12.29.2006

2007, ano impossível











Desejo
Culpa
Expiação
Paixão


Talvez não.

12.28.2006

Quem tem medo da escrita highbrow?





This is hardgore





















Nancy Pelosi, é a nova presidente da Câmara. Hillary Clinton, provavelmente, será a próxima presidente. Isso deixa muitas pessoas esperançosas: estaremos melhor com as mãos de mulheres nas alavancas do poder. O que o sr. acha?
Não conheço nenhuma política mulher americana que diria algo tão estúpido. Mulheres no poder são exatamente como os homens. Como senador, meu avô se opôs ao sufrágio feminino com base em que, conhecendo as mulheres, tudo que elas fariam era tentar se esfaquear umas às outras. Ele estava absolutamente certo, ao menos durante sua primeira geração de eleitoras. Eu não coloco as mulheres num pedestal.

É surpreendente abrir suas últimas memórias e ver que este romancista erudito escreve tanto sobre os filmes e Hollywood. Por que os filmes são tão importantes para o senhor?
Bem, Hollywood é a nova ágora. E não digo isso aprovadoramente. Mas os filmes são a única coisa que as pessoas conhecem em comum. Minha geração foi criada em cinemas. Atrás de orientação, ou você ia à igreja ou aos cinemas. Somos absolutamente ignorantes de tudo o mais. Existirá algum americano que não saiba quem é Elizabeth Taylor? Será que algum americano ouviu falar de Catarina de Médicis? Pelo menos não escrevi minhas memórias em termos de beisebol. Seria ainda mais humilhante.

Esta, então, é a Era de Hollywood?
Sim. E é uma era horrorosa.

O sr. menciona no livro que quando Howard, seu companheiro de tantos anos, estava em seu leito de morte, o sr. o beijou nos lábios pela primeira vez em décadas.
Pela primeira vez na vida.

Por quê?
Você caiu na armadilha americana em que todo relacionamento é supostamente sexual. Venho palestrando para os britânicos sobre isso há anos. Eles ficam muito zangados quando chego a Bloomsbury, onde todo o mundo transava com o marido ou a mulher ou o filho alheios. O incesto não era desconhecido; aliás, era considerado um ponto alto na escala. Eu não poderia me importar menos. Se é isso que as pessoas querem fazer, não é problema meu. Para mim, é muito difícil viver com alguém a vida toda só para fazer sexo. É uma loucura. O sexo está em toda parte. Ninguém precisa sair caçando. Um relacionamento é algo diferente. Quando falo assim, isso não é muito apreciado em círculos gays. Eles querem ser um sexo totalmente novo. Bem, a homossexualidade, como a heterossexualidade, é apenas uma parte do comportamento comum dos mamíferos. Ela não tem a menor importância num relacionamento de toda a vida. Seja como for, quem pode jurar pela monogamia por 70 anos?


Entrevista com Gore Vidal, 81 anos, a pretexto da publicação recente do seu segundo livro de memórias, Point to Point Navigation. No Estado de S. Paulo. Não se fiquem pela amostra!

12.27.2006

Livros de cabeceira 2006, favoritos







«It's a great thing to have suffered. Only then can you get sick of it. You can make use of suffering to end suffering. Most people simply go on suffering. That explains the conflict I sometimes have between the role of spiritual director and that of therapist. A therapist says, "Let's ease the suffering." The spiritual director says, "Let her suffer, she'll get sick of this way of relating to people and she'll finally decide to break out of this prison of emotional dependence on others." Shall I offer a palliative or remove a cancer? It's not easy to decide.
A person slams a book on the table in disgust. Let him keep slamming it on the table. Don't pick up the book for him and tell him it's all right. Spirituality is awareness, awareness, awareness, awareness, awareness, awareness.» (pág. 141)

Anthony De Mello, Awareness

... e ainda António Osório, Casa das Sementes; Carlos Drummond de Andrade, Claro Enigma; Carlos Vaz Marques, MPB.pt; Filipe Santos Costa, A Última Campanha; Flannery O'Connor, Um Bom Homem é Difícil de Encontrar; Irvin D. Yalom, A Cura de Schopenhauer; Joan Didion, The Year of Magical Thinking; Philip Roth, Everyman; Ruy Castro, Rio de Janeiro - Carnaval no Fogo.

