6.30.2011

Green minds prevail


















Priscilla por Josef Szabo (1969) *



























Ira Chernova por Stuart Mitchell (2011)

* imagem que uso pela 2ª vez neste blogue.

Parece fácil


























...
Men are so easy
Laugh if you want to
Once they decifer
They take you for life and
It's worth hanging on to
They tell you they love you
In ways that they can do
Men are so easy
Why does it need to be hard?
...
And show how you need them
Yes, men are so easy
Just love them and let them be free
It's not complicated
Men are so easy
Like me...

[12 Songs]

Louvor das mulheres sozinhas com dois filhos


























Que gostam de andar descalças pela casa.

[comecei a ver Weeds]

6.29.2011

Brisa da tarde







HOW COOL IS THIS

6.28.2011

O meu piu-piu

Karma to Boonmee


























A 24 de Julho, no Revolver Bar em Cacilhas, lembraremos anteriores noites de rock.

6.27.2011

À imagem de Deus


























Oguchi Onyewu (Oguchialu Chijioke Goma Lambu Onyewu). O nome dele significa "Deus trava as minhas batalhas".
Acredito que sim.

Janis o mito


























A sensação de se ser apanhado pela história fica evidente quando nos deparamos com um artista desaparecido que obriga a redimensionar a opinião que temos sobre uma porção considerável de outros que vieram depois. Comigo aconteceu com os Led Zeppelin, aconteceu com os Black Sabbath, aconteceu com os Pink Floyd, Johnny Cash, Serge Gainsbourg, aconteceu este fim-de-semana com Janis Joplin. Uma caixa de três CD's, Janis, começou a desvendar o seu alinhamento e o produto da audição não se fez demorar. Raros homens terão habitado as canções como Janis Joplin (entrega emocional que arrisca o histrionismo, façon Brel), e se pedirem o nome de outra mulher que nos contextos do blues e do rock se lhe compare, não me ocorre nenhuma. Antes talvez, se considerarmos Billie Holiday. Se o caso for o após nem vale a pena darmo-nos ao trabalho de considerar quem quer que seja. O que se escuta na voz de Janis Joplin não é nunca a proeza vocal circense, antes o caso excepcional da mulher que se impõe num território masculino por tradição, sem favor ou condescendência e dando a sensação de que ao fazê-lo o faz de modo total e genuíno. A diferença entre a fé e os mitos é que sendo ambos da ordem do inquestionável, a primeira é-o pelo lado do mistério ao passo que o segundo se afirma pela evidência.

Suck it and see



















Os quatro primeiros discos dos Arctic Monkeys sugerem um paralelismo com os quatro últimos dos Pulp. Podemos comparar tudo com tudo, mas é óbvio que se trata de diferentes essências para começar. Os Arctic Monkeys não voltaram a ser excitantes como nos tempos de Whatever People Say... (2006) e Favourite Worst Nightmare (2007), o que não implica que o seu pop rock tenha perdido qualidades: apenas se tornou mais cerebral e adulto, em contraste com o poder enérgico de efeito imediato que Humbug (2009) já não trouxe, até por ser o álbum dos Monkeys onde os temas mais se estendem e a densidade sonora é mais sensível.
Também os Pulp não voltaram às canções absurdamente contagiantes de His 'n' Hers (1994) e A Different Class (1995), o que de novo não quer dizer que tivessem perdido gás. Era sim um outro tipo de gás: menos inebriante talvez, mas que prendia por uma viscosidade de música e letras que estava no conceito (This is Hardcore, 1998). Isto para justificar que o novo Arctic Monkeys, Suck It And See, corresponderá ao derradeiro título da discografia dos Pulp, We Love Life (2001), cujas qualidades eram menos evidentes mais ainda nas primeiras audições, e que consequentemente foi recebido com um entusiasmo geral morno. Por paradoxal que possa parecer, os ganchos musicais dos Arctic Monkeys do presente pertencem à sua segunda pele, curtida pelas temperaturas quentes do deserto californiano.
Faça-se o seguinte exercício: dividir Suck It and See em três partes de quatro temas (o disco tem um total de doze). O bloco central, que se inicia com Don't Sit Down 'Cause I've Moved Your Chair (os Arctic Monkeys ao seu melhor nível de sempre) e acaba em Reckless Serenade, mesmo após escutas repetidas de todo o CD, é o que sempre se destaca. Dele faz ainda parte outra das melhores canções do disco, All My Own Stunts, onde participa Josh Homme (que produzira grande parte do anterior Humbug, figura maior do desert rock ou stoner rock da Califórnia), faltando apenas referir o segundo tema deste alinhamento que é Library Pictures. No resto do disco, composto pelos primeiro e terceiro grupo de quatro músicas, os Arctic Monkeys assumem com naturalidade a versão madura deles próprios. A escrita de canções é menos vistosa, rareiam os tais ganchos do rock em cenário californiano (Suck It and See foi gravado em Los Angeles), e o auditório juvenil corre riscos de aborrecimento. O que, tendo sido injusto para os Pulp, de novo o seria para os Arctic Monkeys.

