4.29.2011
4.28.2011
O fio de Arianna
4.27.2011
Importa-se de me emprestar o punk metal?
4.26.2011
Admirável mundo sonoro
Sentimos o Brasil presente na totalidade dos dez temas do disco, todos cantados (menos um) num português irrepreensível sem sugestão de sotaque. Todos (menos um) musicados por Afonso Pais, guitarrista de jazz que desde o primeiro registo, Terranova (2004), assumiu por principais influências na sua música Tom Jobim e Edu Lobo (que dois!). Onde Mora o Mundo (2011) é um álbum para o qual concorrem alguma bossa e muito jazz, e onde a voz é entendida como mais um instrumento, com o seu timbre específico – refastelado e grave – e o carácter particular das palavras também. Os músicos convidados fazem parte do núcleo de jazzmen mais atarefados do país: Alex Frazão, Carlos Barreto, Tomás Pimentel, entre outros, asseguram, com a guitarra de Afonso Pais, a elevada qualidade instrumental do disco. Desafiam-nos com harmonias que o ouvido preguiçoso tende a ignorar; com sentidos de uma lírica mais poética que narrativa. Os temas são longos e não se colam ao ouvido. Para aceder a Onde Mora o Mundo primeiro é preciso escutá-lo com os neurónios, em sucessivas audições, sem impaciências fúteis. Depois é "ouver" o que acontece.
Aprender a ser homem
AL - You ever been beaten, Merrick?
MERRICK - Once, when I thought I had the smallpox Doc Cochran slapped me in the face.
Al Swearengen esbofeteia Merrick.
Merrick - Stop it, Al.
Al - Are you dead?
Merrick - Well, I'm in pain, but no, I'm obviously not dead.
Al - And obviously you didn't fucking die when the doc slapped you.
Merrick - No.
Al - So including last night that's three fucking damage incidents that didn't kill you. Pain or damage don't end the world, or despair or fucking beatings. The world ends when you're dead. Until then, you got more punishment in store. Stand it like a man, and give some back.
Deadwood, 2ª época, episódio #7.
Bed scene
ALMA - After we've made love, are you sometimes happy?
BULLOCK - Because I get up from the bed, is that why you wonder? I'll intend something... come to myself realising I've only stood or sat thinking about you. Just now, that you toes are beautiful when I'de intended to replenish the kindling.
Alma- I was raised believing dereliction of duty is the one sure way to happiness.
Bullock - So often with you I've been perfectly happy.
Deadwood, 2ª época, episódio #1.
4.21.2011
Dupla cidadania
Pode-se retirar os Arctic Monkeys da Califórnia (onde produziram parte do álbum anterior, Humbug, sob a orientação de Josh "QOTSA" Homme), mas pelos vistos tão cedo a Califórnia não se ausentará do som dos ingleses: o disco a sair em Junho, Suck It and See, voltou a ser lá gravado; e as guitarras que de novo se ouvem são de origem denominada.
Uma lição (ou duas) de humanidade
4.20.2011
4.19.2011
Violência em Série
A pouco e pouco e bastando ter passado para lá de metade da primeira temporada, torna-se cada vez mais seguro dizer que o tema central de Deadwood é a violência. O contexto da série é hostil, a linguagem usada é rude, a ausência de lei reconhecida por todos conduz a que os homens resolvam os assuntos pelos meios próprios. O instinto da violência foi sendo reprimido dentro de nós pelo processo civilizacional que impôs valores de ordem religiosa e moral. A civilização trouxe outros métodos dos homens se imporem uns aos outros. A violência tornou-se marginal; virou tabu. Não fica bem dizer que nos seduz. Mas o impulso resiste, ou melhor persiste numa zona escondida, e uma série como Deadwood permite alguma catarse. A violência, até pela sua representação, potencia a sensação de estarmos vivos. O que não é a mesma coisa que correr riscos de facto. Actualmente vive-se mais, poupam-nos à dor, educam-nos para uma intensidade de vida controlada. O homem passou a demarcar-se quase por completo de um historial de violência. Do contacto directo com os efeitos da violência. O fascínio que Deadwood poderá exercer resulta também do apelo à nossa natureza primitiva, à memória longínqua do tempo em que se tomava o destino nas próprias mãos. Do que isso implicaria para que nos sentíssemos completos. Agentes da nossa vida. Heróis da nossa história. Como num processo de aceitação da nossa mortalidade.
