4.21.2008

Plano universal de leitura



















Espantoso livrinho de Alan Bennett (que jeito daria que os bons livros não fossem nunca além das cento e tal páginas) sobre a monarca inglesa e o seu despertar tardio para o prazer da leitura, que passará a exercer de forma compulsiva. A ficção de Bennett não sacrifica nunca a plausibilidade das situações, oferecendo um retrato humano da nunca nomeada Isabel II, um pouco à semelhança do que sucedia no óptimo filme de Stephen Frears, The Queen. O livro de Alan Bennett, que não ocupará um leitor vagaroso mais de meia-dúzia de horas, é exemplar na capacidade de concisão e de estilo, fazendo-nos atravessar todo o processo de enamoramento da Rainha com os livros (que levam sempre a novos velhos livros) e mais tarde com a própria escrita, tocando ao de leve mas com enorme perspicácia naquilo que podemos considerar como universal na experiência da leitura: músculo que a protagonista a certa altura conclui, se exercita como qualquer outro. Fica bastante claro que o objectivo de Alan Bennett não é o de levar o leitor aos autores que nomeia sem nunca sobre eles ir além das generalidades que fizeram lenda. The Uncommon Reader trata exclusivamente das possibilidades despertadas em cada um de nós pelo acto de ler, de ler continuadamente, com cada vez maior interesse e sentido crítico, o que fará do leitor deste ou de qualquer outro livro, uma pessoa tão fora do comum quanto as demais. A experiência de ler será sempre a da solidão mais ou menos acompanhada. Pode-se começar por ler para nos sentirmos menos sós, desconfiando embora que o leitor maduro é aquele que tomou consciência de que a solidão é a essência de todos os momentos. Aprender a ler será então não tanto o acto de torná-la suportável, como mesmo até de a celebrar. God save Alan Bennett.

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