6.24.2011

A fronteira do amanhecer


















Foto: Rich Lam/ Getty Images

Um romanesco que se renova.

Gira e sociável




















Laura Pleasants e uns tipos quaisquer.

Veneno cura II



6.21.2011

Uma noite de puro rock
























Há gente que espera por este concerto desde 1995. Para mim o tempo começou a contar há bem menos que isso.

ADENDA: Foi um concertão. Totalmente profissional. The raw and real deal.

A morte de um contemporâneo
















Acabo de saber, primeiro pelos blogues depois pelos jornais, da morte do Pedro Hestnes. Há um intervalo de oito anos entre nós, mas o cinema fez dele meu muito próximo contemporâneo. Mais do que isso, uma pessoa da minha exacta geração. O Pedro punha música nos bares que eu frequentava, e chegou a entrar num filme de escola do meu ano. Andava ali pelo Bairro Alto e a gente via-se, reconhecia-se, e cumprimentava-se. A última vez que o vi terá sido, como sempre, de passagem, há cerca de um ano. A sua morte é algo que sinto pela geração que partilhámos, mas acima de tudo pelos conhecidos que tivemos em comum. Há pelo menos um amigo entre eles, para quem o Pedro encarnou um tal de Xavier, e por ele sinto mais do que pelos outros.

O Rohmer de Seul


















O único filme do sul-coreano Hong Sang-soo que conhecia antes de ver Hahaha (2010) era Noite e Dia (2008), cuja acção se passa em grande parte nas ruas de Paris, o que reforçava a afinidade que senti entre o cinema de Sang-soo e os clássicos da Nova Vaga francesa, Éric Rohmer em particular. Rohmer vem de novo à baila, e de que maneira, em Hahaha, que parte de uma conversa de dois amigos – um deles com viagem marcada para o Canadá – que acompanha todos os episódios vistos a partir daí. Crónicas na primeira pessoa da vida amorosa dos protagonistas, que dão a ver os clichés e o seu fundo de verdade. Hahaha é um filme falsamente frívolo. É aliás das mais perspicazes análises das flutuações amorosas que o cinema recente nos mostrou. Há românticos fatalistas deprimidos, populistas sentimentais que aprendem (em "sonhos") a dizer o que pensam que as mulheres gostam de ouvir (o que resulta umas vezes, outras não, como tudo na vida), mulheres inseguras que precisam de ver verbalizado o que eles sentem por elas, e tudo filmado com salutar ligeireza e apurado sentido de observação. Éric Rohmer foi mestre supremo na arte de problematizar as relações entre homens e mulheres, mostrando-os, a eles e a elas, como seres indecisos esvoaçando por entre incertezas e uma necessidade de auto-afirmação. Faz bem ver filmes como os de Rohmer ou de Hong Sang-soo, até para perceber que muitas coisas acontecem por uma questão de sorte e oportunidade. Em circunstâncias diferentes as duas mesmas pessoas podem ficar indiferentes uma à outra, ou apaixonar-se perdidamente. É uma evidência, eu sei. Mas uma evidência que temos tendência a esquecer como quase tudo o que ouvimos numa boa conversa.

Hahaha passou ontem na Cinemateca, na abertura do ciclo Hong Sang-soo e o Cinema da República da Coreia (até dia 24).

