11.29.2006

Marcha fúnebre

Assombrado e assombroso. Juventude em Marcha é de um grau de exigência altíssimo para com a capacidade de concentração do espectador. Várias vezes tombei. Várias vezes me levantei, trazido de volta pelo poder dessas imagens que me haviam lançado ao tapete. Não estou aqui a defender os filmes de Costa com base no masoquismo do espectador. No entanto considero que o cinema de Pedro Costa nunca antes foi tão depurado e difícil ao mesmo tempo. Pensem nestes termos: filmes como Juventude em Marcha (como se existissem outros objectos assim) encontram-se na fronteira de um cinema que implode nas suas secretas e infinitas narrativas, com algo que é já também do domínio, talvez, das artes plásticas, da instalação. Mas ao contrário de uma instalação, o ritual da sala escura impõe ao espectador o ritmo da sua própria fruição. A beleza é toda do filme. A impertinência toda nossa. A marcha é lenta e fúnebre porque não filma senão o fim das coisas. Aquilo que se tornou irrecuperável. Vidas. O protagonista, Ventura, assiste a tudo com uma dignidade impressionante. Ventura é um sobrevivente, corpo sem idade, imperturbável, memória ambulante.

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