1. Isolamento/solidão
"I lead a very isolated existence and I spend 90 per cent of my days alone," he says. "It took me a while to acclimatise to that way of life and it's quite difficult to reacclimatise to interaction with other people, let alone performing to an audience. Sometimes it's in a solitude that feels profound and comforting and desirable, and other times it's isolating and completely lonely. But I've always thought that to produce something fresh or new or of value you have to withdraw yourself from the common influences of society, and so I felt that withdrawing myself in this way might enable me to do away with any kind of conscious or subconscious influences that society might have on me by living in cities, soaking in media. The further I get away from that, the more I feel that this is my true voice. There's only so much permeating the work from the outside. Of course, I can't take into account what other people bring into the work. But in terms of my perception of it, it has a clarity to it or an integrity that it might not have if I lived under any other kind of circumstances. I'm not saying I can continue to live in this way or wish to live in this way, or it may just be the way I continue to live for the rest of my days or wathever, but this work [Manafon, editado dia 14 de Set.] was born out of that environment, it was born out of isolation..."
2. Budismo/improvisação
There's a kind of Ginsberg idea which comes from Buddhist teachings: first thought, best thought... right thought. So it's that kind of idea: not to much revision in the process of writing, just follow it through and wherever it takes you, wherever it leads, however revealing it might be, or what is it revealing, you're probably not aware of at the time but you just kind of go through it, find the melody for it, within that framework. It's a very intuitive process, I can't say that it's an intellectual process."
"The more I work on a piece, the further it seems to get from the original improvisational nature, the mood, spirit and atmosphere of the original improvisation," he cautions. "I mean, I could have cut into it. I could have really gone to town on editing the work but I didn't, I left the original performances more or less intact, to keep that spirit, that continuity if you like, alive. I didn't want to cut into it too much. Individual performances within that duration, within that timeframe – sure, there were edits made. But generally the overall arc of the work is as is performed on the day."
3. Fé/humanidade
(...) the way he talks and writes about it, Sylvian is perhaps proudest of Manafon's title track, named for the village where Welsh poet RS Thomas lived, and whose preacherly struggles with his faith, family and fellow man he sees as somehow key to the album.
"People didn't warm to him," explains Sylvian. "He was an austere man, quite frightening in his old age I think. People were intimidated by him. But the way he writes about the working man, the life of the working man, the life of the working man and the austerity of the life of the working man, is how it touches on an humanity that he can't himself connect with. He didn't seem to like people very much. He seemed to have trouble socialising and connecting with people, even with his own son. I just found the incongruity of these elements fascinating. So I guess it becomes a question of what do we do in life, where do we place our faith? In humanity.
[retirado da entrevista de David Sylvian a Biba Kopf na Wire de Set. 2009]
© Donald Milne
8.31.2009
Basinski's lunchbox
For my new piece "Vivian & Ondine", which I've been touring this year, I've one loop that compromises the main theme and then a little lunchbox full of ancillary themes which I pull out randomly – it looks like a pile of spaghetti – which I bring up just underneath the threshold to see how they resonate in a particular room. The impact they have varies from space to space. So there I am, playing with my spaghetty. It's like working in a studio, I don't really get nervous about it. As long as at least one machine is working...
William Basinski à Invisible Jukebox da Wire, Set. 2009
8.30.2009
Bernd Friedmann é Burnt Friedman
O segredo reside na homofonia, os sons despistarão o mais atento. E quando ouvi Leisure Zones estava longe de relacionar o Bernd e o Burnt. Trata-se do primeiro título elencado na discografia oficial de Burnt Friedman, em 1995, ainda com a identidade primeira, registo ambiental/industrial notável, que o músico recomenda que seja escutado a um nível idêntico ao do ruído exterior: de noite, ao adormecer, ou na manhã seguinte. Paisagens sonoras que remetem para o trabalho paciente de William Basinski ou dos Nurse With Wound (circa Salt Maria Celeste). Obra-prima que embora date do século passado, marcará este meu ano de audições. Como pretendo ir escutar Burnt Friedman mais Jaki Leibezeit, em Setembro, no Maria Matos, e independentemente do seu percurso de prestígio pouca ligação manter com a tela vaporosa de outrora, não conseguirei separar o encontro do maravilhamento causado por esse momento original. Bernd já era enorme, antes de ser Burnt.
8.28.2009
Kill Hitler
Ele chega sempre lá, mas é no trajecto até lá chegar que Tarantino já foi mais brilhante, mais excitante, mais surpreendente. Mesmo olhando a eventuais condicionantes auto-impostas pelos códigos de (sub)género – filme de guerra modelo "doze indomáveis patifes" de Robert Aldrich, cruzado com a dilatação subjectiva do tempo praticada por Sergio Leone nos western spaghettis –, que Quentin Tarantino ora respeita, homenageia ou detona, os filmes dele que motivam o meu maior apreço são os que fazem acompanhar o pathos extravagante, da gravidade narrativa ou psicológica que se abate sobre as personagens. Exemplos como Cães Danados, Jackie Brown e Kill Bill -Parte II, que são igualmente ilustrativos e virtuosos, dando a fruir o cinema como um prazer físico, sugerindo o efeito de descargas esporádicas de adrenalina. Ainda assim gostei de Sacanas Sem Lei – reconhecendo o peso da máquina cinematográfica que Tarantino põe em movimento, peso esse que não encontra correspondência na gravidade da dramaturgia (o filme faz-se de blocos "autónomos" que acrescentando-se aos outros não produzem o impacto acumulado de, para dar outro exemplo, Pulp Fiction) –, que tem no início e no final das melhores sequências que Tarantino jamais coreografou: com palavras, com acções. Como comecei por dizer, o sentimento que se sobrepõe acaba sendo o de missão cumprida.
