6.30.2010

Definitivos



Eu encontrei quando não quis
Mais procurar o meu amor
E quanto levou foi pr'eu merecer
Antes um mês e eu já não sei

E até quem me vê lendo o jornal
Na fila do pão, sabe que eu te encontrei
E ninguém dirá que é tarde demais
Que é tão diferente assim
Do nosso amor a gente é que sabe, pequena

Ah vai!
Me diz o que é o sufoco que eu te mostro alguém
Afim de te acompanhar
E se o caso for de ir à praia eu levo essa casa numa sacola

Eu encontrei e quis duvidar
Tanto clichê deve não ser
Você me falou pr'eu não me preocupar
Ter fé e ver coragem no amor

E só de te ver eu penso em trocar
A minha TV num jeito de te levar
A qualquer lugar que você queira
E ir onde o vento for
Que pra nós dois
Sair de casa já é se aventurar

Ah vai, me diz o que é o sossego
Que eu te mostro alguém afim de te acompanhar
E se o tempo for te levar
Eu sigo essa hora e pego carona pra te acompanhar

[letra: Rodrigo Amarante]

Promete


























Ser muito bom ou muito mau.

[estreia: 26 Agosto]

6.29.2010

Acredito no Deus dele


























[...] There was one night when the tape machine broke at a particularly awkward moment, when the band was really hot and we were just about to do the take. Everyone groaned and we were standing around, a little worried. And then June suggested that we hold hands and sing a hymn. Not something the Heartbreakers hear a lot. She said, "Maybe if we sing a hymn the Lord will hear us and fix the tape machine." So we said, "Well, OK..." and damn if we didn't sing the hymn and 30 seconds later they came out with, "OK, we've got it." I was really impressed by that.

Tom Petty recordando as sessões com Johnny Cash na Mojo de Julho de 2010.

6.25.2010

Branco nunca mais

6.24.2010

Quem é ela

Algo me diz que ela


























e ela


























são a mesma pessoa.

Partir, chegar.

















Uma aliança é uma aliança é uma aliança. Now you see it, then you don't.
Mas o relógio continua lá, para marcar o tempo da culpa.

Phados & beyond


















Fado tântrico soprado do deserto. Nem só o acto é tântrico; a espera, a espera sobretudo, pode ser tântrica. Lula Pena levou 12 anos para fazer este disco. Daqui a uma dúzia de anos continuaremos a falar dele. Até lá vamos escutando. Chama-se Troubadour. Retalhos. Fragmentos. Poeira. "E disse."

Texto de apresentação de Troubador.

Concerto dia 2 de Julho às 21h30 no Anfiteatro ao ar livre da Gulbenkian.

[o CD é ainda um objecto cartonado lindíssimo]

6.23.2010

Io sono l'amore




















Marco Natanel Torsiglieri. Da pinta de Purovic com uma lambidela de Pinilla não se livra.
Vale-nos que não lhe pagarão para fazer golos mas evitá-los. Bienvenido, Torsi.

6.22.2010

Preocupa-te




















foto: A. Pardal

Digamos que em ocasião anterior eu teria recorrido aos préstimos de uma banda muito interessada em obter visibilidade para o seu trabalho, que aceitara tocar de graça no evento por mim organizado. As coisas tinham corrido tão bem que resolvi convidá-los de novo e para um acontecimento de grande projecção com orçamento também muito superior. Mesmo sabendo que eles provavelmente concordariam em tocar por um valor simbólico, defendi que se lhes devia propor uma verba mais aceitável. Isso faz de mim uma pessoa de esquerda ou de direita? Acho que faz de mim um tipo justo.
Qualquer identificação entre o que conto aqui, a imagem que uso e as situações reais implica um pulo epistemológico.

Preocupem-se.

6.21.2010

[R]

Acesso restrito. Disponibilidade limitada. Um homem entre quatro paredes.

