5.07.2012

'Wuthering Heights', de Andrea Arnold (IndieLx 2012)

















Não é preciso que decorram muitos minutos de filme para encontrarmos o principal mérito desta adaptação de O Monte dos Vendavais (Emily Brontë, 1847), que corresponde igualmente à sua mais concreta e relativa limitação. Percebe-se que é um filme realizado por uma mulher, pelo cuidado com os detalhes que pode cair nalgum decorativismo e pelo jogo de escondidas (será pudor?) que estabelece com os sentimentos extremos do amor e ódio. A terceira longa-metragem de Andrea Arnold é o seu filme mais equilibrado, de grande coerência plástica e sonora (pena a musiqueta do genérico final...), como se se tratasse de uma realização da neozelandesa Jane Campion (O Piano pode-nos tomar de assalto a memória) mas de pendor mais naturalista. O drama faz-se anunciar na paisagem bela e agreste da Inglaterra rural, que Arnold torna mais poética com a atenção dada aos fenómenos da natureza, com os seus ciclos de luz, as fortes tempestades e todo o tipo de bicharada que por ali se vê. A história de amor entre Heathcliff e Catherine não é alheia ao universo rude em que ambos vivem e por onde se aventuram ainda num período de inocência da atracção que nutrem um pelo outro. Quando Heathcliff regressa anos mais tarde, o filme torna-se psicologicamente mais negro com as consequências conhecidas por todos aqueles que leram este livro. E a partir de agora pelos outros todos que se debrucem sobre ele em função do entusiasmo suscitado por esta adaptação: a primeira levada a cabo por uma mulher no que condiz com o género do autor do romance há muito celebrado. 

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