8.13.2008

Boorman in the USA


















É raro, e por isso gratificante, quando as malhas cinematográficas de amigos, mais apertadas que a nossa, permitem aceder a filmes cujo desconhecimento seria de lamentar. Vem isto a propósito de Into the Wild, que negligentemente determinei à partida ser dispensável. Mau juízo, trata-se de um belo filme. E o ano passado não teve assim tantos como isso. O que Sean Peen conseguiu fazer do livro de Jon Krakauer, e da história de Christopher McCandless, foi uma espécie de cruzamento do Deliverance (realizado pelo inglês John Boorman na década de 70) com o Novo Testamento. O percurso do jovem McCandless rumo ao Alasca, também visa, em derradeira análise, retirar os "pecados do mundo", representados pela imagem que o rapaz faz dos pais e da sociedade onde foi criado. O filme desenha assim um trajecto de ascese: de despojamento material e de intensa reflexão sobre experiências vividas no passado, ou sentidas ali no presente. Tudo isto captado por imagens da natureza poderosíssima, que no ecrã da sala de cinema maior justiça farão ao trabalho excepcional do francês Éric Gautier (colaborador de Assayas, Carax, Chéreau ou Desplechin). Até a música - do guitarrista Michael Brook - funciona, e mesmo as canções de Eddie Vedder não me pareceram deslocadas. Mas também, quando o grosso do impacto é assim tão forte, questões de pormenor apagam-se no todo da fruição. Grande filme, sim senhor.

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