11.30.2007

Cape fear

















Viggo "Nikolai" Mortensen (de pé): um corpo do mal ou um corpo do bem?
Assim que tenha visto o filme arrisco a resposta.

11.29.2007

Em nome do pai
























Por esta net fora são vários os que se dizem "filhos de Lee Marvin". Convém distinguir os legítimos dos outros: uns mais ilegítimos que outros. Mas não esta sociedade a que gostava de pertencer caso me aceitasse como membro. Quanto ao requisito da "vaga semelhança física", caminho firmemente para lá a cada dia que passa.

Memorial









"You're a miracle, Ronnie. We're all miracles. Know why? Because as humans, every day we go about our business, and all that time we know... we all know... that the things we love... the people we love, at any time now can all be taken away. We live knowing that and we keep going anyway."


Leva por vezes algum tempo a assimilar, mas os melhor filmes não são aqueles que vimos mas os que queremos rever. As qualidades de Little Children fazem dele um dos bons filmes deste ano. Coisa de que não me apercebi por completo da primeira vez que o vi.

11.28.2007

Luto

Quando fazemos parte da vida de alguém (essa pessoa fazendo parte da nossa vida), mesmo que as circunstâncias se alterem e o afastamento aconteça, a memória não se perde na medida em que sabemos a pessoa viva e essa certeza mantém a unidade possível das coisas. Só a morte traz a dor que antecipa o esquecimento, como se o ruído indiferente da terra deitada, camada após camada, levasse o que guardávamos - algures, não importa "onde", pois sabíamos existir "lá" - e que pela primeira vez damos por irrecuperável. Onde antes havia a impressão de vida, existe agora a certeza da morte. São instantes que fazem abater sobre nós uma tristeza profunda. Morremos um pouco nesses momentos. Nós com todos aqueles que habitavam essas memórias. Não sei porque luto para não esquecer.

11.26.2007

Os 10 melhores blogues nacionais em 2007
























Organizados por ordem alfabética:

























Obrigado sentido a todos.

Imagem: Juliette Binoche - o rosto e o corpo - fotografada para a Playboy francesa (porque sim; porque são belíssimas de morrer).

Lady Knightley
















Tivesse sido ela o modelo de Ian McEwan quando escreveu o livro, e o romance chamar-se-ia Astonishment.

11.23.2007

Serviço etílico













«Não sou da cultura da droga, sou da cultura do álcool.»

A entrevista completa de Vasco Pulido Valente ao Expresso de sábado passado está n'O McGuffin.

No guru, no method, no teacher
























Brian Peter George St. Jean le Baptiste de la Salle Eno.
[fotografado por Robert Astley Sparke]

Profissão: livre pensador (digo eu).

Bónus: artigo sobre a gravação de um dos seus últimos discos, Another Day On Earth (imprimam e leiam).

Conhece-te a ti mesmo

«Do all men leave this life feeling they've seen nowhere near enough nude people, played with far too few private parts, made a pitifully inadequate contribution to the honeyed chorus of bottom-slapping, tit-sucking, cock-pumping, belly bulging lust issuing from the planet, and generally not fulfilled their once extremely promising sexperimental destiny?»

Brian Eno's Diary, A Year With Swollen Appendices

Modo "repeat"




















Um, dois, três pianos. Não de Laginha, Sassetti e Burmester mas os de Harold Budd, Ruben Garcia e Daniel Lentz. Reedição do ano passado (na editora de Brian Eno) para a música gravada em 1992. Dura pouco mais de 20 minutos no total. Dura no fundo o tempo que quisermos que dure.

À letra















"Glorioso, magnífico, criminosamente hilariante"

"Isto é um assalto... às comédias de acção"

Letra de Forma, o primeiro blogue de Augusto M. Seabra.

11.22.2007

Bigode à casa











(esq.) Matti Pellonpää (1951-1995), aquele que define o antes e o depois no cinema de Aki Kaurismäki. Burlesco como só os maiores o conseguem ser.
(dir.) Seymour Cassel, histórico de Cassavetes (aqui em Minnie and Moscowitz) que ocasionalmente dá ainda sinais da sua contagiante bonomia.

Dois excelentíssimos bigodes para dois excelentíssimos actores.

