11.03.2006

La Jetée (1962)















Raymond Bellour, no livro Entre-Images, resume assim, com enorme precisão, La Jetée, de Chris Marker:

(...) condensa, em 29 minutos: uma história de amor, uma trajectória rumo à infância, um fascínio violento pela imagem única (o único da imagem), uma representação combinada da guerra, do perigo nuclear e dos campos de concentração, uma homenagem ao cinema (Hitchcock, Langlois, Ledoux, etc.), à fotografia (Capa), uma visão da memória, uma paixão pelos museus, uma atracção pelos animais e, no meio disto tudo, um sentido agudo do instante. (pág. 170)

La Jetée encontra-se a "um piscar de olhos" de ser constituído apenas por imagens sem movimento. Mas imagens a que pelo sucessivos (re)enquadramentos, pela intencionalidade da sequênciação, pelo carácter apaixonado da música sobreposta, pelo envolvimento da voz do narrador, estamos sempre a emprestar uma impressão de movimento: que é, em última análise, da ordem das emoções. E com um investimento tal que quando esse movimento realmente acontece, somos acometidos de um sobressalto. Esclareça-se que La Jetée será, digo eu, mais para românticos obsessivos do que para amantes da ficção científica. Seja como seja, trata-se de uma das grandes obras da história do cinema que descobri apenas todo este tempo depois. Voltar à escola pode ser bom ("eles" por vezes estão cobertos de razão...)

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