1.26.2007

Preto ou branco

















De novo não se trata de uma pergunta. Perguntas destas não se fazem. De resposta óbvia. De opção, afinal, desnecessária. Vocês sabem o que quero dizer.

Parâmetro
























Pablo Picasso
The Girl on a Ball (1905)
óleo sobre tela, 147x95 cm.

1.25.2007

Factor 70

«Timing is 70% of acting.»

frase atribuída a Noël Coward

1.24.2007

Uniões, de facto














Kathleen Brennan e Tom Waits (casados desde 1980)

Brett e Rennie Sparks (casados há 18 anos)

1.23.2007

Fotomontada
























Este é o teu corpo.

1.22.2007

Ele está entre nós




















João Lisboa, o "guru", finalmente, na blogosfera. Espalhem a notícia!

O inglês paciente como eu gosto

















Continuo a gostar dos filmes de Anthony Minghella. Que bom que Cold Mountain não represente mais do que um desproporcionado passo em falso! Que bom ver Minghella junto de gente da qual as suas ficções estão próximas! Refiro-me, naturalmente, a Sydney Pollack que com Minghella e um terceiro elemento assegurou a produção executiva de Breaking & Entering, Assalto e Intromissão. Há pelo menos outra referência que me assaltou as ideias, nunca quietas, sempre alerta, ao longo do filme. Lawrence Kasdan! O Kasdan de O Turista Acidental e de Grand Canyon, objectos que partilham com Assalto e Intromissão um tom de continuada melancolia (uma gravidade constante) que sub-repticiamente se instala dos personagens para as situações. Alguém referiu o filme de Mike Nichols, Closer, a propósito deste Minghella. O tiro parece-me um pouco ao lado. O guião de Minghella tem as hormonas quietas. Não as põe aos saltos apenas para impressionar. Se exceptuarmos o tom geral de melancolia e a atracção pelo romanesco que vem, como referi, entre outras possibilidades, das filmografias de Sydney Pollack e de Lawrence Kasdan, o universo de Assalto e Intromissão fez-me recordar por razões mais objectivas o Dirty Pretty Things, Estranhos de Passagem, de Stephen Frears, que articulava idêntico mosaico multi-étnico – sua abstracção colectiva; seus cruzamentos individualizados – nas ruas de Londres. Anthony Minghella prova ser argumentista igualmente habilidoso quando centrado no mundo contemporâneo. Nota-se nele uma curiosidade apreciável e cada vez mais rara pelas nuances do ser humano. Minghella sabe também manter uma cadência pausada e reflexiva e até um distanciamento que podemos imaginar poder ter algo a ver com o pudor face ao grau de intimidade das situações por ele criadas. É um gajo sensível, adiante. Daí Assalto e Intromissão jogar-se num território realista que gere bem o risco de poder tornar-se excessivamente ficcional, ou seja, bem escrito demais (apesar de em determinados momentos Minghella parecer pedir ao espectador uma crença pouco comum – implica que se ponha de lado o cinismo que levamos para a sala – para com o grau de verosimilhança de alguns momentos, sobretudo nas cenas finais). Outra das virtudes de Minghella resulta nalgumas prestações dos actores do filme que guardamos connosco. Juliette Binoche e Robin Wright Penn – figuras tão opostas uma da outra como o espaço que existe entre a naturalidade (magoada) e a sofisticação (triste também) – são ambas magníficas. O resto são as histórias de cada uma que interceptam com uma habilidade que fala de emoções adultas e que é dirigida a um público faminto de cinema que arrisque comunicar com sensibilidade, actualidade e inteligência.

Allen menor que Allen














Quando as suspeitas se fixam, logo cedo, no pobre milionário, a gente logo pensa: lá vem nova variação hitchcockiana na linha do Manhattan Murder Mystery. É também notório que Woody Allen persegue de há uns filmes para cá a possibilidade de passagem de testemunho da sua própria persona cinematográfica. Mas… o show continua a ser inteiramente (d)ele. Não é, prova-se aqui, Scarlett Johansson que vai saber entrar no timing de representação exigido pelos seus textos. Diane Keaton era uma outra história. Por isso o interesse deste Scoop vai diminuindo e tanto mais quanto a personagem de Woody Allen, um ilusionista, se vai secundarizando. Scoop é mais do Allen menor – regra dominante pelo menos nos últimos dez anos –, apesar de um arranque de filme a prometer outros voos. Outros delírios.

