9.25.2008

Será este o melhor álbum


























A revista Uncut de Outubro traz, em edição exemplarmente cuidada do ponto de vista gráfico, os resultados do questionário que visa aferir qual a melhor canção/ tema dos Pink Floyd de todos os tempos. Já aqui relatei que recentemente investi pelo património floydiano adentro seriamente. Até agora só boas descobertas, reconhecendo que me tenho protegido ao abrigo da palavra escrita melhor sedimentada. Um pormenor deu-me privado regozijo (não mais) e tudo se expõe num par de frases: aqui há semanas havia estruturado um pequeno post que dava conta da afinidade que eu sentira entre uma canção dos Pink Floyd, See-Saw, do álbum A Sourceful of Secrets, e o repertório de Robert Wyatt tomado em termos genéricos. Pois vem a ser o próprio Robert Wyatt a eleger essa música dos Floyd como a sua preferida da discografia da banda, o que me enche de orgulho estúpido, ou não fosse eu doente por estas intersecções demasiado significativas. Mas mais importante que o facto diverso é a constatação de que talvez a grande obra dos Pink Floyd (ou pelo menos a maior de entre as enormes) seja um disco habitualmente considerado de segunda linha. Refiro-me a Meddle, que escutei repetidas vezes na mesma tarde em que ouvi também pela primeira vez Atom Heart Mother, outro álbum especial. O que faz de Meddle um caso particular é o facto de os Floyd apontarem múltiplas direcções sem que o alinhamento sofra maleita de coerência. Vastas planícies instrumentais (Echoes ultrapassa a vintena de minutos) atravessam blues reconhecíveis (Seamus), há uma atenção dada ao som que é prenúncio do super-profissionalismo do "lado escuro da lua" com a vantagem, no meu entender, de os Pink Floyd de Meddle se manterem ainda fortemente ligados à Terra: a canção Fearless termina com Anfield Road a entoar You'll Never Walk Alone. Nenhum outro disco que deles ouvi concentra este equilibrio entre oculto e revelação. O mistério das texturas abstractas e a desmesurada competência instrumental de um conjunto de músicos nas vésperas de se tornar numa super-banda. Meedle descobre a suprema virtude a meio do caminho: porque o estereótipo destapa a derradeira verdade. Se gostam verdadeiramente de música, descubram-no.

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