2.28.2007

Video killed the radio star



















E eu, será que posso dizer que Lucian Freud é o pintor de que mais gosto se vi apenas reproduções dos seus quadros?

2.27.2007

(As palavras) Blue Nile



















O texto é curto mas duas palavras nele incluídas seriam suficientes para me fazer comprar este CD dos ingleses Sweet Billy Pilgrim (leiam as influências da rapaziada na coluna da esquerda), que me foi até gentilmente oferecido. No meio de um conjunto de justas observações, o crítico do Sunday Times refere os Blue Nile de Paul Buchanan(!) como uma das referências para as quais remetem as paisagens sonoras dos doces estreantes. É que ir buscar os Blue Nile, ainda para mais completamente a propósito, é coisa para desatar o nó na alma de muito melómano que vagueia por aí em busca de algo que preencha cada intervalo de não menos de cinco anos, que é o espaço de tempo que os Blue Nile necessitam antes de fazerem sair álbum que a cada vez pode ser o derradeiro. As três últimas canções de We Just Did What Happened and No One Came (Experience, Black Flag e Atropina) ajudam, e como ajudam, a vaguear como quem desliza e o resto do alinhamento remete, entre murmúrios e suspiros, para o universo dos Eels e dos Sparklehorse mais angustiado. O melhor de vários mundos que vale a pena descobrir pelos próprios Sweet Billy Pilgrim: Anthony Bishop, Tim Elsenburg e Alistair Hamer. A Ananana tem e diz que vende.

2.26.2007

Mãos largas

O touro agradecido















Superior momento da noite: Eastwood a traduzir o italiano de Ennio Morricone, tranquilo. O reconhecimento estratégico de The Departed, o segundo melhor filme de entre os nomeados. A Indústria que hoje temos: Scorsese e Robert Lorenz agradecem enfaticamente a Leo DiCaprio (he's the new boss!, observa qualquer um). Ovação apoteótica para Al Gore, outro dos grandes vencedores do serão. Pouco sobrou para Iñárritu; o capital do politicamente correcto esgotara-se no Messias do Ambiente. Tornatore apresentou o melhor clip nostálgico da noite: o paraíso do cinema voltou a ser como ele o vê. A voz de James Taylor. Black power. Green dykes. Cate Blanchett e Kate Winslet, elegantíssimas. Peter O'Toole não estava ali. Bebi três whiskies por ele. A cerimónia podia ser melhor. Podia ser bem pior também. A companhia de amigos relativiza todas estas coisas.

Manos Wallumrød














Os irmãos Wallumrød fazem ambos música para embalar adultos. Em diferentes projectos - Christian, o mais velho, no ensemble junto do qual gravou belo disco para a ECM há dois anos atrás, A Year From Easter, a que poucos, a sul de Oslo, terão prestado atenção; a espectral Susanna mais a sua "orquestra mágica" constituída por dois elementos apenas (a voz dela + os tarecos sonoros de Morten Qvenild), que verte beleza transcendente em Melody Mountain, pelas seguintes quase irreconhecíveis covers: ”Hallelujah” (Leonard Cohen), ”It´s A Long Way To The Top” (AC/DC), ”These Days” (Matt Burt) "Condition Of The Heart" (Prince), "Love Will Tear Us Apart" (Joy Division), "Crazy, Crazy Nights" (Kiss), "Don´t Think Twice, It´s All Right" (Bob Dylan), "It´s Raining Today" (Scott Walker), "Enjoy The Silence" (Depeche Mode) e "Fotheringay" (Fairport Convention). Com os Wallumrød, e permitam-me o sublinhado da imagem, a música é de dormir e sonhar por mais.

2.23.2007

Alinhamento
















Are you ready to be heartbroken birthday sessions, hoje, a partir das 22h, no bar Agito. Noitada de Oscars no próximo domingo (TVI, com início à uma da manhã). Retrospectiva Jim Jarmusch em Abril na Cinemateca.

Imagem: Cate Blanchett, a mulher que resolvia todos os problemas da minha vida neste momento.

2.22.2007

Apóstolo




















Como é Sporting, vamos pôr os olhos neste rapaz?

2.21.2007

Isn't it neurotic?
























