1.31.2008

Som da frente




















«(...) Cantuária é pela doçura, pela conjugação liberta dos vários elementos musicais, ou não fossem Jobim, Miles e Chet Baker três referências assumidas na sua música. Ele tem cabeça de músico de jazz, tão West Coast quanto possível, daqueles que da janela do apartamento olha o Central Park e vê nele a Baía de Guanabara. Faço-me entender?»


O número de Fevereiro da revista Atlântico traz o primeiro texto da imprensa portuguesa sobre o último disco de Vinicius Cantuária. Primeiro que o Ípsilon, primeiro que o Expresso, primeiro que a TimeOut, primeiro que os blogues. Por vezes conseguimos andar na frente. Não é questão de ser muito melhor. Mas é melhor por ser diferente.

1.30.2008

Italiano passivo









A pergunta é se o mundo ficava mais pobre caso não existissem discos de Mariano Deidda? A resposta dá-se pela negativa. Deidda, que por estes dias voltará a apresentar aos lisboetas o seu trabalho sobre poemas de Fernando Pessoa, é, paradoxalmente, o elo mais fraco das suas produções artísticas. O homem tem bom gosto nos poetas que elege, é compositor razoavelmente competente que não se aventura demasiado, faz-se rodear de músicos de grande qualidade - no seu CD mais recente, Rosso Rembrant, brilham o trompetista excepcional Kenny Wheeler e o tocador de oud Aleksandar Sasha Karlic -, só que as músicas raro se elevam para lá de uma mediania confortável servida pela voz pouco impressiva de Mariano Deidda. O drama de Deidda só será menor do que o de muitos de nós que cultivarão a música e a poesia, porque cedendo embora ao impulso criativo o seu trabalho dá testemunho de apuro estilístico superior (ao real talento). Deidda não deixará obra que resista à passagem do tempo: da competência não reza a história e até o génio leva tempo a gerar consenso. Por outro lado, ninguém o remeterá ao saco dos nulos. O mais punitivo que o seu trabalho pode suscitar é a relativa indiferença.

1.29.2008

Goliardo honorário


















Gianmaria Testa. Não conhecem? Eu também desconhecia. Perguntei na ocasião ao goliardo de serviço a quem pertencia aquela voz que à distância que separava o jardim, onde nos encontrávamos, do bar, de onde o som provinha, me parecia ser a de Paolo Conte? Santa ignorância: confundir o que não se confunde. Jamais. A música italiana não é apenas Roberto Murolo, Conte, Vinicio Capossela, Pino Daniele, Enrico Rava, Paolo Fresu, Pieranunzi, Ramazzotti (aaarrgh...), Jovanotti (auchhh...), Riccardo Cocciante, Avion Travel (que mais haverá para descobrir), basta ir aos sítios certos para comprovar as limitações de uma bagagem nunca inteiramente universal. Testa é daqueles que vale mesmo a pena descobrir. Escritor de canções propriamente dito, com uma bota na cidade e o outro sapato no espaço rural, olhos postos no mar, na natureza que encerra toda a sabedoria que o homem, cheio dele próprio, veio a esquecer por preguiça, por distração ou por deformada educação. Eduquem-se pela música e pelo vinho, meus caros. Isto se quiserem descender da categoria de goliardo honorário. Melhor que isso: o gozo não está na obtenção de títulos mas no prestar das provas. Começando por onde comecei: Montgolfières. Aliás, por onde me encontro ainda.

Enofilia




















«(...) Wines classified according to their effects: Baunes and burgundies such as Aloxe-Corton make you laugh uncontrollably. This is good quality laughter.
Bordeaux is responsible for the decline of French literary and philosophical thinking, because it makes you talk a lot and - worse - makes you think that what you're saying is important. It has the same inversion effect as marijuana - the more tangled the web you find yourself weaving, the more deep you think it is. Like most drugs, it's fatal for any serious work.
Barolo also makes you talk intensely, especially about art, but fortunately you have absolutely no recollection of any of the conversation (other than that you know it was brilliant).
Otoñal is good for making pornographic drawings.
Friuli wines can lead to very hot feet.»

