1.23.2012
Collapse into then
Para onde quer que vás levas os problemas contigo. Se nalgum momento ouviram da boca de alguém estas palavras, podem agradecer a sensatez do comentário. De facto quando os medos e as angústias ocupam o espaço mental, não existe solução que não passe por ele. Não existe possibilidade exterior de fuga, no que Martha Marcy May Marlene dá prova cinematográfica. É o segundo filme a sair da produtora Borderline de Antonio Campos, Sean Durkin e Josh Mond, onde muitos depositam a esperança de renovação do cinema americano. Pela minha parte o entusiasmo é mais moderado. O filme de Campos, Afterschool, pareceu-me justamente um exercício escolar pretensioso, entre Kubrick e Van Sant. Bem melhor é Martha Marcy May Marlene, num registo de terror psicológico sóbrio, algures entre o cinema de Michael Haneke e o de Roman Polanski, com boa escolha de cenários e de secundários. O filme de Durkin, pontuado pelo drone da banda-sonora que acompanha cada flashback, dá conta de um processo de substituição de identidade da jovem que se junta a uma comunidade onde pontificam os homens e o seu líder Patrick (John Hawkes) em particular. As mulheres trabalham com eles no campo, comem sempre depois de os homens terminarem, e quando não se entregam ao amor livre servem de elemento reprodutor para os filhos de Patrick, que mal as vê entrar logo trata de lhes atribuir um outro nome, simbolizando o começo da perda da identidade que traziam.
Martha Marcy May Marlene conta igualmente uma história de violência que levará à fuga da protagonista, Martha: ou Marcy May, ou ainda Marlene. Quando a sua vida parece reentrar numa aparência de normalidade, os efeitos da experiência na comunidade vão-se materializando primeiro a nível mental e depois numa perturbação exteriorizada que afecta os que a rodeiam. Martha colapsa na direcção do passado recente e o filme de Sean Durkin termina de modo abrupto antes que se perceba se ela algum dia se irá curar do pesadelo. Uma última nota para a actriz principal, Elizabeth Olsen, cujos traços fazem lembrar Maggie Gyllenhaal ou sobretudo uma jovem Angelina Jolie, onde se prova que o cinema independente é uma máquina de reposição, mais até do que de produção, de tipos quando não tiques que se tornarão dominantes no cinema de vasto público. Oxalá o mesmo não aconteça com a carreira de Sean Durkin, ou então que lhe suceda o mesmo que a gente como John Dahl, Tim Hunter, Nick Gomez ou Keith Gordon, que face à dificuldade em fazer os próprios filmes se mudaram para a melhor televisão (vide post anterior).
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