"greatest thing i've heard/ but i didn't get a word"
"un poinçonneur de lilas/ ça veut dire quoi"
Comparar a escrita de Vincent Delerm com a de Serge Gainsbourg, como eu fiz, é obviamente desproporcionado. Gainsbourg foi um génio, Delerm tem momentos de inspiração. Felizmente tem-nos com relativa frequência. Les Piqûres d'Araignée foi gravado na Suécia. É um disco outonal, a coincidir com o momento do seu lançamento. Os Inrockuptibles dizem que é o primeiro disco do Delerm homem. Se isto se refere ao facto de ele parecer mais liberto dos jogos de linguagem, do efeito de citação, da impressão humorística, da densidade dramática - muito cinéma - de algumas canções (principalmente no excelente Kensington Square, ainda o seu registo mais ambicioso), então aceito. Assim como terei de aprender a viver com a sensação de que a voz de Vincent Delerm, agora mais melodiosa, se distancia da referência Gainsbourg (assumida pelo próprio: está nos três discos) para - ó heresia! - situar-se mais próximo de um Joe Dassin de baixas calorias. Sintomático do que Les Piqûres... pretenderá ser, pode tomar por exemplo Favourite Song, a penúltima música. Enquanto que em Kensington Square, Vincent Delerm parecia afirmar-se como o Neil Hannon do outro lado da mancha, desta vez preferiu convidar este para um dueto em que ambos afirmam o amor pelas canções, pelos sentimentos que encerram mesmo quando não compreendemos parte do que dizem. A escrita de Delerm nunca foi tão discreta como nas treze canções que constituem Les Piqûres d'Araignée. Motivo pelo qual, contrariando o que na frase anterior se afirmou, acho que é neste disco que teremos de prestar máxima atenção às letras. Aquilo que irei fazer antes de me alongar por mais considerações.