6.20.2011

Mãe e filho













Não consigo separar a forma como nos vemos do modo como somos vistos pelos outros. Também por esse motivo considero que a maioridade cinematográfica de James Gary foi atingida logo na obra de estreia, Little Odessa (1994), e em particular na cena de reencontro e despedida entre Joshua (Tim Roth) e a sua mãe (Vanessa Redgrave), que tem um tumor no cérebro em fase terminal. Joshua fugira de casa na sequência de um crime e matar tornou-se o seu modo de vida. Todos o vêem como um assassino, incluindo elementos da própria família (o pai, a avó paterna). Mas para a mãe Joshua será sempre Joshua, e os derradeiros instantes que terão um para o outro, feitos de gestos que pretendem atenuar a separação forçada e a dor de um amor incondicional, são sublimes e filmados de forma sublime. Uma estreia importante que anunciava o grande cineasta de The Yards (1999), We Own the Night (2007) e Two Lovers (2008), de quem voltaremos a ouvir falar no próximo ano.

Sedução



Tudo é datado, ridículo, a não ser que estejamos de olhos fechados. E mesmo assim, há por aí muito surdo e são raros os sedutores; e mulheres que saibam deixar-se ou fingir-se seduzidas.

Outros tempos.

Herzog não explica tudo
















Inpossível não sentir o apelo à mistificação ou desmistificação de um objecto como Valhalla Rising (2009). O próprio realizador, o dinamarquês Nicolas Winding Refn, se encarrega de ser o primeiro a carregar esta aventura – a de um homem "sem nome" tornado escravo de um grupo de bárbaros que se distraem a vê-lo lutar com outros prisioneiros, que se libertará do cativeiro para ir juntar-se a um pequeno exército de vikings cristãos que vão a caminho de Jerusalém... – de um misticismo feito da valorização atribuída aos cenários naturais, da escassez de diálogos ou de qualquer outra contextualização, e de um trabalho com as imagens que resulta num hiper-materialismo hi-tech que sugere a fusão do Honra de Cavalaria de Albert Serra com um qualquer sucedâneo do Gladiador de Ridley Scott. Outra classificação possível é a de naturalismo gráfico.
















A dúvida estende-se para além do tempo que dura o filme. Existirá alguma coisa para lá da fachada do "thinking man's action movie" que estivemos a ver, ou por outro lado a tradução da linguagem estilizada de Winding Refn junto com a bolha temporal onde Valhalla Rising se desenrola (cheia de subjectivismos hieráticos e herméticos) uma vez perfurada fará com que o edifício vistoso e brutal se esboroe na sua insignificância última?
Antes de ambicionar pelas conclusões derradeiras, importa responder a algumas questões. Qual a história contada pelo filme de Nicolas Winding Refn? A de uma vingança dirigida à humanidade, representada aqui pelo seu lado obstinado, cruel e primitivo? Ou a da redenção impossível de um homem a que apenas resta a possibilidade de escolher o momento e o modo como vai morrer? Inclino-me mais para a segunda leitura, que se liga directamente com a jornada inglória dos cristãos, cujas debilidades físicas e mentais farão deles presa fácil para a tribo que à imagem da cruz de Cristo responde com armas de pau, pedra e osso.
















Valhalla Rising está dividido em seis capítulos, e é nos dois últimos onde se torna mais sensível a influência do Aguirre (1972) de Werner Herzog. A própria música concorre para as tomadas de vista que sugerem a alucinação que se apodera dos homens ao chegarem à terra nova, estranha e hostil, também figurada pelas formas como o espaço natural os vai marcando antes de os engolir: antes que venham a tornar-se silhuetas sem vida e quase imperceptíveis na paisagem. Quando Aguirre foi concretizado o cinema não dispunha das possibilidades do digital de que Winding Refn tira partido com um sentido visceral e poético. Existem vários momentos, nem todos dependendes das inserções vincadamente alegóricas, que fazem de Valhalla Rising o fragmento de uma época remota que nos chega mais como visão e menos como narrativa. O filme tem coisas bastante fortes, a começar pelo actor principal, Mads Mikkelsen (lembra Viggo Mortensen com a vantagem de ser para muitos um desconhecido), cuja presença assenta num total mutismo e numa fisicalidade exuberante, e que Winding Refn filma de perfil, em ângulos opostos, consoante quer dar a ver o homem (que morre como tal) ou o mito (que vivera enquanto tal).