8.27.2009
Assim como assim
8.26.2009
O gladiador
Dentro da arena todos são gladiadores. Recordo o momento em que os homens comandados por Russell Crowe, em inferioridade numérica e pior armados, são atacados por lutadores em quadrigas e por tigres que saem de fossos camuflados no solo. Crowe pede uma formação em círculo apertado para suster as primeiras investidas. E em seguida dá ordem de ataque que acaba com o adversário. Os comandados do gladiador triunfam no Coliseu sobre a milícia do imperador. Ouvi dizer que Pep Guardiola, na última final da Champions, deu a ouvir aos jogadores do Barça a banda-sonora do filme de Ridley Scott. Deu no que deu.
Nota: cada um escolhe a metáfora que lhe parecer apropriada. A metáfora liberta.
8.24.2009
O meu onze para Florença
Patrício
Pereirinha, Carriço, Polga, Marques
Veloso
P. Silva, M. Fernandez
Moutinho
Pereirinha, Carriço, Polga, Marques
Veloso
P. Silva, M. Fernandez
Moutinho
Djaló, Liedson
Contra factos, usemos os argumentos que temos. Se ao menos fosse possível fazer os nossos jogadores jogar de forma destemida.
Agente Gross se faz favor
Pouco faltava para as seis da madrugada quando despi a farda do agente Santos, da Polícia de Segurança Pública, regressando à identidade civíl por que sou reconhecido. Longas horas trajado para uma figuração especial que fiz no novo filme do João Nicolau, A Espada e a Rosa. O João devolvia-me assim à PSP que me perdera há muito tempo atrás para o cinema. Passo a explicar a «homenagem».
Em 1989 ingressei na Escola Superior de Polícia, hoje Instituto Superior de Ciências Policiais e Segurança Interna. Frequentei os dois primeiros anos do Curso de Oficiais, e para infelicidade da família mudei de vida. Hoje é mais um episódio para motivar a estupefação dos amigos que outra coisa. Mas a minha história com as fardas, como se veio a ver, seria resgatada. Com êxito. Uma segunda pele altamente verosímil, apesar do cabelo longo disfarçado e da barba cheia, que deu azo a situações equívocas como a do jovem casal espanhol de moto que me perguntou onde ficava o miradouro de Sta. Catarina, ou o taxista que transportava um inglês visivelmente embriagado, que ao baixar o vidro do carro disse: "Boa noite, sr. agente! Será que me pode ajudar com este senhor que só fala inglês e não se lembra do nome do hotel onde está?" Claro que expliquei ao homem do táxi que eu era um polícia de cinema, mas lá lhe resolvi o problema da localização do hotel Chiado. E depois encarei orgulhoso a equipa do filme, com esta fuça de autoridade (palavras minhas) que herdei.
O meu camarada de serviço era o agente Coelho, também baptizado pela menina do guarda-roupa que trouxe as plaquinhas que condicionaram as escolhas iniciais do realizador. O agente Coelho era para ser o agente Borges ("'Ó Borges, é mandar chamar o INEM!"): de Pedro Borges, o da Midas Filmes, que lhe emprestou corpo ainda mais convincente que eu. E qual seria o meu apelido? Sinceramente não sei. Mas agente Gross até tinha a sua pinta.
Em 1989 ingressei na Escola Superior de Polícia, hoje Instituto Superior de Ciências Policiais e Segurança Interna. Frequentei os dois primeiros anos do Curso de Oficiais, e para infelicidade da família mudei de vida. Hoje é mais um episódio para motivar a estupefação dos amigos que outra coisa. Mas a minha história com as fardas, como se veio a ver, seria resgatada. Com êxito. Uma segunda pele altamente verosímil, apesar do cabelo longo disfarçado e da barba cheia, que deu azo a situações equívocas como a do jovem casal espanhol de moto que me perguntou onde ficava o miradouro de Sta. Catarina, ou o taxista que transportava um inglês visivelmente embriagado, que ao baixar o vidro do carro disse: "Boa noite, sr. agente! Será que me pode ajudar com este senhor que só fala inglês e não se lembra do nome do hotel onde está?" Claro que expliquei ao homem do táxi que eu era um polícia de cinema, mas lá lhe resolvi o problema da localização do hotel Chiado. E depois encarei orgulhoso a equipa do filme, com esta fuça de autoridade (palavras minhas) que herdei.
O meu camarada de serviço era o agente Coelho, também baptizado pela menina do guarda-roupa que trouxe as plaquinhas que condicionaram as escolhas iniciais do realizador. O agente Coelho era para ser o agente Borges ("'Ó Borges, é mandar chamar o INEM!"): de Pedro Borges, o da Midas Filmes, que lhe emprestou corpo ainda mais convincente que eu. E qual seria o meu apelido? Sinceramente não sei. Mas agente Gross até tinha a sua pinta.
