7.30.2011
7.29.2011
Uma dança nunca é apenas uma dança
Os filmes medem-se aos planos ao contrário da vida onde é bom não fazer planos, antes estar disponível para a surpresa enquanto se lida com o resto. Ocorreu-me esta celebração pateta e genial da felicidade do homem, de quando Jonathan Demme era um realizador surpreendente. O filme é Something Wild, que vi na adolescência (é de 86). Jeff Daniels está completamente babado pela excêntrica Melanie Griffith, que acompanha a uma reunião de liceu. A sua indumentária de ingénuo está perfeita: a gravatinha amarela com fantasia, o sapato branco de cordeirinho, e o resto é o rosto que o actor tem. Mexe-se imitanto os outros para parecer cool e a dada altura desinibe-se e até "moonwalka" como Michael Jackson. Os Feelies, no palco, tocam uma versão de Bowie. Os óptimos Feelies passam então a uma canção dos próprios, a guitarra fica nervosa, baixam-se as luzes e de fora de campo, sem compromisso da coreografia anterior que ditou a planificação a que assistimos, surge a figura ameaçadora de Ray Liotta, vestido de negro. Uma figura do passado dela, claro, que vem pôr em risco a felicidade do par. Tudo isto em menos de 3 minutos aparentemente banais. Menos de 3 minutos tão parvos e familiares a que a idade ajuda a encontrar uma poesia particular. No amor somos todos ridículos e isso é que é lindo. E muito mais lindo na vida que no cinema.
7.28.2011
Melancómico aos 60
Não devemos confundir a ligeireza aparente de Gianni e as Mulheres com o vazio. A comédia “à italiana” de Gianni di Gregorio demarca-se pela melancolia e várias subtilezas. O protagonista interpretado pelo próprio realizador é um homem que age sempre em função da vontade de outros: de outras seria mais correcto, uma vez que as mulheres da família de Gianni, a mãe em particular, condicionam toda a sua existência. Gianni e as Mulheres é também um filme sobre alguém que vive coagido pelo estereótipo do macho latino que com a chegada da andropausa repousa o esqueleto à sombra no café. Essa é a imagem fatalista que surge quando a personagem Gianni se projecta nos outros. Já o realizador Gianni é um sábio cavalheiro que se entretém com delicadas variações sobre lugares comuns, assentes num registo de comédia que nunca resvala para o brejeiro ou outros facilitismos. Os delirios também fazem parte da vida mas Gianni e as Mulheres ocupa-se sobretudo desta.
Gostava que o meu camarada Nuno Costa Santos visse este filme.
7.27.2011
Aceitar o mistério
Nunca vi de perto nada tão profundo como o rosto de uma mulher. Pelo que revela, todo o fascínio que sobre nós exerce, percebemos que há muito mais a descobrir, paisagens que nunca serão nossas: talvez porque as não mereçamos ou não consigamos com elas coabitar. O desafio é resistir a querer saber tudo. O rosto de uma mulher encerra uma sabedoria que nos devia tornar humildes. A espécie primordial são elas. Nenhum criador põe tudo o que sabe naquilo que faz. A não ser que seja homem. Acredito bem que Jonathan Glazer não podia pôr mais do que o que está em Birth, uma obra que para mim é o equivalente cinematográfico de uma sinfonia de Mahler (Alexandre Desplat fez a música, bravo). E um filme de co-autoria, porque ao próprio realizador escaparão algumas das emoções projectadas pelo rosto de Nicole Kidman, filmada de perto por Glazer como havia sido por Kubrick, e igualmente misteriosa.
[sugerido pelos comentários do João Lopes e por outros factores que aqui permanecerão secretos]
7.26.2011
7.25.2011
O quê imita o quê?
Saber ser homem
Blake para Jean: I wanna talk about how bad you make this room look. I never knew what a dump it was until you came in here.
O Jack de Os Fabulosos Irmãos Baker (Steve Kloves, 1989) responde vinte anos depois, em Crazy Heart, de Scott Cooper, pelo nome de Bad Blake. Os apelidos quase se confundem, como aliás todo o resto.