A Year With Swollen Appendices, págs. 180/81

Foto: arquivo The Long Now Foundation

1.28.2008

Danson Metropoli (2006)
















Itália, pátria de Paolo Conte sobrevoada pelos conterrâneos La Piccola Orchestra Avion Travel. Bem acima do suficiente. A produção executiva é do próprio Conte que empresta a voz, inconfundível, ao seu Elisir juntando-a à de Gianna Nannini, outro aparelho vocal que impressiona. As versões descolam dos originais - a Avion Travel foi brava, bravíssima - que tinham de si um charme difícil de superar. Se o caminho de Paolo Conte se vem fazendo, em tempos recentes, na direcção de um certo despojamento instrumental (o som recolhido na atmosfera de intimismo dos últimos Elegia e Reveries), as versões aqui apresentadas abrem-se a diversas possibilidades de arranjos que soam de acordo com os recursos técnicos dos modernos estúdios de gravação. Resultado: grandes canções e faustosa (por vezes surpreendente) produção.

Missão cumprida (Smog) amigo
























Trazia-o debaixo de olho desde que li a entrevista de Bill Callahan na Mondo Bizarre há anos atrás. Passaram-se longos meses e a urgência como que se atenuara: quem anda na música compulsivamente sabe que as prioridades se atropelam umas às outras. Voltei então a cruzar-me com Tusk, desta vez marcado a preço menos recusável. Encontra-se na rampa das escutas recentes para agrado deste solitário entusiasta. Compará-lo com o "álbum branco" dos Beatles pode parecer forçado, mas acaba sendo pertinente: aproxima-os a crispação melódia, a liberdade formal e o arrojo da extensão. Merecerá para mim a fama que tem quando lhe der a fama que merece. O trânsito na rampa é intenso (vocês não fazem ideia) e atropelos dão-se a toda a hora.

Travar o Quaresma

O Sporting ganha ao Porto e não sofre golos. Este Sporting ganhará a este Porto um em cada seis jogos. Calhou ser ontem. Que bom que tenha sido agora. É preciso acreditar que somos melhor equipa do que na realidade somos para começarmos a pôr em campo as nossas reais capacidades. O futebol não é só físico, caso contrário seria também imprevisível. Prevejo então que após vitórias sobre o Penafiel e o Belenenses possamos falar de reviravolta. Nesse cenário, cada vez mais real, cabe-nos a conquista da Taça da Liga, o acesso à Liga dos Campeões 2008/09 e prestações dignas na Taça de Portugal (quem sabe... um segundo troféu) e na Taça UEFA. E só depois, com a tranquilidade que se deseja, dispensar quem justifica ser dispensado e ajustar o que necessita ser ajustado. Formação, Gestão e Paulo Bento: em busca da Glória.

1.25.2008

Achtung Lisboa

Nova Escola de Berlim
31 Janeiro – 6 Fevereiro 2008
Cinema São Jorge, Lisboa

















Programa
5ª, dia 31.1, 21h30 – São Jorge 3
Sehnsucht / Anseio 2006, 85’
Valeska Grisebach

6ª, dia 1.2, 21h30 – São Jorge 3
Bungalow 2002, 84’
Ulrich Köhler

Sáb, dia 2.2, 19h – São Jorge 3
Marseille / Marselha 2004, 95’
Angela Schanelec

Sáb, dia 2.2, 21h30 – São Jorge 3
Ferien / Férias 2007, 91’
Thomas Arslan

Dom, dia 3.2, 21h30 – São Jorge 3
Nachmittag / Tarde 2006, 97’
Angela Schanelec

2ª, dia 4.2, 21h30 – São Jorge 3
Klassenfahrt / Excursão escolar 2002, 86’
Henner Winckler

3ª, dia 5.2, 21h30 – São Jorge 3
Schläfer / Adormecido 2005, 100’
Benjamin Heisenberg

4ª, dia 6.2, 19h – São Jorge 3
Wolfsburg / Wolfsburgo 2002, 93’
Christian Petzold
com a presença do realizador

4ª, dia 6.2, 21h30 – São Jorge 1
Gespenster / Fantasmas 2005, 85’
Christian Petzold
com a presença do realizador



Mais informação, atempadamente, aqui.