8.23.2009
A melhor juventude
Estive ontem, como sempre, em Alvalade, e despedi-me secretamente do campeonato. O que vi foi tão mau que me deixou sem outra reacção. À medida que o encontro se aproximava do fim, e que o resultado de 1-2 parecia facto consumado, apenas os adeptos do Braga se faziam ouvir.
Alguma coisa tem de mudar, e já, neste Sporting. Ou muda o discurso utópico que esta época corre o risco de não garantir sequer que o Sporting seja o primeiro dos últimos (dos pequenos), ou se produzem os acertos possíveis (?!) no plantel e equipa técnica: Paulo Bento, ausente do banco por castigo nas duas jornadas inaugurais, está preso pela franja que o popularizou. Quando viajo de Metro e escuto nas estações a rábula publicitária em que alguém mimetiza o discurso do nosso treinador, engulo em seco a revolta de o ver isolado numa tarefa cada vez mais ingrata. Bento entregue ao ónus de várias épocas esforçadas de uma história cinzenta com momentos de glória efémera. Não queremos os títulos pelos títulos, queremos resultados desportivos consolidados!
Arrisco dizer que o capital de esperança obtido na recepção à Fiorentina (melhor a exibição que o empate), pode ficar em breve alguns palmos abaixo de terra com o resultado que viermos a obter em Florença. A nossa equipa (do Sporting) parece ter iniciado o ano tão espremida como terminou a época anterior. Há jogadores que entram acusando rapidamente limitações físicas (caso de Caicedo); e jogadores de que tememos saber o porquê de terem deixado de ser opção (caso de Grimi).
Os apreciados méritos da juventude e da lusitanidade do plantel, tombam por relva à primeira contrariedade: o Braga, menos forte do que na era Jesus (valha-nos Deus), deu a sensação de ter o jogo sempre controlado. E nós parecíamos um bando de galinhas tontas e frangos cansados. A coluna vertical constituída por Polga, Moutinho e Liedson, está vértebras aquém das necessidades. Que são grandes e urgentes. A recepção ao Braga foi um salve-nos quem puder. Apesar do voluntarismo de Miguel Veloso, a resposta em campo foi muda. Caberá aos mais altos responsáveis do Sporting uma reacção diferente. É para ontem.
Alguma coisa tem de mudar, e já, neste Sporting. Ou muda o discurso utópico que esta época corre o risco de não garantir sequer que o Sporting seja o primeiro dos últimos (dos pequenos), ou se produzem os acertos possíveis (?!) no plantel e equipa técnica: Paulo Bento, ausente do banco por castigo nas duas jornadas inaugurais, está preso pela franja que o popularizou. Quando viajo de Metro e escuto nas estações a rábula publicitária em que alguém mimetiza o discurso do nosso treinador, engulo em seco a revolta de o ver isolado numa tarefa cada vez mais ingrata. Bento entregue ao ónus de várias épocas esforçadas de uma história cinzenta com momentos de glória efémera. Não queremos os títulos pelos títulos, queremos resultados desportivos consolidados!
Arrisco dizer que o capital de esperança obtido na recepção à Fiorentina (melhor a exibição que o empate), pode ficar em breve alguns palmos abaixo de terra com o resultado que viermos a obter em Florença. A nossa equipa (do Sporting) parece ter iniciado o ano tão espremida como terminou a época anterior. Há jogadores que entram acusando rapidamente limitações físicas (caso de Caicedo); e jogadores de que tememos saber o porquê de terem deixado de ser opção (caso de Grimi).
Os apreciados méritos da juventude e da lusitanidade do plantel, tombam por relva à primeira contrariedade: o Braga, menos forte do que na era Jesus (valha-nos Deus), deu a sensação de ter o jogo sempre controlado. E nós parecíamos um bando de galinhas tontas e frangos cansados. A coluna vertical constituída por Polga, Moutinho e Liedson, está vértebras aquém das necessidades. Que são grandes e urgentes. A recepção ao Braga foi um salve-nos quem puder. Apesar do voluntarismo de Miguel Veloso, a resposta em campo foi muda. Caberá aos mais altos responsáveis do Sporting uma reacção diferente. É para ontem.
8.22.2009
Da excelência crítica que olha a música de dentro para fora
Toda a música (a arte em geral) tem a capacidade de expor as limitações dos que se propõem dela falar. Alguns discos têm maior capacidade que outros, daí ter ficado impressionado com o texto do senhor Duncan Edwards, que fala de Carbeth como eu sequer em sonhos saberia fazer.
My first thought upon hearing Carbeth was to wonder what the members of the Incredible String Band or Fairport Convention might have thought of this recording; with its moments of intense restraint and overblown beauty, slight nods to US country music, soaring voices, echoes of eerie plainsong, and vibrant, ecstatic choruses. I didn't have to wait long for something of a reliable answer, as no less an authority than Joe Boyd (producer of both those earlier groups) is very much in favor of Trembling Bells. And no wonder. Their overall sound sways close to that of an unfussy but expertly mic'd gig; the kind that Boyd consistently arranged. (vale a pena continuar a ler).
E comprar o disco logo a seguir.
8.21.2009
Em nome da sobriedade
Esta imagem é, no que ao enquadramento diz respeito, simétrica de uma outra que alguns recordarão do filme Magnolia, de Paul Thomas Anderson. Estão lá o filho adulto e o pai moribundo. Mas enquanto que o olhar de Tom Cruise não exprimia outra coisa a não ser ressentimento, Colin Firth mostra no seu semblante menos hirto um princípio de reconciliação. Estamos, nos dois casos, em territórios que são a antítese do "efeito Kuleshov": what you see is exactly what you get. O contracampo ou planos subsequentes em nada alterarão a nossa interpretação.
