6.30.2008

Tate Gallery


Uma vez que me lembrei do Cavalheiro de Beri-Beri.

Blur

And you've been so busy lately
that you haven't found the time
To open up your mind
And watch the world spinning gently OUT OF TIME

Algum tempo reencontrado























Passei muito tempo em casa este fim-de-semana. Estes álbuns passaram repetidas vezes, trazendo detalhes à superfície de cada vez que sobre eles mergulhava a atenção. Gosto de ouvir música assim, descomprometidamente. O interesse dos discos ditando o tempo que se eternizam no leitor. Com várias leituras de permeio. Quanto à própria matéria da música, foi tempo de recuperar o terceiro volume da trilogia berlinense de Bowie, Lodger, que ao contrário dos dois primeiros - onde o território instrumental estabelecia uma zona de fronteira e os mais que prováveis lado A e lado B - opta pela alinhamento convencional de canções que atestam o quanto Bowie foi a mais camaleónica das estrelas pop. Brilhante. Tempo para escutar pela primeira vez o terceiro disco dos Roxy Music, Stranded. Não menos camaleónico (as afinidades compreendem-se), aquele que Brian Eno destaca de toda a discografia da banda. Tendo em conta que Eno já não estava a bordo, é um enorme (e merecido) elogio. Também Think Tank dos Blur, que sempre soube que um dia havia de ter. Chegou o momento, ficou baratinho. E mais valioso ainda, na medida em que no disco se nota o ascendente Damon Albarn (Coxon estava de saída) e o interesse deste pelas músicas do Oriente. Foi gravado em Marrocos e conserva o fascínio que o imaginário do deserto pode suscitar mesmo naqueles que não suportam um grão de areia: a atracção pelo exótico, ou até pelo abismo. O grão da música que os Blur aqui apresentam é tranquilamente majestoso. E para o fim deixei o último Bonnie Prince Billy. Elogiado por gente cuja opinião respeito. Tive um arremedo de originalidade ao fim da primeira escuta, rápida e parcial. Parecia-me dispensável. Não sei agora se me é indispensável ou não, apenas que se trata de um muito bom disco como quase toda a discografia de príncipe Will Oldham. Os duetos são magníficas canções de "love and hate", e tem surpresas realmente inesperadas como a inclusão do solo de clarinete numa das músicas.

6.27.2008

Entrar em pânico


















Tenha medo. Tenha muito medo. É cada vez mais frequente cobrar-se ao cinema a falta de profundidade dramática, do escarafunchar da complexíssima mente humana, que tem sido explorada pelas melhores séries televisivas. Grosso modo, o público crescidinho teria largado a sala grande e a sua aparentemente infindável galeria de super-heróis, em favor das existências torturadas das personagens dos canais independentes por cabo. Eis-nos então perante The Savages/ Os Savages, família disfuncional reduzida ao patriarca ausente e à beira da demência, e a dois irmãos (os estupendos estupendos estupendos Philip Seymour Hoffman e Laura Linney) qual de ambos mais constrangido perante a estranheza dos sentidos da vida. O filme não podia ter melhor filiação. Se a figura de Seymour Hoffman é remeniscente do professor recalcado da obra-prima de Spike Lee, A Última Hora, Laura Linney interpreta a variante do seu personagem de You Can Count On Me, de Kenneth Lonergan, onde desempenhava o papel de mulher de meia idade com a vida sentimental resignada ao caos, que se reunia com o irmão mais ou menos omisso para concluir que é no interior do turbilhão familiar que descobrimos as razões objectivas que explicam porque somos do modo que somos. Os Savages, percebe-se pelo tom, traz bem vincada a assinatura do seu produtor, Alexander Payne (Election, About Schmidt, Sideways), naquilo que de novo resulta no registo entre o sarcasmo e a melancolia, o melhor que o cinema adulto americano vem mostrando em anos recentes. A independência define-se pela revelação de um olhar (não fazia a menor ideia de quem era Tamara Jenkins, a realizadora), individual e totalmente descomprometido para com os requisitos dos produtos formatados para as massas. Aqui não há lugar a qualquer espécie de redenção. Somos seres imperfeitos, acumulamos vícios, caprichos a que conduz o nosso modo de vida solitário e egoísta, e vivemos com dificuldade a degradação imposta pela passagem do tempo. O melhor cinema americano (para não generalizar em demasia) filma a vida como oportunidade perdida. Não perca este filme. Um lançamento LNK, directamente para DVD.

