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As minhas mãos debatiam-se à vez com a aspereza das pegas enrodilhadas do saco carregado até ao bordo de discos e filmes. Enquanto caminhava lembrei-me que um dia, anos atrás, quando acompanhava um amigo em trabalhos de jardinagem, a dona de uma das casas, conhecida de ambos, pessoa dos livros e de esquerda, que convida para a mesa o operariado, se voltou para mim, estando eu debruçado sobre um canteiro que limpava de daninhas com as mãos apenas, e disse: "Ó senhor jardineiro, conte-me lá, você percebe mais de jardinagem ou de literatura?" Não afinei com a ironia, não havia motivos para tal, mas senti que alguma coisa em mim, apesar do empenho, o meu ar talvez, fazia diminuir a credibilidade do trabalho manual. Ao olhar de outros e à minha própria sensibilidade as mãos que tenho entranham que as suje ou agrida de outra forma. Talvez não sejam mãos dotadas para o trabalho. Mãos feitas antes para o amor.