Admiráveis paisagens sonoras


















O cânone Brian Eno em permanente actualização. Para astronautas de sofá (onde me incluo), que agradecem o bilhete. Outras possibilidades de viagem sem sair do mesmo espaço físico, ainda na incontornável Touch.

1.20.2007

Até que a morte nos separe


















As afinidades entre estes dois belíssimos discos ficam à mostra a partir da terceira canção dos The Handsome Family, nome cuja descoberta devo aqui agradecer a um par de avisados amigos. Claro que pedi para ouvir primeiro! Precisamos de confirmar constantemente a que família pertencemos. A minha família é esta. Juntem-se se quiserem. Só nunca os separem depois.

Britta Phillips e Dean Wareham



















A metade mais bonita dos Luna, autores da melhor canção do mundo desta semana: Black Postcards, do álbum Romantica. Vale muito a pena ir ouvir. A foto também não desmerece.

1.19.2007

Todos os nomes







No more Art



















Art Buchwald (1925-2007)

Apenas uma ideia







Pathos com laranja















O Odor do Sangue é objecto que se expõe e que nos expõe. O sexo é das coisas mais delicadas de pôr em cinema, mesmo que por palavras. Neste filme de Mario Martone quase não se fala de outra coisa – aqui o filme expõe-se. A quê? À caricatura, em último caso à possibilidade do ridículo. Mas pode acontecer que um homem, sobretudo um homem, uma vez que o ponto de vista que o filme privilegia é claramente masculino, se identifique com a fragilidade obsessiva do protagonista, Carlo, escritor, interpretado por Michele Placido, cuja cabeça toda branca parece sugerir um Derrida em versão romana – e aqui o filme poderá expor-nos: à inquietude (pela perda do vigor físico; estamos em território do macho latino: homem de cultura, mas muito macho e muito latino) e à insegurança que teimamos não ultrapassar com o passar dos anos, assim como a um sentido meio estúpido de competição pelo prazer, muito narcísico, que não significa outra coisa que a dependência que criamos relativamente a quem se liga a nós.
O homem concentra todo o pathos de O Odor do Sangue. O pathos que Mario Martone liberta através de cenas de ciúme vernacular, sexo e paixão serôdia. A presença luminosa de Fanny Ardant, Silvia, também ela intelectual, que parece preparar uma exposição com imagens de guerra que aparentemente nenhuma relação tem com o resto do filme, encontra-se fortemente condicionada pelo que representa: um enigma, semelhante àquilo a que Nicole Kidman dava forma no Kubrick final. Martone põe-lhe nos lábios as expressões mais gráficas; Ardant resiste com uma elevação que só pode vir da história do cinema. A Fanny Ardant releva-se tudo, se é que há alguma coisa a perdoar. Ela representa o que de melhor existe em O Odor do Sangue. Já ao realizador italiano pedia-se um pouco menos de ansiedade e de pose intelectual fora de prazo. Ele que nos deu Morte de um Matematico Napoletano e L’Amore Molesto, de grata memória, falha aqui o seu “identificação (do desejo) de uma mulher”. E os momentos que remetem para um hipotético Mónica e o Desejo, versão naturista, são naturalmente belos mas não colam com o resto. Assim, e sobre premissas idênticas, é favor regressar a Eyes Wide Shut. O cinema que faz história agradece.

1.18.2007

Branco ou preto




1.17.2007

Seamus on me


District and Circle

Entrecampos
Sete Rios
Benfica
Sta. Cruz Damaia
Reboleira
próxima
paragem
Amadora

Todas as noites
























O que é um disco inacreditavelmente encantador (impossibly lovely, nas palavras da revista Word)? A resposta está reservada para aqueles que o escutarem. Palavra de honra!