DVD's de prateleira 2006, favoritos


















Gianni Amelio, As Chaves de Casa

... e ainda Chris Marker, La Jetée + Sans Soleil; Curb Your Enthusiasm, the complete fifth series; Extras, the complete first series; François Ozon, 5X2 + Sob a Areia; Jim Jarmusch, Homem Morto + Vencidos Pela Lei; Laurent Cantet, O Emprego do Tempo + Recursos Humanos; Menuhin, The Violin of the Century; Wong Kar-wai, Dias Selvagens.

12.21.2006

Intervalo é também publicidade




















Recordo que amanhã, a partir das 22h, no bar Agito, têm lugar as Are you ready to be heartbroken Xmas sessions, comigo ao leme da música. Para quem puder vir mais cedo, acrescento que em antestreia e na íntegra, cerca das 21h, passarei o novo disco de JP Simões, 1970: ano auspicioso. Apareçam que serão bem-vindos!

12.19.2006

Não deixa de constituir parte do intervalo




















«I didn't realize that I was dealing not with my sister, but with a human being who had so much suppressed emotion. If I had fed that unseen part of her, that part that parents and friends and nobody knew, except presumably her lovers, I could have done much more for her. I too, you see, was underdeveloped in that respect. I wasn't speaking to human beings. Everyone liked me. Everyone accepted me. I was sympathetic. But that meant that I did not go threw the mill of suffering with others. Of knowing what went behind the scene. So, for me, most of the people was still characters in a play. And naturally my heart went out to the sick and to the poor, and to the exploited and to the slaves, but they were slaves and they were sick, they were not particular people. They were not individuals. And so I repproach myself now, very very largelly, of having failed my sister Hephzibah in not having been able to talk to her. Wich I could have, had I myself had any experience, about her deep emotional life.»

Yehudi Menuhin sobre a sua irmã Hephzibah Menuhin.

12.18.2006

Pausa (extraordinária) no intervalo

Para dar conta de que o novo Eastwood, Flags of Our Fathers, desiludiu-me. Quem me conhece sabe que não digo isto como quem escreve uma outra coisa qualquer. Reconheço que Flags of Our Fathers pode até ser um objecto necessário, hoje, e na América em particular, país onde alguns sectores tendem a promover a necessidade da guerra sem que saibamos se o que acaba pesando mais são as circunstâncias geopolíticas que não contemplam alternativas, se os propósitos lucrativos da indústria do armamento. Flags of Our Fathers propõe-se desmistificar a guerra, o que não é novo, mas sobretudo a política que lhe está associada e que dela se aproveita, aliada à promoção de um heroísmo totalmente alheio à realidade do combate armado, o que também não é original. Lamento alguns aspectos nos resultados deste filme de Clint Eastwood que, no entanto, se encontram além desses pressupostos. Flags of Our Fathers revela-se demonstrativo (virtuosismo demasiado consciente no "gesto", na exposição pelas imagens e nos contínuos recuos e avanços temporais) e mastigado, como algum cinema de Steven Spielberg quando este se propõe tratar os "grandes temas". Spielberg é o produtor de Flags..., que Eastwood realizou. Talvez tenha sido (mera especulação minha) a visão do produtor que acabou impondo-se à do realizador: facto que vai além do mimetismo no modo de filmar as sequências de combate como em O Resgate do Soldado Ryan, de Spielberg. Até para promover a toda a linha a desmistificação de qualquer coisa, convém não perder de vista os limites da acumulação de sinais que se tornam redundantes. Sublinhar o sublinhado do sublinhado é algo que não relacionamos com o cinema de Clint Eastwood. Pensem em Imperdoável, obra maior onde nada estava a mais e que igualmente operava contra a máxima denunciada noutro grande filme, O Homem Que Matou Liberty Valance, de John Ford, onde alguém dizia "quando um facto se torna uma lenda, imprima-se a lenda". Se ocorrer, como se antevê, nova consagração do cinema de Clint Eastwood nos Óscares entregues a 25 de Fevereiro do próximo ano, que seja pelo segundo filme do díptico, Letters From Iwo Jima. Qualquer eastwoodeano merecedor dessa responsabilidade sente já uma vontade enorme de acreditar que esse título superará em muito os méritos de Flags of Our Fathers, filme de guerra semelhante a vários outros, longe do que esperaríamos dele. Que fosse um objecto marcante: lúcido, desencantado, sentimentalmente enxuto, emocionalmente contido, eficaz (less is more), não se deixando tornar arrastado. Que escapasse à ostentação do seu estatuto de cinema "de qualidade". Ou seja, de cinema com "mensagem".

