
01 – A Serious Man (Um Homem Sério), de Ethan e Joel Coen
Assumo alguma doença em relação aos Coen. Numa carreira tão dividida entre comédia estúpida e filmes “sérios” nunca fui capaz de escolher um partido. The Big Lebowski é o melhor filme de sempre, da mesma forma que No Country For Old Men e Miller’s Crossing também o são. Em A Serious Man fundem o melhor desses dois mundos pela primeira vez (Barton Fink é desequilibrado nesse aspecto e aconteceu antes de The Big Lebowski) num ping pong de argumentação delicioso com os subúrbios norte-americanos dos 60s como pano de fundo.
02 – Scott Pilgrim Vs. The World (Scott Pilgrim Contra O Mundo), de Edgar Wright
Diabólico, hilariante, contextual para uma geração e um tratado de “nerdice”. E no fundo, no fundo (mesmo no fundo), uma forma bonita de olhar para as relações. A comédia romântica que me salvou de todas as outras que tive de gramar neste ano.
03 – Bad Lieutenant: Port Of Call – New Orleans (Polícia Sem Lei), de Werner Herzog
Sou suspeito porque gosto muito de Herzog. E custou-me muito engolir o final de Rescue Dawn. Tanto que já não dava grande coisa pelo Herzog da ficção, mas este Bad Lieutenant é viril e desbocado como poucos filmes conseguem ser hoje em dia. Em 2010 também houve My Son, My Son, What Have Ye Done, do qual também gostei muito, mas só me sinto no direito de escolher um Herzog.
04 – Toy Story 3, de Lee Unkrich
Mais do que qualquer outro fillme da Pixar, Toy Story 3 fez-me regressar à infância. Aos momentos perdidos, à nostalgia pelos brinquedos que recordo recorrentemente, embora não tenha tido uma ligação de afecto/manutenção/preservação para o futuro.
05 – Go Get Me Some Rosemary (Vão-me Buscar Alecrim), de Ben e Joshua Safdie
Vejo-o como um filme de memória, não pela parte da história que reporta a experiência dos realizadores com o seu pai, mas pelo retrato de uma Nova Iorque e das suas personagens no cinema norte-americano desde Cassavetes. Num século onde o indie tornou-se na generalidade uma lamechice e me deixou com saudades de quando toda a malta dava no cavalo, Go Get Me Some Rosemary é uma obra eficaz sobre a memória, e é muito bonito que ainda exista gente assim, que construa e trabalhe as personagens, uma cidade, de um modo tão atemporal, e que se esteja a cagar para as relações, moralidade e outras tretas do género.
06 – Mistérios De Lisboa, de Raoul Ruiz
Um lamento: aquela quebra para intervalo a meio da história, que realça ainda mais de como a segunda metade do filme é ligeiramente inferior à primeira. Imersão quase-total e paixão imediata. Foi bom ver no grande ecrã actores portugueses a serem incríveis.
07 - Amintiri Din Epoca De Aur (Histórias Da Idade De Ouro), de Cristian Mungiu, Hanno Höfer, Razvan Marculescu, Costantin Popescu e Ioana Uricaru
Sem qualquer vergonha digo que só nos últimos meses dei alguma atenção a esta vaga do cinema romeno. Vi pela primeira vez algumas obras e revi outras com mais atenção e sem outro tipo de preocupações. Apaixonei-me pelo humor e alguns filmes foram óptimas companhias nos dias frios do Outono.
08 – Greenberg, de Noah Baumbach
Eu e o autor deste blog (se a memória não me falha) temos opiniões muito diferentes no que diz respeito a Margot At The Wedding. Tive muitas dificuldades em acompanhá-lo até ao fim e custou-me considerar existir uma mancha negra no currículo de Noah Baumbach. Com Greenberg fiz as pazes. Não tenho trinta anos, estou ainda mais longe dos quarenta, não vivi os anos Reagan nos Estados Unidos e senti ainda menos a geração slacker na pele. Contudo, olho para os putos que estão atrás de mim e sinto o mesmo medo que Greenberg. Ficou-me e não consigo deixar de pensar nisso.
09 – Bakjwi (Thirst – Este É O Meu Sangue), de Chan-Wook Park
Gosto muito de filmes sobre vampiros e sou daquele género de pessoas que se sente mesmo ofendida com a paneleirização desse universo. Não sou um apaixonado pela obra de Chan-Wook Park, não tive orgasmos com Old Boy, mas gosto de a seguir. Bakjwi é um filme invulgar do género, sem desrespeitar regras, que trabalha um clima familiar doente, como só os filmes asiáticos conseguem representar. Também gostei do remake de Låt Den Rätte Komma In, Let Me In (Matt Reeves). O original é uma obra-prima, o remake não desrespeita, o que é bom, mas torna tudo ligeiramente mariquinhas.
10 – Io Sono L’amore (Eu Sou O Amor), de Luca Guadagnino
Título mais bonito do ano. Encaixa-nos numa daquelas famílias que já não existem, mas que a literatura e a História (enquanto ciência, defeito de formação académica) me disseram sempre que eu deveria fazer parte.
Obrigado, André!