6.17.2011

Castores não pagam bilhete
















É triste perceber que no dia de estreia, à meia-noite, nos melhores cinemas da capital, para ver um filme com Jodie Foster e Mel Gibson, não haveria ninguém na sala não fosse eu ter ido levando um amigo. Não tanto pelo filme em particular, inesperado "outing" cinematográfico da fantástica apesar de já entradota Jodie Foster, que tem oportunidade de se filmar na cama como o "beaver" do título. Éramos dois, mais as "beavers" na tela, mas castores não pagam bilhete.

Para diferentes tipos de motor



6.16.2011

Foi alguém


















Ira Chernova imaginada por Stuart Mitchell.

Subgénio


























Tudo acontece como numa prova de vinhos. Ouvimos o disco, empregamos a classificação rebuscada (psicadelismo doom) e depois verificamos que coincide com a opinião de quem domina o género, e os incontáveis subgéneros.

Going 50


















Joanna Going, muito bem notada pelo João Lisboa. Cinefilia é também sobretudo isto.

Poesia selvagem

O HERÓI:




















O TRAILER:




O COMENTÁRO ESPECIALIZADO:

... ele associou VALHALLA ao AGUIRRE de Herzog. Um filme que segura o espectador mais pela força de suas imagens que pela trama em si, até porque se formos parar pra pensar, uma boa parte do filme do alemão maluco é uma espécie de embacarção rumando sem destino por um rio. Mas alguém consegue desgrudar os olhos da tela? Sei que é bem mais difícil aqui, mas quem conseguir embarcar nesta poesia visual e sonora de Nicolas Winding Refn, vai ser bem recompensado.
Acho difícil não entrar na minha lista de melhores filmes no fim do ano... (R. Perrone)


ESTREIA ESTA SEMANA NOS "KING" E NOS CINEMAS DA PRAÇA DE TOUROS.

Floresta iluminada







As variações de Manafon (2009) arranjadas e dirigidas por Dai Fujikura, onde sobressaem timbres e pizzicatos oriundos da formação de cordas, aproximam a música de David Sylvian de outro vulto enorme da canção contemporânea com o qual pressentíamos já intensas afinidades artísticas e de personalidade. Mas enquanto que Scott Walker levou a voz até uma espectralidade que a tornou quase irreconhecível à luz da primeira metade da sua obra (imensamente mais popular), a voz de Sylvian continua a ser a âncora que nos segura nas várias profundezas e tantas obscuridades ou clareiras do som produzido em total independência criativa na samadhisound, onde se estreou com o incontornável Blemish (2003).
Até à data David Sylvian não ousou trair o que muitos dão por sacramental: o timbre mais belo e definido de todos os seus discos, também o elemento mais reconhecível em todos eles, que tem na voz. Died in the Wool (2011) contém inúmeros factos sonoros relevantes que não o inferiorizam face ao material que constituiu Manafon, sua inspiração e fonte primeira de trabalho. Trata-se de uma obra notável coreografada com cordas, sopros e electrónicas (produzidas por Jan Bang ou Erik Honoré), que em nenhum momento perde de vista o sentido de serena orientação e presença espiritual que David Sylvian imprime àquilo que nele é cada vez mais dito, nunca deixando de ser cantado. [imagem: Christ the Prisoner (2007) de George Bolster]




6.15.2011

Vão à missa

Toni dos bifes ou a inocência corrompida




















Quando perguntei se usavas bifes no interior das sapatilhas para dançar, tal como eu vira fazer em filmes (na homenagem do Wenders à Pina, por exemplo), disseste que agora havia umas protecções de silicone que me mostraste depois. Ao pegar-lhes foi como se tivesse os teus dedos nas minhas mãos. Eram da cor da pele, e mesmo sabendo-as de utilização oculta, ou talvez por isso, acrescentou-se uma nota suplementar de erotismo.

Ursinho



I don't wanna be a tiger
Cause tigers play too rough
I don't wanna be a lion
Cause lions ain't the kind
You love enough.

