7.30.2010

Também tu




Escolhidas a dedo


























Alguns segundos mais de felicidade. Obrigado.

7.29.2010

Desconfia da mulher que não gosta de cebolas



A cebola tem o sabor acre e inebriante do sexo.

Forever... Slayer


























Vou-me referir aos Slayer como se estivesse a tratar do metal no geral. Slayer é o grande divisor de águas. Se suportarmos e se depois dependermos da parede sonora erguida pela banda de Tom Araya, Jeff Hanneman, Kerry King e Dave Lombardo, então o caminho do metal estava já traçado antes mesmo de termos por ele entrado. Com os Slayer o desperdício é nulo. Não há discos acima dos 40 minutos, que eu tenha conhecimento. Também não há canções, antes manifestos que invariavelmente falam de violência, sangue, morte e religião. E fazem-no com palavras que são do domínio comum. Os Slayer não são básicos, são pragmáticos, determinados e letais. Música e texto (frequentemente da autoria do guitarrista Kerry King) concorrem para um único fim: a descarga voltaica que desperta os corpos e purifica as consciências. Os Slayer apelam eficazmente ao nosso lado primitivo, que nem todos se prontificarão a reconhecer. Oferecem-nos a catarse, em tudo oposta à intelectualização de processos. Permitem-nos reencontrar as energias que estão na origem daquilo que somos: animais, corpos eléctricos que acumulam merda em demasia. Os Slayer fazem-nos uivar por dentro ou para fora. São para mim o paradigma do metal. O novo paradigma. A evidência que combate a ilusão: as palavras e os sons transportam um determinado poder de impacto porque o sentimos. E o mundo fica do outro lado da parede o tempo que eu me permitir que fique.

"Don't stop."



And all the girls from nine to ninety,
Were snapping fingers, tapping toes, and begging him: "Don't stop."
And hypnotized and fascinated,
By the little dark-haired boy who played the Tennessee flat top box.

7.28.2010

Fundamental, meus caros



















Nós preocupamo-nos muito com as histórias, não queremos fazer apenas filmes visualmente apelativos. Dedicamos muito tempo às personagens e à sua relação com os espectadores. Claro que são personagens de desenhos animados, mas isso não é razão para não lhe darmos espessura emocional, cuidado e atenção. As emoções são fundamentais. Walt Disney costumava dizer que "para cada gargalhada devia haver uma lágrima" e esse é também o lema do John Lasseter.

[da entrevista com Lee Unkrich ao DN]

7.27.2010

Toda paradigma




















Os pés longilíneos de dedos compridos pertencem a Alessandra Ambrósio e fui encontrá-los no sítio do costume. Parecem-me perfeitos, embora também com relação a pés a beleza não esteja necessariamente subjugada a um paradigma. O momento é de devaneio estival ao qual juntei a imagem de Alessandra numa postura de yôga, Sirsasana, que mais abona à coroação da menina.

Matt Pike


























No meu Olimpo todo pessoal só têm entrada os verdadeiramente grandes.

Charlie Chaplin

Penelope Ann Miller


7.26.2010

Ultra-violeta


























Marion Cotillard também não teve honras de personagem no filme Inception: uma junkie do sonho que mesmo morta continua a assombrar os vários níveis de consciência do marido, interpretado por Leo DiCaprio. Cotillard é o supremo efeito-visual que o ecrã devolve e à míngua de espessura fixamo-nos na total simetria dos seus ombros (posta em evidência pelas alças de um vestido que usa a dada altura), ou na constante luminescência felina do olhar. Falta a desculpa ou o motivo para ver mais além.

Campeões da América


















A pequena alegria de quem acompanhou o torneio de perto, mas tão longe.

Uma tigresa

























Fotografada por Stefan De Lay, homem que olha o corpo feminino de todos os ângulos sem falsos pudores. A razão por que escolhi esta imagem é demasiado óbvia (mas só para alguns/ mas).