11.21.2007

O meu Mailer
















E uma vez que aqui estamos, o meu a sangue frio também.

Shinji Aoyama e Makoto Kawabata a assapar em pelota
























«To the insular Japanese, the West was a giant wellhead of art, experience and information from which to guzzle like punks gate-crashing a wine tasting; a gulp of this, a wee dram of that, downing whichever had the most appealing scent. Unlike the British and American scenes, whose musicians were expected - by the press and fans alike - to keep more or less to their own musical turf, the Japanese allowed ... nay, expected their musicians and composers to embrace a wide variety of wildly different musical genres. This meant that much of the best and most vitally experimental of Japanese rock came not from rock'n'rollers at all, but from the underground jazz scene, from the musical ensembles of experimental theatre companies, and from progressive university musical faculties well stocked with electronic gear. Furthermore, several singular but highly successful 'experimental rock' projects came together with an actor or pop singer as its figurehead, as in the case of newly enlightened mainstreamers Yuzo Kayama, Mickey Curtis, Yuya Utchida and Akira Fuse, all of whom successfully acted as conduits or gateways between their audiences and these new mysterious underground rock sounds.»

pág. 14, ainda vou no começo... (Francisco Ferreira, onde quer que estejas, isto é "o" livro para ti)

11.20.2007

A citação e a aceitação




















«'What do you say to a man who's killed a lion with his bare hands and his sleeping with your wife?' - Derek Mason, when asked about his wife's affair with a Massai warrior.»

A citação consta do sempre surpreendente diário de Brian Eno a que já antes fiz referência. Usei duas imagens para o post: uma de Hércules lutando de mãos nuas contra um leão (pormenor do vaso que consta do acervo do British Museum); outra o retrato de um caçador Massai. Também eu sou adepto da valentia dos homens desta tribo, cujo ritual de passagem à idade adulta implica que partam para o mato sozinhos e só regressem após terem matado um leão com as próprias mãos. Os Massai até não são particularmente corpulentos: são altos, esguios e imagino que muito ágeis. Mas isto são derivações da questão central: qualquer homem que venha a dormir com a nossa mulher atinge-nos tão fundo como ao leão que pode não ter chegado a matar. O animal no caso é o nosso orgulho másculo e a ingenuidade de termos dado a ligação (a posse) por garantida. Quando outro homem se deita com a mulher que foi "nossa" todos morremos um pouco. Abatidos pela lança que usa a forma do corpo que um dia desejámos. Que um dia deixou de nos desejar. Mas talvez a morte seja sempre algo que a vítima peça mesmo sem se dar conta disso? É uma coisa que por vezes sinto. Quando reconstituo na medida do possível a história daqueles que morreram ou que correm riscos de fazê-lo.

11.19.2007

Breve carta aberta a Aki Kaurismäki

















Meu caro Aki

Isto é o que te deveria ter respondido quando no final da sessão me interpelaste chamando-me de “sportinguista”, caso tivesse mantido suficiente presença de espírito para me alongar no raciocínio. Uma vez mais te digo que o facto de seres adepto do Futebol Clube do Porto é para mim menos relevante do que os teus filmes. Mas não deixo de achar que escolheste o clube errado. Uma vez que o teu cinema te coloca invariavelmente do lado dos "perdedores na vida", fica sabendo que esse é o perfil que corresponde aos adeptos como eu que vivem em permanente sofrimento: nas derrotas e nas vitórias (a custo). O Sporting é o clube da sempre adiada promessa de glória que convive mais dignamente com os obstáculos à concretização desse desígnio. Aliás como os personagens dos teus óptimos filmes, marcados por uma espécie de fatalidade. Gostei também muito deste Luzes no Crepúsculo e de reconhecer de novo a marca de dois teus cineastas do coração: Murnau e Bresson. Acho que tem das histórias que levaste mais ao osso da narrativa, embora ainda com cálcio suficiente para nela notarmos as presenças do Aurora e do Pickpocket que não terei sido o único a identificar: concordas? E já te perguntei pelo adorável cão do filme – o tal que à semelhança do asno Baltasar parece representar a condição humana e cujo olhar é tão pasmado e impenetrável quanto o do protagonista, Koistinen – que me disseste ser teu, como aliás muitas das coisas que filmas (por tuta e meia). Não mudes nunca o teu cinema de uma expressividade pura e comovente. O teu gosto pelas coisas antigas e gastas, como as vozes gravadas de Carlos Gardel e Jussi Björling. Manter-me-ei fiel cá deste lado, e com uma proposta de sócio guardada algures à tua espera.