Vincent Prozac

Para usar em dias de sol e abusar em dias de spleen.

Send in the clouds

Brian Eno, "By This River". Videoclip não oficial.

A Arca de Anderson










A Arca de Wes Anderson é desta vez um comboio. Primeiro o The Darjeeling Limited e depois um outro, no final, onde o realizador reúne a família inteira de personagens. Nesse sentido o seu cinema não se alterou um milímetro. Regressamos à "casa de bonecos" de quem subverte os compromissos da vida adulta, de quem recusa levar-se a sério, porque isso implica várias separações. De qualquer modo este é um bom filme para os que gostam de ver goradas as expectativas. E, como o resto da obra de Anderson, terá tendência a ser valorizado com mais de um visionamento.

1.24.2008

Scott Camus




















Há uma frase de Camus inscrita num disco de Scott Walker de que me venho lembrando desde a adolescência com diferentes graus de intensidade. Hoje foi particularmente intenso, razão pela qual não resistindo à necessidade de o referir aqui não me alongo mais que isto. A imagem reforça o tributo a uma voz que cantou como também eu gostaria de o fazer. Em sonhos tenho a certeza que o faço. Mesmo que não possa garantir que os meus sonhos sejam sonorizados.

1.23.2008

There will be blood




















A pensar nos Oscars, provavelmente.

1.22.2008

Condutores de histórias















Robert Mitchum fotografado por Terry O'Neill

The Yakuza, realizado por Sydney Pollack em 1974, é um filme que ainda impressiona pelo sentido de economia narrativa. E também pela capacidade de não sacrificar a gravidade do tom geral às inúmeras revelações e reviravoltas do argumento: história de Leonard Schrader desenvolvida pelo irmão deste, Paul, e por Robert Towne. Uma cena que me marcou em particular, agora, cerca de vinte anos volvidos sobre a última vez que o vi, tem lugar quando Tanaka Ken (Takakura Ken) pergunta a Harry Kilmer (Robert Mitchum) se aranjara família após ter regressado aos Estados Unidos: Mitchum interpreta um ex-polícia militar que estivera no Japão ocupado pelos norte-americanos no período que precedeu a 2ª Grande Guerra. Nesse tempo Kilmer viria a apaixonar-se por uma japonesa (Eiko) e a cuidar dela e da filha (Hanako), ainda criança. Tanaka Ken continuava sendo para Kilmer - de regresso ao Japão duas decadas depois e às cidades de Tóquio e Quioto que, curiosamente, também na língua inglesa usam em rigor as mesmas (no caso cinco) letras: T-O-K-Y-O/K-Y-O-T-O - o irmão de Eiko, embora venhamos mais tarde a saber que o grau de parentesco é de outra natureza. A resposta de Kilmer/ Mitchum é negativa, o que na minha opinião dá acesso ao tema central do filme. O da perda da família que escolhemos para nós e que identifica tanto o indivíduo como a família onde nascemos: e mais ainda se se pensar que a segunda família é aquela que existe no prolongamento da vida adulta. Kilmer e Tanaka Ken são ambos orfãos da mesma família a que em momentos diferentes pertenceram. Talvez isso os aproxime com essa força que se manifesta em rara nobreza de carácter. Estes homens compreendem-se um ao outro como se fossem os mais íntimos irmãos, amigos, camaradas. O seu pacto supera qualquer obstáculo e encontra-se para além do entendimento dos restantes personagens. Mas não do espectador, hélas, daí o fascínio que este filme exerce sobre mim como só as coisas primordiais podem fazer. Num dos extras do DVD, intitulado Promises to Keep, Sydney Pollack refere-se à dificuldade de encontrar um tema entre vários que no interior do seu filme justifique o destaque. E acaba citanto um poema de Robert Frost, Stopping By Woods On a Snowy Evening, para falar daquilo que talvez considere ser o mais essencial e que passa pelos pactos que as circunstâncias levaram a que se estabelecessem entre os personagens e a obrigação ao seu cumprimento, no japonês "giri". Tanaka Ken explica que a palavra/conceito/ideia tanto pode ser entendida por "dívida" como por "fardo". Tudo depende da consciência de cada um, algo que também condiciona o modo como este grande filme de Pollack poderá ecoar no interior de cada espectador. O sono a que se refere o poema de Frost é a própria morte e aquela "dívida" - assumida nas suas diferentes formas - fará connosco a maior parte do caminho.