Cheguei a When Did You Last See Your Father? (que teve exibição comercial em Portugal) há poucas semanas e por recomendação de um amigo. O filme de Anand Tucker, que já nos havia dado o simpático Shopgirl, escrito e interpretado por Steve Martin (e pela rapariga do shopping, Claire Danes), trata da relação mais formadora de todas na vida de um homem. Tucker, era sabido, gosta de estilizar e gosta de fazer poesia com o cinema. Mas aqui tem rédea curta imposta pelo sóbrio guião de David Nicholls, que adapta o livro de memórias de Blake Morrison (o filho adulto de que Colin Firth se ocupa). A pequena proeza de When Did You Last See Your Father?, suspeito bem que seja manter-se fiel ao material escrito. Trata-se aqui da vida de alguém que de facto existiu, e que teve com o seu pai uma relação que suscita variadas identificações. Uma vida como todas as outras: feita de contradições, de inconsequências, de balanços que levam a quase nada.
Há também aqui actores de enorme categoria, começando pelo pai de Blake, Arthur, interpretado por Jim Broadbent. E há um gosto da sobriedade que contagia a narrativa sempre à beira de se tornar cinema (tombando lá de vez em quando), finalmente reconciliada em ser menos que isso. Se estiverem virados para um objecto middle of the road, discreto e timidamente imbuído de sensibilidade, talvez vos aguarde uma boa surpresa. Em jardim de magnólias, a flor vulgar pode fazer-se notar.
8.20.2009
Menina do mar
Fotograma de À Beira do Mar Azul (1936), de Boris Barnet.
Menina,
para perceberes as mais fundas implicações dos teus pensamentos, talvez fosse bom veres este filme.
E eu também.
(o poeta terá pensado o mesmo).
8.19.2009
Olha o papagaio
A minha primeira de todas é um cliché: Brooke Shields em A Lagoa Azul (futura melhor amiga de Michael Jackson e ex-Mrs. Agassi).
Lendas urbanas
Um feixe de luz
Foto: LeRoy Grannis (who else?)
Quando José Tolentino Mendonça se lhe refere como sendo «um dos mais belos livros da poesia portuguesa», deve estar a pensar em linhas como estas:
É essa a nossa natureza: buscar incessantemente a felicidade num feixe de luz que nos transporta para um passado que até pode não ter existido como o vemos hoje. Pouco importa. É esse passado, reescrito e reinventado, que recordamos. O correr dos tempos intensifica esse retorno difuso às sensações de quando estávamos crianças, surpreendidos com a descoberta.
[O Sal na Terra, de Pedro Adão e Silva, pág. 45]
Como sempre basta vencer
Miguel Veloso em estado de euforia inteiramente justificada.
O empate em casa com a Fiorentina é uma situação de garrafa meio cheia ou meio vazia. Vamos ter de olhar a botelha mais uma semana até que se chegue a alguma conclusão. Certas constatações são entretanto inequívocas. O Sporting carregava para este jogo dois traumas, e ter-se-á libertado de um deles. A saída humilhante da Champions na época passada não ficou apagada; quanto aos maus jogos da pré-época (+ Twente), com resultados igualmente sofríveis, quero crer que o pior já passou. A equipa mostrou entrega superior aos índices técnicos ainda medianos. O Sporting revelou querer, só não consegue por inteiro confirmar que quer. Podemos imputar responsabilidades a uma transição entre temporadas com poucos jogos. Seja como for, o Leão deu prova de ter mais vidas do que as que se lhe vaticinavam. Vou acreditando na repetição de noites tão boas e melhores que esta, enquanto espreito a garrafa meio vazia ou meio cheia.
8.18.2009
Homens que gostam de actrizes
O Ivan, que gosta de mulheres muito belas, sugere esta variante à lista de 15 filmes, a que não resisto a dar resposta. E vocês?
P.S. A curiosidade é grande para ler as mulheres da blogosfera que queiram pronunciar-se na variante 15 filmes/ 15 homens (ou 15 mulheres, sejamos modernos ora essa).
15 FILMES/ 15 ACTRIZES*
The Fabulous Baker Boys (Michelle Pfeiffer)
The English Patient (Kristin Scott Thomas)
Le Garçu (Géraldine Pailhas)
Lost Highway (Patricia Arquette)
Faraway, So Close! (Nastassja Kinski)
Les Égarés (Emmanuelle Béart)
An Officer and a Gentleman (Debra Winger)
Body Heat (Kathleen Turner)
Basic Instinct (Sharon Stone)
Notes On a Scandal (Cate Blanchett)
Vertigo (Kim Novak)
Leaving Las Vegas (Elisabeth Shue)
Peixe Lua (Beatriz Batarda)
Meet Joe Black (Claire Forlani)
Unfaithful (Diane Lane)
* lista, esta, elaborada em muito mais de 15 minutos. O contrário revelou-se impossível.