Blockbomba, este é para ti.

6.26.2008

Send us your coordinates, we'll send a St. Bernard
























O que vou escrever de seguida pode vir a alienar dezenas, centenas, milhares de leitores deste blogue. Aqui vai: os Silver Jews nunca fizeram disco tão bom quanto o novo Lookout Mountain, Lookout Sea. Temos tendência a acreditar que é das existências atormentadas e intoxidadas que nascem as obras artísticas mais criativas. Generalizo, eu sei. Mas constando que David Berman estará a atravessar uma fase de maior apaziguamento consigo próprio, que se terá tornado numa pessoa suportável para si mesmo, quais seriam os resultados musicais daí decorrentes? Ao que se prova, nenhuns. E se considero este como o melhor Silver Jews de sempre é porque as canções são todas muito boas, e a qualidade geral do alinhamento é ligeiramente superior à de American Water, até aqui o meu preferido. Já a utilização da voz, ou vozes, femininas, é excepcional. Claro que a partir desse disco (AW) tudo o que David Berman lançou é obrigatório, o que só torna a lógica deste post irrelevante.

6.23.2008

La... la la la... TARATATA TA TA TA TA



















O meu Cohen é mais a sul. E duas semanas depois. Capisce?

Entrar pelas traseiras
























(...) You've been coolin, baby, I've been droolin,
All the good times I've been misusin,

Way, way down inside, I'm gonna give you my love,
I'm gonna give you every inch of my love,
Gonna give you my love.
Yeah! all right! lets go!

Wanna whole lotta love?
Wanna whole lotta love?
Wanna whole lotta love?
Wanna whole lotta love?

Way down inside, woman,
You need love.

Shake for me, girl
I wanna be your backdoor man.
Hey, oh, hey, oh
Oh, oh, oh
Keep a-coolin, baby,
Keep a-coolin, baby. (...)

Estávamos na passagem dos 60's para os 70's, não se brincava com as metáforas do sexo. A letra dos Zeppelin mede aqui forças com a capa dos Stones. Tenho ouvido estes discos, caminhos paralelos na direcção vocês sabem de onde. A propósito, em Maio do ano passado Howe Gelb colocava Sticky Fingers no topo da sua lista de preferências musicais de todos os tempos. Vai-se a ouvir a música de Mr. Giant Sand, e no meio de toda aquela areia, não lhe é alheia uma certa viscosidade. Lambuzem-se nela(s), damas e cavalheiros.

Viva Albert Cossery
























Cheguei a recear não ter notícias da morte de Albert Cossery (3 Nov. 1913/22 Jun. 2008). Ficaria eternamente à espera do próximo livro, e a fazer contas do número de anos passados sobre a publicação do último. Diz-se que Cossery não escrevia mais de uma frase por dia. Uma vírgula acrescentada a tão aristocrática média seria ceder em relação a todo um universo. O universo dos seus livros (editados em Portugal pela Antígona; BRAVO Luís), de uma sobriedade de estilo exemplar. Cossery foi das grandes descobertas que fiz na literatura. Tenho muito pouco a ver com a geografia dos seus títulos - sobretudo ruelas degradadas do Cairo, habitadas por gente anónima que sobrevive sem dramas porque nada deseja. Ou antes, deseja o nada. O ócio e pequenos prazeres da carne, se isso não obrigar a escusado esforço. Isto é invejável, nem sequer chega a ser insolente. Trata-se apenas de ignorar o "mundo", tal como o "mundo" nos ignora a nós. Cossery morreu. Viva Cossery.