Cordiais saudações do muito sportinguista,

Ricardo Gross


Luzes no Crepúsculo estreia na próxima quinta-feira.

O essencial sobre um filme correcto

















«A arte é mentirosa, e ai do artista incapaz de mentir. Foi essa a tragédia de Ian Curtis. Narrar essa incapacidade é um dos méritos do filme de Anton Corbijn. O problema não eram as duas mulheres de quem gostava: era a sua terrível honestidade. Tinha nojo de ser dúplice; tinha nojo de ser injusto; tinha nojo de não ser capaz de corrigir o mal que estava a fazer. Foi esse nojo – de continuar a conseguir viver na mentira – que o levou a assassinar-se.
A mania da verdade de Ian Curtis era uma loucura. A exposição emocional que alcançavam as interpretações dele, tornando-as avassaladoras, vem do mesmo excesso moral, da mesma falta de fronteiras entre a alma e o comportamento; entre a introspecção e a sua exibição compulsiva, como entrega e como punição.
(…) Control quer ser um filme e um documentário ao mesmo tempo. É decoroso e respeitador, mas, por outro lado, fugindo à grandiosidade e ao romantismo próprios da música dos Joy Division, também é tímido e diplomático de mais.»

Miguel Esteves Cardoso, Actual, Expresso , 10/11/07

11.16.2007

Love will tear us apart
















Again (and again).
esq. control, anton corbijn, 2007
dir. les amants reguliers, philippe garrel, 2005

11.15.2007

O melhor texto do mundo (da última semana)






















The debt I owe to Jon Hassell
Brian Eno
Guardian, 9 de Novembro de 2007

I arrived in New York on a beautiful spring day in April 1978. I'd intended to stay for a week but the visit stretched on and on and I ended up staying for about five years.
Those first few months in the city were a formative time for me. I didn't know many people, and I had time on my hands, so I was open to things in a way that I might not have been in a more familiar landscape. I listened to a lot of live music and bought a heap of records. One of the most important was by a musician I'd never heard of - a trumpeter called Jon Hassell. It was called Vernal Equinox.
This record fascinated me. It was a dreamy, strange, meditative music that was inflected by Indian, African and South American music, but also seemed located in the lineage of tonal minimalism. It was a music I felt I'd been waiting for.
I discovered later, after I met and became friends with Jon, that he referred to his invention as Fourth World Music (which became the subtitle of the first album we made together: Possible Musics). I learned subsequently that Jon had studied at Darmstadt with Stockhausen (as indeed had Holger Czukay from Can, another occasional colleague), that he'd played on the first recording of Terry Riley's seminal In C, and that he'd studied with the great Indian singer Pran Nath.
We had a lot to talk about. We had both come through experimental music traditions - the European one, as exemplified by Stockhausen and Cornelius Cardew, and the American one of Cage and Terry Riley and LaMonte Young. At the same time, we were aware of the beauty and sophistication of all the music being made outside our culture - what is now called "world music". And we were both intrigued by the possibilities of new musical technology.
But beyond these issues, there was a deeper idea: that music was a place where you conducted and displayed new social experiments. Jon's experiment was to imagine a "coffee coloured" world - a globalised world constantly integrating and hybridising, where differences were celebrated and dignified - and to try to realise it in music.
His unusual articulacy - and the unexpected scope of his references - inspired me. In general, artists don't talk much about how or why they make their work, especially "why". Jon does. He is a theorist and a practitioner, and his theories are as elegant and as attractive as his music: because in fact his music is the embodiment of those theories.
We spent a lot of time together, time that changed my mind in many ways. We talked about music as embodied philosophy, for every music implies a philosophical position even when its creators aren't conscious of it. And we talked about sex and sensuality, about trying to make a music that embraced the whole being and not just the bit above the neck (or just the bit below it).
It was in these conversations that, among other things, My Life in the Bush of Ghosts, which I made with David Byrne in 1981, was nurtured. All of us were interested in collage, in making musical particle colliders where we could crash different cultural forms with all their emotional baggage and see what came out of the collisions, what new worlds they suggested.
If I had to name one over-riding principle in Jon's work it would be that of respect. He looks at the world in all its momentary and evanescent moods with respect, and this shows in his music. He sees dignity and beauty in all forms of the dance of life.
I owe a lot to Jon. Actually, a lot of people owe a lot to Jon. He has planted a strong and fertile seed whose fruits are still being gathered.

