7.31.2006
A Estação
É um Independente Americano sem peneiras de autor que trata daquilo que fazemos de diferente (leia-se "de incompreensível") para que nos deixem sozinhos e daquilo que de diferente fazemos (leia-se "de compreensível") para deixarmos de o estar. Low-profile, aparentemente banal e discretamente universal. Boa descoberta (e muito económica) que preencheu parte da dose de humanismo diária recomendável.
Finais felizes de todos os dias
Para descrever o universo contemporâneo de relações familiares, afectivas e circunstanciais virado de avesso, Don Roos (também autor do argumento) responde com um filme cheio de dobras e comentários (e cinismo, e egoismo e amoralidade...) que é tão devedor dos enormes sentido de observação e excentricidade da melhor ficção televisiva actual como de títulos do cinema de fresca memória que são Os Americanos de Altman (via Carver) e Felicidade de Todd Solondz. A América (o mundo!) segue disfuncional mas recomenda-se. Este Happy Endings - referência às sessões de massagem que terminam no orgasmo da(o) massajada(o) - é, a par de A Lula e a Baleia, o melhor filme "novo" estreado recentemente.
7.28.2006
7.27.2006
Vivificante
THINGS are casual in the vacation home of Art Buchwald. One leg — the one that is attached to Mr. Buchwald — is propped up on a lounge chair on the back porch. The other, complete with white sock and sneaker, stands, quite independently, in front of a canvas director’s chair in the den.
Mr. Buchwald has always been, with the exception of his periods of black depression, a man who needed to be the life of the party, and in a way only a humorist could truly appreciate, he has gotten his wish: after checking into a Washington hospice in February to die — his leg had been amputated, his kidneys were failing and he had declined dialysis — he lived. The longer he lived, the more attention he got and the happier he became. He resumed his syndicated column. He made a book deal. The hospice became his salon. In early July he checked out and returned to his summer home of 30 years on Martha’s Vineyard, which he calls “its own sort of heaven.”
com um abraço para os amigos Alberto Gonçalves, Carlos Carapinha e João Pereira Coutinho.
7.25.2006
Bronze
7.20.2006
Meteorologia
7.19.2006
Mercury Prize
A campanha pela premiação justa e adulta começa aqui. E dispensa o conhecimento de grande parte da concorrência.
[na imagem, The legendary Hawley man]
Afinal
Estou a caminho de vir a gostar muito deste disco. E dar razão a mr. Hannon (a mr. Lisboa e a mr. Mendes da Silva) é a coisa mais simples do mundo. Em matéria de artes é ponto assente: a razão está do lado de quem gosta mais. A vida quer-se simples e o não gostar complica muito as coisas. Embora por vezes seja incontornável.
7.17.2006
Ao final
"Idealista e um tanto ingénuo, Nate é aquele tipo de pessoa que ainda acredita que a felicidade vem de alguém ou algo fora dele." (Nuno Carvalho in DN 6ª, 14 Jul. 06)
Sete Palmos de Terra terminou na semana passada com a morte de todos os principais. Final original e compassivo. De efeito prolongado. Se voltarmos a ver a série do início como será?
7.13.2006
Na linha da vida
Não quero escrever aqui nada que não tenha já dito do meu irmão a ele próprio. Ainda não falámos sobre este disco: o primeiro que ouvi depois de uma semana em que não me apeteceu ouvir música nenhuma. Seria o presente perfeito para o seu aniversário, mas aquilo que lhe dei dias antes era também especial. Falo do meu irmão porque é professor de guitarra e integra um agrupamento constituído exclusivamente por guitarras clássicas. A primeira metade de Time Line (ECM) mostra novas composições de Ralph Towner que são partituras de uma classe aparte para o repertório do instrumento. Depois vêm temas mais híbridos - e canções agora sem palavras como Come Rain Or Come Shine e My Man's Gone Now - que trazem outras guitarras, de 12 cordas, do músico norte-americano. O meu irmão ensinou-me que a guitarra clássica é o tipo de instrumento, tal como o piano, cuja beleza tímbrica dispensa acompanhamento. Talvez por isso tenha sido ele a primeira pessoa em quem pensei quando ouvi este disco. Temos que falar dele e de outras coisas. Eu e o meu irmão.
