6.28.2007

Os livros nada podem em relação à vida
























Na Casa Fernando Pessoa debate-se neste momento se existem livros de Verão. Paula Moura Pinheiro refere-se ao elogiadíssimo Philip Roth, Todo-o-Mundo, dizendo que nunca aconselharia a alguém que lesse Roth no Verão. Percebo que a opinião dela tem a ver com a cruel lucidez do norte-americano, com o absoluto desencanto que destoará da promessa dourada pelos raios de Sol. Mas penso... que li Roth justamente num determinado Verão, em estado de euforia amorosa e que tendo embora adorado o livro que li nessa altura, nada do que ali estava escrito influenciou o meu estado de espírito. A vida fora das páginas de Roth experimentava uma intensidade que a intensidade das páginas de Roth nunca conseguiria aplacar.

6.26.2007

Mudanças




















Ele transfere-se amanhã para Downing Street. Eu passarei a residir a partir de sábado no "palácio" de S. José. Os governados do mundo inteiro aguardam na expectativa.

Never a frown
With Gordon Brown
Never a frown
With Gordon Brown

Música delicada


















Cécile Schott teve a delicadeza de nos presentear com novo disco - o terceiro -, talvez mais essencial que os anteriores. Arrumar na letra "c", de Colleen, música outrora electrónica, depois electroacústica e agora simplesmente acústica. E sempre silenciosa.

6.21.2007

Outro devaneios

Os mais recentes discos de estúdio de Paolo Conte continuam a ser Reveries (2003) e Elegia (2004). Já aqui dei conta, e não será esta a última vez, da minha paixão pelo repertório de Conte cujo imaginário muito pessoal - entre o sonho desperto e a doce melancolia - se foi tornando mais e mais familiar quase sem que eu desse por isso. Um fenómeno, diria, da ordem do entendimento irracional, que só as artes permitem por nos fazerem sentir coisas que escapam por vezes à sua compreensão. Um dos obstáculos passava pelo meu domínio deficitário da língua italiana, mais do que evidente quando me propus traduzir uma das canções. Nestes dois CD's, onde é evidente o propósito de corresponder à notoriedade internacional do músico, as palavras surgem-nos traduzidas pelo menos em inglês. Passei o início da tarde de volta de Reveries e de Elegia. Escutei duas vezes cada um dos CD's. Atento às palavras, à ironia e à auto-irrisão das letras, soltas como numa nuvem de fumo, o seu significado esfumando-se quando depois de as lermos tentamos apreendê-lo. Como no magnífico texto de um dos muitos clássicos de Paolo Conte, que por mero acaso tem o mesmo nome deste blogue: Reveries.























Nous, de temps en temps
nous sommes des enfants
sans problèmes ni loi
de nos droit on est sûr
les mains sales d’confiture
contre le sofa…

Depuis ce matin
nos pattes sont en satin,
fauves les yeux pleins d’sauvage
dans la nuit d’la savane
se moquant de la rage
d’quelq’un en panne…

Oh, spleen, oh, rêverie
Oh, spleen, oh, symphony
Oh, spleen, oh, memory!

Oui, pardon, pardon…
Ah, oui, glissons, glissons…
Habillé en bel-homme, j’ai perdu ma jeunesse
Mon visage de canaille,
en laine-grisaille…

Oui, de temps en temps…


Outros dois discos magníficos de um artista total.

6.20.2007

Adenda menos sombria ao Ex-Ivan Nunes
























Neste caso o que Deus fez, Marianne ajudou e muito a desfazer.

Marianne Faithfull fotografada por Terry O'Neill (1964)

Não me queixo
























«O pai costumava sempre ir deitar-me, contava-me as histórias mais maravilhosas do mundo, líamos juntos o The New York Times e às vezes ele assobiava «I Am the Walrus*», porque era a sua canção favorita, embora não soubesse explicar o que significava, o que me deixava frustrado. Uma coisa fantástica era ele conseguir encontrar um erro em cada artigo que líamos. Às vezes eram erros de gramática, outras eram erros de geografia ou relativos a factos e outras, ainda, o artigo não contava a história toda. Adorava ter um pai que era mais esperto do que o The New York Times e adorava sentir na cara os pêlos do peito dele através da T-shirt e o perfume agradável da loção para depois da barba a que ele cheirava sempre, mesmo ao fim do dia. Estar com ele acalmava-me o cérebro. Não precisava de inventar nada.»

