«"So what can you do on a Saturday night -- alone?"
That lyric, sung by lonely young men in Brooklyn desperate for romance, is at the top of "Saturday Night." For those of us who don't find Sondheim's songs pretentious and unfeeling, it encapsulates the deeply felt Sondheim signature emotion in its fetal form: the aching, ambivalent and often thwarted desire to connect with someone. It's the naked yearning that runs through "With So Little to Be Sure Of", "Too Many Mornings", "Being Alive", "Pretty Women", "Not a Day Goes By", "Finishing the Hat".» (Conversations with Sondheim, Mar. 2000)
(...) Ah! Pretty women, at their mirrors,
In their gardens,
Letter-writing,
Flower-picking,
Weather-watching.
How they make a man sing! (...)
Esta é a rara e muito generosa entrevista com Stephen Sondheim, antiga de sete anos mas extensa (17 páginas), cúmplice e que traça a retrospectiva sobre os 70 anos do compositor celebrados na altura. Ilustrada aqui com imagem de outra proveniência. Como dizia a um amigo, quando escuto música de Sondheim - canções de Sondheim - sinto vontade (o desejo inútil) de deitar para o lixo metade da minha discoteca. E também já amarguei sábados à noite pensando sozinho no amor, no romance, idealizando sozinho ou em conversa relações passadas, esquecendo os fracassos e lamentando a falta de capacidade para tornar vivos sentimentos que não encontrava ali agora. Como também dei já por mim a trautear o repertório sondheimiano, de cabeça para baixo na cadeira do dentista, olhando nos olhos das finalistas da Faculdade de Medicina Dentária que se acercavam de mim com uma curiosidade outra - musicando eu os meus pensamentos... "pretty women..." -, vendo a imagem invertida daqueles rostos, daqueles olhos que por vezes chegavam aos pares. Sondheim é assim, serve muitas situações: as boas e as nem por isso. Um homem não deve nunca é perder a capacidade de cantar. Dê lá por onde der, e com as outras notas todas.
5.30.2007
5.29.2007
5.28.2007
5.25.2007
Eastwood goes rock
Julgava eu que Heartbreak Ridge (1986) fosse dos títulos menos apreciados de Clint Eastwood quando me deparo com uma "horta de tomates" quase todos frescos. A fazer canastrão como ele só o par de filmes que Eastwood protagonizou para o director de duplos Buddy Van Horn e para James Fargo: Any Which Way You Can e Every Which Way But Loose. Trata-se aqui de um objecto narrado "à patada" e sem grandes cuidados de realização. A coisa não esconde o intuito de se assumir cabotina. Heartbreak Ridge é à superfície uma paródia sobre a masculinidade confusa, sobre o lado eternamente juvenil dos homens e só depois deixa entrever a glorificação do heroismo militar, tomando por modelos a "velha escola" da coragem e do desenrascanço. Se Bird é por razões óbvias o filme jazz de Clint Eastwood, Heartbreak Ridge será o seu filme blues-rock FM: trata-se, afinal, de um objecto dos anos 80. Tipicamente anos 80. É noutra medida uma variação (menos conseguida, pelo menos enquanto retrato de grupo) do The Dirty Dozen, de Robert Aldrich, com a ressalva do aditivo de carisma de Eastwood não constar desse conjunto imperfeito. Assim sendo ficamos no caso com um exemplar da galeria mais popular de Clint, que não escondeu nunca a atracção que sobre ele exercem os filmes que não se levam a sério, no meio de outros que são para levar muito a sério.