Americana




















Americana é categoria que não engloba toda a música produzida por americanos nos Estados Unidos. Mas existe Americana feita fora da América, por músicos de outras nacionalidades, que cultiva o seu espírito e que se inspira nas raízes musicais daquele país. Estes discos são bons exemplos da amplitude do conceito de Americana (teria interesse discutir qual dos dois é o "mais americano") , facto que me ocorreu por se tratarem de escutas muito recentes. Estas 200% americanas.

1.21.2008

Contadores de histórias

























Paul Schrader (fotografado por Perry Curties).

1.18.2008

Se isto não é um raccord











































Experimentem fundir na imaginação as duas imagens. Eu vejo aqui cinema: forma, dramaturgia. Vocês não?

1.16.2008

Podium














Podiam estar, ou antes, seguramente estariam junto das minhas escolhas da melhor música editada em 2007, caso os tivesse escutado no decorrer desse ano. Eu que me havia afastado dos Animal Collective depois de Sung Tongs, vim a encontrar em Person Pitch, de Panda Bear (um dos elementos da banda), o elo então perdido. Há um lado hipnótico que resiste a que se tente separar as "canções" do disco, e há também qualquer coisa do espírito de Brian Wilson projectado até nós de uma galáxia longínqua. Com os LCD Soundsystem o que ocorreu é ainda mais incompreensível. Tudo no som de James Murphy é excessivo e a qualidade não foge à regra. Aquilo suga-nos a atenção de uma maneira completamente diferente de qualquer outra música produzida actualmente. E no de vez em quando disto tudo fui adiando o primeiro contacto atento com Sound of Silver, que agora desse mesmo ponto de vista me parece mais eficaz que o anterior CD. Arrebatador para certos e determinados dias (mas pouco caseiro). Ao contrário de Fiel Knapp de Bjørn Torske, a grande surpresa do lote. De paragens de onde sinceramente já não esperava ver surgir grande coisa - a geografia incerta de um hemisfério de fantasia que podemos aceitar ter por origem as experimentações "quarto-mundistas" de Brian Eno e Jon Hassell continuadas, e para escolher o melhor exemplo, no episódio Satta dos alemães Boozoo Bajou, a Noruega marca pontos e hospeda a mais surpreendente proposta de música de dança que não se dança em anos recentes. Original mas mais importante que isso assente numa estrutura de clássico que salta à escuta. Desacelerado até ao dub e muito ligeiramente reacelerado às dinâmicas de uma house electrónica sem geografia descortinável. O albino Torske é esquimó com alma de jamaicano.

1.15.2008

Ou a perspectiva de emigrar














"The art modelling world, on the male side, tends to be over 50, fat and balding and we don't do that," Ms Bonne said.
"I think our business wouldn't be as hugely successful if we even considered doing that. Our guys are all fit and friendly. [Women] don't want to go see a stripper because it's really tacky and it's over so quickly. We have also got that risque aspect of looking at a good-looking guy." Each Saturday Ms Bonne leads an average of eight groups, of up to 30 students. She is desperate for more male models. She has four now, including a fireman, who "the girls love … he's a real Chippendale type".
Despite the chance to earn up to $500 a day, she said it was difficult to find blokes for the job. "It's penis anxiety. They're worried about being judged."
Drawing is combined with games, wine and music.
(...)

Sydney rules.