[Jonathan Safran Foer, Extremamente Alto e Incrivelmente Perto, pág. 27]

* Canção dos Beatles (N. da T.)


Os meus momentos de leitura continuam a ser extremamente escassos e incrivelmente curtos.

Paixão
















Gosto de Lady Chatterley como gosto de As Pontes de Madison County. Filmes que mostram a construção da relação entre um homem e uma mulher. Que dão a ver a criação da intimidade entre dois corpos. Filmes que registam, atentos, a vibração dos sinais. Que revelam disponibilidade e que não têm pressa. Onde o despertar da paixão coincide com o momento em que o olhar feminino é surpreendido pela visão do corpo masculino. Onde esse tal começo não vem afinal a ser aquilo que estas histórias têm de mais significativo. A determinação humana, sim, essa é que produz toda a diferença: no modo como influencia e é influenciada pelas circunstâncias. Pelo menos até um determinado momento...

6.12.2007

Petr Ginz (1928-1944)

















Uma história incrível e verdadeira.

Meia página

«Em anos posteriores, sempre que Edward pensava nela e a evocava, ou imaginava escrever-lhe, ou chocar com ela na rua, parecia-lhe que uma explicação da sua existência levaria menos de um minuto, menos de meia página. Que fizera de si mesmo? Vagueara ao sabor da corrente, semi-adormecido, desatento, sem ambição, sem seriedade, sem filhos, confortável. Os seus modestos empreendimentos eram, na maioria, materiais. Possuía um pequeno apartamento em Camden Town, era co-proprietário de uma casinha com dois quartos de dormir em Auvergne e era sócio de duas lojas de discos especializadas em jazz e rock and roll, empreendimentos precários a serem lentamente minados pelas compras na Internet. Supunha que os amigos o consideravam um amigo decente e tinha bons períodos, períodos loucos, especialmente nos primeiros anos. Era padrinho de cinco crianças, embora só começasse a desempenhar esse papel no fnal da adolescência destas ou quando já tinham vinte e tal anos.» (Na Praia de Chesil, Ian McEwan)


Últimos parágrafos de uma novela magnífica.

Outros passam, o Condor fica













Kathy e Turner despedem-se um do outro numa estação de comboios. Joe partirá para Washington para tenter resolver de uma vez por todas o mistério de ter a CIA atrás dele para o matar. Ela irá juntar-se ao namorado nas montanhas de Vermont. Ele pergunta-lhe se o namorado é um tipo duro. Kathy diz-lhe que acha que sim. Joe pergunta depois o que ela acha que ele fará quando souber do envolvimento dos dois nos últimos dias. Ela responde que ele compreenderá. Joe acrescenta, "isso é ser duro". Quando o cinema deixou de apresentar estes modelos de masculinidade, foi quando comecei a perder interesse pelo cinema. E acrescento que não lhe auguro grande futuro (também não me preocupo muito com isso). Posso sempre olhar para o passado. O caminho é ver de novo e recordar o que ficou lá atrás.

6.11.2007

Teste
























Robert Redford e Richard Helms, consultor da CIA para Os Três Dias do Condor, na Ilha Ryker, Nova Iorque (1975). Fotografia de Terry O'Neill.

6.08.2007

Ao centro

Cpyoga Lisboa

Queixos e suspiros







































Roger Federer e Quentin Tarantino; Hope Sandoval e Jennifer Charles.

6.06.2007


Apenas as melhores














Whichita Lineman

I am a lineman for the county and I drive the main road
Searchin' in the sun for another overload
I hear you singin' in the wire, I can hear you through the whine
And the Wichita Lineman is still on the line

I know I need a small vacation but it don't look like rain
And if it snows that stretch down south won't ever stand the strain
And I need you more than want you, and I want you for all time
And the Wichita Lineman is still on the line

[Interlúdio instrumental]

And I need you more than want you, and I want you for all time
And the Wichita Lineman is still on the line

[Instrumental até ao fim]


Escrita por Jimmy Webb e popularizada por Glenn Campbell (os senhores na foto), uma canção tipo "estrada fora", infinitamente americana. Escutei-a recentemente ao rever parte de um filme que abomino - Tarnation, de Jonathan Caouette - mas que tem óptima banda-sonora. Isto no fundo para dizer que I'm still on the line. Pelo menos aqui, independentemente das pausas visíveis nestas semanas.

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