11.26.2012

Deste lado da ressurreição


















Na sua anterior aparição enquanto actor, Gran Torino (2008), Walt Kowalski (Clint Eastwood) era morto num final sacrificial, crivado de balas, em câmara lenta, como o fizeram (fazendo história) o Peckinpah de Wild Bunch (1969) ou o Arthur Penn de Bonnie and Clyde (1967). Grand Torino seria igualmente promovido como a última vez que veríamos a mítica figura de Eastwood na tela branca, decisão que o próprio revogaria sem alarde quatro anos mais tarde. A pergunta que se impõe é menos o que terá levado Clint a voltar com a palavra atrás mas porque razão não terá sido Clint Eastwood a realizar As Voltas da Vida/ Trouble With the Curve? O filme é composto de muitos dos principais temas do seu cinema – o envelhecimento, a dificuldade de comunicação entre gerações e a necessidade de haver uma passagem de testemunho entre elas, como se todos tivéssemos que deixar a casa arrumada antes de partir em direcção ao desconhecido. Falar disto tudo revelando a capacidade de dar a sentir a presença do “lado de lá”, assegurada pelo próprio Eastwood que se assumia espectro entre os vivos, implicou sempre um elemento de transcendência que As Voltas da Vida não tem nem quis ter. É um filme simpático e ligeiro, que vibra mais intensamente com as rabugices do velho Gus Lobel (Eastwwod) e os seus valores fora deste tempo, algo que Clint não enjeitaria realizar nas décadas de 70 e 80, mas que preferiu passar ao seu habitual colaborador Robert Lorenz, rodeado pelo habitual staff da Malpaso como se de um filme de Eastwood se tratasse. E temos direito à ressurreição do Clint actor, em modo menor, o que não deixa de constituir motivo de celebração. Aleluia.

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