4.30.2008

Serotonina

SEROTONIN
(Nine Horses, "Snow Borne Sorrow")

I kick the sheets
Until they rise like mountain ranges at my feet

I’m in the dark
God only knows the torment writ large upon my heart

What wouldn’t I?
What wouldn’t I give?

It comes to this
I’m only sure of things I know now don’t exist

There’s no precision
I’m inside-outside-in I want subdivision

And all of this fills my aching head
I hate this space, the luxury hotel bed.
Oh dear, oh me-oh-my
Got to concentrate just to keep from trying
Oh dear, oh me-oh-my
Got to concentrate just to keep from trying
Don’t lose it
Things move rapidly
Don’t lose it
Try to maintain composure
Don’t lose it
The dead are haunting me
Out with it
Let’s get it over.

What wouldn’t I?
What wouldn’t I give?

I’m thoroughly wasted
My mind’s hallucinating lucidity

It’s over sensitized
And something’s moving on the periphery

What wouldn’t I?
What wouldn’t I give?

4.28.2008

Dia do desempregado

















A Atalanta Filmes faz chegar às lojas na próxima sexta-feira, dia 2 de Maio, um pack-DVD com "dois grandes filmes de Aki Kaurismäki.": Luzes no Crepúsculo e O Homem Sem Passado. Dois grandes filmes, podem bem dizê-lo.

Indie 2008: Primeiro fim-de-semana














Clint Eastwood, A Life in Film (2007)
Ou o maior cineasta em actividade pelo olhar do homem que com Scorsese fez a travessia pela história do cinema americano: Michael Henry Wilson. Pragmatismo, pragmatismo, pragmatismo. Na imensidão e na paz do rancho Mission em Carmel, Eastwood discorre com bonomia pela história da sua vida, e a dos seus filmes enquanto actor e realizador. O grande homem resiste a teorizar sobre aquilo que faz: interessa-lhe sobretudo contar histórias que nunca viu contadas pelo cinema. Para fãs de Clint, essencial ao cubo.
The Mission (1999)
Há qualquer coisa de musical neste filme de Johnnie To. Provavelmente, e ao que consta, haverá um sentido coreográfico bailado em grande parte da sua filmografia. Os gangsters de To têm a "pinta" do Travolta da "febre de sábado à noite", e distraem-se com infantilidades tal como os "cães" condenados de Tarantino. The Mission vem a ser uma espécie de Sonatine de alta custura. Embora eu prefira ainda aquele filme de Takeshi Kitano, não deixo de admirar a coolness de Johnnie To, e o seu prazer em reter a acção para melhor lhe fixar o movimento.
Memories (2007)
Filmes curtos de Harun Farocki, Pedro Costa e Eugène Green. Passemos rapidamente por Farocki e o seu "noite e nevoeiro" com demasiada auto-consciência, e pelo objecto de Costa que conserva partes da fulgurância da última longa, mas em "marcha" algo acelerada. E fixemos o nome de Eugène Green pelo uso requintado da palavra (como Rohmer), pela frequente expressividade pura da imagem (como Bresson), sentidas, como convém (cento e alguns anos mais tarde na história da sétima arte, dificilmente se poderá fazer passar candura sem distanciamento), a meio do saudável perfume da ironia. Green diz-se próximo de Ozu, e isso poderá observar-se pelo modo de apresentar as coisas na sua despojada evidência. É um cinema doce, repleto de deliciosos anacronismos, onde até o que é calado se faz de uma música interior.
Running on Karma (2003)
Novo filme de Johnnie To, e este para baralhar quaisquer ideias que visem espartilhar a obra do asiático. Running on Karma é parte burlesco, parte místico, parte policial, tem coreografias de artes marciais, concursos de bodybuilding, shows de strip masculino, contorcionismo, o protagonista "veste" um cabedal tipo incrível Hulk, e o filme não desacelera um minuto que seja. Dado o exotismo da proposta, a hora da sessão não podia ser mais apropriada. Meia-noite "xunga", pois claro.


O IndieLisboa pode ser acompanhado diariamente, aqui.