12.15.2006

Intervalo

12.14.2006

Tem "v" de Roca




















Este Natal, Rochemback volta.

Na imagem, a reprodução do único artigo (um postal) que conservo do meu clube. Cachecóis, camisola "de passeio", camisola de jogo, calção e gorro à parte.

Um ano depois


















Para corrigir injustiça feita ao homem que eu gostava de ser. Todos os anos.

Apenas a quem puder interessar




















Eis a prova.

Breve encontro

ELA falou-lhe de Jünger (Ernst), Huxley (Aldous), de Reininger (Blaine L.) e Brown (Steven). ELE falou-lhe de Hassell (Jon), Budd (Harold), de Sylvian (David) e Friedman (Burnt). Conversaram longamente. Foi tudo o que durou o seu primeiro encontro.

António Osório



Nascente

Quando sinto de noite
o teu calor dormente
e devagar
digo: cedro azul,
terra vegetal,
ou só
amor, amor;
quando te acaricio
e devagar
para que não despertes
tomo na mão direita
as duas fontes, iguais, da vida,
procuro a nascente
e adormeço
nela essa mão depositando.


Nome para esta capacidade de nos fazer sentir (poetas). Quem, de entre nós, não procura também "a nascente"?

12.13.2006

Pessoas que não lêem a Xis




















Como o Tomás (de Oliveira Marques) não se cansará de repetir, para os que venham a passar na VGM desta semana em diante, o Alpha 108 é disco só para "xis pessoas". Provavelmente o número daqueles junto dos quais tão desconcertante anfitrião tem vertido, com a parcimónia dos devotos, e por via de maqueta finalizada, os sons deste Cantar Lontano. Não mais maqueta (finalizada), o disco fez-se realidade: ainda e só para "xis pessoas". Que sejam em número tão indeterminado quanto isso.

Million dollar baby
























Milla Jovovich, a original.

(sempre bom regressar à banda-sonora do filme (obra menor) de Wenders. produzida por hal willner. com bono, daniel lanois, jon hassell, brian eno, bill frisell, brad mehldau... magnífica! magnífica como jovovich)

12.12.2006

Fisica(mente)















Acho-os parecidos. Sempre achei. Não me refiro ao talento dos "rapazes". O novo CD de Sam the Kid, Pratica(mente), é explosivo: detona até em baixo volume. O Miguel ainda não explode em campo. Quando o fizer é um defesa completo. E eles virão a correr buscá-lo. Não corram já! Ouçam a música primeiro. Ya dig?

Discos 2006, favoritos



















Johnny Cash, American V - A Hundred Highways

... e ainda Joan Manuel Serrat, ; Junior Boys, So This is Goodbye; Lura, M'Bem di Fora; Marisa Monte, Universo ao Meu Redor; Mayra Andrade, Navega; Post Industrial Boys, Trauma; Stephin Merritt, Showtunes; Tomasz Stanko, Lontano; Vincent Delerm, Les Picûres d'Araignée.

Alguma vez pensaram nisto?

A performance do gato















É um extra do DVD do filme de Jim Jarmusch: Broken Flowers, start to finnish. Basicamente o alinhamento ordenado das claquetes batidas para todos os planos (sessenta e tal, por aí). Marcadas, a espaços, por comentários, jocosos, lacónicos, de Bill Murray, o protagonista. E pelo jazz exótico do etíope Mulato Astatke. Não mais de sete minutos e meio de imagens e música. O clip é um estimulante aperitivo para a longa-metragem por vir, mesmo para quem já tenha visto o filme. Conclusão: "it's all about the cat's performance. It always has been, from day one." O gato existe, não é metáfora. Mas podia ser.