7.23.2011
7.22.2011
'Girl with a White Dog' (1950-51)
Lucian Freud (1922-2011) pintava as pessoas – e os animais – provocando a impressão de que as revelava na sua derradeira essência. Uma espécie de verdade universal, onde até o próprio espírito se torna matéria (traço e cor), e onde todos os seres se equivalem em despojamento e vulnerabilidade. A enorme diferença de Freud foi pintar-nos como iguais, finitos e irrelevantes. Como nunca vi um quadro de Freud ao vivo (embora tenha contemplado óptimas reproduções das suas obras), só posso imaginar até que ponto estas sensações sairiam ampliadas no contexto devido. Ou como da pintura se faz ontologia.
Thank you (live)
Há sempre uma canção da melhor banda de todos os tempos para diferentes estados de espírito.
7.21.2011
Três Nações começa sábado
Do melhor que a América tem para dar
Bridesmaids foi produzido por Judd Apatow. Tem a última aparição no cinema de Jill Clayburgh. É um "bromance" no feminino, that is, um "womance". As pernas de Kristen Wiig são proporcionais ao talento da comediante. É um filme divertidíssimo de ponta a ponta, por vezes hilariante. Transcende-se nos momentos em que sabe exactamente onde uma cena deve terminar (exemplo em imagem). Não deixem de ver.
7.20.2011
7.19.2011
7.18.2011
Truelove
O tempo é o melhor juiz. Sábias palavras que ouvi aplicadas a filmes mas que servem para tudo. Em 2009 não existe outro disco como Truelove's Gutter. Desse ano até agora não surgiu outro que se lhe equivalha. Só que sem nós o tempo nada ajuíza. Sempre foi necessário que fosse eu que o pusesse a tocar e depois não conseguísse deixar de escutá-lo até final. Aqui é mais fácil.
Duas imagens iconográficas do grande homem (sozinho) e a canção que encerra Truelove's Gutter (Don't You Cry). Comprem o disco e ouçam-no por inteiro.
Happy mondays
Hoje pelas 17h00 a Sport Tv transmite pela primeira vez um jogo de preparação do Sporting, versão 2011-2012, bastante renovado. Acumulamos saudades mesmo depois de um ano falhado. Nas últimas semanas acredito que a curiosidade dos sportinguistas supere as saudades. É disso que se trata esta segunda-feira. Começar a observar os reforços que são muitos. Se possível notar já a mão de Domingos. Os nossos rapazes serão sempre os mais capazes.
Descontrolada nostalgia
Para aqueles que lhe deitaram (como eu) um olhar sobranceiro aquando da estreia nos cinemas em 2002, importa recuperar esta extravagância de Michael Winterbottom: uma biografia pós-moderna, filmada em registo de assumido falso documentário, de Tony Wilson e da Madchester da Factory e da Hacienda. A música de dança não voltou a ser tão boa como aqui, mas este é um objecto que vai além da música. É a loucura e a irresponsabilidade daquilo tudo. Nada aqui é sério ou pungente como na evocação de Ian Curtis feita por Anton Corbijn (Control, 2007), mas os dois filmes complementam-se como os lados trágico e exuberante da mesma realidade. O luto e a festa.
7.15.2011
Às cegas
Ainda hoje cedo estive a ler o produto da entrevista na Decibel com o músico dos Mastodon, Brann Dailor, a quem foi dado a escutar "às cegas" um conjunto de discos que ia do black metal ao hard rock setentista actualizado. Até 2007 os Mastodon tinham editado três álbuns (Remission, Leviathan e Blood Mountain) e a sua popularidade colocava-os na iminência de assinar contrato com uma editora mesmo grande (Reprise/ Warner). Em 2007 os portugueses Men Eater apresentavam o primeiro disco de longa duração, Hellstone, onde a banda pagava a pesada dívida em relação a subgéneros do metal de origem americana: o sludge do Louisiana e o stoner californiano. Hellstone é um portento de energia e talento que apenas denuncia a origem, Lisboa, na faixa com esse título onde as palavras são gritadas em bom português. O relativo obscurantismo em que os Men Eater se têm movido enquanto banda de culto de um país pequeno, decorre desse mesmo facto: o de terem surgido no país errado. Como poderia eu aspirar ler a opinião de Brann Dailor sobre uma das faixas de Hellstone? Mas posso aspirar a ver um dia os Men Eater abrirem para Mastodon no Coliseu (o Google diz que os americanos estiveram em Portugal no Optimus Alive! de 2009 e em 2006 na primeira parte dos Tool no Pavilhão Atlântico). Isso eu posso.