6.14.2011

Jesse Lee Denning por Stuart Mitchell



























Walnutwax Shoots (já tinha saudades)

Perguntem a uma latina


























Ela - You always tell the truth?
Ele - Always.
Ela - How good are you in bed?
Ele - Fair.
Ela - Fair's better than most.


Lie to Me, episódio piloto.

6.11.2011

Somewhere

Pássaro de fogo



Os filmes e o nada
















Five Easy Pieces (1970), de Bob Rafelson, abre para uma década dourada do novo cinema americano. Veja-se o final deste filme. Na estação de serviço, aproveitando o afastamento da companheira que vai tomar café, Robert (Jack Nicholson) pede boleia a um camionista que se dirige para o Alasca, e de novo abandona todas as suas responsabilidades. Se retirássemos os curtos diálogos a esta cena, era puro Antonioni. Por esta altura Michelangelo Antonioni já havia realizado os filmes que definiram o seu modo de filmar: obras como A Aventura (1960), O Eclipse (1962) ou O Deserto Vermelho (1964). Isto é, uma espécie de psicologia intraduzível. Sentimo-la constantemente, sobretudo em relação ao protagonista, mas não conseguimos agarrá-la. Um pouco como nessa cena magistral em que Robert tenta explicar-se para o seu pai, que após ter sofrido o segundo AVC se encontra catatónico. Robert tenta mas pouco lhe diz, e o velho homem menos reage.
Ouvi falar a alguém que o cinema americano dos anos 70 caracterizava-se por mostrar aquilo que estava entre as cenas do cinema que fora feito até essa altura. Estávamos a caminho do nada, que é o que em derradeira instância caracteriza a nossa existência (a sua falta de sentido). Depois do nada as coisas do cinema só podiam caminhar para trás.

6.09.2011

XXXL

O mundo é dos belos e estúpidos



Eles nunca recordarão Paris














É preciso começar por fazer justiça. Quase em simultâneo com o surgimento da série televisiva Mad Men (2007), o filme de Sam Mendes, Revolutionary Road (2008), permitiu que olhássemos para os anos 50 com a psicologia e as angústias do nosso tempo. Ou então terá sido sempre assim, e a justiça estende-se aos homens de há cinco décadas atrás nossos semelhantes, se não na aparência pelo menos de facto interiormente.
O que acontece em Revolutionary Road, na noite do fracasso da peça de April (Kate Winslet), que levará à primeira discussão com o marido, Frank (Leonardo DiCaprio), é o espectador perceber que a relação está condenada antes de o casal ter essa percepção. Um espectador mais alheado das forças várias que concorrem para o fatalismo nas relações amorosas, terá forçosamente que despertar mais tarde com a chegada ao filme dessa grande personagem que é John (Michael Shannon), o filho do casal que alugou a casa de Revolutionary Road ao jovem par Frank e April Wheeler, um matemático que regressa do internamento numa instituição psiquiátrica onde sofreu dezenas de tratamentos com choques eléctricos. Se por um lado as suas faculdades emocionais ficaram soterradas com a terapia, por outro apresenta-se como figura de extrema lucidez que expõe a mentira da relação de Frank e April (ele refém da história profissional do pai que procura vingar pela superação; ela encurralada numa existência banal em tudo oposta aos seus sonhos de realização intelectual cosmopolita).
John é um exemplo literal, e a sua denúncia, daquilo que a vida produz nos indivíduos cuja personalidade é mais vincada e menos submissa. Um conjunto de "choques eléctricos" que progressivamente os encaminha para a normalidade resignada ou a pura extinção. Proeza do livro de Richard Yates que o argumento do filme não descura é dar a ver os efeitos da resistência a essa resignação colectiva na personagem de Kate Winslet, que por momentos parece considerar alinhar na farsa da dona de casa modelo. Mas o horizonte de Paris mostra-se superior a ela, essa viagem que o casal pensou fazer para mudar de vida e que será para sempre adiada. Paris representa o modo como os Wheeler se vêem a si próprios e como são vistos pelos outros (um casal suburbano mais sofisticado que os vizinhos); Revolutionary Road acaba por se impôr como a única coisa que alguma vez serão. Choque após choque, desilusões e infidelidades secretas ou confessadas, uns adaptam-se à farsa a que outros socumbem. A derradeira cena de Revolutionary Road mostra-nos os pais de John ao serão, a mãe que se refere aos novos proprietários da casa dos Wheeler e o pai que desliga o aparelho de audição para se evadir da conversa da mulher. Será preciso acrescentar mais alguma coisa?

