12.21.2011

Balanço (livros, discos, cinema e o que há nos etcéteras)
















Tudo reunido pela primeira vez porque o meu consumo cultural em 2011 reflectiu dois aspectos: por um lado menos dinheiro para gastar, por outro uma procura por objectos de outros tempos (na música isso foi quase regra sem excepção). Vamos aos filmes. Filmes estreados. Há ainda o Toupeira e o Polanski para ver, o que talvez aconteça apenas no próximo ano. Gostei fundamentalmente destes cinco: Another Year/ Um Ano Mais, do Mike Leigh, que já não me conquistava desta forma desde Naked. No centro um casal estável com a vidinha marcada por uma alegria discreta e doce. Tudo à volta deles é mais reconhecível na experiência comum dos nossos dias. A insegurança, o ridículo, o ressentimento, o caos interior. Mike Leigh filma com a distância exacta para nos iludir de que as coisas se lhe mostraram assim pela primeira vez. No limite da construção o desenho apaga-se e sobra a imitação que parece vida de verdade. Bridesmaids/ A Melhor Despedida de Solteira foi o primeiro filme visto com aquela que viria a ser minha namorada (até hoje!). Factos hiperrelevantes à parte, achei o filme divertidíssimo e ri-me como não ria há muito tempo. Qualquer homem inteligente sabe que esta é a segunda manifestação física mais importante da vida. O Carlos, de Olivier Assayas, está aqui por aquilo que vi e pelo que conto ver (a versão completa, para televisão, que saiu em DVD). É um trabalho que joga nos vários tabuleiros (acção, drama, biografia pop, política) e triunfa em todos eles. É brilhante, é credível, e os retratos são humanos e vibrantes. Também gostei muito do The Next Three Days/ 72 Horas, de Paul Haggis. Mexe com coisas ancestrais da nossa fixação pelo cinema. Conta a história de um amor disposto a tudo, sendo que o protagonista é um homem (Russell Crowe). Um herói comum, coisa que a existir na vida em muito desconhecemos, e de onde o cinema desinvestiu estupidamente. Haggis fez um filme de gajo com bom coração que vira uma fera em desespero. Recomenda-se para eles e para elas. Por último, Essential Killing/ Matar para Viver, de Jerzy Skolimowski, que vi na sala grande do S. Jorge com um sistema de ar condicionado como deve ser. Inteligente, visceral, intenso, poético, subversivo, cinema por longos momentos em estado puro. Maravilha o olhar e suspende a descrença.



















Vamos aos livros e à música e depressa. Li até ao fim três (quase quatro) títulos publicados este ano (uns cá dentro, um lá fora). Se os li por inteiro foi porque gostei. Pornopopeia, de Reinaldo Moraes, chegou-me do Brasil meses antes de sair pela Quetzal. Extasiou-me bastante e aborreceu-me um pouco. É grande livro? É sim, grande livro! Claro que um gajo depois apaixona-se e vê a sacanagem por outro prisma. Isto não é ser sonso. Eu sou é sentimental. Também li a bom ritmo, com algumas paragens impostas por prioridades diversas, Educação Siberiana, de Nicolai Lilin. Tem violência, tem códigos de honra, tem tatuagens, tem tudo aquilo que me atrai na ficção (falta romance, mas isso começava a existir do lado que mais importa), é escrito de modo escorreito, nem demasiado facilitado para o leitor calão, nem com demasiado calão para o leitor não-siberiano. Os aforismos de Nassim Nicholas Taleb e os pesadelos de James Ellroy encerram as leituras completas. Em Taleb descobri um mestre, em Ellroy um irmão. Quero continuar a aprender com o primeiro e libertar-me dos pesadelos do outro. Para nunca mais voltar.


















Música. Pouca música. Ou então pegar no que tinha já, livrar-me de muito do que tinha (vender ao desbarato), e constituir a discoteca ideal por subtração. 2011 foi ano Creedence Clearwater Revival. Comprei tudo excepto o último disco da banda, que é fraquinho. Creedence ocupa o panteão, junto dos Zeppelin e dos Sabbath. Experimentei com eles o simulacro ideal do que representa sentirmo-nos vivos (ando a repetir-me, noto isso). O sangue a correr depressa em mais sentidos. Quase o ano a chegar ao fim, comprei os primeiros discos editados em 2011. Pertencem aos Mastodon e aos Black Tusk, dentro do género comum são muito diferentes e muito bons. Acabo 2011 com o volume no máximo e um lugar privado para um disco maravilhoso do ano passado: Queen of Denmark do czar John Grant. Quando estou sozinho é quando mais o procuro. E são tantas as noites assim.

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