Bizarre love triangle
Tenho propensão para ver relações em tudo, mas o exemplo é particularmente desconcertante. Quando li sobre o tríptico de auto-retratos de Erwin Olaf e olhei para as imagens (em concreto para a que tem por título I Wish), eu já estava a ver o coreógrafo Rui Horta antes de saber que Olaf tem neste momento uma exposição em O Espaço do Tempo, Montemor-o-Novo, laboratório de criação artística que Horta dirige desde Agosto de 2000.
8.17.2009
O silêncio dos inocentes
As qualidades de Changeling tornam-se óbvias se também formos objectivos na análise ao filme. O que Clint Eastwood dá a ver é uma sociedade distópica de finais dos anos 20 do século passado (quando estamos habituados a olhar para a distopia projectada num tempo futuro). As principais vítimas são as mulheres e as crianças. Os maiores carrascos são os polícias e os políticos, em concreto a polícia corrupta de Los Angeles que procurou distorcer a verdade na história (verídica) de Christine Collins. O papel de Eastwood, realizador, é o de tomar partido na defesa dessa mesma verdade. O trabalho de planificação expõe por um lado os aspectos sórdidos da natureza humana, e resgata por outro a inocência dos oprimidos: a este propósito é comovente o retrato do jovem Sanford Clark (Eddie Alderson), cúmplice forçado nos homicídios de Wineville, coagido pelo medo e pelo horror ao seu redor. É altura de dizer que não sei porque não soube reconhecer de imediato em Changeling o belo filme que é. Um dos aspectos magníficos de Changeling é que a partir do momento que nos faz acreditar na (mais que provável) morte do filho de Christine, Walter Collins, orienta o sentido de reparação para aquilo que é preciso fazer em relação aos vivos: aspecto que a cena da libertação das mulheres encerradas num hospital psiquiátrico ilustra com uma eloquência que nos poderá levar a conter as lágrimas.
Sobre "Tony", a primeira curta-metragem de Bruno Lourenço
«O rapaz veste-se a preceito ao espelho, num quarto de uma pensão barata. Fato, lacinho, laca no cabelo. Sobe uma das ruas inclinadas de Lisboa, ainda durante um dia, tenta entrar num bar, só que é interpelado pelo careca do porteiro: «Nome?», «Tony!», «Tony são todos. Nome?», «Jorge», «Jorge quê?», «Jorge de Matos». O primeiro filme de Bruno Lourenço está cheio de pequenos pormenores humorísticos, num cenário lisboeta e saudosista. É para rir. O autor prefere chamar-lhe um filme com apontamentos de humor. Mas, cá para nós, é uma comédia. E daquelas que fazem falta ao cinema português, de humor inteligente e cheia de bons pormenores escondidos. A personagem principal, interpretada por Tiago Fagulha, é um bagageiro de hotel, que ocupa os seus tempos livres a imitar Tony de Matos num concurso de karaoke «à antiga portuguesa». Naquele bar manhoso, encontram-se todas as velhas glórias, três Tonys, um Eduardo Nascimento, um Marco Paulo, um Carlos Paião, dois Antónios Calvário, uma Simone, duas Madalenas Iglésias. Como se adivinha, o ambiente, por si só, é propício ao humor. A ideia, sem mais nada, dá vontade de rir. Bruno Lourenço não esconde o seu encanto por um tempo ausente. «Há quem diga que o José Cid em Inglaterra seria o Elton John. O Tony de Matos, nos Estados Unidos, seria o Tony Benett», diz. Daí, o longo traveling por Lisboa, no final, ao som da sua voz, que ganha o tom de homenagem. É nessa subtil linha de fronteira que Tony se situa: entre o gozo e a devoção real, nunca percebemos ao certo onde se situa. Talvez seja um kitsch sincero. Só não me mascaro porque não tenho a roupa. Mas há elementos que o afastam de uma leitura assim tão simples. Como o extraordinário movimento de câmara no quarto da pensão. «O filme fala da solidão de uma personagem que vive através da imagem do Tony de Matos», explica. É que, ao contrário do que aparece no título da secção, este, na verdade, não é o primeiro filme de Bruno Lourenço. Quem frequenta o meio (festivais e afins) já se habituou a ver a sua gargalhada. Trabalha no cinema há longos anos. Esta é apenas a sua estreia enquanto realizador. Tem um interessante percurso enquanto director de produção e assistente de realização, em grande parte ao serviço da produtora O Som e a Fúria (foi colega de Miguel Gomes e Sandro Aguilar na escola de cinema). Quem viu Aquele Querido Mês de Agosto, de Miguel Gomes, deve mesmo lembrar-se da sua cara. Não só foi Assistente de realização (e actor, tal como toda a equipa) como baixista da banda retratada do filme. Mas faz questão de dizer: «Não há uma progressão na cadeira, há quem seja assistente de realização toda a vida, não se tornando menor por causa disso». A ideia de Tony já é antiga, o argumento foi escrito há cinco anos e partiu da imagem dos Flying Elvis. Agora finalmente concretizou-se. O filme, como acontece muitas vezes em produções de O Som e a Fúria, é feito entre amigos. Aparecem assim caras conhecidas dos bastidores do cinema, como Manuel Mozos ou o próprio João Nicolau, vencedor da competição nacional de Vila do Conde, com Canção de Amor e Saúde. A realização deste final não foi um acidente. Ou poder-se-á dizer que Bruno Lourenço tomou-lhe o gosto. Já está a escrever a próxima obra. E conta concorrer aos apoios do ICA ainda este ano. E mais não diz.»