· Jon Hassell actua sábado que vem no Queen Elizabeth Hall, em Londres. Vinculou-se recentemente ao selo ECM onde há muitos anos atrás gravou um disco histórico produzido por Brian Eno, chamado Power Spot.

11.14.2007

O pior texto do mundo


















«Mesmo na discografia enodoada de Metheny, Secret Story faz triste figura. A colisão entre ambições megalómanas e ideias indigentes produziu uma "coisa" lamentável, que junta o pior de vários mundos: o jazz de elevador bonacheirão e contentinho consigo mesmo, a world music de alguém que contempla o mundo do alto das suites de luxo da cadeia Hilton, os arranjos orquestrais e corais grandiloquentes, balofos e simplórios. O mais desconcertante é que mesmo em 1991-1992, quando foi gravado, já Secret Story tinha uma estética datada. Hoje, então, é uma massa de rugas que nem Botox nem remasterização poderão salvar.»


Reproduzo o parágrafo de um texto da autoria de José Carlos Fernandes que surge na edição de hoje da Time Out Lisboa. Sinceramente que no meio da tanta edição de jazz com interesse (lembro o magnífico piano solo de Paul Bley que acaba de sair pela Dargil), não encontro explicação para que se gastem 2 mil caracteres a desancar nestes termos no disco de um músico sério que julgo merecer o respeito de todos: a menos que se trate de uma pessoal e pouco verosímil vendetta. Não escondo que fui no passado o mais incondicional dos fãs de Pat Metheny: a solo, no "Group", nas bandas-sonoras, nos discos de outra gente (inclusive de Bruce Hornsby; alguém se recorda deste nome?); e que hoje reconheço que a sua vasta discografia - nunca indigente - não é isenta de alguns desequilibrios. Teria de voltar a escutar Secret Story para sobre ele dar uma opinião minimamente abalizada. Há no entanto exemplos de como se pode escrever sobre este título de forma igualmente sucinta sem cair na chacota argumentativa (o espaço que a imprensa destina ao jazz já é tão curto que o melhor é usá-lo com discos que nos entusiasmam). Leiam aqui.

11.13.2007

Música para apartamentos













BJ Nilsen (de Benny Jonas, sueco) e Oren Ambarchi (australiano) são ambos músicos que fazem parte do catálogo da Touch Records, editora que nas últimas duas décadas nos vem servindo o que de mais interessante é feito no âmbito das field recordings (recolha de sons "naturais") e da electrónica (mais ou menos ambiental): a casa de Fennesz, Biosphere, Phill Niblock, Ryoji Ikeda e alguns outros. Recentemente lançou de Ambarchi, In The Pendulum's Embrace, e de Nilsen, The Short Night, que venho escutando pelas escuras, silenciosas e solitárias horas da noite. Isto não é um lamento. Há música que pura e simplesmente não se dá à partilha com terceiros. Que convida à quase total imersão naquilo que reflecte do que nela pomos. Cheia de espaço, nunca chegaremos a preenchê-la por completo. Nem ela a nós. São os melhores discos: os que parecem pairar desinteressadamente em fundo e que vamos descobrindo sem pressa. Ligando, ligando-nos e desligando. O sono encerrando por vezes esses derradeiros instantes.

