8.31.2007

Um jean-look para ti


I'm in love with a pop star




Continuem a chamar-lhe de secundário













William Hurt, cuja participação em A History of Violence, de Cronenberg, foi tão notada que até parecia tratar-se de um regresso (quando o homem nunca deixou o cinema por mais de um ano), é a principal razão para ver Mr. Brooks (A Face Oculta de Mr. Brooks), espécie de policial/ melodrama familiar/ pós-moderno que não consegue aguentar as subversões aos géneros por onde investe continuamente. O seu realizador chama-se Bruce A. Evans - tem no currículo ainda trabalhos como produtor e argumentista - e conta já com 60 anos de idade: curioso como ao longo de todo o filme, Mr. Brooks, relacionava este constantemente com January Man, de que tenho muito vaga memória; por outro lado certos pormenores de realização e algumas ingenuidades do script faziam-me pensar que Evans pudesse ser um jovem cineasta cujas referências remetessem para o cinema produzido na América na década de 80 e suas variações autorísticas menos populares: tipo Alan Rudolph, Pat O'Connor, Tony Bill, Robert Altman, etc.
William Hurt, em Mr. Brooks, é Marshall, o alterego do protagonista, interpretado por Kevin Costner. A má consciência de Mr. Brooks e também a sua superlativa inteligência. Pena que o filme não consiga articular todas as referências que convoca e que são tão inesperadas quanto isto: o anti-heroísmo soturno de Bruce Wayne (Batman) ou Patrick Bateman, o psicopata de Bret Easton Ellis (embora sem o sarcasmo deste, tão bem recuperado no filme de Mary Harron). Mesmo assim, vê-se, principalmente por William Hurt. Continuem a dar-lhe papéis secundários de composição que ele deixa transparecer um tal gozo ao fazê-los que é contagiante.

8.28.2007

Mulheres sem medo
























Elizabeth Shue (com cão) e Gisele Bündchen (sem cão).

Para o Luis Miguel Oliveira










O meu Top 5:

Forrest Whitaker no Ghost Dog, de Jim Jarmusch; Edward Norton no American History X, de Tony Kaye; Jeff Bridges no The Fabulous Baker Boys, de Steve Kloves; Denzel Washington no He Got Game, de Spike Lee; William Hurt no Accidental Tourist, de Lawrence Kasdan.

[o mais antigo é de 1988]

