7.30.2012

Veio a escuridão e engoliu tudo

Passou-se comigo o inverso do que sucede com as figuras de Béla Tarr, cavalo incluído. Enquanto resistiam pensava eu em desistir do filme. Quando desistem veio ao de cima a minha resistência, liberta de condicionalismos de vária ordem que um objecto como "O Cavalo de Turim" obriga a encarar e deixar para trás. Algum cinema, de uma época remota, já foi assim. Refiro-me a aspectos concretos (som e imagem) e filosóficos (tudo o que em desespero usamos para preencher o "vazio" para onde o filme nos atira). Não é possível ignorar a própria desistência do realizador húngaro, que anunciou "O Cavalo de Turim" como o seu derradeiro filme. O animal foi o primeiro a intuir o avanço da escuridão que no final engole tudo, e Béla Tarr remete-se daqui para a frente a um silêncio face ao final dos tempos que a sua obra anuncia. Mais importante que gostar ou não gostar, é vê-la. Depois, especular ou emudecer. Resistir ou como ele desistir.

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