11.12.2007

Desabafo sobre o actual momento do meu Sporting

O resultado de ontem, em Braga, de tão pesado que foi, tenderá a ser visto como um caso isolado. Obviamente que não é. Faz parte da marca de irregularidade que o Sporting tem apresentado ao longo do primeiro terço deste ano desportivo. E deixa-me preocupado. Sobretudo por aquilo que de especulativo pode contribuir para agravar o momento presente. Vejam bem. O que sabemos nós do que se passa no Sporting? Apenas aquilo que observamos nos jogos e aquilo que lemos na imprensa. Ainda assim arrisco o diagnóstico: cuidadoso e claro está parcial. No meu entender, os principais clubes portugueses (aqueles que apelam à gula mediática) sofrem de uma debilidade estruturante ao nível da comunicação. É preciso dizer mais, falar mais claro, para que não se invente sobre o vazio de informação. Uma vez que não existem até hoje canais privilegiados pelos próprios clubes – à excepção dos jornais, que são sempre auto-celebratórios e pouco objectivos –, muitas vezes somos levados a encontrar as explicações mais superficiais para justificar os resultados desportivos da nossa equipa. Também tenho as minhas, que partilho de seguida. A irregularidade do Sporting poderá decorrer, na minha opinião, de (uma de) duas ordens de factores: ou a equipa técnica não dá mais ou o plantel não dá o suficiente? Inclino-me para a segunda hipótese. Acredito que Paulo Bento (e restantes elementos) terá de acumular experiência sobretudo para os jogos internacionais, mas neste momento (que reporta ao início da sua prestação enquanto treinador da equipa sénior do Sporting) já é capaz o bastante para consumo interno. A enfermidade passará então pelo plantel. Onde ficámos sem Nani, Tello e (PRINCIPALMENTE!) Caneira e fomos buscar jogadores que tardam em dar qualquer espécie de contributo minimamente relevante. A agravar a situação temos um Moutinho esgotado (sempre a jogar e com responsabilidades acrescidas enquanto marcador de penálties e, bem mais importante que isso, enquanto capitão de equipa); um Miguel Veloso deslumbrado com a possibilidade de se mudar para outro campeonato e um Djaló cheio de pólvora… seca. Não esqueço as lesões de Pedro Silva e Derlei mas olho para o banco do Sporting, ontem, e para o do Braga, no mesmo jogo, e tenho de admitir que somos equipa mais para o campeonato deles (e do Benfica; não se iludam com o descalabro boavisteiro) e menos para o do Porto. Que vale Gladstone, que não joga? Que vale Celsinho, que não deixam jogar? Que vale Adrien, que após entusiasmante pré-época esconderam nas camadas inferiores? O que valem aqueles que jogam – tanto quanto nos foi dado até agora a perceber – é muito curto para as expectativas do clube a curto-médio prazo. E se estamos a investir num plantel para dar alegrias só na próxima época, ou na época depois dessa, alguém devia assumir isso para quem quisesse ouvir. O mercado reabre em Janeiro e ficaram cerca de 2 milhões de euros para investir, tendo em conta a verba cabimentada inicialmente decorrente do negócio feito com o United. Não posso garantir que sei qual o sector mais necessitado. Mas vamos por eles. Na baliza temos Stojkovic (um keeper à imagem do clube: inseguro, irregular, capaz da mais espantosa bravura e do falhanço menos desculpável), Tiago (guarda-redes de qualidade média, e só) e Rui Patrício (enorme potencial mas não o queimem já com a máxima responsabilidade; olhem para o que o Benfica fez com Moreira e tirem ilações…). Na defesa, o mistério adensa-se… Acredito nas qualidades de Gladstone e acho que é pelas laterais que somos mais vulneráveis (ontem viu-se). Abel é um herói. Anda a jogar no limite há demasiados jogos e sendo ele grande profiissional não se lhe pode exigir mais. Já Ronny vai registando uma evolução demasiado lenta para as necessidades do clube e quando joga sob pressão normalmente expõe-se nas suas limitações defensivas. Contratámos Had, só que ou não lhe dão oportunidade de mostrar mais ou é outro caso de adaptação adiada (onde o Sporting é pródigo a condescender). O coração e pulmão do leão - no meio-campo - podia disfarçar as debilidades do resto da equipa, não estivesse já ferido da quebra de intensidade dos principais artistas (Moutinho e Veloso), na inconsequência do brilho esporádico de Vukcevic e Izmailov (rematadores de constância adiada; construtores do jogo que se vê demasiado pouco) e na dependência da geometria descritiva de Romagnoli, ultimamente previsível. Posto isto, é lá à frente que o Sporting mais sofre porque menos produz – quanta lenha não é preciso pôr na fogueira para que os resultados apareçam? Liedson é um fora-de-série: já sabíamos; continuamos a saber. Mas NÃO CHEGA. Se Djaló corre sem sentido. Se Purovic pouco ou nada se mexe. Se Derlei está preso por fios. Como pensa o Sporting garantir o sucesso desportivo que todos desejamos? Temos Varela em Espanha; Saleiro em Fátima: nada garante que fariam melhor do que os que lá estão. Mas haveria outros por onde escolher. Assim é Liedson, sempre Liedson e só Liedson. Se temos dois milhões para gastar, corram a buscar um avançado robusto e com mobilidade. É preciso que alguém rebente com as defesas adversárias para que Liedson não tenha invariavelmente, pelo menos, dois à perna. Sei que não é tarefa fácil, muito menos para mim que não sou rato de espreitar todos os campeonatos. E não me pagam para que o faça. Posso sublinhar a sugestão inicial: se o Sporting quer proteger a equipa técnica e os seus jogadores tem de falar mais, antecipando-se ao que outros possam falar do pouco que sabem. Há que ser mais realista em relação às perspectivas de sucesso de um plantel que goza do investimento que goza e responde da forma como responde. Longe da regularidade e a necessitar urgentemente de encontrar um ou mais patrões dentro de campo (a dependência de Bento em relação a Moutinho é a total inversão do que seria lógico), é preciso encarar o Sporting 2007/2008 por aquilo que é: uma equipa que oscila entre o muito bom e o mau e que é frequente fazer passar as duas faces dessa realidade no mesmo jogo.