5.24.2007
Uma história da memória (the disintegration loops)
«In the process of archiving and digitalizing analog tape loops from work I had done in 1982, I discovered some wonderful pastoral pieces I had forgotten about, having never recorded them before. Beautiful, lush cinematic truly American pastoral landscapes swept before my ears and eyes. With excitement I began recording the first one to cd, mixing a new piece with a subtle random arpeggiated countermelody from the Voyetra. To my shock and surprise, I soon realized that the tape loop itself was desintegrating: as it played round and round, the iron oxide particles were gradually turning to dust and dropping into the tape machine, leaving bare plastic spots on the tape, and silence in the corresponding sections of the new recording. I had heard about this happening, and frankly was very afraid of this happening to me since so much of my early work was precariously near the end of its shelf life. Still, I had never actually seen it happen, yet here it was happening. The music was dying. I was recording the death of this sweeping melody. It was very emotional for me, and mystical as well. Tied up to these melodies were my youth, my paradise lost, the American pastoral landscape, all dying gently, gracefully, beautifully. Life and death were being recorded here as a hole: death as simply a part of life: a cosmic change, a transformation. When the desintegration was complete, the body was simply a little strip of clear plastic with a few clinging chords, the music had turned to dust and was scattered along the tape path in little piles and clumps. Yet the essence and memory of the life and death of this music had been saved: recorded to a new media, remembered. William Basinski, 28.08.01»
5.23.2007
Deacon Blues (D. Fagen)
They got a name for the winners in the world
I want a name when I lose
They call Alabama the Crimson Tide
Call me Deacon Blues
I want a name when I lose
They call Alabama the Crimson Tide
Call me Deacon Blues
Zodiac music
5.21.2007
“Até morrer, Sporting allez!”
Quando há cerca de época e meia assumiu o comando da equipa do Sporting, e após períodos de magras vitórias, Paulo Bento disse que se preocupava em ganhar jogos, não em dar espectáculo. E que também ele, se quisesse ver um espectáculo, optaria por ir ao cinema. Neste momento o Sporting só vence, marca golos que se farta e joga muito bom futebol. A equipa é solidária e dá tudo em campo. Os adeptos nas bancadas fazem o resto. Ouvir cantar, longos minutos até ao apito final, em desafio, topo a topo e a toda a volta, cânticos distintos, logo após ter terminado o desafio no Dragão, foi das coisas mais comoventes a que pude assistir num estádio de futebol. O Sporting é de facto diferente. Foi espectacular.
5.18.2007
3xHHH (dia segundo)
Quanto mais particular mais universal. Genericamente, podia ser esta a chave de leitura do efeito de fortíssima identificação que estabelecemos com as memórias feitas cinema nos filmes mais (auto)biográficos de Hou Hsiao-hsien. O segundo dia da retrospectiva deu a conhecer dois exemplos disso mesmo: Um Verão com o Avô parte da reconstituição das recordações de infância da argumentista Chu Tien-wen e fala de um Verão em particular, no qual duas crianças – Ting-Ting e Tung-Tung – deslocam-se à aldeia dos avós pelo período em que a mãe deles é mantida hospitalizada. O filme é belíssimo, de uma simplicidade de processos apenas aparente, que constantemente nos desarma a vista e o coração; de uma grandeza humana no modo de olhar, que confere dignidade a todos os personagens; de uma capacidade rara para criar empatia com o mundo da infância (que não é infantilizado, mas olhado de igual para igual), partindo ainda dessa espécie de harmonia dos elementos para observar a esfera dos adultos através da percepção das crianças. Um Verão com o Avô é um filme que inscreve a noção da morte na vida dos dois irmãos, Ting-Ting (a menina) e Tung-Tung (o rapaz). Do amigo que se mete rio abaixo para ir buscar a sua vaca que julga perdida, ao episódio do motorista apedrejado pelos assaltantes, passando ainda pela figura da louca da aldeia que aborta após tombar de uma árvore ou pela sequência do pássaro morto por um foguete de festa, mas principalmente pela incerteza em relação ao estado de saúde da mãe, o filme de Hou Hsiao-hsien participa da vitalidade do grupo de crianças que fazem do seu tempo de lazer uma incessante aventura, guardando uma zona de sombra que os cerca, assim como também eles são envolvidos pelo universo dos adultos.
