5.17.2007

3xHHH (dia primeiro)














A abertura da retrospectiva Hou Hsiao-hsien na Culturgest, em triplo movimento temático e temporal, coube ao filme mais antigo do ciclo, Os Rapazes de Fengkuei (1983). Considerado o primeiro “filme de autor” de Hou Hsiao-hsien (ocupa a quarta, quinta ou sexta posição na sua filmografia, que em 83 originou três títulos), apresenta uma justeza de olhar e uma maturidade formal que anunciavam a total mestria por vir. Retenho de Os Rapazes de Fengkuei duas ou três cenas e um pormenor. O filme a que os amigos assistem no cinema de Fengkuei e que um deles reclama por ser a preto-e-branco é Rocco e os Seus Irmãos (1960) de Visconti, evocação que o será mais pelo lado de um violento rompimento juventude adentro, investindo pelas dores do crescimento, pelo assinalar da irreversível passagem do tempo e da entrada iminente na vida adulta. É também sobre isto o filme de Hou Hsiao-hsien, embora menos dramático e mais contemplativo. E as suas sequências maiores têm lugar aquando do regresso temporário do protagonista a Fengkuei (ele que tinha saído de lá para trabalhar na cidade "vizinha", depois de um pequeno episódio de delinquência) para o funeral do pai – indiciador do trabalho sobre diferentes planos temporais num único plano de montagem, que Hou Hsiao-hsien viria a desenvolver com efeitos notáveis –, e a despedida final do primeiro amor, nunca confessado, com o mesmo rapaz (compósito de memórias do próprio cineasta) a encontrar no reencontro com os amigos e na libertação de uma certa histeria a hipótese de catarse da paixão que só não foi mais pueril porque foi toda consumada para dentro e em segredo. Os Rapazes de Fengkuei é assim uma espécie de elegia íntima, passe o pleonasmo voluntário. (3 estrelas)

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