7.31.2009

Amor e castigo


















Two Lovers/ Duplo Amor é extraordinário. James Gray volta a ser extraordinário. Joaquin Phoenix, a confirmar-se o adeus ao cinema, despede-se extraordinariamente. Gray filma o amor como condenação. Quem ama sofre. Começando no amor que as famílias votam aos filhos, quando assumem que outra vida se sobrepõe à delas. Amar é isso. Dar maior importância à coisa amada que a nós próprios. Visto de fora parece estúpido. Olhado a frio afigura-se antecâmara da tragédia. Talvez a grandeza do cinema de James Gray se possa aferir hoje pela capacidade de filmar a tragédia sem no entanto ter de a mostrar. Filmá-la como condição humana que é. Fazê-la sentir ao dar-nos acesso às zonas recônditas do coração e da mente das personagens. O cinema de James Gray é portador de moral conservadora reconhecível, que surpreende aqui ao descobrir um tom misericordioso que por momentos resgata as histórias dos simétricos amantes do fatalismo que sobre elas paira. Congratulamo-nos com a redenção final ao mesmo tempo que sabemos que as coisas não acabam assim. Enquanto houver gente que ama o destino encarregar-se-á de as castigar. Foi sempre assim, e também por isto a obra de James Gray é tocada pela intemporalidade dos clássicos.

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