10.26.2010

Longe















Tem algum filme preferido, ou algum de que se arrependa?
Ah, não, não renego nenhum dos filmes que fiz. Todos eles foram experiências necessárias, e como nunca os revi não tenho um ponto de vista crítico sobre eles. Mas é verdade que tenho uma ternura particular por "Longe", talvez porque o rodámos um pouco como se estivéssemos a fazer gazeta. Rodei-o em Tânger, em video digital com uma equipa muito reduzida, de um modo muito livre, pelas ruas. É um filme de uma grande liberdade.


[André Téchiné: o autor que queria fazer encomendas, Ípsilon, 08.10.10]

Longe (2001) era obra que não conhecia, até ontem. Já percebi que gosto de todos os filmes de André Téchiné, e dos mais recentes e menos consensuais também. Porquê? Porque o grande tema do francês são as suas personagens. É grande a atenção que lhes dedica e que se revela em detalhes frequentes. Qualquer espectador que se interesse pela natureza das pessoas sente-se atraído pelo cinema do realizador. Ele torna-nos íntimos das personagens, não obstante o seu diferente protagonismo. E depois há claros laços que se estabelecem no interior da obra do francês, que apresenta motivos e actores recorrentes. Se a geografia de Longe (a labiríntica Tânger) remete directamente para Os Tempos que Mudam (2004), as suas figuras, as personagens que são sempre o mais relevante, sugerem a variação muito livre de Juncos Silvestres (1994), para a qual as presenças de Gaël Morel e Stéphane Rideau são significativas. Se resulta menos pujante talvez seja porque dá a impressão de se ir fazendo do nada dia após dia (independentemente do que se inscreve na sua estrutura, o assinalar de cada novo dia na acção do filme), e os efeitos do improviso no momento serem distintos do impacte do resultado acumulado. A liberdade tem sempre um preço, o que no caso de Longe, e como se prova pela citação da entrevista, é assumido de consciência.

Arquivo do blogue