"Take a deep, unpolluted breath, and refresh."
Primeiro. Depois prossigam na apreciação da principal arte de Jun Cha, tatuador extraordinário cujo trabalho descobri "por intermédio" de Joey Castillo, baterista dos Queens of the Stone Age. If I were a rich man, tu-bi-du-bi-du-bi-du...
7.14.2011
Os amigos de Ludo
Imagens: Meg Tilly no filme de Kasdan (esq.) e Marion Cotillard no filme de Canet (dir.)
É possível ver actualmente em sala o filme do francês Guillaume Canet, intitulado Les Petits Mouchoirs / Pequenas Mentiras entre Amigos, que passa por uma versão do The Big Chill / Os Amigos de Alex (1983), de Lawrence Kasdan, só que em trajecto inverso. Isto parece-me indiscutível de tão óbvio. E penso falar por muitos ao dizer que todos desejaríamos um dia levar a cabo um filme com estes elementos: uma espécie de tributo ao que vivemos e não vivemos entre amigos. Louve-se as intenções de Canet, reconhecendo embora que os resultados têm tanto de simpático como de cabotino, o que em nada diminui os amigos do realizador. Nem sequer os amigos de Ludo, o agora protagonista pela ausência.
7.13.2011
Raging Planet X 2
7.12.2011
McALOON
Looking back, what do you see as Prefab Sprout’s legacy within British pop music?
Legacy? We’re all just paper on the wind, Grasshopper.
(o Monte Olimpo da canção, mas isto é só uma opinião)
Jordan: The Comeback II
O melhor da minha juventude estava guardado neste disco, Jordan: The Comeback. Pensava eu. Quando voltei a escutá-lo recentemente não se abriu nenhuma caixa de Pandora. A madalena humedecida aos ouvidos não surtiu o efeito recuperador. Talvez porque sejamos nós que guardamos as memórias que julgamos ter deixado em lugares e nos objectos. Isto tem lógica, o contrário é que não. Tinha-me apercebido disso com os cheiros. Sou muito particular com cheiros. Dou por mim a persegui-los por aí na esperança que levem a algum lado bom, e esses perfumes acabam muitas vezes por me conduzir de volta até mim. Distraio-me do meu próprio cheiro. Procuro nos outros. Terei capacidade exclusiva para agir cá dentro sobre motivos que em várias ocasiões se evaporam antes de dizer alguma coisa? Terei sido agente do melhor da minha juventude? Só tenho dúvidas e uma única certeza. As canções do disco continuam a ser magníficas. Devia bastar.
7.11.2011
Póquer vulgaris
You're insulted, You can't be bought or sold.
Translation: offer too low.
You don't know what you're worth,
(It isn't much.)
My piano is for sale.
(River in the Road, com Mark Lanegan)
Nostalgia regressiva
Passaram menos de 48 horas desde que vi, estupefacto, Jackass 3D (2010), terceiro capítulo de um fenómeno que me era totalmente desconhecido. O filme, se é que se pode chamar de filme a isto, alinha um conjunto de brincadeiras (bastante dolorosas) e partidas escatológicas que um grupo de tipos "adultos" pregam uns aos outros e que em muitos casos envolve riscos físicos que poucos ousariam correr. Há situações que nos causam riso e envergonham ao mesmo tempo. Outros momentos motivam um embaraço distanciado. É bom ver Jackass 3D com a digestão resolvida não vá dar-se o caso do humor gráfico nos revolver as tripas. Penso que Jackass é uma variante (des)controlada do circo cruzado com o wrestling a que a montagem cinematográfica oferece potencial cómico e javardo que o directo não possui. Eu deveria recusar um objecto destes em abono da imagem de sanidade mental que outros possam fazer de mim, mas a verdade é que menos de 48 horas depois o sentimento instalado é de nostalgia (o "rocky punch" deixou marcas).