O senhor extraterrestre












A música, estava certo, só podia ser excelente. Imprime uma marca de realismo onírico ao filme de Araki que é das coisas mais comoventes que o filme tem. Um amigo objectava à saída em relação à cena em que Neil e Wendy estão num drive-in vazio fantasiando sobre o filme das suas vidas até aí, quando de repente - sem que nada antes o fizesse prever e a par com o regresso da banda-sonora de Harold Budd e Robin Guthrie - começa a nevar... Pois é exactamente este tipo de liberdades poéticas, assim como a não demonização da figura do pedófilo (que um dos rapazes recalca sob a história do rapto levado a cabo por alienígenas que explicaria o abuso de que foi alvo), que traduzem a originalidade e a grandeza humana do filme de Araki: um pouco à semelhança do que sucedia com Little Children, de Todd Field, quanto a mim mais desequilibrado mas igualmente estimulante na abordagem às imperfeições dos vários personagens, todos demasiadamente frágeis.
Regressando a Mysterious Skin, de Greg Araki, a sensação que fica é de que participa da energia visual e da riqueza dramática mais comum hoje em dia nas melhores séries televisivas (é de onde provêm os principais jovens actores deste filme), onde a sensibilidade gay se encontra cada vez mais presente (de Six Feet Under a Angels in America), facto que só merece ser saudado. A afirmação da diferença liberta a meu ver a diversidade das histórias, mais complexas, todas as tendências e géneros incluídos, integrando dilemas e perplexidades em completa sintonia com a deriva dos tempos actuais: a deriva individualista onde o homem procura encontrar-se no vasto campo de possibilidades reais ou virtuais que tem na frente, o que leva à constituição de cenários alternativos que o fazem sentir melhor integrado pelo carácter de excepção daqueles. No mundo presente cercado de imagens (por todos os lados), de hedonismo e de constante escapismo como é o nosso, é talvez mais justo que se recupere a representação de molestadores como extraterrestres do que como a enésima variação do cavernícula sórdido do bairro. Ainda para mais as vítimas tratando-se aqui de crianças (relembar que Pascal Bruckner nos caracterizou como "tentados pela inocência", e que Anthony O'Hear nos classificou de "crianças de Platão"), como todas, plenas de imaginação e ainda totalmente livres nas associações que estabelecem para os sentidos da vida. Que Greg Araki filme isso tudo sem recusar a ideia de que a partilha da sexualidade é experiência que não deve ser antecipada na vida de nenhum ser humano - com o risco que acarreta de acidentar o processo de maturação emocional do indivíduo -, é a confirmação de total maturidade de um cineasta que soube colocar o virtuosismo formal e a riqueza visual do seu cinema ao serviço de histórias que nos fazem pertencer a esse todo infinitamente complexo constituído por pessoas como nós: insistindo eu sobre o que à nossa existência confere a progressiva dependência de gadgets (e da comunicação não presencial), sugerindo ficções de nós próprios. É como se Araki dissesse que nos tornámos todos um pouco mais extraterrestres e há que aprender a aceitá-lo e, como tal, a partilhá-lo. Mysterious Skin não é cinematograficamente um OVNI tão diferente de nós. Antes pelo contrário.

8.27.2007

Discos do fim da semana











Começo por Glen Campbell sings the best of Jimmy Webb 1967-1992, colecção de 24 canções quase todas insuportavelmente belas - no sentido das composições e letras de Webb serem de tal modo, e paradoxalmente, sofisticadas e terra-a-terra, que originam emoções que embaraçam mesmo sem ter ninguém por perto (há ali algo de kitsch que se liga à pureza de intenções, às coisas que acontecem no amor porque tem de ser, e ao registo da pequena história anónima, enquadrada pela vasta "parede sonora" que é como que a apropriação lírica da paisagem americana estrada fora) - que o jovem mas muito rodado jornalista Stephen Thomas Erlewine classifica, em excelente texto incluído no CD, de pop progressiva ou country pop. Percebi ao ouvir estes cerca de oitenta minutos de música, que parte do bucolismo cinemático que sempre me fascinou nas composições e nos solos de Pat Metheny terá sido influenciado por Jimmy Webb (admirador confesso de Burt Bacharach), um daqueles artesãos de génio da escrita de canções que não recordamos vezes suficientes.
Génio é também a palavra que primeiro ocorre para caracterizar essa obra-prima que é Innervisions, o melhor disco de Stevie Wonder de sempre - aguardo tranquilamente por prova em contrário... Foi gravado em 1973 e beneficia neste século de edição remasterizada que faz ressaltar mais ainda a sua musicalidade sôfrega, imparável, surpreendente. Um clássico absoluto e, como tal, daqueles objectos cujo prazer proporcionado a quem escuta tem garantia vitalícia.
Hudson River Meditations serviu de fundo às minhas últimas práticas de asana em casa. Podia ter escrito simplesmente yôga, mas quis solenizar a prosa, tratando-se de um aspecto tão central e sério na minha vida. Lou Reed conta a batida história da música que começou por fazer para proveito pessoal - o acompanhamento dos seus momentos dedicados à meditação ou ao Tai Chi -, que os amigos mais chegados manifestaram interesse em possuir cópia e que o interesse ter-se-á estendido ao ponto de justificar uma "modesta" edição oficial (pela Sounds True). O disco ainda não abandonou o fundo lá de casa, tendo no entanto dado para perceber já duas coisas: não é nenhum Brian Eno, embora a aquisição se justifique para quem se sinta motivado em quebrar com a escuta mais activa e entrar em muito lenta e liberta interacção com as repetidas, incontáveis e sempre distintas impressões sugeridas pelo minimalismo ambiental: que no caso destas Hudson River Meditations teve produção do imprescindível Hall Willner. Goste-se ou não se goste, não é justo desvalorizar a curiosidade de Lou Reed por outras possibilidades de criar música e, mais importante que isso, por ele próprio.

