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Houve tempos em que ouvia falar recorrentemente do conceito de "objecto transitivo", cunhado pelo psicanalista inglês Donald Winnicott, que nunca tinha apreendido na maior abrangência até ver Lars e o Verdadeiro Amor. Não que o filme se lhe refira directamente, ou quiçá tenha consciência de que o está a ilustrar com a história de Lars (surpreendente Ryan Gosling), homem solitário de cerca de trinta anos, cuja mãe morrera no parto, que manifesta uma particular fobia social e não suporta o toque, e que a dada altura recebe em casa uma boneca de silicone (anatomicamente correcta), de seu nome Bianca. A boneca tida por Lars como sua namorada causará a princípio estranheza na pequena comunidade de que ele faz parte, para mais tarde vir a ser integrada por todos os que usarão Bianca para mostrar o quanto gostam de Lars. Bianca permitirá aos outros chegar até Lars, e possibilitará que Lars mais tarde aconteça: que abra aos que o rodeiam o espaço dos sentimentos (da intimidade). O delirio inofensivo de Lars faz parte da constituição da sua personalidade, apenas possível porque resulta primeiro de uma simulação. E o melhor do filme passa pelo modo como insinua o desejo de Lars em fazer substituir a sua fantasia por uma nova realidade. Lars e o Verdadeiro Amor é um pequeno filme desconcertante que tal como o protagonista começa por parecer querer passar por nós sem se fazer notado. Um objecto discreto que se refere a um objecto transitivo.