A lenta asfixia

















James Gray não deve mais a Coppola ou a Scorsese do que qualquer um de nós que admiramos os seus filmes. É injusto dizer-se que ele procura colocar-se do lado daquelas referências, copiando-as. Gray simplesmente acredita que se pode filmar como se estivéssemos nos anos 70 ou 80. Aqueles são os modelos de cinema que lhe interessam - assim como poderíamos acrescentar Elia Kazan ou Luchino Visconti -, mas James Gray tem as suas próprias histórias para contar, e o seu modo de as contar. Temas pessoais como o do indivíduo acossado - Tim Roth no primeiro filme, Mark Wahlberg no segundo, e agora Joaquin Phoenix (extraordinário actor) -, a "ovelha negra" que volta a procurar refúgio na família, para finalmente assistir à implosão desta. Os filmes de James Gray constroem-se por um processo de lenta asfixia, são agónicos do princípio ao fim, e estão ao mesmo tempo cheios de detalhes que descrevem um universo de banalidade, de gente comum. Olhem de novo para a imagem acima, cuja escolha foi bastante intencional. Acho que aquilo de mais belo que o cinema de James Gray tem para oferecer é o seu conjunto de figuras com a estatura exacta da vida, que nos comovem pela sua busca dos vínculos primordiais (o amor, a amizade, a lealdade), e cujo trajecto tem a marca dos sobreviventes. São filmes sobre a possibilidade de nos redimirmos aos olhos daqueles que mais importam nas nossas vidas. Nada disto é novo, mas sobre isto nunca se farão suficientes filmes. A We Own the Night/ Nós Controlamos a Noite só apetece dizer, "bem-vindo à família!".

4.24.2008

Camané

Não é alto, mas não há maior do que ele.

"Sei de um Rio", fado-canção retirado do CD "Sempre de Mim". Realização de Bruno de Almeida.

Novinho em folha. E a favor do amor.

4.23.2008

Conto de fadas

Je cherche en vain la porte exacte
Je cherche en vain le mot exit
Je chante pour les transistors
Ce récit de l'étrange histoire
De tes anamours transitoires
De Belle au Bois Dormant qui dort

("L'anamour", Serge Gainsbourg, 1969)

4.22.2008

Um sentido de dignidade
























Ao rever A Raínha, de Stephen Frears, a questão fulcral de novo se impôs. Como é possível que a monarca do filme mostre maior comoção perante a morte do veado "imperial", às mãos de um vulgar caçador desportivo de fim-de-semana, do que ao receber a notícia do desastre e consequente morte de Diana? Tudo é questão de dignidade, valor que no filme de Frears transcende as espécies. E que é sobretudo sentido como que numa inspiração: um animal, uma situação, uma paisagem, um rosto podem traduzir para nós um sentido de dignidade que experimentamos, que nos inspira, que nos contagia como se dele fizéssemos parte. O veado de 14 pontas (sinónimo da sua idade avançada, tal como a da Raínha Isabel II) terá tido uma existência mais digna do que a sua morte: imaginando que o homem que o abateu não terá sido sensível às ressonâncias quase mitológicas que um espécime daquela natureza encerra. Já a ex-princesa Diana de Gales acabou sendo vítima da volúpia mediática que alimentou a sua popularidade universal: a ela assentaria com alguma justiça a expressão "live by the press, die by the press". Parece-me finalmente que o filme de Stephen Frears, de uma aparente neutralidade que não deixa de surpreender, se distancia da hipócrisia cosmética dos media para se colocar discretamente do lado dos valores mais antigos, tal como representados pela figura da raínha, que vive rodeada por gente do seu meio que não é alheia a fraquezas (o Príncipe Carlos) e preconceitos (o Príncipe Filipe). Coube a Stephen Frears, partindo do excelente guião de Peter Morgan, traduzir o conflito de valores e de interesses à escala de um país, evitando cair no retrato demagógico. E, na minha opinião, conseguiu-o.

Um diálogo da raínha, no filme: "Hoje em dia as pessoas pedem glamour, lágrimas, o grande espectáculo. E não sou boa a dar-lhes isso, nunca fui. Prefiro guardar os sentimentos para mim. (...) Primeiro está o dever, nós vimos depois."

Uma longa entrevista com Stephen Frears, na Slate, a propósito do filme (a imagem corresponde à reprodução do quadro de Edwin Landseer,The Monarch of the Glen, citado nesta peça).