Já Tempo Para Viver e Tempo Para Morrer é igualmente elegíaco, embora bastante mais sombrio. Projecta-se, uma vez mais, como em Os Rapazes de Fengkuei, nas memórias de (infância e) juventude de Hou Hsiao-hsien e é em particular dedicado ao pai do realizador – aquele que guardava distância dos filhos para os proteger, afinal, da tuberculose que aos poucos veio a matá-lo. Hou Hsiao-hsien regista esses momentos da sua vida com extremo pudor, uma rara sensibilidade para fazer uso das elipses que assinalam a passagem do tempo, deixando-nos a sensação de que a adolescência é uma espécie de beco sem saída onde a existência a cada dia se repete e o sentido demora a aplacar a angústia de viver. Hou Hsiao-hsien pontua Tempo Para Viver e Tempo Para Morrer com o desaparecimento de seus pais (ela sobreviver-lhe-á mas por poucos anos) e com os sacrifícios a que a sua família se sujeitou para manter-se unida, mas fá-lo sem incorrer no mínimo facilitismo dramatúrgico. Este é um filme de uma densidade quase literária, constituído substancialmente por planos sequência fixos que nos introduzem na vida na pequena povoação para onde a família de Hou Hsiao-hsien se mudou, quarenta dias após ele ter nascido, para benefício da saúde e da vida profissional de seu pai. Tempo Para Viver e Tempo Para Morrer será pelo seu lado fortemente autobiográfico, o filme mais pessoal do chinês. Propõe que nos orientemos pelas suas memórias (também à luz da nossa própria história), em vez de nos conduzir ao longo das mesmas. A evocação é tão preenchida em cada detalhe que permite que nos iludamos com a neutralidade do ponto de vista. Como se Hou Hsiao-hsien, ao recuperar as recordações do passado, permitisse que este tornasse de novo a existir e tão liberto como da primeira vez. Num filme de Hou Hsiao-hsien nós estamos sempre lá (no seu espaço geográfico e no seu tempo histórico), ou então não estamos de todo ali. (ambos 4 estrelas)
5.17.2007
Beija-me Cannes
Jude Law e Norah Jones beijam-se no novo filme de Wong Kar-wai. E talvez só o cineasta de Hong Kong pudesse fazer do yin yang um "yummi yummi". Imagem para o arranque da sexagésima edição de Cannes, a acompanhar na imprensa ou no site do festival.
3xHHH (dia primeiro)
A abertura da retrospectiva Hou Hsiao-hsien na Culturgest, em triplo movimento temático e temporal, coube ao filme mais antigo do ciclo, Os Rapazes de Fengkuei (1983). Considerado o primeiro “filme de autor” de Hou Hsiao-hsien (ocupa a quarta, quinta ou sexta posição na sua filmografia, que em 83 originou três títulos), apresenta uma justeza de olhar e uma maturidade formal que anunciavam a total mestria por vir. Retenho de Os Rapazes de Fengkuei duas ou três cenas e um pormenor. O filme a que os amigos assistem no cinema de Fengkuei e que um deles reclama por ser a preto-e-branco é Rocco e os Seus Irmãos (1960) de Visconti, evocação que o será mais pelo lado de um violento rompimento juventude adentro, investindo pelas dores do crescimento, pelo assinalar da irreversível passagem do tempo e da entrada iminente na vida adulta. É também sobre isto o filme de Hou Hsiao-hsien, embora menos dramático e mais contemplativo. E as suas sequências maiores têm lugar aquando do regresso temporário do protagonista a Fengkuei (ele que tinha saído de lá para trabalhar na cidade "vizinha", depois de um pequeno episódio de delinquência) para o funeral do pai – indiciador do trabalho sobre diferentes planos temporais num único plano de montagem, que Hou Hsiao-hsien viria a desenvolver com efeitos notáveis –, e a despedida final do primeiro amor, nunca confessado, com o mesmo rapaz (compósito de memórias do próprio cineasta) a encontrar no reencontro com os amigos e na libertação de uma certa histeria a hipótese de catarse da paixão que só não foi mais pueril porque foi toda consumada para dentro e em segredo. Os Rapazes de Fengkuei é assim uma espécie de elegia íntima, passe o pleonasmo voluntário. (3 estrelas)
5.14.2007
Em suspenso
Still Life, de Jia Zhang-ke (n. 1970) é o filme mais importante actualmente em cartaz. Voltarei a ele neste espaço, mas primeiro vou informar-me sobre os cineastas chineses da sexta geração, ver outros filmes de Zhang-ke (Plataforma e O Mundo estão editados em DVD) e ler alguns artigos sobre ele. Para saber do que falo e tentar entender a razão de Still Life ter-me impressionado tanto.