Também neste final de semana:
De Karen Dalton, In My Own Time e por último Colleen et les Boîtes à Musique. Apenas no que respeita aos recém-chegados.

8.24.2007

Estreia






















Alguns irão ver o filme pela música.

8.23.2007

Argumentos finais



















(...) Coltrane emerged as a major jazz figure in the late 1950s. Born in North Carolina, he developed as a musician in Philadelphia in company with another important saxophonist, Benny Golson, his lifelong friend. It was his membership with the Miles Davis group that pulled people's coats, to use an old jazz musician's phrase, to his emerging brilliance.
John was said to play with a hard tone, and some referred to his playing as angry. This puzzled him. He said to me, “Why do they say my playing is angry? I'm not angry at anything.” (...) I thought John had an exceptionally pretty sound. I attended one of his record sessions entirely devoted to ballads; indeed I was there because John wanted me to write the liner notes for it, which I did. I remember that session (and the album documents my impression) for enthrallingly tender playing. It will stay with me all my life. He also did an album with the late singer Johnny Hartman in which this aspect of his work is again evident.
But he could play with incredible fire. He was, at least in his early years, deeply interested in arpeggiated chords, and would give an impression of piling one chord on top of another (although that obviously is technically impossible on the saxophone) with such rapidity that writer Ira Gitler called it “sheets of sound”, a term that has stuck ever since. He also played at enormous length, his solos lasting fifteen minutes or more. My Favorite Things, recorded at the Newport Jazz Festival in 1963, is 17 minutes 24 seconds long. This used to annoy Miles Davis, leading to a rather famous exchange: he told Miles that he'd sometimes get into a solo and wouldn't know how to get out of it. Miles reportedly replied, “Try taking the horn out of your mouth.”
John's religious quest continued to the end. He began to eschew the steady beat of jazz for a freer approach, and it lost him some of his audience “ and indeed some of his musicians. The magnificent and influential pianist McCoy Tyner left at the end of 1965 and then great Elvin Jones, his drummer for many years, left in 1966, both of them using the same phrase about the group in interviews, calling the group “a lot of noise.” (...)
(...) The Miles Davis group circa 1959 gestated three major jazz influences, Miles himself, Bill Evans, and John Coltrane. We have not seen their like again, and we're not likely to. Though skillful jazz players will continue to emerge and struggle to make a living, there is a growing uneasy feeling in jazz circles that this music is at the end of its rich creative run: approximately 70 percent of CDs sold are reissues of music recorded decades ago. If it is over, Coltrane must be viewed historically as one of its last great innovators. (...) [Gene Lees in Allaboutjazz.com]



















(...) I won't waste time trying to be funny about John Coltrane, because Philip Larkin has already done it, lavishing all his comic invention on the task of conveying his authentic rage. (For those who have never read Larkin's All What Jazz, incidentally, the references to Coltrane are the ideal way in to the burning center of Larkin's critical vision.) There is nothing to be gained by trying to evoke the full, face-­freezing, gut-churning hideosity of all the things Coltrane does that Webster doesn't. But there might be some value in pointing out what Coltrane doesn't do that Webster does. Coltrane's instrument is likewise a tenor sax, but there the resemblance ends. In fact, it is only recognizable as a tenor because it can't be a bass or a soprano: It has a tenor's range but nothing of the voice that Hawkins discovered for it and Webster focused and deepened. There is not a phrase that asks to be remembered except as a lesion to the inner ear, and the only purpose of the repetitions is to prove that what might have been charitably dismissed as an accident was actually meant. Shapelessness and incoherence are treated as ideals. Above all, and beyond all, there is no end to it. There is no reason except imminent death for the cacophonous parade to stop. The impressiveness of the feat depends entirely on the air it conveys that the perpetrator has devoted his life to making this discovery: Supreme mastery of technique has led him to this charmless demonstration of what he can do that nobody else can. The likelihood that nobody else would want to is not considered. (...) [Clive James in Slate]


Escutem a música, sintam e pensem pela vossa própria cabeça e decidam. Mesmo que não se decidam, já ficaram a ganhar. Aqui penso que todos concordamos.