6.17.2010

Jesus


6.16.2010

O meu camarada Rodrigo


























O camarada Rodrigo (meu pen pal do metal) é um projecto de Tom Araya sem banda e sem ascendência chilena que eu saiba. Quando sorri não pode esconder o futuro que o aguarda. É o carisma dos puros. God hates us all mas sempre vai tendo os seus eleitos.

Gazua


A lenda da mulher-veado
















Deer Woman (não confundir com "dear woman") é como se chama o primeiro episódio realizado por John Landis para a série Masters of Horror. Foi escrito por Landis pai e Landis filho (Max) e podemos pensar quem celebra quem nesta empreitada: se o filho que inscreve a média-metragem na tradição do progenitor (o Innocent Blood que troca a mulher-vampiro pela mulher-veado igualmente letal) ou o pai que garante a passagem do ADN do impulso sexual ligado à bestialidade inocente (delas) para a sua cria? Deer Woman alinha um conjunto de descarados clichés, desde o polícia deixado pela esposa e a filha que se sente responsável pela morte de um irmão de armas, até à mulher (a estonteante Cinthia Moura) que seduz homens sem uma palavra (palavras para quê com aquela figura?...), para os matar barbaramente imediatamente após a cópula. John Landis filma esta história com a distância pós-moderna de quem se diverte a desmontar o mecanismo ingénuo mas sedutor da história. Deer Woman é um divertimento que graças a Landis é bem eficaz, i.e. divertido.

Sereia


























Duas outras imagens de Insuh Yoon que me subtraem o fôlego.

Resposta a uma amiga antes da próxima conversa

Os homens e as mulheres frequentam-se como quem vai ao restaurante. Há aqueles (e aquelas) que quando encontram um sítio onde gostam de comer passam a lá ir todos os dias. Há os outros que pensam sobretudo em variar: porque se cansam depressa da cozinha da casa ou por pura e simples falta de imaginação. Quanto às naturezas de uns e de outros não há nada a fazer. São como são e dificilmente se alteram. Já quando se diz que um homem (ou uma mulher, embora nunca tenha ouvido dizer isto de uma mulher) trocou a sua companhia por outras com metade da idade daquela, trata-se do caso de alguém que passou a gostar de comer ao balcão.

6.15.2010

Fake jump cut



















Fotografias de Insuh Yoon. Recomendo muitíssimo a visita ao site.

A lenda do homem-tigre
















Em Tropical Malady (2004), de Apichatpong Weerasethakul, já um dos elementos do par masculino se refere a um tio que recordava vidas passadas. A grande originalidade e o poder de fascínio do cinema do tailandês residem em que para ele todas as fronteiras de esbatem: mortos e vivos, homens e animais, corpo e espírito, sonho e realidade coexistem no prolongamento uns dos outros. E assim também coexistirão os filmes de Apichatpong. Tudo contém e está contido em tudo. A Palma de ouro deste ano em Cannes tem raiz ficcional em Tropical Malady. Que sabemos nós. Que fabuloso cineasta.

6.14.2010

Eu e a brisa

Dans mon île

Boa noite, dia

6.12.2010

Under the blanchett

Dans mon lit

Quem vai ganhar o Mundial


















Aposto sempre na mesma.

Fuckin' Slayer


























O DVD felizmente documenta o período norte-americano da The Unholy Alliance Tour. É que os Mastodon não vieram à Europa, em 2006, integrados neste cartaz. O espectáculo aqui documentado aconteceu na cidade canadiana de Vancouver. Os fãs dos Slayer, gente que ia dos 20 aos 50, montou barraquinha à porta do recinto e tratou de enborcar tantas cervejas quantas a bexiga suportasse. O DVD é também sobretudo Slayer, embora dê para perceber que os Lamb of God sabiam dominar a multidão de centenas (milhares?), que puseram a correr em círculo por entre uma coreografia guerreira algo atabalhoada, e que os Mastodon, na altura a promoverem o álbum Leviathan, eram um caso muito sério de técnica aliada ao espírito e intensidade. Três grandes momentos com os temas Capillarian Crest, Crystal Skull e Blood and Thunder, os dois primeiros a anunciarem o disco desse ano, Blood Mountain. Mas Slayer é fuckin' Slayer e era por eles que a multidão ali estava. Gente do punk e do metal para fazer a festa com a banda de Tom Araya, Jeff Hanneman, Kerry King e Dave Lombardo. Os Slayer são verdadeiros divisores de águas no que respeita ao metal. Difíceis primeiros embates com este pessoal. Eles são mais rápidos, fortes e directos que o resto da concorrência thrash. Levam tudo o que estivermos dispostos a dar. Está aqui a prova: fuckin' Slayer.

