar sobretudo na situação em análise, antes na possibilidade desta reflectir aspectos da crise existencial do terapeuta. É como se a análise que Paul faz aos outros, e a que também ele de novo se sujeita às sextas-feiras – a série volta a organizar-se em blocos de cinco episódios, que correspondem aos dias da semana – com a supervisora Gina (Dianne Wiest, actriz que caso fosse inglesa de origem há muito lhe teria sido aplicado o prefixo real de Dame), fosse por nós exercida constantemente sobre ele.
O papel activo que In Treatment suscita da parte do espectador não deixa de ser tão mais surpreendente quanto se mantém a simplicidade do dispositivo original. É uma série onde apenas se conversa e isso é fascinante e raro.

Arquivo do blogue