4.11.2011
Metacinema (texto bicudo)
Road to Nowhere/Sem Destino é um filme (o de Monte Hellman) sobre outro filme (o de Mitchell Haven) onde se assiste à rodagem de um terceiro filme (sobre duas mortes forjadas). Enquanto o espectador, no fim da sessão, procura ligar as peças soltas dos enigmas no interior de enigmas dentro de enigmas, subsistem as questões eternas: quem morreu, em que circunstâncias, quem ficou com ou sem quem? Road to Nowhere baralha as respostas porque talvez seja o filme que quer colocar questões: como fazer lidar o espectador com a fantasmagoria do cinema, colando o seu olhar à subjectividade do realizador? Entre nós e as imagens existe uma dinâmica interrogativa de duplo sentido e a modernidade do cinema consubstancia-se no desequilibrio desta dinâmica. Um filme como Road to Nowhere, que por várias vezes escapa ao nexo de causalidade com que o procuramos ler, passa a dirigir-nos mais perguntas a nós do que a nossa capacidade de extrair dele respostas. A interacção com o filme sobrepõe-se à capacidade de lhe descortinarmos uma estrutura. Lidamos com referências dispersas que nos prendem na medida em que desejamos interpretar o que nos fascina (o mistério, a beleza) para que o prazer possa ser repetido (quando não existe prazer maior do que aquele que não se anuncia). Assistir a Road to Nowhere acarretará sempre um grau de frustração. É a maneira de o filme de Monte Hellman se manter vivo dentro de nós, desafiando-nos a a ele regressarmos. Sofisticado exercício auto-reflexivo que é um verdadeiro quebra-cabeças. E as perguntas eternas persistem: quem morreu, em que circunstâncias, quem ficou sem ou com quem? Se me perguntarem, respondo: gostei do filme mas o prognóstico é ainda reservado.
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