7.20.2010

Os lutadores


























Em sentido muito directo, Anvil, the Story of Anvil é a antítese de Flight 666, este sobre a digressão (mais uma) triunfante dos Iron Maiden. Em 1984 os canadianos Anvil tocaram no Japão lado-a-lado com os Scorpions, os Whitesnake e os Bon Jovi. Depois, eclipsaram-se. Por todos os anos que eu viva, se não vier a sofrer do mal de Alzheimer, não esquecerei a lição expressa num texto de João Lopes sobre Cristiano Ronaldo, em que o jornalista olhava para o aspecto perverso da promoção acrítica do Fenómeno, pois que por cada Ronaldo que triunfa há milhões de jogadores que não sairão nunca do anonimato. Ora a educação para o sucesso devia fazer-se acompanhar de permanentes chamadas à realidade. Anvil, the Story of Anvil é uma tão desarmante chamada à realidade que podemos achar em determinadas alturas que se trata de um "mockumentary". Os Anvil, liderados pelo vocalista e guitarrista Steve "Lips" Kudlow e pelo baterista Robb Reiner, só voltaram a actuar perante uma plateia consonante com o seu comprometimento com o metal, vinte e alguns anos mais tarde, e novamente no Japão, que respondeu ao décimo terceiro CD da banda, This is Thirteen, numa altura em que os Anvil originais já haviam atravessado a casa dos cinquenta. Deus abençoe o Japão por responder com entusiasmo às mais variadas manifestações artísticas, das risíveis até às geniais. Impossível não reconhecer a genuinidade e a persistência dos Anvil (até a razoável qualidade da música deles, apesar de demasiado colada ao heavy metal britânico original), que nunca deixaram extinguir por completo as carreiras na música, enquanto mantiveram uma vida familiar sustentada em trabalhos paralelos que acabaram sendo a fundação das suas reais vidas. Há várias razões que podem explicar o motivo de os Anvil nunca se terem mantido na estrada do sucesso. Eu vejo-os como demasiado puros. Eu invejo-os porque são eles os verdadeiros duros. E de novo, para que fique bem claro: Deus abençoe o Japão. Apesar da amargura e de alguma frustração, os Anvil permaneceram jovens por dentro. O tempo deles parou em 1984 e foi reatado mais de duas décadas depois. Se calhar parou então de novo para, quem sabe, não voltar a despertar. Se o fizer tenho a certeza de que os Anvil estarão perfeitamente reconhecíveis. O metal é como um elixir que subverte as aparências.

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