5.11.2007
A autodepreciação é arte
Faltando pouco mais de metade da segunda época por visionar, não posso (ainda) afirmar que a nova série de Extras supera a anterior. O modelo repete-se, só que agora encontramos Andy Millman tornado vedeta de segunda ordem graças a uma ridicula miserável sitcom que ele relutantemente vai protagonizando e que serve de pretexto para o enxovalhar da sua pessoa, da sua profissão e do seu personagem (e do personagem desempenhado pelo personagem). No quarto episódio, o melhor até agora e um dos melhores de sempre, o convidado é de início Chris Martin, em versão tola, egocêntrica e oportunista dele próprio, que aproveita a mínima brecha para promover o fake greatest hits dos Coldplay. Martin está soberbo e alinha no espírito subversivo da série de modo surpreendente. Prova de coragem e de capacidade de auto-irrisão que lhe desconhecia. Fiquei fã! O resto do episódio não é menos delirante e termina - creio que jogando com imagens reais e "inserts" criados posteriormente - no espaço da cerimónia de atribuição dos prémios BAFTA: os "globos de ouro" ingleses. É aqui que surge Stephen Fry, o mais notado de entre os notáveis presentes (com direito a rábula em torno de Oscar Wilde e da homossexualidade de ambos) e é no decorrer do espectáculo que tudo acontece ao desgraçado Millman, desde ser banido de qualquer hipótese futura de ver-se de novo nomeado para um BAFTA, até testemunhar o anúncio para a plateia da sua tardia perda da virgindade. Contado assim não terá grande piada; visto é pura e simplesmente hilariante. E a construção dos vários equívocos é de uma ordem de génio a que só Larry David, do outro lado do Atlântico, se pode hoje em dia permitir.
Errata de dia 14: só ontem reparei, ao colocar o segundo disco, que a série 2 de Extras tem apenas seis episódios. Eu pensava, por analogia com a época anterior, que ia a pouco menos de metade (vi os 5º e 6º episódios: desconcertantes e inteligentíssimos) e de súbito fiquei a nadar nos "extras" de Extras. Queremos mais!
Coisa gostosa
O seu lugar (in Futurismo)
Quando você saía
A casa entristecia
As torneiras choravam
As portas esperando
Você voltar
Pra alegrar
O seu lugar
Dançando com as paredes
Brincando com a mobília
As janelas sorrindo
Os pássaros cantando
Que bom voltar
Pra alegrar
O seu lugar
O bacano na imagem, sorriso rasgado tipo bon vivant, chama-se João Donato, é um histórico da bossa e malha um rhodes f*di** no Kassin + 2, na faixa de que é também co-autor. O CD é viciante - não gosto de todas as canções de modo igual, mas quase não tenho escutado outra coisa fora de casa -, reparei que os Los Hermanos participam em mais de uma música (bom saber que a gente se entende, né), comprem, comprem, comprem. Voltem, voltem, voltem.
dedicado a todos os blogueiros que fecham portas para regressar num outro endereço. A casa fica à vossa espera...