Blues e hormonas
Um critério estúpido como qualquer outro. Comprei este disco dos L.A. Guns porque a capa original (muito rara hoje) mostra a tatuagem de um tigre que me fez lembrar a que tenho nas costas. Seria sinal do pai do rock todo poderoso? Ouvi superficialmente e trouxe-o comigo. O nome do álbum é Shrinking Violet. Nem sequer me atrai a variante californiana do hard rock (de que os Guns N' Roses são o caso de sucesso planetário), que transporta elementos do glam rock/metal que evito excepto em situações de extrema falta de sobriedade (muito raras hoje). De vez em quando dou o braço a torcer e reajo a esta música com entusiasmo. E surpresa. Bad Whiskey é um blues tocado pelo guitarrista que nos Guns N' Roses (Tracii Guns e Axl Rose, topam) viria a ser substituído por Slash, e impressiona pelo facto da "excentricidade" musical nunca atraiçoar o espírito da coisa. É um bluesão porque passa essa essência. Algo que se sente. Um blues de verdade, apenas travestido de rock pesado.
Shakespeare with guns
Canção de embalar
(...) The first day of prison was always the hardest
The first day of prison, the hallways the darkest
Like a gauntlet
the voices haunted
Faggot, sissy, punk, queen, queer
Words he used before had a new meaning in here
As a group of men in front of him came near
for the first time in his life the young bully felt fear
He'd never been on this side of the name calling
Five against one they had his back up against the wall and
he had never questioned his own sexuality
but this group of men didn't hesitate in their reality
with an awful, powerful, showerful, an hour full of violence
Inflict the strictest brutality and dominance
They didn't hear him screaming
They didn't hear him pleading
They took what they wanted and then left him bleeding in the corner
The giant reduced to jack horner (...)
7.09.2011
7.08.2011
Robin Wright por Robert Redford
Certificado: obra-prima
7.07.2011
Aos vivos
Os amantes do cinema tendem a desvalorizar a estreia na realização de Robert Redford, ocorrida em 1980 com Ordinary People, por este ter batido nas principais categorias dos Oscars uma obra-prima inquestionável como é Raging Bull de Martin Scorsese. Também eu se pudesse teria premiado Scorsese e o seu filme, o que não me leva a esquecer quão comovente e justo é o retrato que Redford dá da desagregação de uma família como outra qualquer, que não consegue lidar com a morte por acidente de um dos filhos, que conduz à tentativa de suicídio do outro.
Existem dois elementos de ordem extrema de sensibilidade e risco no filme de Robert Redford, e não me refiro a questões de forma que logo dá provas de ter dominadas com segurança (John Bailey vinha do aprendizado com Vilmos Zsigmond e Néstor Almendros e em 1980 assinava as suas primeiras direcções de fotografia, de que a outra seria no American Gigolo de Paul Schrader). O primeiro diz respeito àquilo que conhecemos ou desconhecemos uns dos outros, o que no mais profundo sentido da formulação pode depender das revelações trazidas por situações limite (que põem à prova o carácter). Do primeiro elemento decorre o segundo, na medida em que Robert Reford, partindo do guião de Alvin Sargent, desafia o biologicamente correcto quando filma a possibilidade dos homens da família aceitarem viver com os traumas recentes e seguir em frente, no que implica o afastamento da figura materna.
Ordinary People é a história de uma aparente harmonia que é interrompida – como se um acidente viesse perturbar a fluidez natural do Canon de Pachelbel usado no filme recorrentemente –, e que só poderá ser restabelecida com a saída do elemento que se auto-excluiu. Se para uns o luto faz-se com os que sobram, para outros os que ficaram são pálido reflexo e agentes da má memória de quem morreu. O filme de Robert Redford termina do lado dos que escolheram os vivos.
7.06.2011
Badlands
Estava à procura de outra faixa, Broken Arrows, para exemplificar o som do disco. Tem a única participação vocal de Lilly Hiatt, no que transporta a música dos Across Tundras para territórios reavivados em anos recentes pelos mais notados Black Mountain. Hijo de desierto não anda distante dessa geografia marcada por heranças do psicadelismo cruzado com o rock musculado do deserto. Há muita gente, de diferentes países, a fazer este tipo de música mas como é natural, quando se trata de americanos existem camadas acrescidas de vivência e de cultura. Nem tudo o que é areia é América.