Nunca confiar num tipo aborrecido com a vida, pois nele qualquer decisão pode não passar de um capricho. Incrível como até uma pessoa inteligente como Pauline Kael* não viu o lado sombrio de Benjamin Braddock (Dustin Hoffman), alienado até à derradeira cena, no autocarro, após ter sabotado o casamento da mulher desejada (a lindíssima Katharine Ross), os ingénuos acreditarão que por amor, os outros dirão que por obstinação. The Graduate mantém-se quarenta anos depois tão original como sempre foi. Abordagem da neurose na passagem à idade adulta, quando nos pedem que nos definamos e só queremos que nos deixem em paz. Pauline Kael diz ainda que a popularidade do filme de Mike Nichols assentou na sua proposta de fazer passar o protagonista por uma vítima do ambiente (dos adultos, melhor dizendo) que o rodeia. Quem não consegue perceber até que ponto é perversa a figura de Benjamin, apático, cruel, neurótico, agindo por esticões, devia ser condenado a rever The Graduate tantas vezes quantas forem necessárias.

Em complemento revi Dustin Hoffman, doze anos mais tarde, no seu melhor papel de sempre, em Kramer vs. Kramer. Filme igualmente muito popular à época, que é verdadeira pérola de escrita de argumento e de trabalho de actores. Do plano de abertura - sobre o rosto mais bergmaniano de todos, de entre os actores que nunca trabalharam com Bergman - com a prodigiosa Meryl Streep (que nessa altura filmava também com Woody Allen o Manhattan), ao registo dos rituais de todos os dias do pai e da criança que começam verdadeiramente a conhecer-se quando a mãe sai de casa, até às cenas de tribunal, justíssimas, que são igualmente de antologia. Kramer vs. Kramer é dos milagres aparentemente mais simples e discretos do moderno cinema americano. Ouvimos dizer que Deus está nos detalhes e o filme de Robert Benton não vive de outra coisa. Estamos sempre a vê-lo pela primeira vez.

* For Keeps (págs. 224-226)

2.19.2007

Lições dos Mestres













"This was Fritz Lang's favourite plot. Reality turning into a nightmare." (Uma viagem com Martin Scorsese pelo Cinema Americano)

Obrigatório.

2.16.2007

Cartas de Iwo Jima

Digamos, para abreviar, que se trata de obra definitiva. Daquelas que encerra com um género: no caso, o filme de guerra. Clint Eastwood já assinara outros títulos no passado com os quais, obrigatoriamente, a história do cinema feita antes, e a que veio (virá) depois, terá de se confrontar. Cartas de Iwo Jima é obra-prima sob todos os aspectos. Lúcida meditação que não deixa de pé o mais minúsculo grão de heroísmo que se possa associar com a guerra: esse cenário tão absurdo e desumano como nenhum outro. Por outro lado sublinha constantemente o valor imenso de cada vida, sendo também pela marca do seu individualismo um filme profundamente eastwoodiano. Formalmente é Imperial. A melhor coisa que se poderá dizer do cinema de um Mestre do passado - como Akira Kurosawa -, é que nos melhores momentos se terá abeirado dos resultados deste Cartas de Iwo Jima. E já vai sendo tempo de afirmar com toda a tranquilidade: Clint Eastwood é dos maiores cineastas de todos os tempos. Celebrem-no hoje e sempre.

2.15.2007

East wood























Matéria-prima.

Escritos, 1




















«Os céus estavam tão azuis como lápis-lazúli: o sol ardente como uma ametista. As planícies cor de caqui eram pontuadas por oásis de trigo verde, mostarda e cana-de-açúcar. Via-se grande abundância de caça: perdizes, pavões e manadas de veados. Diversas variedades de aves aquáticas pululavam em torno de rios e lagoas. Ouvimos também dizer que não havia falta de tigres, panteras e leopardos nas redondezas. A maior parte dos seus habitantes - sendo muçulmana - sabia que viéramos salvar o país dos Maratas infiéis e era-nos afável. Pagámos-lhes prata e oiro em troca das provisões que lhes subtraíramos. Se os nossos homens eram apanhados a tirar-lhes alguma coisa à força, mandávamos decapitá-los; se molestassem mulheres indianas, mandávamos castrá-los e oferecíamos a sua soldada mensal, juntamente com os seus testículos, às vítimas que deixavam para trás.» (pág. 177)

A grande parra














As relações conjugais tal como vieram a tornar-se ou então como nunca deixaram de o ser. Os contos de Andre Dubus III, de novo adaptados depois dos resultados espantosos em In the Bedroom. Laura Dern, not so wild at heart, mas sempre um prazer on top. O rapaz de Six Feet Under. O rapaz de You Can Count On Me. A parra no meio das pernas de Naomi Watts. Escolha!

