1.09.2012

Nada como um bom "bromance"














Quando Adam Lerner (Joseph Gordon-Levitt) ganha coragem para contar à mãe (Anjelica Houston) que lhe foi diagnosticado uma variante de cancro cuja taxa de sobrevivência é de 50%, começa por lhe perguntar receoso se ela alguma vez viu Terms of Endearment/ Laços de Ternura? (melodrama de James L. Brooks que venceu várias principais categorias dos Oscars do seu ano, 1983). A cena corresponde no meu entender à chave do filme: dá a medida da sua originalidade e indica o elemento a partir do qual podemos aferir se 50/50 funciona ou não funciona. Ao contrário do drama de James L. Brooks protagonizado por Shirley MacLaine e Debra Winger, 50/50 tem no par de melhores amigos, de que o segundo elemento é Kyle (o incontornável Seth Rogen), a relação mais importante deste filme de Jonathan Levine, que trata sobretudo da dificuldade que os homens têm em mostrar sentimentos, mesmo quando é de amizade que se trata. E da amizade com fim à vista.
Jonathan Levine rodeou-se para o seu "bromance" de um conjunto de actores revelador de critério de escolha que asseguraria à partida os resultados que se observam depois. Aliás a atenção aos aspectos mais particulares assegura uma frescura ao filme que podia ficar soterrada por elementos com maior preponderância dramática (a começar pelo todo poderoso cancro). As personagens mostram traços de individualidade (na forma como se apresentam, agem ou falam; é com base em aspectos objectivos que todo o cinema começa por trabalhar) e até em relação a Seth Rogen, que tem a imagem do actor de quem sempre se espera ar bonacheirão e linguagem destravada, mostra aqui uma vulnerabilidade que lhe desconhecíamos (ou, agora que penso em Knocked Up, talvez não...).
50/50 progride pelas várias fases da doença de Adam com atitude simultaneamente respeitosa e subversiva. Tudo nele é semelhante ao que víramos noutros filmes (temáticas e situações), só que um bocadinho ao lado. A sua aparência é mais convencional que a de Restless/Inquietos, de Gus Van Sant, apenas para referir um título estreado recentemente, cuja fluidez de câmara e aspectos de natureza "fantástica" o ligavam à probabilidade de uma existência além da vida, ao passo que 50/50 se fixa em dar conta da possibilidade de mantermos vivos o espírito e a irreverência em situações que nos empurram para o desespero. Uma espécie de melodrama filmado sob o efeito de drogas recreativas. E a coisa bate, podem estar seguros disso.

para a Lia que sugeriu o filme <3

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