1.05.2012
Isto somos nós
Carnage/ O Deus da Carnificina começa numa cena de luta de classes que se encaminha para uma guerra de sexos. Das características do projecto de Roman Polanski decorrem os seus méritos e limitações. A batalha entre os dois casais, e entre elementos do mesmo casal, decorre no território da linguagem e as palavras são usadas como armas que algumas vezes deflagram na boca de quem as profere. O guião de Polanski e Yasmina Reza é de tal modo rigoroso na gestão dos diálogos, entre o decoro do politicamente correcto e o sarcasmo que surge quando estala o verniz, que grande parte do trabalho de planificação passa despercebido ou é tido por funcional. Dir-se-ia que a malícia está quase toda no texto e nas brilhantes prestações de um quarteto de luxo (Foster, Winslet, Waltz e C. Reilly). Afinadíssimos mesmo quando desatinados. Gostei muito do plano inicial de Carnage, onde se "observa" a brincadeira de crianças que termina no acto de violência que levará a que os pais se juntem. Um plano geral aparentemente neutro, seguido do movimento de câmara que antecipa a agressão. Mais tarde, quando as quatro personagens se encontram em avançado estado de embriaguez, e já não há censura para o fel que deitam umas sobre as outras, a câmara de Polanski oscila continuadamente no que me parece figura de retórica cinematográfica algo redundante. Como atrás havia dito, é para as palavras sempre que se dirige a nossa atenção. A crueldade das palavras que denotam a nossa educação e estrato social. As palavras que usamos para agredir, seja legítima ou não a defesa. As palavras que dão conta da natureza beligerante ou liberal de cada um. Diz-me como falas dir-te-ei quem és. Tão simples e implacável como isto. Isto não é só a América. Isto é o mundo.
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