11.10.2007

Pode bem parecer uma cruzada





































David Sylvian fotografado por Eduardo Brito no decorrer das primeiras canções do concerto no Theatro Circo do passado dia 23 de Outubro. Vale a pena ir ver ao blogue do autor a quem agradeço as fotografias que uso, embora sem ter pedido autorização.

Souvenirs e opiáceos

















A imagem da esquerda corresponde à brochura que acompanhou a tournée de David Sylvian e que era vendida junto com as costumeiras t-shirts. O livro (categoria que, ainda assim, melhor a descreve) custava o preço do bilhete dos concertos. Vai-se a ver - à vista impreparada - e o objecto até podia considerar-se dispensável (não olhem para mim; peguei nele e paguei sem sequer pestanejar). A brochura revela depois aspectos dignos de estimação. Traz fotografias do próprio Sylvian cujo interesse é tanto maior quanto a nossa capacidade para estabelecer uma relação entre aquele olhar e o trabalho sonoro do autor: questão de detalhe, sempre os incontornáveis detalhes. E traz um CD que é mais do que apenas um catálogo da Samadhisound: o que já seria precioso para os menos conhecedores. Tem inéditos cantados por Sylvian, registados em diferentes contextos e com músicos diversos e, pasme-se (!), apresenta uma faixa dos suecos Anywhen que antecipa a "revisão"do extraordinário e pouco notado The Opiates, que me parece poder vir a ser a reedição fiel desse, para alguns, mítico (porque invisível) disco de 2001. Alguns como eu.

11.06.2007

So long, Mr. Sylvian

O site de David Sylvian informou hoje que os concertos anteriormente cancelados já não se irão realizar. O que se previa é agora realidade.

Todos os pássaros


















A caixa. Nunca menos do que a caixa.

Um milagre chamado


















Venham pelo menos um (de preferência já amanhã) e os próximos cem.

Homens que choram




















Um portfólio espantoso de Sam Taylor-Wood que encontrei aqui.

11.02.2007

Defeitos especiais















«The woman in the restaurant - pretty, decadent, with dog and husband (or affair) - turns to me and smiles that complicated Belgian smile, an affair-inviting smile. No: an 'in another life we could have been an item - couldn't we? - but we are trapped where we are' type of smile - offering less but evoking so much more. So complex, so indirect, so sublimated, we Northern Europeans. Then she reaches down into her sweater to adjust her bra strap - as if to say, 'Oh, these great big breasts - what a problem.' (In fact her breasts are not really so large - but the allusion is to her femininity and the fact that there are actually breasts down there.) She glances back at me - conspiratorially wistful - to make sure I noticed? - and does another smile, differently complex but equally susceptible to a full University of Brussels thesis.» *
















* A Year With Swollen Appendices - Brian Eno's Diary

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