10.19.2008

"Aka Ana" (doclisboa 2008)



















É o mais recente trabalho do fotógrafo Antoine d'Agata (n. 1961). Tão recente, aliás, que ainda não consta na sua página da Magnum Photos. Vamos para este filme de Agata atraídos pelo perfume do choque (o francês estudou com Larry Clark e Nan Goldin), pelo grafismo da pornografia. Mas rapidamente somos sorvidos e atirados para a escuridão de uma cave funda. Antoine d'Agata filma as noites da prostituição de Tóquio pelo seu lado mais anónimo e claustrofóbico. É raro aqui sair-se do quarto (escuro), quando não dos rostos distorcidos e dos corpos igualmente espectrais. É tumulto de uma hora que gela o sangue, mas onde as emoções podem surgir como rasgos. Ligeiros espasmos de quem encontra beleza, alguma poesia no trabalho de Agata, que do ponto de vista estético é também intenso e fortemente manipulado. As imagens foram obtidas com recurso a infra-vermelhos que captam as práticas sexuais em pormenor, e a estas é sobreposta a litania onde uma voz feminina se refere de modo mais ou menos metafórico (sempre a mesma voz) ao efeito de objectificação que ocorre sempre que um homem busca o prazer utilitário em corpos que se tornam na abstracção de todos os outros. Há que reconhecer o moralismo: mais no texto que nas imagens. As imagens são belas, estranhamente belas, convulsivamente belas, camadas de um pesadelo de que nos queremos libertar, mas que ao mesmo tempo nos atrai. Havia uma vertigem no trabalho de Antoine d'Agata fotógrafo a que este filme, Aka Ana, empresta movimento. Assim como o cinema emprestou maior abismo às imagens passadas, estáticas, que projectadas nos parecem mais presentes.

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