6.11.2010

Futurologia

He-Man









































6.09.2010

Mágico (quase... quase*)





















This album has a big, sweeping sound. Chris Goss and I produced it together and he was more of a musician/band member than a producer. We recorded Followed the Waves as a trial, to see if we really wanted to work together and it was so laid back I didn't even think it'd make it on the record. The only players on the original version of that song were me, Josh Homme and Kyuss drummer Brandt Bjork. The direction I gave Brandt was to just play it like Kyuss's Blues For The Red Sun. So here we were recording the first song for my first solo project for a potential first album and I essentially had Kyuss as my backing band. Magical. [Melissa Auf der Maur, Novembro, 2003]

* Não é PJ Harvey quem quer. Melissa mostra-se bastante aplicada e competente (falta-lhe o resto). Aspereza: isso seria magia ruiva por inteiro. Cortava-se um pouco no big, sweeping sound.

6.08.2010

Feel good hit do Verão




















QOTSA naturalizados pel'Os Dias de Raiva:

«Come, bebe, fode, estica o coração
É um músculo, tu sabes que ele pode
(Eles dizem) fuma, bebe, fode, enquanto danças
A dança dos parvos porque ela sacode (...)»

Muito bem-vindos


















Carlão é Carlos Nobre, ou Pacman, dos Da Weasel. Fred Ferreira é o baterista de serviço de projectos como Orelha Negra, Buraka Som Sistema, Oioai e Rádio Macau. O "pessoal" é o baixista Nuno Espírito Santo, dos Oioai, e os guitarristas João Guincho e Paulo Franco, dos Dapunksportif. Juntos formam Os Dias de Raiva, a mais recente banda de punk-hardcore portuguesa.

É grande mini-disco. Soltem essa raiva!

[imagem: Pauliana Pimentel]

A bela horrível Itália















Vincere começa com a prova da não existência de Deus em 5 minutos. O jovem Mussolini (espantoso Filippo Timi, que tem vibração animal como Javier Bardem) dirige-se a um grupo de populares onde se encontra Ida Dalser (Giovanna Mezzogiorno), que acaba fulminada de paixão pelo bravo socialista. Benito desafia Deus a matá-lo nesse instante como prova da existência divina. Porque Deus não age, põe-se em marcha o mito. E o filme de Marco Bellochio arranca para a encenação fulgurante do amor de Ida por Benito, ao mesmo tempo que se dão os mais importantes acontecimentos do início do século XX: o modo como o Futurismo anuncia a Primeira Grande Guerra e como o desfecho desta abre caminho à ascenção do futuro ditador italiano. São sequências marcadas por grande energia visual e enorme intensidade de sentimentos. Bellocchio ganhou fama com uma cena de sexo que nunca vi (está no filme O Diabo no Corpo, de 1986). O primeiro embate carnal entre Ida e Benito bastaria para dar prova da mestria de Bellocchio no assunto. Não se trata de um momento de explicitude do acto, mas dos sentimentos. Está tudo o olhar, na vibração física, na respiração e nas palavras que escapam ao controlo dos amantes. Uma cena estarrecedora. Mas tal como depois do amplexo vem a prostração, assim também Vincere perde na segunda metade parte do vigor e do interesse. É sabido que Benito Mussolini abnadonará Ida e o filho de ambos, também Benito, e que manobrará para que os dois não mais interfiram com a sua vida. O filme de Marco Bellocchio faz toda uma inversão de género, quando da alegoria política no masculino vira melodrama e tragédia no feminino: Ida Dalser, ostracizada de hospício em hospício, afastada do filho e impotente na defesa do estatuto de primeira e legítima mulher do Duce. Talvez uma desaceleração demasiado brusca face aos vertiginosos primeiros 30 ou 40 minutos; sem dúvida o recurso a um registo mais convencional que força a nota psicológica, muito bem defendida aliás pela Mezzogiorno. E encerro com uma contradição ontológica ao filme, senão à própria história. Como pode o homem continuar a pôr em causa o divino quando olha o corpo estendido e nu desta actriz (mais tarde já não a verá chorar como uma mártir de Dreyer), que enquanto sua mulher tomou para si por inteiro? Não tenho resposta e de novo me benzo.