6.19.2008

Tattoo me

Acabou-se o Euro 2008. Vamos ao que mais interessa:



















Um Sporting blindado. Feito de grande experiência (Caneira, Roca, por ex.) e da irreverência própria dos novos. Para ganhar o campeonato nacional, finalmente. Paulo Bento, tens o meu (nosso) apoio!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!


Já com relação à selecção nacional, deixo modesto (nada!) contributo. Quatro senhores que, na minha opinião, assegurariam melhor desempenho do que aquele que nos tem deslumbrado em anos recentes. E o Madaíl verde-rubro vai para:














1º - Co Adriaanse;
2º - Zico;
3º - José Antonio Camacho;
4º - Manuel José.

Kalkitos







Sonho profundo

Procurava um disco e dei com isto:

Sonic Gaseousness...
Albums which are very insubstantial, almost to a point of nonexistance, yet variant in a subtle and enticing way. Th
ey are soothing and sleep-inducing, and are best heard through headphones or stereo systems with good bass response. The average person only needs one or two of these in their collection; being somewhat dysfunctional, I need a whole sh*tload of them.

Explorando a ligação, verifiquei tratar-se da mais completa base de referências de música ambiental alguma vez por mim descoberta. Categorias, sub-géneros, tudo organizado por alguém que podia ser como a minha imagem (adormecida) ao espelho.

E tudo tinha começado por este.




















[Clicar sobre as ligações anteriores para dormir melhor ainda.]

6.18.2008

Diz-me Pierrot













A mulher sangra. Sinal de que está pronta para o amor?

Má "R"aça














As far back as I can remember, I've utterly destroyed within myself the pride of being human. And I saunter to the periphery of the Race like a timorous monster, lacking the energy to claim kinship with some other band of apes.

6.17.2008

Espaço 1987
























Muito se volta agora a falar de Brian Eno, a propósito da sua produção para o novo disco dos Coldplay, que não ouvi ainda. O burburinho fez-me regressar no tempo cerca de vinte anos, até ao momento da segunda colaboração de Eno com os U2: The Joshua Tree, co-produzido por Brian e por Daniel Lanois. E se Lanois trouxe a este estupendo disco (dos melhores, senão mesmo o melhor, que os U2 alguma vez fizeram) texturas que remetem para a vastidão americana e para os géneros musicais aí surgidos desde as origens (folk, gospel, blues), já Brian Eno encarregou-se de impregnar os ambientes sonoros de uma espacialidade que se faz ouvir, criteriosamente, de inicio até final. O disco abre com Where the Streets Have No Name, por sua vez introduzido por uma malha atmosférica que tem a marca do uso que Brian Eno dá aos sintetizadores. The Joshua Tree continua a soar tão coeso e diverso como dantes, e musicalmente tão bem realizado, porque nele se harmonizam os três principais vectores: a matéria, trazida por Lanois; o espírito, assinado por Brian; e a energia, mérito da banda liderada por Bono.

6.16.2008

Super-Homem




















Cerca de três anos mais tarde, em 2005, Agyness Deyn inicia uma relação com Josh Hubbard, guitarrista do grupo rock The Paddingtons. Hubbard é um romântico. Dançou com ela sob as estrelas no dia em que iniciaram a relação, mas não fizeram amor, conta ele à «i-D». E de todos os seus gestos de ternura o mais romântico, confessou, é o de a segurar pelos braços para que ela não se sente no tampo da sanita para fazer o seu xixi no intervalo de uma passagem de roupa. ("Puro Sangue", reportagem de Miguel Calado Lopes sobre a manequim Agyness Deyn para a Única/ Expresso)