A cura de Schopenhauer

"Eu diria que Schopenhauer o curou, mas agora precisa de se curar dele" (pág. 277)

1.16.2007

Miniscente

O entrevistado hoje sou eu.

Cito


Love is a true understanding of just a few people for each other. Passionate love we will leave on the side for that rises, gets to its peak and dies away. True love is something much more akin to friendship and friendship, I suppose, is the greatest benison and compensation that Man has.

Noël Coward


Para os meus amigos (eles sabem que o são)

Carta de um desconhecido


Darlin'

Darlin', do you remember me
Back when I used to be your darlin'
Darlin' you know it's so hard to tell
Why you said farewell, to me darlin'

You said you wanted to be free
But this loneliness is just killing me
My darlin'
My darlin'

Darlin' hey what you doing now
Me I'm just hanging round
Mmm darlin'
Darlin' I'm just here in the rain
With all my old old pains
Oh my darlin'

You said you wanted to be free
But this loneliness is just killing me
Oh my darlin'
Oh my darlin'
My darlin'

(Richard Hawley, Lowedges)

1.15.2007

O mau gosto é o mau gosto















Filme que mostre o plano subjectivo de uma cabeça acabada de ser decepada (o que o olhos supostamente vêem quando a cabeça rola e a vida se apaga) suscitará em mim, sempre, um repúdio superior a qualquer entusiasmo que venha antes ou depois desse instante obscenamente gráfico. E Apocalypto é um filme impressionante. E Apocalypto é também um filme de carniceiro, Mel Gibson, que mantém o nível dos seus pergaminhos. Nada de alegorias com ele. Ou talvez apenas uma... Um par de testículos estripados a um animal é um par de testículos. Um coração humano esventrado é um coração esventrado. Um crânio aberto e a esguichar sangue é um crânio que não pára de esguichar sangue. Mas um homem tanto pode ser o predador como se tornar na coisa caçada. Em Apocalypto, o mau gosto e o meu gosto são tangenciais: atracção pela brutalidade destruidora e instintiva da besta humana. Daí que eu goste e não goste do filme.

1.12.2007

O que fazes esta segunda-feira?


A Stephiníssima Trindade


















E não se fala mais nisto.

A Dylaníssima Trindade













A maior de todas? Não contem comigo para desmentí-lo. Dylan era nesta altura um animal. Era "o" animal. A compor, a tocar, a cantar.

Pois...

CHANGE PARTNERS
(Irving Berlin)

Must you dance every dance with the same fortunate man?
You have danced with him since the music began.
Won't you change partners and dance with me?

Must you dance quite so close with your lips touching his face?
Can't you see
I'm longing to be in his place?
Won't you change partners and dance with me?

Ask him to sit this one out.
While you're alone,
I'll tell the waiter to tell
him he's wanted on the telephone.

You've been locked in his arms ever since heaven-knows-when.
Won't you change partners and then,
you may never want to change partners again.

A Hawleyíssima Trindade













Secreta e muito próxima também.

Filosofia prática













Let's face the music and dance.

1.11.2007

Love streams

«Why should we import rags and relics into the new hour? In nature, there is no sleep, no pause, no preservation, but all things renew, germinate, and spring. Nature abhors the old, and old age seems the only disease; all others run into this one... They are all forms of old age; they are rest, conservatism, inertia, not newness, not the way onward. We grizzle every day. I see no need of it... This old age need not to creep on a human mind. In nature every moment is new; the past is always swallowed and forgotten; the coming only is sacred. Nothing is secure but life, transition, the energizing spirit. No love can be bound by oath or covenant to secure it against a higher love. No truth so sublime, but it may be trivial tomorrow in the light of new thoughts. People wish to be settled; only as far as they are unsettled is there any hope for them.» Emerson, Essays and Lectures

















