Richard Kelly substitui aqui a figura do anjo da morte (ou da vida; prefiro a segunda), do bizarro coelho de Donnie Darko para o imperturbável e desfigurado personagem de Frank Langella (extraordinário actor), um ex-funcionário da Nasa de quem se perdera o rasto após um acidente aparentemente mortal onde fora atingido por um raio eléctrico. É ele o enviado das Entidades que resolveram sujeitar a humanidade a um teste, iniciando-o com a população da Richmond, na Virginia (onde se situa um centro de pesquisa da Nasa). É também ele que nos confronta com o Purgatório que é a vida; com a vanidade de todos os desejos que nos são, e apenas a nós, dirigidos. The Box é claramente um filme moralista e adquire por vezes um tom quase messiânico. Mas é tão vasto o seu campo de referências (que em matéria de cinema parecem fixar-se entre o Lynch de Blue Velvet e Dune, e o Kubrick de The Shinning e 2001), que mal temos tempo de experimentar alguma logo nos encontramos sob a influência de outra.
Permito-me concluir com uma afirmação algo visionária. The Box ficará não apenas com um dos filmes centrais deste "nosso" ano (trata-se de uma produção de 2009), como perdurará na história do cinema como um dos títulos importantes da década. Os seus resultados só agora começam a manifestar-se. E a mente, sabemos bem, tem um espaço que ninguém arriscou ainda a quantificar.