"Meu Deus, onde pões tu o Ellington: atrás do Coltrane?!"





















Juntos.

Teimosias











O mito Scolari é como a ideia feita de que Fernando Santos nunca sorri. Deixem partir o brasileiro - para Inglaterra, para a Ucrânia (dou uma ajuda: cadarço diz-se шнурок na língua de Anatoliy Tymoshchuk), para onde o quiserem - e entreguem a selecção ao homem que arcou injustamente com o ónus da crise do Benfica. Santos é capaz (iluminados contam-se pelos dedos do pé) e por certo faria melhor gestão do extraordinário grupo de profissionais ao dispor da selecção (e o Bosingwa?; e o Pepe?; e o Nani;? e o "Liedson"?). Mudar de seleccionador e JÁ.

8.22.2007

De todos o maior
















John Coltrane (1926-1967)
Foto: Francis Wolff

Amigo Carlos, falas-me de dois extraordinários intérpretes quando me referi a um improvisador fora-de-série que foi também um excelente e inconformado criador. A vida de Coltrane foi curta - a sua fase de notoriedade, em vida, naturalmente que ainda o foi mais - mas ele levou-a em termos artísticos tão distante quanto possível. Não posso aceitar sequer a equivalência. Nas discografias de Ben Webster ou de Coleman Hawkins não encontras tu isto, nem isto, nem isto, nem isto e muito menos isto: falo da pluralidade de sentidos, de caminhos abertos à expressão da linguagem que é o jazz e do modo como os resultados tornados obra reflectem o conjunto de inquietações e de aspirações do próprio músico. Mas sei que no fundo tu só querias provocar-me.
Até à volta!

Parte de nós



















«For people born in 1890s, like Ford and Capra, Abraham Lincoln was America. And Lincoln was part of themselves, like Christ.» (Tag Gallagher in senses of cinema)

Ide ver


O australiano Jindabyne e o sul-coreano The Host são filmes actualmente em exibição em Lisboa e os últimos que vi. O primeiro leva-se bastante a sério. O segundo não se leva a sério quase de todo. Gostei de ambos, sem entusiasmos excessivos. De Jindabyne retenho o compromisso moral que encerra toda a mentira e o rosto de Laura Linney, beleza próxima da minha história pessoal. De The Host guardo além da impressão deixada por um punhado generoso de achados visuais, a derradeira cena: ou de como um realizador pode escrever certo por linhas delirantes. Aparentemente tão simples como dormir e comer.

8.20.2007

Música que há no nada
























(...) Mizu No Nai Umi é talvez a mais gentil e não-gestual das composições, e parece-me agora um tributo à importância que a música de Folke Rabe e Phill Niblock tiveram/ têm em mim (naquela altura era quase impossível ouvir a música pura de Tony Conrad, já que Outside the Dream Syndicate era a única gravação comercialmente disponível). Mas hoje consigo ouvir o meu jovem-eu nas gravações, apesar de ouvir também uma voz a dizer "não, não, não, não". Jim O'Rourke

Para quem pensa que já ouviu tudo, sobra a possibilidade de escutar a música que existe no nada. Acreditem que se descobre algumas coisas naquelas camadas. Depois de as separarmos, obviamente. Obviamente que também nunca deixando de as escutar em simultâneo. Gosto em particular da gravação "ao vivo" que Jim O'Rourke levou a cabo, próximo da data em que se deu a descoberta desta música. Ele também chegou a pensar que as fitas estavam vazias. Lucky Jim.