6.12.2008

A origem da espécie




















Duchamp’s Fountain

The attempts to keep art special become increasingly bizarre. This was a theme of a talk I gave at the Museum of Modern Art in New York as part of the “HIGH ART/ LOW ART” exhibition.
Looking round the show during the day, I noticed that Duchamp’s Fountain – a men’s urinal basin which he signed and exhibited in 1913 as the first ‘readymade’ – was part of the show. I had previously seen the same piece in London and at the Biennale of Sao Paolo.
I asked someone what they thought the likely insurance premium would be for transporting this thing to New York and looking after it. A figure of $30,000 was mentioned. I don’t know if this is reliable, but it is certainly credible. What interested me was why, given the attitude with which Duchamp claimed he’d made the work – in his words, ‘complete aesthetic indifference’ – it was necessary to cart precisely this urinal and no other round the globe. It struck me as a complete confusion of understanding: Duchamp had explicitly been saying, ‘I can call any old urinal – or anything else for that matter – a piece of art’, and yet curators acted as though only this particular urinal was A Work Of Art. If that wasn’t the case, then why not exhibit any urinal – obtained at much lower cost from the plumber’s on the corner?
Well, these important considerations aside, I’ve always wanted to urinate on that piece of art, to leave my small mark on art history. I thought this might be my last chance – for each time it was shown it was more heavily defended. At MoMA it was being shown behind glass, in a large display case. There was, however, a narrow slit between the two front sheets of glass. It was about three-sixteenths of an inch wide.
I went to the plumber’s on the corner and obtained a couple of feet of clear plastic tubing of that thickness, along with a similar length of galvanized wire. Back in my hotel room, I inserted the wire down the tubing to stiffen it. Then I urinated into the sink and, using the tube as a pipette, managed to fill it with urine. I then inserted the whole apparatus down my trouser-leg and returned to the museum, keeping my thumb over the top end so as to ensure that the urine stayed in the tube.
At the museum, I positioned myself before the display case, concentrating intensely on its contents. There was a guard standing behind me and about 12 feet away. I opened my fly and slipped out the tube, feeding it carefully through the slot in the glass. It was perfect fit, and slid in quite easily until its end was poised above the famous john. I released my thumb, and a small but distinct trickle of my urine splashed on to the work of art.
That evening I used the incident, illustrated with several diagrams showing from all angles exactly how it had been achieved, as the basis of my talk. Since ‘decommodification’ was one of the buzzwords of the day, I described my action as ‘re-commode-ification’.

Brian Eno’s Diary, A Year With Swollen Appendices, págs. 325/26


O sarcasmo, a mordacidade, a ironia, a iconoclastia, o quase surrealismo são traços que os cronistas britânicos aperfeiçoaram como ninguém. Ainda que não seja esse o seu métier, Brian Eno jamais poderá negar as suas origens. O post é dedicado ao saudoso Pedro Mexia, que recentemente escrevera sobre o tema mictal no Público.

Gostar de lobos






















Andrew Stockdale, líder dos australianos Wolfmother. 
Hoje somos alguns; amanhã uivarão muitos mais. 

(à tua particular atenção, Tiago)

Marchas populares
























It's our anniversary
A celebration of
And here's to next year
Maybe you'll join me in my car
We'll drive together
But not too far


2003, ano da graça de São Callahan.

6.11.2008

Admirável Cesariny

história de cão


eu tinha um velho tormento
eu tinha um sorriso triste
eu tinha um pressentimento

tu tinhas os olhos puros
os teus olhos rasos de água
como dois mundos futuros

entre parada e parada
havia um cão de permeio
no meio ficava a estrada

depois tudo se abarcou
fomos iguais um momento
esse momento parou

ainda existe a extensa praia
e a grande casa amarela
aonde a rua desmaia

estão ainda a noite e o ar
da mesma maneira aquela
com que te viam passar

e os carreiros sem fundo
azul e branca janela
onde pusemos o mundo

o cão atesta esta história
sentado no meio da estrada
mas de nós não há memória

dos lados não ficou nada


[in Manual de Prestidigitação. BI.032]

Respirar debaixo de água



















O DVD dá dos The National uma imagem enfadonha. Não se cansa de fazer "artístico". Nenhum plano, nenhum enquadramento, parece poder ser "normal". Nenhuma imagem surge liberta da sua mais que óbvia manipulação. Um filtro que instala perturbação fingida. Nota-se a marca parasitária do último Lynch ou de Tarnation, de Jonathan Caouette, dois objectos para mim particularmente insuportáveis. Este filme de Vincent Moon sobre os The National, que os apanha no momento da gravação do espantoso Boxer, é uma oportunidade desperdiçada quase por inteiro. Ficamos com o quase, a lamentar todo o resto.