Recordar, cedo ou tarde












Diz o snobe: o culto estendeu-se dos sete aos setenta e sete. E daí? Os Humanos foi mesmo o que de melhor aconteceu à música portuguesa em anos recentes. Sugiro por isso a aquisição da edição limitada, com os DVD's do Coliseu e do Sudoeste. Depois é ver cantar Camané, firme e hirto como uma barra "de fado": a estrela pop, consumida e consumada. Mais os movimentos sinápticos de David Fonseca, que fazem deste o humano mais impressionante em palco.

Yalom sucede a Yalom




















Começo difícil: o génio tinha apenas dez centímetros de comprimento quando houve a tempestade. Em Setembro de 1787, o mar amniótico que o envolvia encapelou-se, atirando-o de um lado para o outro e ameaçando a frágil ligação com a praia uterina. A água do mar recendia a raiva e medo. Ele foi invadido pelos amargos ácidos da nostalgia e do desespero. Acabaram-se para sempre os suaves e doces dias a flutuar. Sem ter para onde ir e sem esperança de sossego, os seus pequenos impulsos neurais dilataram e dispararam em todas as direcções.
O que se aprende quando pequeno, aprende-se melhor. Arthur Schopenhauer nunca esqueceu as suas primeiras lições. (pág. 35)

E a Nietzsche sucede Schopenhauer.

12.11.2006

Muita guitarra


















O meu irmão. Pouco o vejo. Pouco falamos. Mas por esta época, quando nos oferecemos música, quase nunca erramos. Aliás, com um "clássico" acerta-se sempre!

12.06.2006

Sabedoria

Para que serve uma canção?
Não sei.

[Chico Buarque entrevistado por Carlos Vaz Marques em MPB.pt, pág. 36]

Ao Carlos Vaz Marques





















Estive lá - ontem, na Fnac Chiado - por causa do Chico, da Bethânia, do Milton, do Hermeto, do Ivan Lins, da Marisa, (vá lá) do Tom Zé, do Lenine, do Chico César, do Edu, da Vanessa, do Gismonti, do Ney e do Caetano. Estive lá, mais ainda, por causa do Laginha e do Camané que foram magníficos quando interpretaram quatro standards brasileiros. Mas estive lá, sobretudo, por causa do Carlos Vaz Marques que, como ele escreveu no meu livro (que é o livro que ele "ajudou" a escrever), é "amigo recente, cúmplice de muitos gostos em comum." Parabéns, amigo Carlos.

Este Sporting

Uma equipa em crise de inspiração a quem tudo sai mal. E estas coisas podem levar demasiado tempo a passar. Por isso permitam-me que hoje seja ainda mais sportinguista.

12.05.2006

Filmes em sala 2006, favoritos
















Uma História de Violência (David Cronenberg)

... e ainda O Céu Gira (Mercedes Álvarez); Entre Inimigos (Martin Scorsese); Infiltrado (Spike Lee); Juventude em Marcha (Pedro Costa); A Lula e a Baleia (Noah Baumbach); Match Point (Woody Allen); Rapace (João Nicolau); O Segredo de Brokeback Mountain (Ang Lee) e Walk the Line (James Mangold).

Nota: Flags of Our Fathers, de Clint Eastwood, só estreará a 11 de Janeiro de 2007.

E a vida continua...

«C. S. Lewis wrote a diary while his wife was dying. It's called A Grief Observed. He had married an American woman whom he loved dearly. He told his friends, "God gave me in my sixties what He denied me in my twenties." He hardly had married her when she died a painful death of cancer. Lewis said that his whole faith crumbled, like a house of cards. Here he was the great Christian apologist, but when disaster struck home, he asked himself, "Is God a loving Father or is God the great vivisectionist?" There's a pretty good evidence for both! I remember that when my own mother got cancer, my sister said to me, "Tony, why did God allow this to happen to Mother?" I said to her, "My dear, last year a million people died of starvation in China because of the drought, and you never raised a question." Sometimes the best thing that can happen to us is to be awakened to reality, for calamity to strike, for then we come to faith, as C. S. Lewis did. He said that he never had any doubts before about people surviving death, but when his wife died, he was no longer certain. Why? Because it was so important to him that she was living.»