Neverending trailer















Alguém lá "em cima", em Hollywood, deve andar apavorado com a possibilidade do espectador-pagante de cinema se aborrecer e decide então servir-lhe 5 ou 6 filmes num único, articulados em modo zapping. Nada aqui mais resilente que a ilusão de que se tem ideias, resumindo-as a um catálogo de habilidades visuais e narrativas. Isto é Inception.

7.23.2010

Rebenta a bolha


























Por que é que isto é melhor do que tantas outras coisas?
Porque há discos que já nascem clássicos.

A arte de trabalhar o ferro














Consiste em separar alguns exemplares desta nobre música, colocar uns bons auscultadores que não fritam os tímpanos quando subimos o volume, e ir ouvindo 4 ou 5 temas de um e de outros discos, sempre a variar, como se estivéssemos num festival por nós organizado, sem multidões, sem pó, sem cheiros, sem desperdício de espécie alguma, como muita música, muito whisky e cheio de gelo.

7.22.2010

Era uma vez o homem

Cut Loose



12 preciosos segundos retirados a Anvil, the Story of Anvil.

As velas ardem até ao fim

7.21.2010

Cherchez la femme



Estreia a 12 de Agosto.

7.20.2010

He's back


















Lloyd Cole Small Ensemble
(Lloyd Cole, Mark Schwaber & Matt Cullen)

14-Oct. Porto
15-Oct. Guimarães
16-Oct. Estarreja
17-Oct. Sintra
19-Oct. Coimbra

e a capa do novo disco, Broken Record, a editar no dia 13 de Setembro:

Depois do amor

«Em que ocasiões pode haver necessidade de fazer uma toilette interna?
A única toilette interna que se pode encarar é a que é praticada com um ou dois dedos molhados, introduzidos na vagina e passados ao longo das paredes. Esta toilette só deve ser feita nalguns casos:
– Depois da menstruação para eliminar os resíduos do tampão que se possam ter soltado ou os restos de sangue que ainda não foram eliminados. Evitar-se-á assim uma infecção por proliferação microbiana.
– Depois do amor.
Esta toilette interna deve ser feita só com água.»

Marie-Claude Delahaye, O Livro de Bolso da Mulher (Contexto).


Isto para mim é poesia. Tenho-o à cabeceira.

Os lutadores


























Em sentido muito directo, Anvil, the Story of Anvil é a antítese de Flight 666, este sobre a digressão (mais uma) triunfante dos Iron Maiden. Em 1984 os canadianos Anvil tocaram no Japão lado-a-lado com os Scorpions, os Whitesnake e os Bon Jovi. Depois, eclipsaram-se. Por todos os anos que eu viva, se não vier a sofrer do mal de Alzheimer, não esquecerei a lição expressa num texto de João Lopes sobre Cristiano Ronaldo, em que o jornalista olhava para o aspecto perverso da promoção acrítica do Fenómeno, pois que por cada Ronaldo que triunfa há milhões de jogadores que não sairão nunca do anonimato. Ora a educação para o sucesso devia fazer-se acompanhar de permanentes chamadas à realidade. Anvil, the Story of Anvil é uma tão desarmante chamada à realidade que podemos achar em determinadas alturas que se trata de um "mockumentary". Os Anvil, liderados pelo vocalista e guitarrista Steve "Lips" Kudlow e pelo baterista Robb Reiner, só voltaram a actuar perante uma plateia consonante com o seu comprometimento com o metal, vinte e alguns anos mais tarde, e novamente no Japão, que respondeu ao décimo terceiro CD da banda, This is Thirteen, numa altura em que os Anvil originais já haviam atravessado a casa dos cinquenta. Deus abençoe o Japão por responder com entusiasmo às mais variadas manifestações artísticas, das risíveis até às geniais. Impossível não reconhecer a genuinidade e a persistência dos Anvil (até a razoável qualidade da música deles, apesar de demasiado colada ao heavy metal britânico original), que nunca deixaram extinguir por completo as carreiras na música, enquanto mantiveram uma vida familiar sustentada em trabalhos paralelos que acabaram sendo a fundação das suas reais vidas. Há várias razões que podem explicar o motivo de os Anvil nunca se terem mantido na estrada do sucesso. Eu vejo-os como demasiado puros. Eu invejo-os porque são eles os verdadeiros duros. E de novo, para que fique bem claro: Deus abençoe o Japão. Apesar da amargura e de alguma frustração, os Anvil permaneceram jovens por dentro. O tempo deles parou em 1984 e foi reatado mais de duas décadas depois. Se calhar parou então de novo para, quem sabe, não voltar a despertar. Se o fizer tenho a certeza de que os Anvil estarão perfeitamente reconhecíveis. O metal é como um elixir que subverte as aparências.