O meu reino por este livro

























(...) Quão inútil a tarefa do homem, cabeleireiro de si mesmo, repetindo até à náusea o mesmo corte quinzenal, pondo a mesma mesa, refazendo as mesmas coisas, comprando o mesmo jornal, aplicando os mesmos princípios aos mesmos contextos. Pode ser que exista um reino milenar, mas se alguma vez chegarmos a atingi-lo, se chegarmos a sê-lo, deixará de se chamar assim. Enquanto não tirarmos o chicote da história do tempo, enquanto não acabarmos com o inchaço de tantos até, continuaremos a tomar a beleza como um fim, a paz por um desiderato, estaremos sempre do lado de cá da porta, onde a realidade nem sempre é má, onde um número considerável de pessoas encontra uma vida satisfatória, perfumes agradáveis, bons ordenados, literatura de alta qualidade, som estéreo, e para quê inquietarmo-nos se o mundo é finito, se a história se aproxima do seu ponto óptimo, se a raça humana se apresta para sair da Idade Média para entrar na era cibernética. Tout va trés bien, Madame la Marquise, tout va trés bien, tout va trés bien.
De qualquer modo há que ser imbecil, poeta, completamente louco para perder mais de cinco minutos com este género de nostalgias facilmente liquidáveis a curto prazo. Cada reunião de gerentes internacionais, de homens-da-ciência, cada satélite artificial, hormona ou reactor atómico esmagam um pouco mais estas falsas esperanças. O reino será de material plástico. Não é que o mundo vá acabar convertido num pesadelo de Orwell ou de Huxley; será muito pior, será um mundo delicioso, feito há medida dos seus habitantes, sem um mosquito, sem um analfabeto, com galinhas enormes e provavelmente com dezoito patas, todas elas deliciosas, com casas-de-banho telecomandadas, água de cores diferentes consoante o dia da semana, uma delicada atenção do serviço nacional de higiene,
com uma televisão em cada uma das divisões da casa, grandes paisagens tropicais para habitantes de Reiquiavique, vistas de iglôs para os de Havana, subtis compensações para domesticar toda e qualquer rebeldia,
etcétera.
Um mundo satisfatório para pessoas razoáveis.
Mas será que vai restar alguém, algum homem, que não seja razoável?
Num canto qualquer, um vestígio do reino esquecido. Numa morte violenta, que castigue o infractor por se ter recordado do reino. Numa gargalhada, numa lágrima, a sobrevivência do reino. No fundo, não parece provável que o homem acabe por matar o homem. Vai-lhe escapar, vai apoderar-se dos comandos da máquina electrónica, do foguetão espacial, fintar tudo isso e depois que o apanhe quem puder. Pode matar-se tudo, menos a nostalgia do reino. Levamo-la na cor dos olhos, em cada amor, em tudo o que nos atormenta profundamente, em tudo o que nos empurra, em tudo o que nos engana. Wishful thinking, talvez, mas essa podia ser outra definição possível do bípede implume.

págs. 432/33

Disco da semana
























Da última semana de Março de 1973. Naqueles tempos não existia pedofilia.

6.09.2008

A escolha















«Why love, if losing hurts so much? I have no answers anymore: only the life I have lived. Twice in that life I've been given the choice: as a boy and as a man. The boy chose safety, the man chooses suffering. The pain now is part of the happiness then. That's the deal.»



A frase está a negrito. Manteve-se o diálogo (do filme Shadowlands) apenas por um mínimo de contextualização. Pertence a C.S. Lewis, provavelmente é parte do livro A Grief Observed. Se a memorizei é porque é das frases que prefiro. E que hoje escolho, como um dia fui também escolhido.

6.06.2008

Ex-Devaneios?
























O Devaneios não acaba aqui. E os devaneios também não.