Manuel Halpern, via Facebook.
It’s Mann’s world
We want to hurt no one. We’re here for the bank’s money, not your money. Your money is insured by the government, you’re not gonna lose a dime. Think of your families. Don’t risk your life. Don’t try to be a hero.
O diálogo é retirado de Heat (1995), título que encontramos a meio da filmografia de Michael Mann, embora com pequeníssimos ajustes pudesse ser utilizado no Public Enemies (2009), do mesmo realizador, recentemente estreado: John Dillinger, interpretado por Johnny Depp, chega a perguntar ao gerente do banco, durante um assalto, se este prefere tornar-se num “living coward” ou num “dead hero”. Mann escreveu Heat sozinho, e repartiu as responsabilidades do argumento de Public Enemies com Ronan Bennett e Ann Biderman. O facto não impede Public Enemies de ser um filme de Mann até ao tutano, que recicla temas, figuras e situações de Heat, transpostas agora para a idade de ouro dos gangsters e para uma história verdadeira (resultado da adaptação do livro Public Enemies: America's Greatest Crime Wave and the Birth of the FBI, 1933–34 de Bryan Burrough). No cinema de Michael Mann, e no que representa actualmente cerca de metade da sua obra, correm dois trajectos paralelos que correspondem a um desejo partilhado. O mundo dos polícias e dos ladrões preenche-se sobretudo pelas companhias masculinas, e o carácter imprevisível das actividades adversárias pressupõe a incompatibilidade com outros vínculos duradouros. Michael Mann filma sobre uma linha de tensão entre a liberdade e o compromisso, mostrando o fascínio do ilícito, a adrenalina e o luxo relacionados com a actividade criminosa de grande escala, mas é igualmente romântico quando filma a mulher (certas mulheres, a mulher certa) como destino último do homem, no que também assume um grau de fatalismo. Mann é um nostálgico da cumplicidade masculina, algo com a qual interfere a presença feminina quando não é apenas decorativa. Os heróis de Mann sentem-se mais vivos na companhia uns dos outros, e há nisto um efeito de resistência à entrada na idade adulta padronizada pelas suas várias responsabilidades. Mann identifica-se claramente com a liberdade e a vertigem implicadas pelo jogo do “gato e do rato”, e chega a gerar empatia entre figuras de lados opostos do crime. Em Heat parte da construção era feita no sentido de identificar as naturezas de Neil (Robert De Niro) e Vincent (Al Pacino), e o processo volta a repetir-se em Public Enemies com as personalidades de Dillinger e de Melvin Purvis (Christian Bale), que o persegue com igual determinação. Há inclusive aquela cena no momento em que Dillinger é capturado e Purvis visita-o na cela temporária, que recorda a conversa no café entre De Niro e Pacino, na repetição de promessas desafiadoras por homens dispostos a tudo. Os heróis de Mann são Peter Pans (frequentemente) armados até aos dentes. O cinema de Michael Mann assume a função de escapismo adulto do espectador de cinema, que por definição é um ser nostálgico.
8.14.2009
Greetings
"Greetings
The release date for my latest album, Manafon is almost upon us. On this album I was fortunate enough to work with a terrific ensemble of musicians. Multiple ensembles to be more precise. The first session was held in Vienna in 2004 with, among others, members of the group Polwechsel, Christian Fennesz, and Keith Rowe in attendance. In 2006, while I was in Japan doing research for what was to become When Loud Weather Buffeted Naoshima, I recorded a session in Tokyo with a remarkable, and remarkably influential, quartet of Japanese musicians; Otomo Yoshihide, Sachiko M., Tetuzi Akiyama and Toshimaru Nakamura. In London, late 2007, a final one day session took place graced by the presence of Evan Parker, John Tilbury, Marcio Mattos and Christian Fennesz. I completed the album at Samadhisound studio in Nov 08.
Despite the span of time between one session and the next, the work in its entirety was completed quickly with a sense of urgency and immediacy in keeping with the spirit of the original sessions.
The resulting work, for all its differences in themes and tone, is a sister piece to the Blemish album.
After the album was completed I decided it might be of interest to create a companion film, documenting the backgrounds, opinions, and philosophies of those who took part in these, and later, recording sessions. An introduction to this remarkable group of individuals who've pursued the less trodden path where music and free improvisation are concerned. We commissioned film maker Phil Hopkins to direct and what we have as a result is a generous introduction to the artists in question. The film is entitled Amplified Gesture and will be available as part of a limited edition release."
David Sylvian Aug 09
15 movies that I will always remember
Recebi de um amigo de longa data, agora também no Facebook, a proposta, num inglês sem mácula, para que fizesse a minha lista de quinze filmes que nunca esqueço, que não deveria tomar mais de 15 minutos de reflexão, e que depois passasse o mesmo desafio a outras 15 pessoas. Porque as minhas afinidades são mais fortes (e mais antigas) na blogosfera do que no Facebook, apresento de seguida a minha selecção (na ordem a que os títulos me vieram à memória), e o convite para que a Carla, o Jacinto, o Lourenço, o Carlos, o Eduardo, o Ivan, a Cláudia, o João, a Mónica, o Pedro, o Nuno, a Sara, o Pedro, o Tiago, e a Patrícia tenham a gentileza de partilhar também as suas escolhas, desculpando-me se num ou noutro caso isso põe em causa a coerência temática dos blogues respectivos.