Saudação
























[outras]

O que há mais para aí (mulheres perdidas)

Som de Cristal
(Tomaz/ Benedito Seviero)

A casa noturna se mantém à noite em clima de festa
De longe se ouvem vários instrumentos de cordas de metal
Boémios bebendo, cantando e dançando ao som da orquestra
Um som estridente que lhe deu o nome de som de cristal

A casa noturna, boate falada lugar de má fama
Com as portas abertas durante a noite entra quem quiser
Porém esta noite sem que eu esperasse entrou uma dama
Fiquei abismado porque se tratava de minha mulher

Ela se cansou de dormir sozinha esperando por mim
E nesta noite resolveu dar fim na sua longa e maldita espera
Ela não quis mais levar a vida de mulher honrada
Se na verdade não lhe adiantou nada
Ser mulher direita conforme ela era

Ela decidiu abandonar o papel de esposa
Para viver entre as mariposas que fazem ponto naquele local
E a minha vida muito mais errante agora continua
Transformei a esposa em mulher da rua
A mais nova dama do som de cristal


A pequena tragédia que começou por ser brasileira (uma canção rancheira), até que Marante e os Diapasão a importaram com propriedade para o nosso Portugal.

Paraíso das mulheres perdidas














Escrevi em Outubro de 2004 que Noite Escura era um filme desinteressante, confuso e atabalhoado. Tenho hoje opinião completamente diferente. Acabei de o rever em casa, no DVD, e considero-o não somente o melhor filme de João Canijo (o seu grande filme, descontando o ainda por estrear Mal Nascida, que desconheço), como também um dos melhores filmes portugueses das últimas décadas. Canijo é o cineasta da perdição feminina, da pequena tragédia lusitana em fundo "pimba". A pequenez do seu (nosso) universo ficcional é filmada em Noite Escura com complexa coreografia pulsional, que cruza movimentos e sobrepõe diálogos e que é tanto mais interessante de observar quanto maior for a nossa capacidade de concentração sobre esses vários elementos. Noite Escura tem acima de tudo a presença feminina mais impressionante de toda a história do cinema português. Refiro-me a Carla, interpretada por Beatriz Batarda, mulher amarga e gasta (apesar do pouco "uso") que tem um calhau no lugar do coração e que não passa afinal de uma jovem rapariga de 24 anos que escolheu a esfregona em vez do alterne, apesar de viver no meio da prostituição todas as horas da sua vida. A Carla de Beatriz Batarda é um animal permanentemente acossado por tudo aquilo de que abdicou para sobreviver: não tendo vendido o corpo, esta rapariga - como todas as outras (e outros) que atravessam o filme de Canijo -, perdeu algures a alma para sempre irrecuperável. Ou não fosse Noite Escura a mais negra das tragédias.

8.18.2007

8.17.2007

Olhar, olhar de novo, ver melhor















Garantiram-me que são (d)os melhores lugares da sala. Como se desse pela diferença. Ainda assim insisti.

Pernas longas
























A mentira nunca olhou para o tamanho daquelas.

Dançar sobre poeira





















É o que faz o piano gimnopédico de Ryuichi Sakamoto, consciente de que sob as suas espreguiçadas acrobacias existem dunas texturadas de "cinza". Basta uma nota, um sopro, para que se reconfigurem, sem que alguma vez deixem o lugar onde Christian Fennesz as dispusera. Em fundo.

8.16.2007

Appunti di viaggio

A estrada nocturna. O rosto dela. Degustação tardia no Flor de Sal. Noites bem comidas. Noites bem bebidas. Noites bem dormidas. Yôga no quarto. Clusters com amêndoas. Os jornais quase todos. O chão que ela pisava. O Solar Bragançano. O Som de Cristal. Mergulhos no rio. Boladas no rio. O Jorge "punk". A aldeia fantasma. Dino Meira, remasterizado. A alheira e a chouriça. Gordura no pão. O pôr-do-sol. O exercício da leitura. O Trivial Pursuit. A euforia dos cães a cada regresso. Telemóvel sempre desligado. O golo de Izma. O sms de resposta: "Paneleiro". Os amigos.