4.18.2011
A viúva de branco
Um dos valores que registo dos primeiros episódios de Deadwood é a recuperação para a nossa memória sentimental dessa peça de roupa hoje de muito menor uso que é a camisa de dormir. Note-se a imagem de Alma Garret (Molly Parker) junto do cadáver do marido; como a exposição da feminilidade contrasta com os aspectos sórdidos daquele lugar. Uma senhora entre bárbaros. A hipótese perversa.
4.15.2011
Amanhã às 18h30 no café do Maria Matos, Rodrigo Amado conversa com Rui Miguel Abreu sobre este SUPER DISCO
Blame it on Rio
O maior crime em Before the Devil Knows You're Dead (2007) não é o assalto à joalharia dos Hanson do qual resultam duas mortes, mas uma família inteira como oportunidade desgraçadamente perdida. O ressentimento que se alastra a todos os elementos. Os que lamentam não ter conseguido ser os pais que queriam. Filhos que sentem mágoa de não haver correspondido às expectativas dos pais. Casais separados. Casais adúlteros. Gente fraca, cobarde, viciosa. Tudo potenciado à escala do melodrama. "The world is an evil place, Charlie. Some of us make money off of it, and others get destroyed." Este filme de Sidney Lumet tem uma construção não-linear para nos permitir ver melhor que perto da maquinação dos homens o diabo é coisa de crianças.
4.14.2011
Coração de leão
Don't let these fuckers grind you down
Don't let these leeches suck you dry
You've got the heart of a lion
[Lions, faixa #8 do CD Darkness Come Alive]
O hardcore punk e eu temos uma narrativa quebrada à nascença. Tentei Converge (por influência da Decibel); tentei Dillinger Escape Plan (para insistir na conversa com Ira Chernova). Não consigo suportar berraria em muito acelerado. Mas basta que metam uma mudança abaixo ou que afinem os instrumentos para um som mais grave, para a resposta ser outra. Não chego aos Converge e dos Doomriders gosto bastante. Têm um músico em comum: Nate Newton. Baixista nos primeiros; guitarra e voz dos Doomriders. Participa ainda de outro projecto, Old Man Gloom (sludge/doom metal), que deixei para depois. O leão não dorme.
Before and after science
Não me ocorre outra forma tão económica e inteligente de celebrar o Record Store Day (onde se lê My Life in the Bush of Ghosts deve ler-se Before and After Science).
Mais um texto para o divã
O resto do texto no Delito de Opinião. Escrito sábado passado e hoje publicado. Entretanto já vi o filme, como se pode ler abaixo.
O evangelho segundo são Luke
Cool Hand Luke é, sob a capa meritória de fita de segunda linha, um "character study" dos mais brilhantes que me foi dado a ver pelo cinema americano. Engenho do actor principal, do guião de Donn Pearce e Frank Pierson, e de Stuart Rosenberg, o espectador deixa-se seduzir pela resilência e o não-conformismo de Luke Jackson, à semelhança da reacção suscitada nos outros condenados, para depois assistir às tentativas de o vergarem sob todas as formas até que se chegue ao seu âmago de homem sem crenças (tudo é possível para o homem que em nada acredita, porque aquilo que nos equilibra é também aquilo que nos limita). O que pode tentar explicar o comportamento de Luke, do permanente desafio dos outros e de si mesmo, é a sua condição de desapego à vida (que se acentua quando lhe comunicam o falecimento da mãe) e de confronto jocozo com as figuras de autoridade. Luke é um homem sem valores, sem laços, sem nada. Um anti-herói (apesar das condecorações de guerra que lhe apontam) cujo sorriso que lhe serve de imagem esconde apenas o vazio. É alguém que joga com a vida num bluff contínuo, aguentando o embuste até às últimas consequências. "Cool Hand" Luke é a personificação do existencialismo no cenário inesperado de uma prisão da Florida.
O filme de Rosenberg tem outros méritos, embora numa primeira análise a sua figura principal consuma o pano de todas as mangas. O destino de Luke larga-nos em queda livre: podemos glorificá-lo como mártir ou despertar em nós um sentido crítico mais agudo para com o seu individualismo sem causa. Cool Hand Luke sinaliza um abismo da masculinidade (para que serve um homem vazio?), e sim o cinema americano desta época e da década que se lhe seguiu conseguia fazer percutir as cordas profundas da experiência humana. Considerem isto o meu cartaz para sempre fixado "nesta" parede.