4.21.2008

Plano universal de leitura



















Espantoso livrinho de Alan Bennett (que jeito daria que os bons livros não fossem nunca além das cento e tal páginas) sobre a monarca inglesa e o seu despertar tardio para o prazer da leitura, que passará a exercer de forma compulsiva. A ficção de Bennett não sacrifica nunca a plausibilidade das situações, oferecendo um retrato humano da nunca nomeada Isabel II, um pouco à semelhança do que sucedia no óptimo filme de Stephen Frears, The Queen. O livro de Alan Bennett, que não ocupará um leitor vagaroso mais de meia-dúzia de horas, é exemplar na capacidade de concisão e de estilo, fazendo-nos atravessar todo o processo de enamoramento da Rainha com os livros (que levam sempre a novos velhos livros) e mais tarde com a própria escrita, tocando ao de leve mas com enorme perspicácia naquilo que podemos considerar como universal na experiência da leitura: músculo que a protagonista a certa altura conclui, se exercita como qualquer outro. Fica bastante claro que o objectivo de Alan Bennett não é o de levar o leitor aos autores que nomeia sem nunca sobre eles ir além das generalidades que fizeram lenda. The Uncommon Reader trata exclusivamente das possibilidades despertadas em cada um de nós pelo acto de ler, de ler continuadamente, com cada vez maior interesse e sentido crítico, o que fará do leitor deste ou de qualquer outro livro, uma pessoa tão fora do comum quanto as demais. A experiência de ler será sempre a da solidão mais ou menos acompanhada. Pode-se começar por ler para nos sentirmos menos sós, desconfiando embora que o leitor maduro é aquele que tomou consciência de que a solidão é a essência de todos os momentos. Aprender a ler será então não tanto o acto de torná-la suportável, como mesmo até de a celebrar. God save Alan Bennett.

4.16.2008

Sabedoria feminina


















Devemos procurar o amor na mulher que nos faz gostar mais de quem somos quando estamos com ela.

a partir de O Turista Acidental: livro de Anne Tyler; filme de Lawrence Kasdan.

O anónimo Mr. Eno

É possível encontrar nas lojas de usados pelo menos um CD de Roger Eno (n. 1959), o discreto irmão de Brian sobre o qual a informação é, na proporção inversa, escassa: até no próprio site. O CD chama-se Lost in Translation e foi gravado na primeira metade da década de 90. Este Eno não foge à regra de atracção pelo ambientalismo, mas ao contrário de Brian que fez gerar novos mundos (com base em novas possibilidades), acrescentados ao que dos sons e da sua organização em música era por nós conhecido, Roger encetou o movimento oposto na direcção do bucolismo e dos idiomas perdidos no tempo. A música de Roger Eno aproxima-se em Lost in Translation da conjugação do impressionismo pastoral (passe o quase pleonasmo) de Virginia Astley, com melodias que parecem trazidas da herança celta, e com o canto gregoriano. O disco sugere a espaços o revisionismo xaroposo de Enya, reforçado pela crescente adesão a universos de mitos e lendas demasiadas vezes tratados de modo púbere. Vale a Roger Eno um princípio de despojamento onde impera a pequena forma, a insinuação melódica que se furta à grandiloquência da História e do drama. E depois há um desejo de anonimato, expresso até na organização dispersa das notas que acompanham o disco, que parece querer libertar a música de quem lhe deu - ou lhe perpetuou a - origem. O que Roger Eno terá ido buscar a outros (às fontes históricas ou aos espaços naturais), parece não querer aqui reclamar para si. No exacto oposto da popularidade e do reconhecimento justo votado a seu irmão Brian Eno (que em Maio deste ano celebra o sexagésimo aniversário; como não me canso de referir), o anónimo Mr. Eno mantém-se ligado à música e de vez em quando dá notícias. Onde Roger observa, Brian intervém.

4.15.2008

Numa palavra
























Francisco Mendes da Silva.

4.14.2008

Agora a sério

Como vês, miúda, os teus lugares passaram a fazer parte deste também. "This House is Empty Now", pelo Bacharach com o Costello, para te receber da melhor forma possível. E sem sequer te linkar.

4.11.2008

As palavras e as coisas

Bom em qualquer língua.

O fôlego do Leão

















Objectivos alcançados:
- Conquista da Supertaça.

Objectivos falhados:
- Passar a fase de grupos da Champions.
- Sagrar-se Campeão Nacional.
- Triunfo na Taça da Liga.
- Atingir as meias-finais da UEFA.