6.07.2010

Trabalho bem feito

















Aquilo que enforma o prazer de assistir a um filme como O Segredo dos Seus Olhos é tão antigo como o cinema. Houve tempos (digo sem paternalismo que fui desse tempo) em que a frequência com que surgiam objectos destinados a um público adulto, que reflectiam tarimba, era regular. O cinema actual, extremado entre produtos autorais ou formatos que se assemelham a videojogos, demitiu-se de algum modo de fazer articular os géneros clássicos.
O Segredo dos Seus Olhos apresenta em paralelo um policial e um melodrama. Há um crime que leva 25 anos até que se apurem todas as implicações e há também um homem, implicado na investigação dessa morte, que cala 25 anos o amor que sente por uma mulher. O filme é sobre este homem, Benjamín Esposito (e que extraordinário actor é Ricardo Darín). Benjamín persegue a verdade com a mesma determinação que usa para ocultar a sua paixão. No final percebemos que uma depende da outra na medida em que uma se extinguindo nada pode travar a outra. Não é importante o destino que terá o livro que Benjamín Esposito escreve acerca do assassinato da jovem mulher às mãos de um informador da polícia política argentina e sobre 25 obscuros anos. Quando o filme encerra com a porta que se fecha aos nossos olhos, Benjamín recomeçará então a viver.
Os principais actores de O Segredo dos Seus Olhos são muito bons. Aquelas personagens mostram-se verdadeiramente habitadas de humanidade ficcional (como, ocorreu-me frequentemente pensar, os livros de Cardoso Pires). A realização de Juan José Campanella é sóbria o bastante e apenas num momento cede à grandiloquência quando sobrevoa o campo de futebol do Racing Avellaneda. Não fosse a impressão do filme se arrastar um pouco no terceiro acto, demorando-se até à escusada última explicação – a explicação da explicação – que trai um pouco a verosimilhança geral da narrativa, estaríamos na presença de um objecto mais estimável ainda. Um filme de género(s) hábil e sensível, só que mais coeso.

Enxaqueca global


















São muito giras, as compatriotas. Hong Sang-soo não fez a coisa modesta. Embalados por Paris e pelos devaneios lúbricos do protagonista – ainda por cima um adorador de pés femininos (uma das idiossincrasias que demarcam Noite e Dia das identidades cinematográficas de Rivette e Rohmer que de algum modo parecem ter-lhe servido de inspiração) –, podemo-nos sentir tentados a ambicionar o paraíso junto de 70 jovens sul-coreanas. Mas provavelmente acabaríamos com 70 dores de cabeça ou com uma cefaleia multiplicada por 70. Não percam o filme e previnam-se para as enxaquecas.

6.05.2010

Twentynine Palms
















Deliverance no deserto da Califórnia.

6.04.2010

Padrão

























































Eu ouço aqui um padrão. Noite boa.