Aqui vai:
Vertigo (Alfred Hitchcock, 1958), Tequila Sunrise (Robert Towne, 1988), The End of the Affair (Neil Jordan, 1999), Do the Right Thing (Spike Lee, 1989), Life Lessons (Martin Scorsese, 1989), A Perfect World (Clint Eastwood, 1993), Eyes Wide Shut (Stanley Kubrick, 1999), The Yakuza (Sydney Pollack, 1974), Mad Dog and Glory (John McNaughton, 1993), Au Hasard Balthazar (Robert Bresson, 1966), La Prima Notte di Quiete (Valerio Zurlini, 1972), Ghost Dog (Jim Jarmusch, 1999), Sous le Soleil de Satan (Maurice Pialat, 1987), Recordações da Casa Amarela (João César Monteiro, 1989), Sonatine (Takeshi Kitano, 1993).
Whenever, whatever, no hard feelings.
Aqui vai:
Vertigo (Alfred Hitchcock, 1958), Tequila Sunrise (Robert Towne, 1988), The End of the Affair (Neil Jordan, 1999), Do the Right Thing (Spike Lee, 1989), Life Lessons (Martin Scorsese, 1989), A Perfect World (Clint Eastwood, 1993), Eyes Wide Shut (Stanley Kubrick, 1999), The Yakuza (Sydney Pollack, 1974), Mad Dog and Glory (John McNaughton, 1993), Au Hasard Balthazar (Robert Bresson, 1966), La Prima Notte di Quiete (Valerio Zurlini, 1972), Ghost Dog (Jim Jarmusch, 1999), Sous le Soleil de Satan (Maurice Pialat, 1987), Recordações da Casa Amarela (João César Monteiro, 1989), Sonatine (Takeshi Kitano, 1993).
Whenever, whatever, no hard feelings.
8.13.2009
Collector's item
[David Sylvian fotografado por David Milne para o número de Setembro da Wire, que tem William Basinski como convidado da Invisible Jukebox.]
Brothers in charms (Fire in the Forest Tour 03/04)
É sabido que Ícaro mandou fazer asas em cera para se encontrar com o Sol, e deu-se mal na jornada. Já eu, muitos séculos depois, também romântico, embora mais cínico, recorri ao material plástico para me elevar até há cinco anos atrás, em Abril, num auditório em Tóquio, palco da apresentação de Blemish, disco inaugural de David Sylvian na sua própria editora, a Samadhi Sound. O plástico é matéria vulgar, apesar de dificilmente perecível, e serviu a minha vontade de resistir também forte. Em palco estavam os irmãos David Sylvian e Steve Jansen, sentados de frente para um conjunto de teclados e laptops, e ainda Masakatsu Takagi, responsável pelas imagens projectadas nas telas colocadas por cima dos músicos. O DVD parece documentar o concerto na íntegra (dura sensivelmente hora e meia). Uma primeira metade alinha todos os temas de Blemish, excepto um (How Little We Need To Be Happy), pela ordem do CD. Eu que vi os concertos de Sylvian em Portugal, nunca antes estivera tão próximo do que é estar e ser David Sylvian perante uma plateia. O crepitar da electrónica, vertido na perfeição para imagens gráficas e figurativas, ardia-me no peito. O metabolismo desacelera quando estamos em face de algo que emociona com esta intensidade. Note-se que o DVD é uma edição não-oficial, que no entanto ostenta um profissionalismo blindado sob os vários aspectos. Filmado para exibição num canal de televisão japonês (daí a permanente legendagem no idioma), acabou por atravessar para o mercado ocidental, ainda que muito restrito.
Uma vez terminada a apresentação de Blemish, o espectáculo percorre outros temas da fase mais popular de David Sylvian: When Poets Dreamed of Angels e Maria, por exemplo, são como que esventrados, transformados na sua estrutura harmónica, e mostrados com uma identidade quase integralmente distinta. Mas a catarse dá pelo nome de Wasn’t I Joe?, tema composto por Sylvian e Jansen por mim desconhecido, que se estende durante treze majestosos minutos, percorrendo com assinalável gosto a gramática da canção em fundo electrónico, dinâmico e contemplativo. A realização dos japoneses é absolutamente notável. A montagem incorpora as imagens nos ecrãs que incorporam cada ruptura na oratória de Sylvian. Blue Skinned Gods e Praise servem para o músico fazer referência ao seu guia espiritual, que pudemos escutar em Dead Bees on a Cake (o derradeiro disco de originais na Virgin), e o encore é preenchido com World Citizen, composição partilhada com Sakamoto, pouco relevante, a cumprir a quota de compaixão universalista, e Jean the Birdman, do CD gravado “a meias” com Robert Fripp (The First Day).
Para os que leram o texto até aqui, e só para eles, refira-se que a Flur prevê ter este DVD para venda muito em breve. O êxtase de alguns far-se-á o transe de mais alguns outros. Podem fazer fé nestas palavras. Se gostam tanto quanto eu de David Sylvian, irão também achar que o que aqui surge registado é bom demais para ser verdade. É verdade. Eu vi. Eu “estive lá”.