7.19.2010

Mais Tiah Eckhardt por David Bellemere (ensaio para a Marie Claire)





















... será que existe?

Impossivelmente fotogénica


























Tiah Eckhardt fotografada por David Bellemere para a Eres.
O meu tipo de mulher (se é que ela existe).

Vi o Polanski (bom), vi a fita dos irmãos Safdie (simpática), mas quero falar de outras coisas que também vi


























Trygve Allister Diesen. Um nome destes não representa a mínima concorrência para Clint Eatwood. Até para um Eastwood de "menor" calibre que nem por isso deixou de ser obra-prima. Passo a explicar. Entre as estreias de Gran Torino e Red passaram alguns meses apenas. Os filmes são tão semelhantes que é natural que um tenha eclipsado o outro. Gran Torino chegou cá com pompa devida e o público celebrou-o como merecia. Red provavelmente nem as edições DVD nacionais deve atingir. E no entanto é puro material Eastwood que o desconhecido Trygve A. Diesen cuidou com atenções de "discípulo" aplicado. Trata-se de uma grande história de (não-)vingança. Um veterano de guerra condecorado, interpretado pelo sempre impecável Brian Cox, vive sozinho com o seu cão que é barbaramente assassinado para desfrute de três rapazes entediados. A justiça que Avery Ludlow buscará para si, que está intimamente ligada a um episódio trágico da sua vida familiar, passa pela assunção da responsabilidade por parte dos três jovens e dos seus educadores. Uma vez que o mal pode surgir de onde menos se espera, a reparação que Ludlow persegue até correr riscos da própria vida, passa pela regeneração dos culpados pois que a morte é irreparável. Evitando demagogias e apresentando a necessária mancha de pessimismo lúcido, Red é um belíssimo filme que justificava outra sorte.
Flight 666 é filmado pelo canadiano Sam Dunn que nos havia presenteado com o essencial Metal: A Headbanger's Journey. Nessa altura Sam Dunn confessava que os Iron Maiden eram a sua banda favorita e aqui surgia a oportunidade de partir com eles para os céus da verdadeira quimera. Uma digressão que percorre as geografias mais díspares, traçada em tempo recorde no Boeing 757, baptizado Ed Force One, pilotado pelo infatigável Bruce Dickinson (vocalista dos Iron Maiden). Partida com destino a Bombaim, depois Austrália, Japão, Estados Unidos, América Latina, enfrentando plateias em delírio, dezenas de milhares de fãs que celebram a chegada messiânica dos Maiden, que continuam a oferecer um espectáculo competente totalmente preenchido com os clássicos da banda. Há uma atitude de grande humildade por parte de Sam Dunn para rapidamente desaparecer para trás da câmara e dar todo o protagonismo aos elementos dos Iron Maiden e da sua equipa de técnicos e tour managers. Os Iron Maiden transportam na cara e no corpo aa marcas do tempo, mas nem por isso deixam de ser um fenómeno e esta uma digressão literalmente fenomenal. É ver para crer. A escala é Júlio Verne.