2.14.2007

Sempre a combater
























Qual o tipo que compra o primeiro Rocky a dobrar, logo, também para oferecer, justo no Dia dos Namorados? Desmontando pelas vírgulas a frase anterior, dá para pretender chegar a uma conclusão. E a funcionária do El Corte Inglés, nos meus mais bravos delírios, há-de estar ainda a matutar no assunto: que não é (uma) ela, não é (um) ele, mas (um) aquilo. Aquilo, eu sou. Sempre.

Escritos, 2




















«Still in the small bedroom. I brood now on what truly mattered to me. I look at the twin beds where Jackie and Jack had slept and where, earlier, a classmate from St. Albans, Jimmie Trimble, and I had slept.
From below, I hear the cawing of Janet's voice, like that of some dark crow. Poor Jack, I think, a loveless marriage and a hateful mother-in-law. But then he had told a mutual woman friend that he had never loved anyone. Had I?
Since I don't really know what other people mean by love, I avoid the word. None of us brought up in a world of such crude publicness tends to trust much of anyone, while those who mean to prevail soon learn the art of distancing the self from dangerous involvements. In a recent biography of Jack, Reckless Youth, I was struck by the similarities between my youthful self and his, particularly in sexual matters. Neither was much interested in giving pleasure to his partner. Each wanted nothing more than orgasm with as many attractive partners as possible. I remember that he liked sex in a hot bath, with the woman on top, favoring his bad back. Once, with an actress I know, he suddenly pushed her backward until her head was under water, causing a vaginal spasm for her and orgasm for him. She hates him still.
On this point, Jack and I are unalike. All men-women, too?-have a streak of sadism. But mine was plainly narrower than Jack's. Also, the small bedroom reminds me that, unlike Jack, I had once been (in this very room-and ever-since?) in love.» (págs. 19/20)

2.13.2007

Escritos, 3



















«Loneliness is when you're missing people, aloneness is when you're enjoying yourself. Remember that quip of George Bernard Shaw. He was at one of those awful cocktail parties, where nothing gets said. Someone asked him if he was enjoying himself. He answered, "It's the only thing I'm enjoying here." You never enjoy others when you are enslaved to them. Community is not formed by a set of slaves, by people demanding that other people make them happy. Community is formed by emperors and princesses. You're an emperor, not a beggar; you're a princess, not a beggar. There's no begging bowl in a true community. There's no clinging, no anxiety, no fear, no hangover, no possessiveness, no demands. Free people form community, not slaves. This is such a simple truth, but it has been drowned out by a whole culture, including religious culture. Religious culture can be very manipulative if you don't watch out.» (pág. 149)

Força bruta, coração mole

















É o regresso da balboamania que é capaz de já nada dizer aos que vieram depois da geração de 70. Reconheça-se a Stallone a capacidade de fazer coincidir, plano após plano, o comeback utópico de Rocky Balboa aos combates com a utópica recuperação do ícone, decididamente fora de moda, para o cinema. O filme abeira-se das cordas, aguenta-se na ingenuidade de certos apontamentos formais (os ralentis, a cor do sangue sobre o p&b de algumas imagens), convencendo-nos de que é genuína a sua generosidade. Não se trata de um triunfo. Uma vez mais, tal como no filme, antes de um muito digno empate. O olhar é imparcial, tanto para dentro como para fora do ringue: Rocky Balboa substitui o heroísmo pronto a consumir pelo peso das memórias; segue em frente olhando sempre para o passado. E de caminho reinventa o neo-realismo cinematográfico numa época em que predominam força mole e corações duros como pedras. Nada mau.

2.12.2007

Blood diamonds
























Jennifer Connelly e Carole Bouquet. Muito da ourivesaria cá de casa.

Obs. Já o filme de Edward Zwick (onde só Jennifer entra) não vale nada.

2.11.2007

Are you ready to be heartbroken birthday sessions
























Dia 23 de Fevereiro, sexta-feira, a partir das 22h, no bar Agito. Ou a busca contínua da superação pessoal por via de uma rudimentar mesa de mistura.