Razões que quase me fariam ser gay

ANGELS IN AMERICA, escrito por Tony Kushner; realizado por Mike Nichols. Um filme em seis partes.

1.14.2008

A terceira razão

Para mim, passe a questão de para outros não passar de um pormenor, a mais importante: a imagem documenta uma conversa onde a referência ao supra-sumo dos Single Malt importa destacar. Era um Talisker, era um 12 anos, apesar de armadilhado com a escuta. Sorkin não sabe apenas do que fala. Sabe pôr a falar do que bebe também.

1.11.2008

O meu Obama













Bryan Habana, explosivo avançado dos Springboks e um dos melhores jogadores de rugby da actualidade.
Os seus ensaios fazem já parte da lenda deste super-desporto.

1.10.2008

Oh como és poupadinho Ricardo















DVD (5,67 euros)
Livro (8,01 euros)
CD-duplo (7,93 euros)
Total + IVA + portes (34,17 euros)

Ao espelho












Simone de Beauvoir, tal como surgiu na capa do Nouvel Observateur da semana passada. Nicole Kidman, nos momentos iniciais do derradeiro Kubrick: Eyes Wide Shut. Elas ao espelho. Nós entregues aos nossos fantasmas.

O fiel timoneiro

Dizem-me que Paulo Bento é adepto do Benfica. Se tal for verdade é aquele que mais merece a minha consideração de entre todos os rivais da 2ª circular. O Sporting fez ontem uma primeira parte miserável (repito, miserável), encolhido frente ao Setúbal e na segunda metade continuou a revelar incapacidades preocupantes na qualidade do passe, profundidade atacante e finalização. A equipa dá dó de ver jogar e quando o elemento que mais se destaca é o guarda-redes Stojkovic, está tudo dito. Had fez um jogo próximo da nulidade (nada lhe saiu bem), Purovic é de uma incomodidade confrangedora, Izmailov vai-se abaixo das canelas ao mais pequeno choque, Polga e Tonel deixaram de dar um com o outro depois de se entenderem na perfeição, no meio-campo só Moutinho e Vukcevic puxam a carroça verde e branca e mesmo assim frequentemente sem que isso se reflicta na produtividade do grupo. Liedson, mesmo quando faz beicinho, nota-se que é de categoria à parte. Os amuos e a consequente desconcentração são a única intermitência no seu brio e na sua raça. Oxalá Derlei recupere logo para voltarmos a ter samba lá à frente.
Perante este cenário e sem cheta para reforços, Bento pouco ou nada pode fazer: excepto corrigir e persistir. Se bem que eu o considere o elemento determinante à recuperação que o Sporting venha a encetar: diz o povo que "não há bem que não acabe ou mal que sempre dure". Sinto-o penalizado por um trabalho de comunicação do meu clube que roça a pusilanimidade. No lugar de dirigente já tinha dado instruções – e no início da época – para que a mensagem difundida fosse tão clara quanto possível. A prioridade passa pelo equilíbrio das contas (diminuição do mastodôntico passivo que implica o pagamento de tiranossáuricos juros), pela formação de activos na Academia que possam valorizar-se em devido tempo, reforçando primeiro a equipa principal e tendo por objectivo último a sua rentabilização numa transferência para um emblema poderoso de um campeonato próspero. E talvez, daqui a uns anos, o Sporting possa almejar a outras glórias, internas e externas. Paulo Bento é também neste sentido o técnico certo num cenário que muitos teimam em perturbar por entre expectativas irrealistas face à racionalidade dos números que conduz o desígnio empresarial que preside aos maiores clubes, sabotando de caminho o melhor aproveitamento dos jovens que o Sporting deseja integrar no plantel sénior.
Não deixem Paulo Bento isolado! Sejam homenzinhos, senhores dirigentes do Sporting Clube de Portugal. Estendam-lhe a blindagem com que querem proteger a equipa. E repitam para os adeptos que este é o melhor conjunto de jogadores possível relativamente às prioridades estabelecidas a curto-médio prazo, também resultado dos percalços (lesões, inadaptações) que a máquina humana sempre acarreta. Deixem-se de silêncios reveladores de tibieza comprometida, sobretudo com a obrigação de ver o estádio sempre cheio. Respondam aos boatos com transparência. Chamem os sportinguistas ao imperativo dos factos e talvez tenham uma surpresa. E acima de tudo não façam e não deixem que outros façam de Paulo Bento o próximo bode expiatório. Somos todos do Sporting. Saibam respeitar o carácter e a alma que distinguem este clube.