A crónica que refresca
«Não sei exactamente qual é o estado da Nação. Creio que não se recomenda, porque nunca se recomenda. Sei que teremos mais dois anos e meio, talvez seis e meio, disto. De socialismo sem cafeína, com um tecnocrata colérico mas reservado. De bloquismo bloqueado, entre o desengravatamento e o aburguesamento. De comunismo igual a sempre, barroco na linguagem maniqueísta a descambar para António Aleixo. De uma direita que não esconde algum contentamento por ver a esquerda fazer o seu trabalho sujo, enquanto se mantém aninhada entre o apagamento de Mendes e as Equipas de Nossa Senhora de Ribeiro e Castro. Não sei exactamente qual é o estado da Nação. Mas creio que não se recomenda.»
Pedro Mexia e A sauna da democracia. Clique sobre a citação para ler na íntegra.
Pedro Mexia e A sauna da democracia. Clique sobre a citação para ler na íntegra.
7.11.2006
Poema
Luminoso segundo e recente disco de Susanne Abbuehl: Compass (ECM). De novo na intersecção imaginária dos universos de Annette Peacock, Jeanne Lee e June Tabor. As composições e o canto de Abbuehl reduzidos à mais essencial expressão, com recurso continuado ao Chamber Music de James Joyce - livrinho de poemas para canções que foi a sua primeira obra publicada e que se pressente luminoso e delicado, tal como agora este disco. Voz, piano, clarinete baixo, pouco mais. Compassos evanescentes.
7.07.2006
Homem/ Boneco
Entre a antropomorfização do trabalho de Antony Gormley e a absoluta flexibilidade do corpo do bailarino Sidi Larbi Cherkaoui, a distinção entre animado e inanimado torna-se transitória e por vezes irrelevante. O "grau zero" talvez seja isso. Uma forma que existe no princípio de tudo. Antes que a diferença se produza pelo indivíduo.
Talvez que a coreografia Zero Degrees remeta para aquilo que a visibilidade de um corpo pode transmitir da invisibilidade da identidade que o anima. Ou da memória do que todos fomos antes de existirmos: matéria sem vida. Como os alvos imperturbados do filme de Nick Ray que não sei bem por quê veio por arrasto. Em todo o caso, assuntos mais interessantes pela especulação que suscitam do que pelas conclusões que permanecerão num limbo. Próximo talvez do tal "grau zero".
7.06.2006
Casa de Cacela
Um blogue para descansar a vista e experimentar uma certa reconciliação. Por exemplo, nestas palavras:
Regresso
O lento amanhecer de uma tarde de junho
pode trazer essas feridas antigas,
a ilusão do regresso à partilha das águas,
ao fogo que
nenhuma distância arrefece.
Quem não merece
o amor?
Allez le bleu!
Se Zidane se despedir do futebol com o título de campeão mundial será a mais justa homenagem que este jogador extraordinário podia receber. Pela parte que me toca, ficarei feliz.
Quanto a Portugal, mostrámos uma grande selecção, um enorme empenho, mas a França soube explorar o nosso único ponto fraco: o ataque (se bem que ontem a fadiga e a desinspiração fossem visíveis em Deco e Figo). Ficou a ideia de que o jogo podia recomeçar e ter outros 90 minutos que Portugal não lhes marcaria um golo: e por um golo se mata, como por um golo se morre.
7.05.2006
O que ele viu em Sarajevo
A imagem pertence ao documentário Diários da Bósnia, de Joaquim Sapinho, que antestreou ontem pela segunda vez em Lisboa: depois do Doc, na Cinemateca. Sapinho filmou em 1996 e 1998 numa situação de pós-conflito dos balcãs e mais tarde ainda: no pós-pós-conflito. A atitude parece ser a de "fazer pela vida" num cenário desértico mas cheio de sinais da morte e do sofrimento a que aquelas pessoas foram sujeitas. O resultado é plasticamente conseguido, constituído por enquadramentos rigorosos que respeitam a integridade dos indivíduos sem sacrificar o simbolismo presente nos espaços e nos rituais de um povo - sérvios e muçulmanos bósnios - que gradualmente reaprende a viver a paz com a guerra ainda muito presente. Mas Diários da Bósnia não esconde também as atribulações da sua produção, e isto reflecte-se em problemas de estrutura que ocasionalmente se acentuam. Desde a voz off do realizador que reforça o propósito diarístico mas que nos larga por períodos longos demais sem razão de força, até à narrativa que a mesma configura e que acaba por ser demasiado neutra no trânsito que faz do presente (98) para o passado (96) e vice-versa. Diários da Bósnia é objecto debruçado sobre um espaço ainda bastante fechado que à semelhança deste dificilmente comunica. Que não consegue fazer integrar o arco da experiência do seu testemunho. Tem instantes, sequências, talvez o possível. Suficientes no entanto para que seja de visão recomendável. Estreia na próxima semana.
7.03.2006
Dor de pensar
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