9.30.2008

Sapatos vermelhos


























Dizem que aos quarenta temos idade suficiente para usar sapatos vermelhos sem nos ralarmos com a opinião alheia. Vou a caminho, mas já sinto confiança para abraçar o chavão estando-me nas tintas para o que os outros possam pensar. Como no caso deste disco de David Gilmour, cheio de serenidade musical e lírica pronta a consumir, que foi das coisas que escutei este ano que melhor me tem sabido. Progressões lentas, aparato orquestral e carpintaria instrumental dos seventies, executada pelos melhores dos melhores: Phil Manzanera, David Crosby e Graham Nash, o saudoso Richard Wright (começo a perceber as saudades que dele terei no futuro), Robert Wyatt (hang in there Bob!) e, claro está, David Gilmour, que pelo que vou lendo deve ser um tipo mesmo impecável. Não que eu procure na música as qualidades humanas do artista, embora o caso mude por vezes de figura tratando-se de livros ou filmes. Mas procuro com frequência nuvens sobre as quais me deito, e adormeço, à medida que os fardos escorregam por mim na direcção dos pisos inferiores. Atribuo à música um valor que tem a ver com a sua capacidade de me elevar. Abraço o clichê, e sigo viagem com ele. De preferência, descalço.

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