[Awareness, Anthony De Mello, págs. 127/128]

12.04.2006

Are you ready to be heartbroken Xmas sessions




















Dia 22 de Dezembro, sexta-feira, no bar Agito (não vou repetir o endereço). Para animar os mais e os menos desesperados com a época natalícia. Começa às 22h. Apareçam quando não tiverem hipótese de continuar nas compras. A música estará quente. A música estará fria.

Blogues 2006, favoritos




















Acreditem em mim. Isto de divulgar escolhas pessoais não pretende ter aqui nada de interesseiro ou pretensioso. É apenas um vício. Gosto de ler listas de outros. Gosto de apresentar as minhas também. Gosto quando coincidem. Não espero nada em troca. Agradecimentos, retribuições, nada mesmo. Este ano a regra é muito simples. Um destaque - o favorito entre os favoritos - e os restantes nove apresentados por ordem alfabética. Vamos lá então. Primeiro, os blogues. To be continued...

Estado Civil ...

... e ainda As Aranhas; Bomba Inteligente; Da Literatura; A Origem das Espécies; A Praia (e prolongamento no Cinco Dias); A Sexta Coluna; Tradução Simultânea; Vício de Forma e Vidro Duplo.

Ilustração de Ken Meyer Jr.

12.03.2006

Em sossego e com dignidade















Uma das melhores sequências do filme A Rainha, de Stephen Frears, tem lugar quando o jipe conduzido por Isabel II fica com a transmissão partida ao atravessar um riacho. Enquanto espera por auxílio, a monarca vê surgir da paisagem impressionante que circunda a sua residência de Balmoral, um ainda mais impressionante veado "imperial". Quando mais tarde a rainha tem conhecimento de que o animal fora abatido por caçadores de uma propriedade vizinha, pede para vê-lo - já decapitado e pendurado para que o sangue possa escorrer por completo. Nesse instante a expressão da rainha mostra uma comoção que não lhe víramos antes quando recebeu a notícia da morte de Diana Spencer. Considerando, como considero, que a atitude predominante do filme de Frears é de imparcialidade face a tão principais figuras retratadas, sou também levado a pensar que a intenção do realizador com o episódio do veado "imperial" terá sido a de mostrar que Isabel II mantinha uma ligação afectiva com um mundo bem mais antigo e tradicional (onde a dor se vivia com dignidade e em recato) que o seu povo, já sob o efeito sedativo do espectáculo televisivo da emoção pronta a servir, não poderia alguma vez entender. A Rainha é assim um filme sobre o divórcio entre estas duas realidades. Acrescento que os tempos que vivemos me parecem desse ponto de vista, pelo menos, bem mais pobres. Tempos imperiais deveriam ser os outros.

Rapazes sob influência*




















E se Trauma fosse o melhor segundo disco da pop electrónica de todos os tempos? Apetece pensar que sim. Os georgianos Post Industrial Boys fizeram aterrar neste final de ano um conjunto longo de 20 canções (cujo único tema não original resulta em cover significativa de Take a Walk on the Wild Side) que embora remeta para o anterior CD homónimo (que já era grande disco), atinge patamares superiores de uma música igualmente misteriosa e poética que cruza a electrónica e o acústico rarefeitos, com discretas insinuações melódicas, vozes letárgicas e monocórdicas e letras que traduzem o isolamento emocional e a melancolia do homem - e da mulher - cosmopolita. Os rapazes pós-industriais sob influência mostram-se ainda mais inspirados do que até aqui. Que belo spleen. Que óptima surpresa.

* após primeira, parcialmente atenta (lia em simultâneo a última Op), e integral audição.

"Centenário"




















A Alpha acaba de fazer 100 discos. Assinala o feito um colorido "caderno de viagens" de Charles Tessier (séc. XVI, contemporâneo de John Dowland e alaudista como este), com navegação a cargo do agrupamento mais emblemático da editora: Le Poème Harmonique, dirigido por Vincent Dumestre. Porque é Dumestre, volta a ser de mestre. E difícil seria igualmente conceber melhor súmula daquilo que constitui o perfil musical que a Alpha baralha aqui para nos dar por muitos mais discos.

Manchester quê?

Podemos sempre dizer que jogámos com o Benfica a pensar no Spartak de Moscovo.

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