Não há orgasmos grátis
















Nos últimos três filmes de Jean-Claude Brisseau – Coisas Secretas (2002), Os Anjos Exterminadores (2006), À Aventura (2008) – é frequente a presença de mulheres muito belas muito nuas. No entanto é possível assistir a estes filmes sem experimentar algo que vá além da moderada excitação sexual, apesar do prazer de para eles olharmos poder ser grande: algo que é mais da ordem da escopofilia que do voyeurismo. Pode-se simplificar ao ponto de dizer que a obra recente do francês toma por assunto a exposição/exploração do prazer feminino (sob a insistente figuração do acto masturbatório), que pode ser fruído sem que sintamos o impulso de participar do prazer onanista. O tema pode até ser a tentativa de identificar o que desperta o prazer em cada mulher (e de como se manifesta no rosto e nos corpos), embora o deleite que essas mesmas obras proporcionam seja sobretudo de ordem estética (o que imediatamente demarca os filmes de Brisseau da pornografia, cuja formatação implica duração, repetição e ejaculação).
Jean-Claude Brisseau manipula o espectador na exacta medida em que os seus protagonistas são manipulados pelas mulheres de que se aproximam. Eles querem delas alguma coisa (essa coisa que é secreta), e vão ter de pagar por isso. Brisseau é ao fim e ao cabo um moralista que se aventura pelos caminhos da licenciosidade. Os seus filmes deixam a sensação de que as figuras femininas têm sempre a última palavra e de que ele se distrai com a ingenuidade dos homens que ousam pensar que controlam a situação. O cinema de Brisseau serve-se de vários registos que colocam obstáculos a quem os procura entender com clareza. Ele gosta do surrealismo, aprecia o fantástico, cultiva o erotismo, usa diálogos para nos trocar as voltas para aquilo que nos poderia elucidar e busca um sentido poético no seu trabalho. Nada garante o que Brisseau possa saber das mulheres. Ele idealiza-as, quer sob a forma de aparições, de anjos que empurram o homem para o precipício, ou então pelo facto de as escolher sempre jovens e esbeltas. Talvez seja o último farsante que nos arrasta para o jogo sabendo de antemão que irá perder.
Com Os Anjos Exterminadores, fascinante especulação liberta de todo o tipo de dogmas, Jean-Claude Brisseau mistifica ao mesmo tempo que desconstrói os fantasmas sexuais femininos, e apresenta uma versão ficcionada dos acontecimentos que o fizeram incorrer em problemas com a justiça, decorrentes do filme anterior (Coisas Secretas). Nada como um libertino para dar na justa medida o mundo fechado em que ainda vivemos. Suposto libertino no cinema e um moralista na vida, com tudo o que deste passa para aquele. Ao menos Brisseau sabe bem distinguir misturando as duas coisas. Também ele, seguindo Godard e emprestando-lhe um sentido que do poético faz matéria visual concreta, pode dizer que tenta representar pelo cinema um universo mais de acordo com o desejo. No caso o desejo de saber (a ilusão do poder).

Lanegan's blues


























Uma imagem "banal" rica em significados. Mark Lanegan de peito feito numa área exterior do Rancho de la Luna. Não posso garantir que a foto diga respeito às gravações do álbum Scraps at Midnight (1998), pois é provável que pertença às contemporâneas Desert Sessions (tiveram início em 1997), promovidas por Josh Homme e pelos anfitriões do rancho: Dave Catching e Fred Drake, ambos músicos. Mas por agora é Lanegan que interessa. A sua voz devia ser promovida a património cultural da humanidade. Desaparecido Johnny Cash, ninguém mais, em minha opinião, na música actual, personifica a conturbada existência do país que cedo se tornou com o seu pioneirismo um mito universal. Os nossos heróis estão todos na América e dos vivos Mark Lanegan situa-se hoje entre os maiores. Será porque a morte é presença tão forte naquilo que canta? Mark Lanegan, o eterno sobrevivente.

6.02.2010

Shirin


























Staring at Marina Abramovic. Uau.

Cinco



















"As a resident, I learned that tattoos and sociopaths often occurred together. The more tattoos, the more likely a diagnosis of psychopathic personality became."

"Among those known to have had tattoos are King George V, Winston Churchill's mother, King Oscar of Sweden, and Grand Duke Alexis of Russia."

"Technology forces change in any time, and in 1891 the first electric tattoo needle made the process much cheaper and faster. That lead to popularity among lower classes, and subsequent abandonment by the rich."