7.16.2010

Assustar os amigos

7.15.2010

Crise de identidade (spoiler)



















Mad Men é uma série sobre a identidade. A constatação é por demais genérica e pode ser aplicada a muitas outras coisas: séries, filmes, livros, etc. Mas a questão da identidade é algo que ciclicamente abre uma brecha na superfície impecável de Don Draper e nos põe a olhar para dentro dele. Draper procura desde sempre manter-se longe da sua existência anterior cuja memória está guardada numa caixa a que só ele tem acesso. Até ao dia em que por descuido dele Betty abre a caixa e começa a juntar as peças que formam uma identidade de Draper que lhe era de todo desconhecida. E se Don deixa de ser a pessoa que Betty pensava que ele era, Betty também já não se reconhece a si própria na nova condição. O confronto dá-se no 11º episódio da 3ª época, que recupera essa faculdade tão difícil de obter com as imagens que é dar a "ver" o pensamento das personagens, algo de recorrente nesta temporada de Mad Men em que as possibilidades de infidelidade do casal protagonista estão no centro dos acontecimentos. Por que trai ela? Por que trai ele? A culpa associada às acções de ambos acompanhada do desejo de fuga. Mesmo quando não se questionam sobre quem são, quer Don quer a sua mulher Betty parecem procurar situações em que possam ser quem eles quiserem. Nada mais moderno e mais próximo de nós do que esta inquietação. No final do episódio, o casal acompanha os filhos nos festejos do Halloween (festa americana das máscaras por excelência, que a inteligência desta gente não dorme nunca) e quando batem na porta de um vizinho este pergunta às crianças quem elas são? Os miúdos dizem-lhe que são a cigana e o vagabundo, ao que o vizinho responde, dirigindo-se aos pais: "E vocês, quem são?" Fade to black. Novo abismo.

Sporting pós-estágio 2010/11

O estágio do Sporting em Evian-les-Bains concluiu-se ontem com uma clara derrota por 4-2. Jogou Sporting (A) contra Paris St. Germain (B) na primeira parte, que terminou com o empate a dois golos. O PSG (A) limpou o Sporting (A+B) na etapa complementar por dois golos sem resposta. Vi todos os três jogos do estágio e o de ontem foi aquele onde notei menor concentração competitiva por parte dos nossos. Pode ser cansaço acumulado, os jogadores tinham já um semblante carregado quando jogaram e empataram com o Nice. Paulo Sérgio andará a imprimir ritmo elevado nesta fase da preparação. Aguarda-se pelos resultados. Antes disso, algumas impressões:
1) É urgente a contratação de um guarda-redes de qualidade. Se as equipas se constróem de trás para a frente, estamos mal logo a começar. Patrício é bom mas não serve para titular inquestionável. Não mostra confiança a sair dos postes e na pequena área come-as todas. Enquanto não chega alguém, prefiro o Tiago.
2) Polga é a personificação do trauma na defesa leonina. Mais do que os outros, nunca se restabeleceu das cabazadas com o Bayern e continua irreconhecível. Se é para jogar com Carriço, é melhor Tonel. De Torsiglieri pouco se viu. Não é tosco. Mostra calma e vontade de rematar. Já Nuno André Coelho revela ser boa contratação. Igualmente alto e igualmente não tosco (a preocupação com atletas de mais de 1.90m). Gosta de sair com a bola controlada e tem qualidade de passe. Foi experimentado a trinco mas é claramente melhor no centro da defesa.
3) Evaldo é valor seguro muito próximo de estar completamente adaptado. Sabe usar o corpo, sobe bem e é tecnicamente evoluído. Grande aquisição. João Pereira anda um pouco deslumbrado e aquela rebeldia necessita sentir o peso da autoridade. Alguém precisa de lhe meter na cabeça para para ser grande jogador é preciso estatura profissional e evitar a arruaça pelos mínimos motivos.
4) Temo que se esteja a tentar fazer de André Santos um Moutinho à força. Ele é aposta clara de Paulo Sérgio para a construção do jogo leonino e revela melhor condição física que Maniche. Sabemos bem que quando o coração não aguenta a cabeça deixa de pensar. Precisamos de maturidade no meio-campo, sobretudo para salvaguardar a eventual saída de Miguel Veloso e também nova época a meias-tintas de Matías Fernández. Izmailov está no estaleiro e não se sabe se fica. Vukcevic é um talento que só sabe jogar sozinho, ou então um incompreendido. Tem pormenores de enorme jogador que se esgotam no instante seguinte. Precisa urgentemente de Liedson na equipa e de outro avançado (novo reforço!) que responda ao seu faro. Que reaja mais depressa que ele.
5) Gostei de Valdés imediatamente. Um jogador com o nível deste chileno disfarça a falta de ritmo trazendo o jogo da equipa para a dinâmica que está ao seu alcance. Costinha fez boa escolha. Pongolle que tem entrado junto com ele, anda a querer mostrar trabalho. E vai mostrá-lo.
6) Gostei muito de Diogo Salomão. É atrevido, tem velocidade e gosta de rematar. Para mim a grande revelação deste estágio. É ainda bastante novo e estes indicadores podem seguir direcções opostas. A da confirmação sustentada ou a da eterna promessa (caso Djaló). Quero muito acreditar no primeiro cenário. Diamante já não totalmente em bruto para Paulo Sérgio prosseguir delapidando.
7) Postiga é jogador da bola que não convence no papel de homem golo. Rei no último passe e plebeu de frente para a baliza. Liedson é craque (dois em um) mas não chega. Na posição mais valorizada do onze o Sporting precisa de fazer um esforço decisivo. Falhar nesta contratação não é sequer hipótese.