4.13.2011
Another perfect day
Turn on
4.12.2011
A especiaria sueca
O mundo da música, como outras realidades, está cheio de contradições. Descobri mais uma na pessoa de Christian "Spice" Sjostränd, baixista e vocalista original dos Spiritual Beggars. "Spice" deixou os Beggars ao fim de quatro álbuns, num conflito de egos com o guitarrista Mike Amott. Juntou-se aos Mushroom River Band que duraram pouco tempo, e hoje lidera uma formação de thrash metal chamada Kayser. Christian Sjostränd nunca se reconheceu na classificação de stoner rock para a música que os Spiritual Beggars faziam e fazem (hoje de forma menos evidente). Disse mesmo que o facto de demasiadas bandas quererem soar como os Kyuss levou a um esgotamento da fórmula que não era mais do que old school heavy metal actualizado. Mas quando escutamos a voz de "Spice" num álbum como Another Way to Shine (1996), editado no ano seguinte ao do último registo dos Kyuss, ... And the Circus Leaves Town, ocorre-nos de imediato a figura de John Garcia no que não pode ser apenas coincidência. E para o roqueiro descomplexado motivo duplicado de celebração.
Pezinho de barro
Muito se tem falado da aparição "ao natural" de Evan Rachel Wood na adaptação de Mildred Pierce da HBO: minissérie de 5 episódios realizada por Todd Haynes. Está aqui a tão desejada peça, no que se nota a falta de à-vontade da deslumbrante Evan, deslocando-se com rigidez da cama para o espelho. O movimento é bonito porque se trata de uma deusa de carne e osso, mas a atitude corporal é denunciada: notem o pezinho em pontas quando ela se senta; o tempo que permanece naquele desplante tão pouco naturalista. O surgimento da figura masculina, em fundo, numa outra divisão da casa, cria um efeito sugestivo sobretudo para quem da série viu apenas este fragmento.
4.11.2011
Beautiful people reclined
Getting personal
Elas controlam
© Anton Kusters
Instead of a guest giving dollar bills to a dancer during a show, it works the other way around: the dancer chooses to collect dollar bills from a guest she chooses. (...) As the night progresses, these dancing acts become more explicit, but always the guest is required to lay still. (O Japão é outro nível, obrigado.)In memoriam Lumet (1924-2011)
Aos 83 anos Sidney Lumet realizou o seu último filme, Before the Devil Knows You're Dead.
Repito: com 83 anos Lumet ainda fez Before the Devil Knows You're Dead.
[Oxalá a Cinemateca tenha condições para nos despedirmos dele com a retrospectiva que merece.]
Metacinema (texto bicudo)
Road to Nowhere/Sem Destino é um filme (o de Monte Hellman) sobre outro filme (o de Mitchell Haven) onde se assiste à rodagem de um terceiro filme (sobre duas mortes forjadas). Enquanto o espectador, no fim da sessão, procura ligar as peças soltas dos enigmas no interior de enigmas dentro de enigmas, subsistem as questões eternas: quem morreu, em que circunstâncias, quem ficou com ou sem quem? Road to Nowhere baralha as respostas porque talvez seja o filme que quer colocar questões: como fazer lidar o espectador com a fantasmagoria do cinema, colando o seu olhar à subjectividade do realizador? Entre nós e as imagens existe uma dinâmica interrogativa de duplo sentido e a modernidade do cinema consubstancia-se no desequilibrio desta dinâmica. Um filme como Road to Nowhere, que por várias vezes escapa ao nexo de causalidade com que o procuramos ler, passa a dirigir-nos mais perguntas a nós do que a nossa capacidade de extrair dele respostas. A interacção com o filme sobrepõe-se à capacidade de lhe descortinarmos uma estrutura. Lidamos com referências dispersas que nos prendem na medida em que desejamos interpretar o que nos fascina (o mistério, a beleza) para que o prazer possa ser repetido (quando não existe prazer maior do que aquele que não se anuncia). Assistir a Road to Nowhere acarretará sempre um grau de frustração. É a maneira de o filme de Monte Hellman se manter vivo dentro de nós, desafiando-nos a a ele regressarmos. Sofisticado exercício auto-reflexivo que é um verdadeiro quebra-cabeças. E as perguntas eternas persistem: quem morreu, em que circunstâncias, quem ficou sem ou com quem? Se me perguntarem, respondo: gostei do filme mas o prognóstico é ainda reservado.
