7.21.2008

O homem intranquilo





















Não sei se o termo fará muito sentido em português (penso sobretudo no significado do original "rewarding"), mas não houve este ano disco tão "recompensador" para mim como Pacific Ocean Blue, de Dennis Wilson. Acho que isso se deve à sua sonoridade em bruto, apesar da complexidade da construção musical, a fazer lembrar remotamente Alan Parsons Project (que não ouço há séculos), Randy Newman ou Pink Floyd. À fragilidade emocional que se desprende da voz de Wilson. Uma voz amadora, comum, gasta, que se expõe vulnerável e que por isso é a mais humana das vozes. Também à sensação de deriva sugerida por este conjunto de temas que podia apresentar-se numa qualquer outra ordem: até na aparente incoerência da sua estrutura, Pacific Ocean Blue é um álbum à parte. Há canções de amor lindíssimas - experimentem passar por Thoughts of You, Time e You And I sem que a garganta ou o coração se vos apertem... -, cada frase, cada melodia parece ao mesmo tempo a tentativa de alguém de se agarrar à vida, e a voz do homem que nos canta já da terra dos mortos. E sabendo-se do fim prematuro e trágico de Dennis Wilson, o único disco por ele concluído ressoa em nós de um modo mais profundo ainda. Sei que isto pode soar a blague, mas nada do que o génio de Brian Wilson (irmão de Dennis) produziu até hoje me emocionou na medida deste Pacific Ocean Blue, espécie de farol esquecido e melancólico que sempre anuncia a sua iminente extinção, sem que tal facto, na música (reforçada agora por esta magnífica reedição), venha a suceder. Este disco, que era para ser a alvorada de um talento particular (e Dennis, o "verdadeiro beach boy", mostrou-se sempre de uma sensibilidade marginal ao resto do grupo), acabou marcando a despedida de alguém que teve por origem o mesmo mar para onde e para sempre foi devolvido.

Arquivo do blogue