5.10.2007
São Paulo confessions
A partir de hoje e durante uma semana, pela compra do livro que reúne crónicas de um tal de João Pereira Coutinho para a Folha de S. Paulo, recebemos grátis a revista Sábado. Assim vale a pena.
5.09.2007
Allez allez.... ouch!
«(...) Sarkozy ganhou a presidência há dois anos, na noite em que chamou canalha ou, melhor dizendo, racaille aos grupos que incendiavam, agrediam e mataram nos arredores das cidades francesas. Por essa Europa fora, um frémito de horror fez franzir os sobrolhos das cabecinhas bem-pensantes: que horror, o homem chamara canalhas àqueles jovens - e os jovens não têm sempre razão? - que se manifestavam contra o sistema?! De nada servia argumentar que os jovens não se manifestavam e que destruíam o que apanhavam. Que aterrorizavam vizinhos e todos aqueles que não tinham meios de se mudar para outro lado. Os jornalistas que os tentaram entrevistar acabaram a fugir com medo de ser agredidos. E os conteúdos racistas e anti-democráticos das declarações dos ditos jovens eram e são editados no meio de atenuantes explicações sociológicas. Já as vítimas das agressões dos ditos revoltados não tiveram direito a sociologia alguma, mesmo quando foram queimados ou espancados até à morte. Dir-se-á que chamar canalha a quem se porta como tal não é razão suficiente para ganhar eleições. De facto, não devia ser. Mas foi-o em França. E foi-o tão claramente que, durante a campanha eleitoral, o fantasma da canalha voltou. Caso Sarkozy ganhe, Paris vai arder - este foi o aviso-ameaça repetido até por Ségolène naquele que ficará como um dos maiores erros da sua campanha. Não só esqueceram que Paris já esteve para arder outras vezes - e resistiu -, como esqueceram também que uma sociedade que vive com medo tende a premiar aqueles que chamam canalhas aos canalhas. Rui Tavares, ao analisar a sequência dos valores enumerados por Sarkozy no seu discurso de vitória - presidente "do trabalho, da autoridade, da moral e do respeito" -, afirma que "o "respeito" de Sarkozy (...) vem subordinado: é respeito pelo trabalho, pela autoridade e pela moral". Mas foi precisamente por isso que Sarkozy ganhou. Esse respeito subordinado é o reverso do medo da canalha. Quer a racaille goste ou não, foi também ela que levou Sarkozy ao Eliseu e deu à palavra respeito uma das maiores ovações da noite.»
[Helena Matos no Pingue-Pongue do Público, ontem]
A verdade dói, eu sei.
Alguns parágrafos são (ainda) melhores que os outros
«Por vezes é constrangedor como o corpo não está disposto a mentir sobre as emoções, ou não consegue fazê-lo. Quem, em nome do decoro, conseguiu alguma vez abrandar o coração ou dissimular um rubor? O músculo rebelde de Florence saltava e adejava, como uma borboleta presa sob a sua pele. Por vezes tinha um problema semelhante com as pálpebras. Não estava certa, mas talvez o tumulto estivesse a abrandar. Ajudava-a fixar-se nos aspectos fundamentais, e enumerou-os, de si para consigo, com uma lucidez estúpida: a mão dele encontrava-se ali por ele ser seu marido; ela deixava-o estar por ser sua mulher. Algumas das suas amigas – Greta, Hermione e, especialmente, Lucy – há horas que teriam estado nuas entre os lençóis e consumado o casamento – ruidosa e alegremente – muito antes da boda. Com o seu afecto e generosidade, tinham mesmo a impressão de que era isso precisamente que ela tinha feito. Florence nunca lhes mentira, mas também nunca as elucidara. Ao pensar nas amigas, sentiu aquele travo peculiar e não partilhado da sua existência: estava sozinha.»