1.09.2008

Notas soltas a desenvolver noutro lado






















1. Distortion é título que plasma de novo e pela terceira vez o conceito. Depois das "69 canções de amor" e da totalidade do alinhamento preenchida com temas iniciados com a letra "i", a distorção - porosa, como nos VU - preenche as 13 músicas do novo disco. 2. Várias destas canções (talvez metade do disco, por aí) tem qualidade para constar do cancioneiro de referência (o triplo-CD de 1999) e algumas estão - com jeitinho... - entre as melhores de sempre: Please Stop Dancing, Drive On, Driver (espécie de primo afastado do Papa Was a Rodeo), Too Drunk Too Dream, I'll Dream Alone. 3. A distorção não é nova no universo dos Magnetic Fields: existe pelo menos desde esse precioso Ep The House of Tomorrow de 1992, bem no início da discografia da banda. 4. A distorção puxada à frente impede de ouvir tudo da primeira vez. É de evitar a introdução a Distortion por meio de auscultadores, vulgo "edefónes". Falo por experiência própria. Estas canções, sufocadas de ruído (como naquela sensação de escutar música de madrugada, com os tímpanos cansados de tanto decibel e a cabeça atordoada por demasiado etanol), precisam mais de respirar do que quaisquer outras. 5. Quando sentimos como que devoção por um projecto musical e o seu último disco não nos arrebata de imediato, há a tendência para acreditar que se trata de um grower. Coisa que Distortion rápido se encarrega de provar ser verdadeiro. 6. O disco é bom como o caraças - e falta espiolhar com detalhe a lírica do mesmo: 4 estrelas.

Gostava de pedir à Sara que pusesse a tocar no blogue dela a canção Please Stop Dancing, que tenho a certeza será das suas favoritas também. Pode ser?

À venda na próxima semana.

Que esteja connosco

Stoj, Had, Izma, Simon, Puro, será uma potência de Leste a defrontar o Setúbal logo à noite. Que a força esteja com eles.

1.08.2008

Zona 2 (raro)
























Essas lâminas bem afiadas que ele está a chegar.

1.07.2008

Definição de amor


















No seu número especial de Natal e de Fim-de-Ano, a revista Inrockuptibles pediu a alguns dos eleitos pela redacção nas diferentes áreas para escreverem sobre o 2007 deles que chegava ao fim. Éric Reinhardt, autor do romance Cendrillon, falou sobre a promessa celebrada com a mulher, a quem fora diagnosticado cancro da mama, e que passava por ela vencer a doença e ele obrigar-se nesse período a concluir o romance. O testemunho de Reinhardt é de tal modo íntimo, não escondendo o que de mais profundo pode um casal partilhar perante um problema desta natureza, que o mesmo se pergunta a certa altura do texto, "Pourquoi je raconte ça, ces choses si personelles, par exhibitionisme?". E depois, com desarmantes honestidade e modéstia, dá a resposta óbvia. Porque de entre os leitores da Inrockuptibles talvez existisse alguém que estivesse a passar por um drama semelhante e ele pretendia deixar uma palavra de encorajamento. Pretendeu mais ainda e é nesse momento que o texto de Éric Reinhardt se transcende: começando por referir que olhando retrospectivamente para o período em que esteve doente, a mulher do escritor francês disse sentir uma espécie de nostalgia. Reinhardt não esconde que o termo pode parecer inapropriado, chocante até. Ele que sempre ouvira dizer que casais que fossem colocados face a uma situação idêntica tenderiam a afastar-se, que a mulher perderia a sua dignidade, que o desejo desapareceria, que os amigos afastar-se-iam, que os filhos ficariam traumatisados, que o quotidiano se transformaria numa experiência desoladora. Que a doença, mesmo se vencida, destruiria tudo à sua passagem. O que Reinhardt nos diz hoje, nesse texto da Inrocks, é que nos devemos comportar sempre de forma a nos tornarmos nostálgicos. Que devemos procurar, custe o que custar, a beleza das coisas. A beleza do presente, de estar junto, de lutar em conjunto, de amar o outro sendo correspondido. Amor, na definição de Éric Reinhardt, (e aqui de novo não traduzo) "... et une proximité urgente, entiére, incandescente, qui donne un prix inestimable à chaque instant." Quantos de nós estão à altura de amar assim? Não olhem para mim que humildemente, e com as mãos tapando o rosto, acabo de abandonar a cena.