6.04.2008

Recordar Pollack














An Affair to Remember (Leo McCarey, 1957)














An affair to forget (Random Hearts, Sydney Pollack, 1999)

"Are you sorry the plane went down?"

Penso que os filmes que nos marcam são aqueles que têm a ver com a nossa história pessoal. Não tanto com a vivência externa da mesma, mas com a forma como interiormente passamos e repassamos aquilo que nos acontece. Os filmes de Sydney Pollack representam uma idealização da própria vida (como se todo o cinema não fosse uma construção, uma fantasia...) Penso agora que aquilo de que mais gosto nos filmes de Pollack é o facto das personagens encontrarem justificações nobres para não ficarem juntas. Poderíamos chamar-lhes desígnios poéticos. O cinema torna-se poesia quando se faz imagem: luz, palavra, som, movimento, música. Se não for assim não é cinema. Chamem-lhe outra coisa qualquer.

O que há num rosto




















A harmonia das feições que lhes confere um apelo universal.

6.02.2008

Concertão
























Prescindir de ir a concertos é passatempo que me caracteriza. Então quando a oferta é esmagadora, devolvo-lhe em recusa igualmente radical. Falhei Colleen, Nick Cave & the Bad Seeds, os The National, o Celso Fonseca, o Luiz Tatit, a Cat Power, e preparava a real balda para Bill Callahan. O ímpeto fraquejou face à perspectiva do jantar com os amigos que me acompanhariam (ou eu a eles) ao concerto do Santiago Alquimista. Um concertão, com a casa a menos de metade, e todos nós bem próximos dos músicos. Bill Callahan pareceu-me, disse-o na altura, um compósito de Stuart Stapples com Pedro Costa. Dava ares de se sentir acossado em palco, as palavras entre canções eram breves, a atitude apenas simpática o suficiente. Também não estávamos lá para sermos acarinhados. Queríamos aquela tensão, a rígidez dos músculos faciais de Callahan que pareciam prender as palavras, queríamos o fraseado minimal e hipnótico das guitarras, e tudo isso aconteceu de início ao fim. Arrancou com Our Anniversary (de Supper), passou por Cold Blodded Old Times (de Knock Knock), por vários dos seus discos, não teve um único momento abaixo da excelência. De cotovelos apoiados no balcão do bar (a imperial custava 2 euros), apenas tirei olhos do palco com o anseio de colocar as mãos nas costas todas todas descobertas, e de simetria estonteante, da menina que dois metros à minha direita se bamboleava só para ela.

6.01.2008

É um pássaro é um avião
























Em praticamente trinta anos à volta dos discos nunca tinha prestado atenção aos Led Zeppelin. A ocasião não se tinha proporcionado. Tão simples quanto isso. Seguimos por aqui e por ali, tomamos caminhos (demasiados caminhos), determinados por nós, pelos irmãos ou amigos, gastamos o que temos e não temos em música, e pode haver sempre qualquer coisa central que escapa. Cheguei agora aos Led Zeppelin através de um disco que tem a minha idade. Como num atropelo. A sensação com que fico é a de que há muitos rapazes que fazem música de brincadeira, e que com os Led Zeppelin a coisa é de homens e muito séria também. Isto é blues, folk e rock (pesado) e tem uma energia avassaladora. As guitarras (acústicas, eléctricas) são prodigiosas, a voz de Robert Plant é sobrenatural. A música dos Zeppelin - a avaliar por este que, por enquanto, é o disco que conheço - parece fazer a ponte entre o psicadelismo dos Beatles e o dos Pink Floyd: ampliando-os em catarse. O excesso é figura que não se pode escamotear. Só que o excesso deste Zeppelin é marca de exuberância que traduz a fome de música da banda de Plant, Page, Jones e Bonham. E se a transcendência já se nota em disco, nem sequer me atrevo a imaginar o que seria vê-los em palco. Isto é histórico, extraordinário, intemporal, totalmente incendiário de emoções e imprescindível. Um super Zeppelin, onde existirão outros.

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