[pág. 70 da edição da Gradiva]
5.08.2007
Barbas do eu sozinho (meus neurónios saltitantes)
"... com o Domenico!", achou ela sur le quai de la gare. Foto da esquerda, perfil que se destaca. Senti-me lisonjeado - lembrança gostosa. Gosto muito do Moreno, e do Domenico e do Kassin. Refiro-me à música da rapaziada: o CD fresquíssimo, Futurismo (Luaka Bop), começa nas nuvens, encontra alguns buracos pela segunda metade - dois ou três, nada de grave -, põe-se a cantar estrangeiro e acaba subindo de novo aos céus conduzido pela língua meiga de Moreno Veloso. Barbas à parte, continuo no entanto a ser mais ferrenho dos Los Hermanos (check it out!), imagem da direita: não há dj set meu sem eles. E na actual música retrofuturista brasileira podia juntar ainda os nomes de Max de Castro, Ed Motta e Vinicius Cantuária. Marcelo (Camelo) ou Rodrigo (Amarante) teria sido assim mais cool de ouvir, mas não eram eles que estavam em Portugal e a minha barba é para todos os efeitos barba modesta.
5.07.2007
Nurse With Wound no Porto, c’um escafandro! (e etapa complementar “on Broadway”)
“Aterro” em Campanhã à hora prevista, com a imprensa do dia toda lida e largada ao cuidado do passageiro seguinte. O táxi até Serralves fica abaixo do custo do bilhete do concerto. O jantar, pouco depois, muito insatisfatório, fica por menos da despesa do segundo táxi que me levará até Leça. Mas ainda não chegámos lá. Se a economia parecia jogar a meu favor (ao contrário do Nacional madeirense e da Naval figueirense), a música jogaria toda. E pela noite inteira. Ao entrar no Auditório de Serralves o que se via em baixo e no fundo era a mesa longa e corrida, tapada com um pano escuro, cheia de maquinaria diversa, que uma vez distante e “de costas” para mim presumi serem computadores e aparelhos de processamento de efeitos sonoros, junto dos quais, tombados, estavam uma guitarra e um baixo eléctrico. Colin Potter recebeu-nos sozinho no palco, tratando de equalizar um drone (nota sustentada que opera como base harmónica) que funcionaria como cama sonora onde os restantes elementos seriam depositados. Pouco depois entravam Steven Stapleton (o sr. Nurse With Wound), Andrew Liles e Matt Waldron – também artistas, também “experimentalistas sonoros”. A actuação compreendeu dois segmentos de abstracção sónica: o primeiro bem mais prolongado (cerca de uma hora); o segundo, durando apenas cinco distensos minutos, era o encore arrancado a palmas aos Nurse With Wound (NWW). Ambas as peças organizaram-se num crescendo, precedido de diminuendo, que acumularia elementos sonoros de vária ordem, que mais tarde e à vez se extinguiam. Steven Stapleton operava essencialmente com um arco que percutia as cordas da guitarra eléctrica – deixada sempre em repouso. Usava a mão esquerda para tratar electronicamente os sons que retirava desta. O restante elenco detinha-se sobretudo sobre os botões do equipamento que produzia ruídos e sons “naturais”, com a excepção de um dos músicos que pegou no baixo para intensificar o ritmo, de resto de dinâmica baixa e neutra, para regiões entre o funk e a batida metronómica do krautrock. O mesmo elemento surpreenderia a audiência próximo do final da performance ao envergar uma espécie de escafandro nuclear cujo incremento sonoro não estou certo de ter sabido distinguir correctamente. A totalidade da prestação da formação britânica foi acompanhada de projecção video art sequencial, vista em grande ecrã, que mostrava uma mulher asiática que ora colocava ora retirava uma máscara com rosto humano, aos pés da qual se observavam figuras masculinas e femininas nuas, enroladas sobre elas mesmas e umas nas outras, criando uma coreografia não menos abstracta do que a própria música. Havia ainda um efeito visual acrescentado às imagens que dava a impressão de as fazer entrar em combustão continuada. O que se escutou, para mim que conheço a fundo uma parte diminuta da discografia