Continua domingo.

7.14.2010

O polvo é quem mais ordena


























The Dream of the Fisherman's Wife, Hokusai Katsushika (c. 1814).


Ou na versão contemporânea:


















Sarah and the Octopus, Masami Teraoka (2001).

Dolce vita
















Fellini 1960.





















Mad Men 1963.

7.13.2010

Iker Casillas
















O beijo que mereces.

7.12.2010

The mind of the Mad Man

















Don Draper é sem dúvida das grandes criações televisivas de todos os tempos. Na terceira temporada de Mad Men, a mente de Draper (e o que nela decorre da sua história) continua a ser o principal território a desbravar, sendo que o espectador da série sabe sobre ele mais do que qualquer outra das personagens regulares. No seu espaço familiar ou profissional Don Draper dá apenas a conhecer a ponta do icebergue, por isso são tão fascinantes os momentos em que incidentalmente conversa com figuras de passagem: um barman numa festa, o guarda prisional na sala de espera da maternidade, etc. Draper é um abismo negro com que nos identificamos porque é para lá (ou para cá) da impecável fachada que se torna efectivamente nosso comum.

7.08.2010

É muito fuzz


























Pensem nos Black Mountain mas não tornem rígido esse pensamento. Os Kylesa de Static Tensions oferecem um manjar psicadélico no topo das calorias (há também no meio do turbilhão sonoro a voz de Laura Pleasants, embora sem o protagonismo vocal de Amber Webber nos Mountain), que reúne elementos comuns ao doom metal e ao stoner rock, robustez sonora elevada, carradas de fuzz libertadas pelas guitarras (à la Fu Manchu), bateria de cadência marcial a marcar o fim dos tempos. Uma sopa sludge para gourmands da pesada. Eles que venham a Lisboa tratar-nos da saúde.

7.05.2010

Facto


















Não é o fato que faz o homem. O fato faz parte do homem.

[para um certo samurai]

Duas mulheres
















João Mário Grilo olha para o Portugal contemporâneo e sente (o) medo. Tudo se vende. Tudo se compra. Nada é garantido. Mónica (Débora Monteiro), manequim e acompanhante de luxo, quase sofre um acidente provocado por um ataque de pânico. Irá ficar aos cuidados de Joana (Beatriz Batarda), médica psiquiatra, que se deixa seduzir por aquela mulher. Joana diz não ser moralista, ao contrário da gente hipócrita que faz parte do universo da grande finança onde trabalha o marido Paulo (Virgílio Castelo). Pelo contrário, o olhar do realizador João Mário Grilo é moralista. O destino do mundo corrompido é trágico: os mais fracos sucumbem aos mais fortes. A câmara contempla com distância analítica e a história da atracção entre as duas mulheres é filmada com cuidados de esteta. Não obstante, mérito lhe seja atribuído, Duas Mulheres consegue ser angustiante. Reconhecemos aquele mundo e o medo toca-nos. O contraponto é dado pelas breves aparições de António (João Perry), que vive do outro lado do rio, uma espécie de tutor espiritual de Joana, cujas observações são pautadas pelo cinismo e lucidez. Todos os outros se sentem perdidos. A esperança não existe, a começar em Joana que acabará encerrada na casa das bonecas. Ibsen actualizado. Portugal 2014.