4.08.2011
The Beatles
this is my boyfriends tattoo.
he obviously loves the beatles - and i love him (and his ink)!
[Fuck Yeah, Tattoos!]
Kaputt!
Alguém há-de fazer um filme assim
Meia bala e força
Quem vier em busca de subtilezas de forma ou verbo em Tropa de Elite 2, dará o seu tempo por maldito. O filme de José Padilha tem a carpintaria de um série B (no caso um série BOPE) que os americanos deixaram de exportar a não ser para alimentar o fluxo ininterrupto dos canais por cabo, embora em relação à parte 1 se note aprimoramento ao nível da pós-produção: do som, sobretudo. Tropa de Elite 2 deixa em fundo os traficantes das favelas, e centra-se desta vez no peixe graúdo: os políticos que manipulam localmente o sistema. Padilha faz um filme que denuncia a corrupção sem ser exaustivo ao ponto de comprometer o ritmo da denúncia. Podemos pensar no Dirty Harry realizado por um aluno aplicado de Michael Mann, menos polido. A fita, no entanto, é boa. Funciona. Galvaniza e gere de modo habilidoso o seu principal trunfo: a convergência moral do ex-coronel do BOPE Roberto Nascimento e do deputado Fraga, que se aliarão para desmascarar os políticos e os polícias corruptos. Dir-se-ia que o objectivo particular de José Padilha neste Tropa de Elite 2 foi traçar a aproximação entre dois homens que partem de campos ideológicos opostos. O justiceiro com currículo de sangue ao serviço do Batalhão de Operações Especiais une-se ao político cujo idealismo não resiste à prova da realidade. Tropa de Elite 2 mostra como a natureza de cada homem se define em função dos seus valores. Muitos cadáveres depois a missão não está cumprida.
4.07.2011
Nunca mais digas nuca
Origem: Tush
Gosto de imagens de nus vistos de costas, porque uma mulher sem rosto pode substituir pela idealização todo um género.
4.06.2011
Planeta rock
Ninguém bate a Mongoose
Também não cheguei lá à primeira. Mongoose é marca de bicicletas para manobras radicais, informação que em nada contribui para o impacto deste momento estratosférico na discografia dos Fu Manchu. Uma música que reúne os elementos que caracterizam o stoner rock/metal. A saber: a afinação grave dos instrumentos (todos), uma certa turbulência eléctrica em fundo, a eficácia repetitiva dos riffs. Guitarras que soam como baixos, e baixos que soam a motores quitados. Manobras radicais de dar ao pedal sem sair do sítio. Deixo a versão original e a melhor captação ao vivo alojada no lugar do costume.
4.05.2011
Polémico mas não trôpego
Se se confirmar que Domingos Paciência será treinador do Sporting na próxima época, quero mais é que o Braga acabe o campeonato à frente da minha equipa. Que se lixem os demagogos que botam opinião politicamente correcta seja onde for. O êxito de Domingos, na condição de nosso futuro treinador, é sinónimo de profissionalismo e competência, de que vamos buscar um técnico que pegando pelo segundo ano consecutivo numa equipa menos onerosa, termina de novo à frente dos molengas leoninos. Tenho bem presente o fiasco Paulo Sérgio, que na época transacta perdeu o quarto lugar na última jornada, e o respectivo acesso à Europa, contra o opositor directo e em casa. Chega de perdedores. Venha gente capaz, ambiciosa e triunfante para que o verde deixe de ser cor da inveja e volte a tingir-nos de esperança.
4.04.2011
Lança-chamas
Se é revivalismo é preciso soar vivo. É o que sucede neste disco dos suecos Spiritual Beggars, próximo de completar dez anos, uma descoberta que começa por agarrar quem gosta de Uriah Heep e Deep Purple, juntando a que do outro lado da estrada os sons apontam para o deserto californiano de onde os "Kyuss" regressaram à vida. Os que não tiverem uma perna em cada margem só gozam o prazer pela metade. Escusado será dizer que estou a gozar por inteiro.
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