de três décadas dos NWW, fez-me frequentemente lembrar o assombroso Salt Marie Celeste: em terra de pescadores e marinheiros que outra coisa seria de esperar? Foi por isso um programa na fronteira do expectável e do surpreendente, exactamente aquilo que eu contava ver dos NWW. Deu para mergulhar na abstracção dos sons; deu para perder o pé por entre zonas periféricas da consciência; deu para fechar os olhos para as imagens para melhor os abrir para a música. Já após o concerto, o público de não mais de centena e meia de pessoas precipitou-se, quais aves de rapina, para a banca que vendia CD’s e merchandising dos NWW e do catálogo United Dairies. Rapace, então logo eu, não saí de garras vazias. Esperava-me ainda um outro tipo de espectáculo (e aqui tenho de reentrar no segundo táxi), nas imagens e nas canções de STEPHEN “Sweeney Todd”, “Follies”, “Company”, “A Little Night Music”, “Merrily We Roll Along”, “West Side Story” SONDHEIM, sublime Sondheim, que se prolongou até de madrugada, conversa paralela à sondheimiana e à ingestão de aperitivos calóricos, com dois outros convertidos que tinham necessariamente de ser meus grandes amigos.
Nota: a imagem não corresponde ao espectáculo de Serralves mas a uma outra actuação dos Nurse With Wound.
5.04.2007
Música de embalar
«"I think it's the most important movement in modern music. I mean, fuck The Beatles! Krautrock had nothing to do with The Beatles, it came from classical avant-garde and free jazz, it didn't come from pop. It was really self-contained, brutal, hard, and cold, and I just loved it. I think the only reason Can came up with the story about how they heard The Beatles' "I Am The Walrus" and were inspired to start a band was because they wanted to be accepted by western musicians and fans - they're gonna say that just to get 'in'. Schmidt came from Stockhausen, Liebzeit from free jazz." So were the Nurse seeds planted out in Germany? "Oh yeah, for the first time I really felt that I'd found real kindred spirits, this was what I wanted to do - especially the cold relentlessness of the first two Kraftwerk albums, Kluster, Amon Duul, I was absolutely moved by it."»
«Stapleton picks out the Current 93 LP, In Menstrual Night, as a landmark in the realization of his aesthetic and I relay the poetic way that Tibet had first described it to me. "I wondered where dreams went to when they died in your heart and your soul," David had explained. "Some strange graveyard - I wanted to recreate that feeling of when you're at some party, a bit drunk, and you start to drift off to sleep. You start to remember the voices of your childhood and they mingle with the distant sounds of the party, an old nursery rhyme floats past, all part of a bizarre collage. Then the drum enters, like a dream going to feed the moon's soul."»
«After the Klaus Shultz-esque spaceways drift of 1986's Spiral Insana and the meditative mantra float of the 3 LP Soliloquy For Lilith set, Stapleton made his retreat to Ireland and his goat farm. In direct contrast to the claustrophobic intensity of the earlier Nurse stuff, sometime around Spiral Insana Stapleton's music began to really open out and became much more expansive in intent.»
Nurse With Wound visita-nos. A entrevista. O concerto. A opinião fica para mais tarde.
Só até ao fim
You're always sorry, You're always grateful, You hold her, thinking: "I'm not alone." You're still alone.
Já que é sozinho, que seja então em boa companhia.
[Um post sobre a amizade e sobre aquela que provavelmente será a melhor canção do mundo.]
5.03.2007
Ambas correctas
1) Nunca é tarde para perceber que o melhor amigo do homem é no fim de contas o contabilista.
2) Nada mais seguro e verdadeiro do que a frase que diz "programa sujeito a alterações".
2) Nada mais seguro e verdadeiro do que a frase que diz "programa sujeito a alterações".
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