O senhor 10 milhões


























João Moutinho há muito que tinha os dias contados em Alvalade. A não ida ao Mundial resulta de uma época em que o fraco rendimento da equipa o afectou, quando não foi a sua falta de motivação por se manter no Sporting a alinhar pelo diapasão cinzento do futebol praticado.
Costinha não tem tido trabalho fácil para afirmar a autoridade no contexto que era mais um saco de gatos. Acredito que não tenha havido qualquer proposta pelos principais activos do Sporting, depois da época sofrível que todos testemunhámos. Moutinho queria muito sair (ele que era o rosto principal do Sporting de Paulo Bento logo depois do treinador) e ao Sporting era imperioso vender para fazer os derradeiros ajustamentos.
Oxalá Moutinho recupere a garra competitiva e digo-o sem hipocrisia. O amor à camisola é para os adeptos e quanto mais rápido nos convencermos disto, melhor.

7.03.2010

Auf Wiedersehen




John Fante
























O livro pediu-me este disco. Percebi depois.

7.02.2010

Arturo Bandini sou eu


























São precisas poucas páginas (umas 17...) para perceber o grande escritor que é John Fante. O grande escritor é o escritor universal. Penso que qualquer pessoa se poderá identificar com a inocência de Arturo Bandini, a viver modestamente de fantasias na cidade dos sonhos. Passa-se com Pergunta ao Pó (numa edição da Ahab que apetece estimar) aquele caso raro de eu ter visto o filme antes de ler o livro. Há coisas que antecipo e é como se pudesse falar de todo ele, já, sem ter chegado ao fim. O que o livro tem em abundância em relação ao filme de Robert Towne são os pequenos devaneios de Bandini, aquilo que se concretiza apenas nos seu diletantismo platónico. Tão nosso semelhante e numa escrita absolutamente humana e desperta: como se a vida idealizada fosse a mais verdadeira.

7.01.2010

Going

Macho McTiernan
















Não é fácil retirar do Predator de John McTiernan outra coisa de tão sofisticado como a constatação de que o homem é a mais perigosa das espécies. No entanto este filme é em minha opinião um dos grandes exemplos de puro cinema das últimas décadas. Vi-o, revi-o em diferentes idades, sempre com igual prazer. Tem qualquer coisa de ficção científica, tem bastante de filme de guerra, é um tratado sobre a sobrevivência e sobre o machismo e a camaradagem. É básico na caracterização das personagens (o que não impede que sejam grandes veículos, nem todos a transbordar testosterona) e brilhante na coreografia das sequências de acção: pode-se dizer que este filme todo é um alinhamento de acção permanente porque nos mantém permanentemente em suspense. A câmara de McTiernan tanto se confunde com o olhar da criatura alienígena que vem à Terra não se sabe com que propósito, como se mistura na selva qual camaleão que passa despercebido aos homens. Que quer significar a cena em que o monstro agoniza, antes de se autodestruir, e quando Schwarzenegger lhe pergunta "Who are you?" a criatura devolve com a reprodução da voz humana "Who are you?"? Não faço a mínima ideia, mas aquilo comove-me sempre. Sinto falta de John McTiernan (do genial Die Hard e do excelente remake de The Thomas Crown Affair) que parece que voltará a filmar mais regularmente nos próximos tempos, e quando a falta que sinto aperta eu vejo, por exemplo, este Predator. Cinema total.

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