3.30.2008

O bom filho



















Este é um post sobre Robert De Niro, o realizador. Fez um filme sob o signo de Scorsese: A Bronx Tale. Outro recuperando o estilo do melhor Coppola: The Good Shepherd. Dois dos realizadores mais importantes com quem trabalhou. De um para o outro tornou-se num artista maduro, também atrás das câmaras. The Good Shepherd está entre os melhores filmes estreados no ano passado, mas só agora caí em mim e tomei consciência do muito reconhecimento que ele merece. É uma obra sombria, marcada pela opacidade do seu protagonista (como curiosa é a inclinação de Matt Damon por este tipo de figura, bem próxima do Ripley que fizera para Anthony Minghella), que evolui lentamente por caves e esconsos narrativos que requerem a nossa total atenção. A De Niro não interessou a pedagogia da história, até porque a história deste filme - tal qual a do anterior A Bronx Tale - é outra. O tema principal da ainda curta - mas funda - obra do grande actor tornado realizador, centra-se no tributo à figura paterna e nas variações do modo como este pode ser representado: em A Bronx Tale de forma calorosa, nostálgica; em The Good Shepherd pela frieza do recalcamento que leva à tragédia sem redenção. Podemos ganhar a vida ou perdê-la para sempre, em nome da fidelidade ao progenitor. O próprio pai de De Niro, Robert De Niro Senior (1922-1993), pintor expressionista, tem motivado um cada vez maior empenho do filho na preservação e divulgação da sua memória e trabalho. Não é só o nascimento de uma criança que representa o prolongamento da nossa vida num novo ser. Muitas vezes o incontornável facto de sermos filhos de alguém, faz surgir em nós um sentimento de dívida que pode acompanhar-nos toda a vida.


[ao amigo Carlos]: obrigado pela lembrança; devolvo o gesto com esta sugestão.

Arquivo do blogue