6.08.2011

Goddess



6.07.2011

A pele que eu habito


























Passara os últimos anos a transformar-se numa versão oposta de si mesmo. Mas com que intuito? O de tornar impossível que ela voltasse a gostar de alguém que já não existia (como se isso dependesse dessa pessoa que ele “deixara” de ser), ou o de se tornar de tal modo diferente que ela pudesse apaixonar-se por esse "novo" ele?

6.06.2011

Sónia Brazão


























O terrível episódio que vitimou a actriz Sónia Brazão, internada com queimaduras muito graves resultantes da explosão de gás em sua casa, causou-me uma impressão que não se dissipou ainda. Procurei explicações além do óbvio para aquilo que sinto. Sónia Brazão foi capa da última edição da GQ em que colaborei: Dezembro de 2008. O ensaio fotográfico remetia, em registo de suave erotismo, para o seu passado de bailarina, e a entrevista dava a conhecer uma história portuguesa como tantas outras. Sónia Brazão nunca conseguiu transcender a sua imagem, no sentido do reconhecimento artístico que não se limite ao visual estereotipado (algo que o ensaio fotográfico para a GQ demonstrou ser possível). A opção por habitar um prédio anónimo em Algés condiz com a banalidade da entrevista. Penso nas fragilidades daquele discurso e nos danos irreparáveis agora causados à sua imagem. O que vai ser de Sónia Brazão, outrora vistoso patinho que nunca chegará a ser cisne? Que futuro aguarda esta história portuguesa hoje tão trágica e tão triste?

Carlos














Édgar Ramirez é a revelação de um leading man como há muito não se via. Comparado com os três actores que garantem maior retorno de bilheteira na actualidade – Matt Damon, Brad Pitt e Johnny Depp –, Édgar Ramirez é um hombre. Olivier Assayas filma-o com a sensualidade que provém de uma estrela rock, algures entre Marlon Brando e Jim Morrison. O corpo de Ramirez é mesmo o grande tema de Carlos: um corpo esbelto nas primeiras cenas, qual gigolô venezuelano; um corpo excessivo mais tarde, em resultado da vida hedonista daquele que se torna figura temida (e adorada) internacionalmente pelo que faz com as extensões do próprio corpo: as armas. Mas acima das armas, que o realizador soube potenciar na sua dimensão fetichista, o protagonista aprecia mulheres e bebida. Esse é o dominio privado do universo de Carlos, onde Olivier Assayas se move tão capazmente como nas sequências de acção. Mas é talvez a vertente que mais se ressente da versão truncada para metade dos seus 330 minutos originais que chega aos cinemas. Que bom teria sido se no caso de Carlos se tivesse adoptado a estratégia de Soderbergh que levou a que Che fosse exibido em duas longas partes distintas. Não havendo essa possibilidade, não resta outra alternativa que adquirir a versão televisiva em DVD. Pelo corpo de Carlos mas sobretudo pelo corpo do filme.

6.03.2011

Viva Plant



Band of Joy (2010)

Anatomia de Plant

Então começa assim

Não me queixo
























A importância de se sentir masculino não inquieta apenas homens cuja sexualidade carece de liberdade ou definição. Homem que é homem pode deixar-se impressionar com a exuberância nada andrógina de Robert Plant, um homem muito belo. Pode deixar-se fascinar pela sexualidade projectada pelo vocalista dos Led Zeppelin, porque deseja parecer-se com ele. Música e intérpretes indissociáveis entre si. Total confiança. O rock é das coisas que mais eficazmente reforçam a masculinidade. Com a vantagem de não nos exigir nada em troca (percebem?).


Será que Robert Plant podia ter a voz que tem e a mesma presença se o seu queixo fosse diferente?


Arquivo do blogue