Não sem antes deixar...

Nota 1: a imagem diz respeito ao filme Brigadoon, de Vincente Minnelli, a mesma que usam na Inrocks pois trata-se do filme fetiche de Éric Reinhardt referido frequentemente no seu livro.

Nota 2: O disco Boxer, dos The National, não consta do top 50 dos redactores da Inrocks. ESCÂNDALO que não é sequer atenuado pelo facto dos leitores da revista não terem eles também incorrido em tão imperdoável falta de atenção.

1.04.2008

Brian Eno no ano do seu sexagésimo aniversário

Brian Eno fará 60 anos de idade no próximo mês de Maio, data da edição da biografia On Some Faraway Beach, da autoria de David Sheppard, que contou com a colaboração do artista. Seguirei por certo fazendo referências ao seu trabalho, predominantemente o musical. Com desvios de puro prazer para o diário que venho lendo sem pressas. Em 2008, como se vê, os protagonistas continuarão sendo eu e ELE:

[…] Bono stars to form the idea that this could be a song about being besieged, people trying to carry on doing ordinary things (playing piano, buying shoes) while their city is being shelled. Interesting evolution of a vocal idea: he starts with a line that goes, ‘Is there a time for cutting hair?’, this gradually moving into ‘Is there a time for this and that and the other?’, in his new list-making style of writing. Then I suggest that other voices do the first half of each line – I’m thinking Motown – so Edge and I (now known as the E-notes) sing, ‘Is there a time …’ and Bono responds with the rest of the line. We do it again, alternating ‘Is there a time’ and ‘a time’ so ending up with ‘Is there a time … a time … is there a time … a time’ but on each second stanza the last line becomes just ‘Is there a time?’ Of course, Bono, being a natural-born singer, ends up filling every available space and singing over our bits as well, which I keep saying doesn’t sound so good, but which he just can’t help doing. It doesn’t sound so bad either. Singers are like Arabs: they abhor a vacuum. And a vacuum is defined as ‘when I’m not singing’.

But the result is really charmed – a misty, melancholy bitter-sweetness undercut by the sharpness of the setting: the Miss Sarajevo Beauty Contest (where a group of Bosnian artists and their girlfriends put on an elaborately kitsch beauty pagent while the Serbs are shelling Sarajevo). It’s so straightforward working with men like this – no ego decisions, no politics. We think this may be the song for Pavarotti (who phoned again). […]

[Brian Eno, A Year With Swollen Appendices, entrada de 24 Maio 1995]


... e agora veja e ouça o "resultado", logo abaixo.

O resultado

Passengers, "Miss Sarajevo".

1.03.2008

Ground zero
























Sou o que permanece fiel às suas comoções e o cinema dos poucos territórios onde isso não representa um embaraço. Antes um consolo.

As imagens referem-se a 25th Hour (excelente todo ele) e a I Am Legend (vale 45 inquietantes primeiros minutos). O cão da direita também podia vir do assombroso Stalker. Pelo menos para mim.

1.02.2008

Papagaios

"Les cerfs-volants", do primeiro álbum de Benjamin Biolay. Uma canção para vos receber aqui em 2008.

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