Banda-sonora



















É de há muito que os filmes de Wim Wenders não têm dado grande cinema. Por outro lado, as bandas-sonoras que o realizador escolhe minuciosamente, são sempre muito boas. Esta então é excepcional e guarda uma tremenda canção pouco conhecida de Roy Orbison, You May Feel Me Crying, que abre a romper com os versos When we made love, you know we're making love/ To everyone we've ever made love to/ So when you take him down inside/ Just know I'm there with you (...) Vão-se os anéis, ficam as canções. A violência acompanha-nos sempre. Está dentro de nós.

Respeitinho

Self-respect imposes a discipline and obligations; self-esteem is a kind of flabby, bullying solipsism.

Global warning
Theodore Dalrymple (Spectator, 21 Jul 07)


Public affairs vex no man, said Doctor Johnson, and I know what he meant. He, however, did not live as we do in an age of information in which, without retiring entirely to bed, it is next to impossible to dodge the headlines altogether.
Besides, there’s something extraordinarily tonic in vexation: it is to my muse what Galvani’s electrical current was to frogs’ legs. Is there anyone so dull of soul that he does not enjoy a little light indignation now and then?
It would not be right — it would be advertising, in fact — to mention by name in which magnate’s publication I read a story recently about a schoolteacher who took a concealed camera into her classroom and recorded pupils who, inter alia, smashed furniture, tried to access anal pornography on the internet and made false accusations of assault against the teacher in class.
Needless to say, there were serious consequences — for the teacher, Mrs Angela Mason. It was she, not the pupils, who faced disciplinary proceedings. I could not help but recall Evelyn Waugh’s remark on Randolph Churchill’s cancer, that it was typical of modern medicine that it should have removed the only part of Churchill that was not malignant.
One of the pupils whom Mrs Mason filmed was reported to have felt ‘angry and upset’, while another said he felt ‘embarrassed and humiliated’: not, of course, by his own behaviour, but by the fact of having been unfairly caught red-handed.
Didn’t the little bastards — I use the word figuratively, but with a strong chance of it being apposite literally — realise that, thanks in part to young tykes such as they, Britons are now filmed 300 times a day as they go about their daily business? Did they not realise that every Briton is now a star, if not of stage and screen, at least of the CCTV camera? It seems a little late in the day, and oversensitive, to complain about being filmed.
Mrs Mason is a heroin, who deserves our gratitude for trying to make us face up to what we would rather avoid: that is to say, what we have become. What we need is more humiliation and less self-esteem.
It is curious and discouraging that people don’t make the elementary distinction nowadays between self-esteem and self-respect. The other day I passed one of Anita Roddick’s emporia of narcissism, and saw in the window a picture of the firm’s founder telling us how she proposed to promote self-esteem in Africa, and implying strongly that it was our moral duty to go and do likewise. I suppose we are to send emergency parcels of patchouli and potpourri.
Self-esteem is odious, where it exists, for example among most criminals, and anyone who even thinks about his self-esteem has sunk into a swamp of self-regard. Self-respect imposes a discipline and obligations; self-esteem is a kind of flabby, bullying solipsism.
Needless to say, self-esteem is the concern of our age. Whenever a patient claimed to suffer from insufficient self-esteem, I said to him that at least he had accurately understood his own worthlessness. Far from evoking anger, my remark evoked laughter and a sigh of relief. It’s a fair cop, gov, and I don’t have to pretend any more.

Desculpas















Desconfio que ele escolheu "o ombro do teu cão" por motivos semelhantes aos que me levaram em tempos a manter "babugem". Como se um regresso que se saúda necessitasse de justificação.

8.08.2007

Nordeste


Arquivo do blogue