2.10.2007

Olhe que sim
























Conde Fersen. Não existe nenhum outro.

Beauty for all













Ingrid Chavez, David Sylvian, Stina Nordenstam.

Grandes portugueses










Diamantino Miranda, benfiquista.

For real
























A rapaziada dos Electric Willow é responsável pelo melhor disco da primeira fornada da Transporte de Animais Vivos, editora do sempre activo Jorge Reis-Sá. O som deles situa-se no território vizinho entre Pavement e Silver Jews, área perigosa de trilhar pelo risco do ridículo na comparação. Acontece que Mood Swings sustenta bem o peso da responsabilidade ao longo de um alinhamento rock credível e honesto, que não vê necessidade de se pôr em bicos de pés, onde de imediato se destaca o tema Be For Real que conhecerá posteridade. Dentro do género, dificilmente ouviremos por cá coisa melhor que os Electric Willow.

Continuem a chamar-lhe de Clássico















Um gajo que arranca logo à primeira um grande disco - é o caso de Eric Matthews e de It's Heavy in Here (1995) -, não deve nunca ser criticado por daí em diante se limitar a repetir a "fórmula". Não basta repetir a "fórmula" ou não estaria a história da música repleta de estreias auspiciosas de coisa nenhuma. Matthews atravessou de um século para o outro cada vez mais remetido ao anonimato dos fiéis e o seu Ep do ano passado passou-me despercebido. Voltei hoje a encontrá-lo e a esta pop refundada nas 17 óptimas canções que constituem Foundation Sounds. É uma música sem tempo, que já nasceu adulta e que não envelhece. E Eric Matthews uma espécie de músico total (da estirpe culta de um Paddy McAloon) que compõe, produz e toca todos os instrumentos. Um Clássico por mérito só dele.

É aventura
























Imperfeito, como todos os homens, Jim aspirará à conduta perfeita num mundo tão imperfeito quanto ele. À redenção motivada por um episódio que o perseguirá para onde quer que vá. E num mundo imperfeito, o heroísmo, iremos ver, paga-se caro. Vida é sinónimo de tempestade (sinónimo de medo; a cobardia em nós sempre à espreita) a que só a morte traz acalmia. Mas até a morte pode ser terrível para os que não aprendam a aceitá-la. Bom filme de Richard Brooks a partir de um livro de Joseph Conrad que, é quase certo, será melhor ainda. Em 1965 ainda não tinham feito tábua rasa das ideias no cinema de aventuras.

2.06.2007

Amigo do meu amigo



Vincent Delerm e o amigo Peter Von Poehl com quem gravou na Suécia, o ano passado, Les piqûres d'araignée. Para complementar nota de entusiasmo chegada via sound + vision. Só pode ser bom!

2.05.2007

O meu voto

Para algumas pessoas que me conhecem, o facto de eu ir votar SIM no próximo domingo pressupõe mudança de opinião da minha parte. Mudança de intenção de voto, sim. Mudança de opinião, não. Após o inevitável (re)exame de consciência (não se tem afinal falado de outra coisa), achei que devia separar a minha posição em relação ao aborto (algo que não está a ser referendado; sou em princípio sempre contra) da imposição de uma obrigação sobre todos os outros. Achei que neste assunto, por ser dos mais delicados que existem, tinha de novo que fazer uso de uma máxima que aprendi no cinema - com A Regra do Jogo, de Renoir - e que nunca me canso de recordar: "todo o mundo tem as suas razões!" Voto SIM para permitir que as mulheres e os homens deste país decidam sobre um assunto que só a eles e às suas consciências diz respeito. Eles que decidam: se possível a dois... Eles que aprendam a viver com as consequências das suas razões. Sim?

2.04.2007

Sobras, diz ele



O último disco triplo de Tom Waits é o primeiro que qualquer pessoa devia ter dele. Bom seria que as sobras do bom velho Tom pudessem ser o socorro de muita gente. De toda a gente. A gente põe aquilo a tocar e sentem-se logo os efeitos. Como se esta música sempre nos estivesse estado no sangue. Se o mesmo não se passa convosco, ainda vão a tempo da transfusão. A tripla transfusão que vale por dez... em dez.

2.03.2007

Chá verde

2.01.2007

Vestir-lhe a pele



















Não esperem nada daqui nas próximas semanas.

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