12.09.2011
Aparências (louvor de Mr. Apatow)
Knocked Up (2007) é sobre um tipo pachorrento que não se tem em grande conta, que engravida uma rapariga muuuuito mais gira que ele na primeira noite (seria a única...) que têm sexo. Ela fica grávida e o filme grávido da personagem masculina. A criança nasce no fim do período habitual, que no filme de Judd Apatow corresponde ao arco de transformação do protagonista, Ben Stone (Seth Rogen), num rapaz tão boa onda como no início mas um pouco mais responsável e confiante em si mesmo. Dois nascimentos (ou um renascimento, se quiserem), no que o primeiro serve de pretexto ao outro mais significativo. Knocked Up é também sobre aparências (se nos ficássemos por elas muitas situações do filme seriam implausíveis), e o que Apatow acrescenta ao cinema é a capacidade de dramatizar situações estereotipadas indo além das aparências. É isso que torna as suas comédias dramáticas superiores à generalidade dos contemporâneos. Ele particulariza o que é genérico começando pela escrita, continuando no trabalho que desenvolve com actores que conhece bem, filmando por fim de modo a servir o trabalho anterior sem pretensões formais estéreis, apenas sublinhando pormenores visuais que resultariam grotescos caso as personagens não tivessem sido humanizadas. Alguém que vomita ou um parto filmado de frente para a zona genital feminina são factos orgânicos indissociáveis da natureza das personagens. Fazem parte da vida e são mostrados com frontalidade. Tudo isto permite ir além das aparências, no que é uma preocupação de Apatow até com a mais secundária das figuras. Há sempre qualquer coisa de particular em cada cena, nos diálogos, no desenrolar das situações dramáticas, que faz variar aquilo que seriam as nossas expectativas. Eu não sei se Judd Apatow parte para a escrita do argumento sem uma ideia muito precisa do que individualiza as suas personagens, embora os resultados apontem para essa impossibilidade. Também os filmes, como Knocked Up, existem por aquilo que aparentam, mas resistem se forem além das aparências. É o caso deste.
P.S. Aqui funciona assim. Prefiro falar pela terceira vez de um filme que vi pela terceira vez e que me entusiasma a cada vez de formas diferentes, do que abrir espaço a coisas que me deixam indiferente ou mesmo desapontado. Este espaço é meu e tem o valor que eu lhe quiser dar.
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