8.11.2009
Missão imaginária
Na melhor cena de The Limits of Control, o realizador Jim Jarmusch parece abrir o vaso comunicante entre a prática do Tai Chi, que o impecável Isaach de Bankolé usa como método de auto-disciplina e concentração, e a dança flamenca observada pelo mesmo num café, em hora de ensaio. O rigor, a leveza e o sincronismo (com a música e o canto) dos gestos da bailarina podem servir de programa ao filme de Jarmusch, que no entanto o não cumpre em absoluto. The Limits of Control assinala o regresso de um Jarmusch exportado para a Europa, onde o americano já havia filmado em pelo menos três outras cidades: Paris, Roma e Hensínquia em Noite na Terra, de 1991. A Espanha serve agora de cenário, daí os respectivos elementos culturais iconográficos: da música à arquitectura. Daí também repetir-se a impressão de que tudo se desenrola a um nível superfícial, e de que os diferentes elementos não se impregnam uns dos outros. Em Madrid, a abstracção das formas, os interlúdios eléctricos à guitarra, e a estilização dos diálogos (charadas filosóficas, citações e homenagens) remete para o período em que o cinema de outro americano "expatriado", Hal Hartley, se tornou menos interessante: até a rapariga sempre nua encarnada por Paz de la Huerta caberia no cinema pós-Amateur de Hartley. E com o decorrer do filme, The Limits of Control acumula repetições denunciadas e auto-citações que também fazem dele uma espécie de variação ampliada de "coffee with(out) cigarretes" com homicídio no final, para citar um anterior projecto de curtas do realizador.
Jim Jarmusch põe demasiada fé nas virtudes de um minimalismo que condiciona a progressão do filme a uma sequência de encontros, todos iniciados quando uma figura altamente distintiva se certifica de que o homem solitário de Bankolé não fala espanhol, troca com ele a respectiva caixa de fósforos idêntica mas de cor diferente, e o questiona sobre o seu interesse por filmes, ciência, whatever. O título The Limits of Control remete para modos diferentes do exercício do controlo. O controlo físico e emocional que identifica o protagonista ao longo da missão: e há um momento particularmente extremo que corresponde a um dos mais belos planos do filme (este felizmente repetido), quando obervamos a rapariga nua deitada ao lado de Isaach de Bankolé (que nunca fecha os olhos e "dorme" vestido), com a mão pousada na coxa do homem, em área propícia ao natural entumescimento do sexo; e o segundo controlo, objecto que The Limits of Control se propõe combater, explicitado quando Bankolé encontra o proto-tecnocrata todo-poderoso de Bill Murray, que representa o lado político do filme e a sua investida contra-corrente face a diferentes modelos de dominação: económica, militar ou cultural (de entretenimento). Pena que a originalidade do método Jarmusch se apresente aqui em perda de surpresa e coesão. A certa altura The Limits of Control é obra que se vê com recurso a metade do cérebro (só não perguntem qual). O estilo de Jarmusch confunde nalgumas situações onirismo e superficialidade, coolness e decorativismo (o slow-motion é quase sempre forçado; como também o é reincidir na universalidade da galeria de personagens).
Mas, e em síntese, a questão central talvez tenha que ver com a forte e constante presença de outros títulos do realizador, e com o facto de já termos visto isto no geral destilado para melhor cinema: Ghost Dog, por exemplo, é todo ele impecável, como agora, repito, apenas Isaach de Bankolé o consegue ser.
8.10.2009
Escrito na pele
In those days, a tattoo was still a souvenir – a keepsake to mark a journey, the love of your life, a heartbreak, a port of call. The body was like a photo album; the tattoos themselves didn't have to be good photographs. Indeed, they may not have been very artistic or aesthetically pleasing, but they weren't ugly – not intentionally. And the old tattos were always sentimental; you didn't mark yourself for life if you weren't sentimental.
John Irving, Until I Find You, págs, 74/75 (Random House)
8.09.2009
Bello na despedida
Desçam uns centímetros e notem as afinidades existentes entre esta imagem e a fotografia de Nastassja Kinski, a felina. Maria Bello não é tanto uma gata. Ela é mais carnal que isso. É uma mulher em que se acredita. Se nos distrairmos pode deitar-nos na cama, e depois cada um que se porte como souber. O retrato fica depositado para animar um certo "ambiente de trabalho". Gesto de despedida quando as férias terminam. E enquanto o filme Duets não arranca, quase a seguir (está por dias). Se se confirmarem as primeiras boas vibrações, o título justificará mais que a nota passageira. Voltarei a ti, Maria descalça. Tão aparentemente segura.
8.08.2009
Em reposição
8.07.2009
Porque gosto de rosas
Concealed in the petals of the rose are those of that other flower; you can discern a vagina in a Rose of Jericho, but only if you know what you are looking for. As Jack would one day learn, the harder to spot the vagina, the better the tattoo. (And in a good Rose of Jericho, when you do locate the vagina, it really pops out at you.)
John Irving, Until I Find You, pág. 24 (Random House)
John Irving, Until I Find You, pág. 24 (Random House)
8.06.2009
Flores para um amigo
No one detests smoking more than I; and, as I grow older, no one is tetchier than I. But even I, with the worst will in the world, must admit that I am seldom inconvenienced these days by the irritating exhalations of smokers. If a pub or a bar is too smoky for me to tolerate, I simply don’t go into it, that’s all. These days, smoke need not get in your eyes.
Theodore Dalrymple, Eating on the streets is a greater evil than smoking, Times Online 25.11.03
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