O senhor Robert Plant
Repete-se em substância a receita do celebrado Raising Sand, convidando para Band of Joy a vocalista Patty Griffin, não tanto para substituir Alison Krauss pois o diálogo de Plant é agora estabelecido predominantemente com as guitarras, banjos e bandolins tocados por Buddy Miller e Darrell Scott. Um regresso às raízes que faz todo o sentido.
7.04.2011
Auto-retrato com mulheres em volta
Things You Can Tell Just By Looking at Her (1999) é o primeiro filme de Rodrigo García – filho do escritor Gabriel García Marquez –, de quem recentemente se estreou nas salas portuguesas Mother and Child (2009). Rodrigo García fez a mão na ficção televisiva (Sopranos, Carnivàle, Six Feet Under, In Treatment) no período que dura ainda em que as séries substituiram o cinema na capacidade de espelhar o modo como as pessoas atravessam e problematizam a sua experiência de vida (quando questionado sobre "o que é para ele um bom livro?'", António Lobo Antunes respondeu, "é aquele em que todas as páginas são espelhos onde eu me vejo tal como sou, de facto, que me ensina coisas sobre mim."; da entrevista a Ana Dias Cordeiro no Público). Os seus filmes assemelham-se bastante a um acumular de episódios teledramáticos, daí talvez a opção por dar determinada autonomia às narrativas que os constituem, antes que elas venham a interceptar-se todas entre si. Depois Rodrigo García é um realizador fascinado com o universo feminino, um cronista das solidões vividas por mulheres, que pela comparação dos filmes citados deixa perceber um conjunto de temas e funções que o interessam e que repete, após baralhar para dar de modo ligeiramente diferente.
A última história de Things You Can Tell Just By Looking at Her refere-se à vida de duas irmãs, uma detective da polícia (interpretada por Amy Brenneman, que regressará numa personagem distinta em Mother and Child), a outra, invisual, que ensina crianças com o seu problema, a ler e interpretar. Cameron Diaz (Carol), que tendemos a esquecer que é uma imensa actriz, no papel da irmã cega, tem por hábito tirar conclusões sobre os casos policiais que Kathy está a investigar. Kathy chega mesmo a dizer-lhe que mais do que detective, existe nela uma capacidade efabulatória própria de um escritor. Poder-se-ia dizer algo semelhante de Rodrigo García . Ele escolheu um meio audiovisual para se exprimir, mas no coração do seu trabalho reside um ficcionista atento aos traços de cada personagem, que olha o mundo como imensa teia narrativa à espera de que lhe unam as pontas. O facto de ser filho de quem é poderá ter influenciado Rodrigo García na busca de se afirmar num outro domínio artístico, no que as mulheres e as actrizes ficaram muito a ganhar. E no que os espectadores que gostam de mulheres ganharam na possibilidade de empatizar com elas.
A última história de Things You Can Tell Just By Looking at Her refere-se à vida de duas irmãs, uma detective da polícia (interpretada por Amy Brenneman, que regressará numa personagem distinta em Mother and Child), a outra, invisual, que ensina crianças com o seu problema, a ler e interpretar. Cameron Diaz (Carol), que tendemos a esquecer que é uma imensa actriz, no papel da irmã cega, tem por hábito tirar conclusões sobre os casos policiais que Kathy está a investigar. Kathy chega mesmo a dizer-lhe que mais do que detective, existe nela uma capacidade efabulatória própria de um escritor. Poder-se-ia dizer algo semelhante de Rodrigo García . Ele escolheu um meio audiovisual para se exprimir, mas no coração do seu trabalho reside um ficcionista atento aos traços de cada personagem, que olha o mundo como imensa teia narrativa à espera de que lhe unam as pontas. O facto de ser filho de quem é poderá ter influenciado Rodrigo García na busca de se afirmar num outro domínio artístico, no que as mulheres e as actrizes ficaram muito a ganhar. E no que os espectadores que gostam de mulheres ganharam na possibilidade de empatizar com elas.
Nota (para os homens em particular): clicar na imagem para ler a frase que promoveu este filme.
7.01.2011
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