«Rationalistic philosophy has always aspired to a rounded-in view of the whole of things, a closed system of kinds, from which the notion of essential novelty being possible is ruled out in advance. For empiricism, on the other hand, reality cannot be thus confined by a conceptual ring-fence. It overflows, exceeds, and alters. It may turn into novelties, and can be known adequatly only by following its singularities from moment to moment as our experience grows. Empiricist philosophy thus renounces the pretension to an all-inclusive vision... It stays inside the flux of life expectantly, recording facts, not formulating laws, and never pretending that man's relation to the totality of things as a philosopher is essentially different from his relation to the parts of things as a daily patient or agent in the practical current of events. Philosophy, like life, must keep its doors and windows open.»
William James, Writings, 1902-1910


Ray Carney, o teórico de referência sobre a obra de Cassavetes, propõe no livro The Films of John Cassavetes - Pragmatism, Modernism and the Movies (Cambridge University Press, 1994), um enquadramento filosófico da mesma situado entre os escritos de Ralph Waldo Emerson e William James. Pelas citações recolhidas nesse volume faz todo o sentido. E ainda que o fizesse menos, são óptimas reflexões para transportar para outras situações da vida. A filosofia que importa é susceptível de vir até nós sem que aparentemente façamos nada por isso. Como se procurássemos mais respostas para as mesmas perguntas que se renovam, sempre.

Wise on time


1.10.2007

Gostar de sirs ©
























Também eu agora exulto.

1.09.2007

Auto[retrato]
















Clique sobre a imagem (estatele-se "docemente contra o céu")

1.08.2007

The world according to Grant















Para lembrar homens que se cansam de uma coisa destas e vão em busca de uma outra coisa.

1.05.2007

Babel















"Bibo no aozora". Eu também.

Músicas/ Interiores













Podemos habitar a música como se fosse o espaço mais íntimo da nossa própria casa? Um disco voltado a escutar recentemente, na placidez relativa dos dias feriados, fez-me pensar que sim. Approaching Silence, objecto com tantas vozes e palavras quase imperceptíveis em fundo, onde David Sylvian se remete, junto com Robert Fripp, Frank Perry e Holger Czukay, a uma arquitectura exclusivamente instrumental, é um extenso manto sonoro (duas peças de duração superior a 30 minutos com um interlúdio breve pelo meio) que me acompanhou as práticas de yôga caseiras e que havia deixado de ouvir desde que a casa passou a ser outra. Experimentei de novo, há poucos dias atrás, e foi como se me sentísse transportado para aquele outro espaço. Bem vistas as coisas, o espaço é o mesmo, não fossem as emoções a toldar uma imagem interior que vem de dentro de mim. Assim como é também profunda e não quantificável a ligação que sinto para com estas composições de Sylvian/Fripp/Perry/Czukay, todos em particular, um mais em particular que todos os outros.
Pelos mesmos dias deu-se igualmente o reencontro com o CD Frantic de Bryan Ferry - "perdido", depois recuperado - e foi como se nunca antes o tivesse ouvido. Isto é pura especulação, eu sei, mas senti uma projecção tal nestas canções daquilo que imagino que seja a pessoa de Ferry - sabendo que existem duas que são covers brilhantes de Bob Dylan, de que Ferry se ocupará na totalidade do seu próximo disco - que o CD poder-se-ia chamar "The Life of Bryan" com igual propriedade. De repente, não me recordo assim de outro alinhamento maduro que traduza aquilo que pode ser a "dor de corno" sentida já na segunda metade da vida.
Para último lugar fica uma referência obrigatória (um mea culpa) a um dos melhores CD's de 2006 que acabou esquecido no momento de fazer contas à música do ano. The Letting Go é pelo menos tão belo como o melhor que está para trás na discografia de Bonnie Prince Billy. Não faço ideia que raio terá acontecido para que não me tivesse apercebido logo às primeiras audições do encantamento que se desprende destas canções. Será porventura o disco do apaziguamento de quem já olhou de frente a "escuridão", a não ser que mais escutas lhe revelem um lado sublinhado a negro. A rendição de Oldham (onde teria ele escondido a serenidade?) que a paisagem da Islândia terá sido a primeira testemunha. Mas nunca antes de Dawn McCarthy (dos Faun Fables), aquela que juntou a sua à voz igualmente sobrenatural de Will Oldham. The Letting Go representa assim uma espécie de prolongamento do Harvest Moon de Neil Young por atalhos menos luminosos. Seja a sua harmonia apenas aparente, continuará a ser tão maravilhoso quanto isso.