"Tattoos signify commitment. As permanent marks, they generally indicate some personal transition of significance. Often this relates to efforts to gain or regain control of one's life."

"It may, like the interpretation of a dream, lead to highly symbolic information. Don't assume any particular psychopathology without more data, and remember the use of these has had many meanings to many people for thousands of years. Any particular view you hold is probably culturally bound and time-limited."

ICONS OF FLESH, por James F. Hooper, MD.

Emilys


























A Mortimer.



























A Blunt.

























A Watson.

Fuck you dose dupla (20+20=40)



Eu não vos disse?


























Ao longo da vida o homem pode enfrentar três tipos de competição: consigo mesmo, com as expectativas que a sociedade nele incute (é aqui que entram as mulheres), e com os outros homens. Nenhuma menos ilusória que a outra, todas as competições encerram um potencial de frustração que tarde ou cedo toma forma. O homem só é verdadeiramente livre quando sonha ou quando em vigília se entrega a todo o tipo de fantasias (há quem lhe chame devaneios). Livre é o homem reconciliado com as limitações da vida real ou, por outro lado, o que se entrega à exploração do seu imaginário fecundo.
Ronnie James Dio superou as limitações da sua baixíssima estatura, fazendo uso da voz que diríamos pertencer a um daqueles gigantes de musculatura simétrica que observamos nas capas dos discos da banda. Não irei escutar muitas outras coisas dele(s) porque percebi que este género de metal (sinfónico até quando não existe orquestra) é dos que mais ficou refém do seu tempo. Tarefa que nem o mais motivado dos imaginários consegue actualizar. Até porque fará pouco sentido recuperar uma época que não foi vivida quando era a nossa. The Last in Line cumpre no pleno essa limitação.

Os bons espíritos















A questão da crença no confronto com as imagens em movimento é algo que nos deve interrogar desde os primórdios do cinema. Pode-se dizer que o estímulo óptico novo era mais preponderante nos primeiros espectadores sobressaltados com a "chegada do comboio" que parecia vir na direcção deles, mas mesmo que inconscientemente havia já ali uma forte impressão de realidade a contribuir para o sortilégio do espectáculo.
Quando Jean-Claude Brisseau filma no início da década de 90 a história de Céline, depois de Cocteau, de Dreyer, de Hitchcock, de Buñuel ou de Bresson, a questão ontológica da fé aplicada à imagem cinematográfica, à representação do milagre em sentido literal, só pode ser equacionada por via do descondicionamento do trabalho do espectador e pela disponibilidade intelectual para aceitar a representação do inefável.















Brisseau filma a história de uma rapariga privilegiada que "nasce" de novo aos 22 anos, depois de ter considerado tudo haver perdido. A sua convalescência irá ser acompanhada por uma enfermeira de província que inicia a jovem na meditação, na prática do yôga e na entrega dos seus cuidados a outros (na compaixão). A desidentificação de Céline (Isabelle Pasco) com o seu ego será de tal ordem que chega a atingir estados de transe místico que mais tarde a levarão a optar por uma vida totalmente dedicada à espiritualidade.
Isto considerado, há que acrescentar que Céline não podia ser mais distinto do que usamos entender por hagiografia. Existe um grande desassombro (realista) no modo como Jean-Claude Brisseau regista os momentos em que as faculdades de Céline se manifestam, e num plano tangível o filme trata da relação entre duas mulheres (uma história de amor sem corpos/desejo) e da transmutação da força de uma na outra. Céline é ainda observado à distância pela figura da morte que sobre ele paira, sendo também um filme cercado de vida: a começar no cenário campestre onde Brisseau decidiu situar a acção, e na utilização ponderada da música do enorme Georges Delerue.















Com Jean-Claude Brisseau o cinema torna-se uma arte livre e poética, bela e utópica. Para acreditarmos temos de olhar as coisas como ele as filma. De frente. E aceitar que aquilo que vemos possa ser o que vemos e algo que é também outra coisa. Porque o pensamos e porque o sentimos.

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