Objectivos a alcançar:
- 2º lugar no Campeonato e respectivo acesso directo à Liga Milionária.
- Conquista da Taça de Portugal.

Conclusão:
Na constatação objectiva do apreciável conjunto de insucessos - um dos quais, pelo menos, de difícil aceitação -, a época pode ainda ser positiva do ponto de vista (económico e também) desportivo, e tudo se joga nas próximas breves semanas. O trabalho da equipa técnica e dos dirigentes que lhe estão próximos deve contribuir para a motivação e a concentração da equipa. Os desaires, como na vida, constituem parte do crescimento. O Sporting só não pode ser uma equipa em contínuo crescimento adiado.

4.07.2008

Versus

Uma definição muito bonita, ouvida da boca de uma pessoa que os conhece de perto: "o Camané vive aquilo que canta, ao passo que a Aldina canta aquilo que vive." Vai ser um prazer comparar uma e outra coisa nos discos que ambos lançarão em breve (o primeiro, de Camané, sai já no dia 21).

4.04.2008

Provável Lopes, antes e depois de Lopes
















A Cinemateca recebeu ontem mais um filme português em antestreia: Fernando Lopes, Provavelmente, de outro Lopes, João Lopes, que escrevera o argumento das duas últimas longas-metragens do Fernando, de quem é amigo há mais de trinta anos. Apesar do facto, a amizade que une os dois Lopes, há claramente um antes e um depois de João na filmografia de Fernando. Vejam-se os filmes e note-se como a contribuição de um traz ao universo do outro imagens e temas novos, novas fixações. A escrita de João Lopes inscreve uma marca autoral muito sensível em filmes como Lá Fora e 98 Octanas. Goste-se ou não se goste. Para mim que penso conhecer melhor a escrita do João Lopes do que o cinema do Fernando, isso é ainda mais sensível. E regresso a Fernando Lopes, Provavelmente, para apresentar superficialmente a minha "teoria". O documentário, que felizmente não o é no sentido comodista do termo, começa por ser sobre o Fernando para progressivamente deixar-se impregnar dos temas e das obsessões do João. Isso observa-se em certos momentos da condução da conversa - as perguntas que João faz a Fernando (o amor, o amor, o amor, sempre o amor e a sua possibilidade) e nas imagens que o João escolheu a partir dos filmes do Fernando - presumindo eu que a selecção tenha sido feita a um e não por ambos. Atendendo aos resultados, reconheço vários pontos de interesse a Fernando Lopes, Provavelmente, que começam no trabalho com as imagens e os sons (aquilo que Fernando Lopes mais de uma vez refere como tendo sido o que sempre quis fazer na vida) e no tempo dedicado a um indivíduo que tem uma história de vida riquíssima: no que se vê e fala e no mais que se sabe ou se imagina. O que eu gostaria de ver feito de outra maneira neste mesmo documentário, era o João deixar-se conduzir pelo Fernando Lopes, revelando um pouco mais do homem pelas palavras dele. Mas isso, conhecendo o João na medida em que julgo conhecê-lo, não estaria próximo da sua forma de amar. Seria uma impossibilidade. E seria, como é óbvio, um filme diferente.

Fernando Lopes, Provavelmente passa numa versão mais curta, no próximo domingo, na RTP2.

4.03.2008

Lições de música



Inspirado noutras Lições de Música. Como diz João Paulo Feliciano, todos aprendemos por imitação.

4.02.2008

Coeurs












A proeza do filme de Alain Resnais vem do facto de ser um objecto claramente fora de moda - espécie de musical à Demy, de filme coral como........ Magnolia, mas que não é cantado, e que investe na subtil insinuação da artificialidade dos espaços (foi todo filmado em estúdio) -, que ao mesmo tempo mostra ser absolutamente actual. Não existe tema mais dos nossos dias que a solidão das pessoas (e as suas máscaras). E poucos serão os actores que à semelhança da "família" Resnais a possam representar com esta graciosidade. Nota-se que o jeu dos actores é mais importante para Resnais do que o cinema, o teatro ou a vida. Pode ser esta uma explicação para que o seu filme consiga ser simultaneamente ligeiro e melancólico. Lúdico e grave.

Amanhã estreia.

4.01.2008

Filmes da treta















conceito a desenvolver

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