11.14.2006

De onde ninguém sai



Costumo dizer que a ECM é a melhor editora discográfica do mundo. Digo-o há tantos anos - e já são bastantes - como os que levo de escuta do seu muito extenso catálogo. Relações privilegiadas permitiram também que sempre me mantivesse a par dos lançamentos (quase todos), e que progressivamente fizesse meu o perfil artístico que Manfred Eicher vem impondo com assinaláveis coerência e perseverança. Nas semanas mais recentes, estes têm sido os ECM que ouço por entre vária outra música: o regressado quarteto polaco de Tomasz Stanko, com Lontano, que me leva a afirmar a cada novo disco tratar-se do seu melhor de sempre (são irresistíveis as pequenas modulações destas quase canções que tantas vezes têm a riqueza estrutural de uma suite sem que se mude de tema. Stanko pega da herança do último e mais despojado Miles Davis e entrega-o à eternidade); as explorações sonoras de Stephan Micus, homem que acredito consiga tirar o som perfeito de todo e qualquer instrumento de sopro, por mais ancestral ou artesanal que este seja (e On the Wing resulta novamente da absoluta coincidência entre uma música espiritual, não menos, e emocional, nem mais); o tributo arriscadíssimo mas em grande parte conseguido de François Couturier, Anja Lechner, Jean Marc Larché e Jean Louis Matinier ao cinema de Tarkovsky (que - é a minha vez de arriscar - sairia mais potenciado nos seus atributos poéticos e metafísicos caso pudesse ter utilizado estas composições sérias, densas e reflexivas de Couturier); por último, por agora, o piano solo de Stefano Bollani, imprevisível, idiossincrático, de enorme musicalidade, que em território profusamente preenchido sabe criar a sua própria razão e espaço de existência (algures entre Prokofiev e Brian Wilson). Quem entra na ECM, não mais daqui sai. E não me referi às capas dos discos. Atentem nas capas. Tão magníficas como a música que trazem dentro.


Os discos ECM encontram-se, por exemplo, aqui.

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