Compro



















Alguém quer vender?

1.04.2007

Odaliscas
























Lord Frederick Leighton (1862)

Tuxedomoon (1982)

Primeiros socorros







1.03.2007

Don't Think Twice, It's All Right

It ain't no use to sit and wonder why, babe
It don't matter, anyhow
An' it ain't no use to sit and wonder why, babe
If you don't know by now
When your rooster crows at the break of dawn
Look out your window and I'll be gone
You're the reason I'm trav'lin' on
Don't think twice, it's all right

It ain't no use in turnin' on your light, babe
That light I never knowed
An' it ain't no use in turnin' on your light, babe
I'm on the dark side of the road
Still I wish there was somethin' you would do or say
To try and make me change my mind and stay
We never did too much talkin' anyway
So don't think twice, it's all right

It ain't no use in callin' out my name, gal
Like you never did before
It ain't no use in callin' out my name, gal
I can't hear you any more
I'm a-thinkin' and a-wond'rin' all the way down the road
I once loved a woman, a child I'm told
I give her my heart but she wanted my soul
But don't think twice, it's all right

I'm walkin' down that long, lonesome road, babe
Where I'm bound, I can't tell
But goodbye's too good a word, gal
So I'll just say fare thee well
I ain't sayin' you treated me unkind
You could have done better but I don't mind
You just kinda wasted my precious time
But don't think twice, it's all right

(Robert Dylan)

Uma história simplista












Babel é um filme interessante mas também desonesto. Já conhecíamos os recursos visuais da dupla Alejandro González Iñárritu (realizador) e Rodrigo Prieto (director de fotografia) e Babel volta a ser estilisticamente desembaraçado, eficaz e vistoso. O problema, quanto a mim, é que no seu moralismo à escala global, no seu simplismo dramático (o que aqui se filmam são personagens como se fossem pessoas comuns que nunca chegam a ter espessura psicológica, tornando-se meros peões de uma dramaturgia que parece assentar na Lei de Murphy: tudo aquilo que pode correr mal...), este filme de Iñarritu estabelece um jogo perverso com o espectador, baralhando as coordenadas temporais e alimentando uma certa desinformação, para capitalizar na chantagem emocional que visa agitar a nossa má consciência de cidadãos privilegiados a habitar um mundo em profunda crise de valores. Em determinados momentos, a manipulação vai a pontos de evocar situações dramáticas universalmente reconhecíveis como o drama dos refugiados mexicanos que procuram atravessar para os Estados Unidos ou aquela cena que a TV ajudou a fazer chegar ao mundo inteiro e que mostrava um pai e um filho palestianianos apanhados num fogo cruzado que acabaria por matar um e depois o outro. Parece-me de facto desonesto reproduzir este tipo de situações quer para garantir maior impacto emocional pela inversão de papéis (aqui são duas crianças americanas mais a criada mexicana que ficam perdidas no deserto, enquanto que do outro lado do oceano, mais concretamente em Marrocos, os pais vivem uma situação dramática equivalente), quer para efectuar a mais simplista evocação do desespero e da impotência paterna de modo a deixar claro quem são as vítimas e no lado oposto a identidade abstracta de todo um mundo que movido por interesses de uma escala onde estes não cabem, acaba por conspirar para a sua desgraça: o mecanismo aqui é de tipo Efeito Borboleta. E Babel consegue tão plenamente os objectivos, quanto já viu reconhecidos os seus méritos em Cannes - de onde saiu com um prémio de realização - e se prepara agora para tomar de assalto os Óscares entregues no final do próximo mês. Babel representa aquele tipo de filme que permite ao espectador, tanto mais ocidental melhor, fazer a catarse da sua culpa por fazer parte deste mundo doente e em nada contribuir para que as coisas sejam diferentes. Pela parte que me toca, admiro algumas imagens mas repudio o messianismo e a exibição da consciência moral do senhor González Iñárritu.

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