1.22.2007

O inglês paciente como eu gosto

















Continuo a gostar dos filmes de Anthony Minghella. Que bom que Cold Mountain não represente mais do que um desproporcionado passo em falso! Que bom ver Minghella junto de gente da qual as suas ficções estão próximas! Refiro-me, naturalmente, a Sydney Pollack que com Minghella e um terceiro elemento assegurou a produção executiva de Breaking & Entering, Assalto e Intromissão. Há pelo menos outra referência que me assaltou as ideias, nunca quietas, sempre alerta, ao longo do filme. Lawrence Kasdan! O Kasdan de O Turista Acidental e de Grand Canyon, objectos que partilham com Assalto e Intromissão um tom de continuada melancolia (uma gravidade constante) que sub-repticiamente se instala dos personagens para as situações. Alguém referiu o filme de Mike Nichols, Closer, a propósito deste Minghella. O tiro parece-me um pouco ao lado. O guião de Minghella tem as hormonas quietas. Não as põe aos saltos apenas para impressionar. Se exceptuarmos o tom geral de melancolia e a atracção pelo romanesco que vem, como referi, entre outras possibilidades, das filmografias de Sydney Pollack e de Lawrence Kasdan, o universo de Assalto e Intromissão fez-me recordar por razões mais objectivas o Dirty Pretty Things, Estranhos de Passagem, de Stephen Frears, que articulava idêntico mosaico multi-étnico – sua abstracção colectiva; seus cruzamentos individualizados – nas ruas de Londres. Anthony Minghella prova ser argumentista igualmente habilidoso quando centrado no mundo contemporâneo. Nota-se nele uma curiosidade apreciável e cada vez mais rara pelas nuances do ser humano. Minghella sabe também manter uma cadência pausada e reflexiva e até um distanciamento que podemos imaginar poder ter algo a ver com o pudor face ao grau de intimidade das situações por ele criadas. É um gajo sensível, adiante. Daí Assalto e Intromissão jogar-se num território realista que gere bem o risco de poder tornar-se excessivamente ficcional, ou seja, bem escrito demais (apesar de em determinados momentos Minghella parecer pedir ao espectador uma crença pouco comum – implica que se ponha de lado o cinismo que levamos para a sala – para com o grau de verosimilhança de alguns momentos, sobretudo nas cenas finais). Outra das virtudes de Minghella resulta nalgumas prestações dos actores do filme que guardamos connosco. Juliette Binoche e Robin Wright Penn – figuras tão opostas uma da outra como o espaço que existe entre a naturalidade (magoada) e a sofisticação (triste também) – são ambas magníficas. O resto são as histórias de cada uma que interceptam com uma habilidade que fala de emoções adultas e que é dirigida a um público faminto de cinema que arrisque comunicar com sensibilidade, actualidade e inteligência.

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