3.30.2007

3xHHH
























Retrospectiva, a três tempos, em torno da obra de um dos grandes cineastas do mundo: Hou Hsiao-Hsien, para (re)ver na Culturgest entre 16 e 20 de Maio. Sugestão! Programem a vossa vida, com tempo, de modo a acompanhar o máximo possível.

3.29.2007

McConfusão a minha













Cormac McCarthy (The Road, No Country For Old Men, Blood Meridian), Carson McCullers (The Heart is a Lonely Hunter, The Ballad of the Sad Cafe), Larry McMurtry (Horseman, Pass By, Texasville, Terms of Endearment).

Recuperar coisas essenciais
















Um CD-duplo que é das melhores gravações daquela que é com toda a certeza das três ou quatro maiores cantoras de jazz de todos os tempos. Nos tempos lentos, então, ninguém se aproxima da sensibilidade e da inteligência de Shirley Horn (1934-2005). Também uma discreta mas superlativa contrapontista, ao piano, da sua própria voz. Que o foi até morrer. Esqueçam a pobreza do grafismo. A música é riquíssima. Íntima e transmissível. Eterna: a cada nota, cada palavra, cada instante.

3.28.2007

Hustler, Hud, Hudsucker



Meus senhores e minhas senhoras, ponham bem os olhos neste homem! Fuck Brando. And fuck Dean too.

No princípio era... a transgressão




















Três filmes que verei seguramente primeiro no DVD. Há princípios que não podem ser seguidos à letra.
Os do prazer. Sobretudo estes.

3.27.2007

Escutar as imagens (4 e 5)
























Arto Lindsay e Vinicius Cantuária por Giovanni Piesco (jazzitalia.net)

Escutar as imagens (3)
























"SELF" por David Sylvian (auto-retrato)

Escutar as imagens (2)























Harold Budd por Greg Allen (1986)

Escutar as imagens (1)
























Brian Eno por Jutta Brandt (1993)

3.26.2007

Sublinhados da entrevista com Robert Dessaix

Às vezes quem parte sabe antes o que é melhor para quem fica. Acredita nisso?
Acredito. E temos que aprender a jogar com as cartas que temos na mão. Se não temos um rei ou uma rainha não faz sentido ficar a desejar um rei ou uma rainha, e eu precisava de aprender a jogar com as minhas cartas.
(...)
É uma espécie de "énnui" com a vida. A sensação de que a vida é só sofrimento e não tem sentido. De que os seres humanos são estúpidos, cruéis. É o que sinto, quando leio os jornais. Nem só George Bush é estúpido, toda a gente é. E há uma espécie de "banalisation" de tudo. E uma vez que a provámos é difícil esquecê-la. Há momentos em que vamos a um concerto maravilhoso, ouvimos uma canção de amor de Cole Porter ou apaixonamo-nos, ou vemos um belo lago ao pôr-do-sol, e esquecemos por cinco minutos.
Mas isso tem a ver com o crepúsculo do amor?
Não é bem a mesma coisa. Se o amor fosse possível claro que poderíamos esquecer este "énnui"... Talvez para mim ainda seja possível, mas para a maior parte das pessoas no Ocidente é impossível. Talvez seja possível na Índia ou...
(...)
Eu não acredito em presenças reais às três da manhã mas posso acreditar às três da tarde... E amo diferentes pessoas de maneiras diferentes, estou disposto a correr riscos, então, é talvez possível ainda amar.
(...)
Esse é outros dos nossos problemas. Somos muito bons no sexo, sabemos todas as posições, e se nos tivermos esquecido podemos ver na Net. Mas na amizade - especialmente os homens - não somos tão bons. É uma arte muito especial. "L'amitié" - em inglês não é uma boa palavra, é só uma, muito aborrecida [friendship]. Tenho amizades muito intensas. E na verdade, essa é a principal alegria da minha vida.

[Entrevista por Alexandra Lucas Coelho no Ípsilon, sex. 23/3/07; O Crepúsculo do Amor saiu na editora Oceanos]

Um zero e dois outros filmes










Truffaut dizia que o vídeo servia para rever filmes como quem olha para a memória registada num álbum de fotografias. Concordo com Truffaut e sempre que posso mantenho o princípio. A sala de cinema é para mim insubstituível. É aí que o desejo de descoberta (ou de confirmação) mesmo que esmoreça nunca desaparece. Acontece que os filmes que revejo em vídeo - mesmo quando não inteiramente conseguidos - são frequentemente mais interessantes do que a programação das salas. Até num final de semana que coincide com a estreia do ansiado Moretti! Foi o caso deste. Em casa revi The End of Violence, de Wim Wenders, com a recordação da parcial desilusão datada já de há dez anos atrás, mantida activa graças a algumas imagens e sobretudo sons que justificavam revisão. Gostei mais desta vez. Há coisas que Wenders de certo modo antecipava em 1997, que encontram hoje a sua perfeita actualidade. O alemão faz uma espécie de cinema "ambiente", rapsódico, lançando temas e imagens e músicas nunca totalmente desenvolvidos que abrem espaço à especulação por parte de quem estiver para isso. The End of Violence é suficientemente sugestido para que me desprenda da tendência de lhe procurar coerência interna (algo que a visão repetida pode facilitar) e me deixe prender pelos motivos - referências que vêm da paisagem americana (e neste caso urbana), da pintura (Hoppper), do filme negro (mulheres fatais que são o sonho acordado de uma conversa a várias artes), da música (Ry Cooder, Jon Hassell, Roy Orbison, Tom Waits), Andy McDowell olhada pelo seu lado de absoluta sofisticação (e o contraste que com ela estabelece a loura voluptuosa Traci Lind), a integração fascinada da tecnologia e a crítica que sobre ela se produz - que o filme de Wenders articula com maneirismo e pretensão que umas vezes funciona, outras menos.
No cinema propriamente dito, comecei logo pelo Moretti (sexta-feira, meia-noite, connosco menos de dez as pessoas na sala, como é possível?) que desta vez não me convenceu. A gente à espera que o filme comece, que mostre qualquer coisa gira (além do rosto de Jasmine Trinca), que diga qualquer coisa que suspenda a indiferença, que não se limite à agitação fútil dos preliminares de qualquer coisa (que coisa?), e acabamos desistindo. Não encontro melhor expressão para caracterizar O Caimão do que "regresso em falso". Berlusconi-Moretti? Se sim, deu zero a zero. Podendo entender-se o falso do regresso pelo contrário do que tomo por verdadeiro: o que entusiasma e produz reconhecimento. Afinal trata-se de um filme do Nanni Moretti, caraças! (Terminei a jornada domingo com The Fountain, objecto de um kitsch pavoroso que é redundante sob todos os aspectos. Não recordo a última vez que assisti a tão megalómano desaproveitamento. Também não interessa. No espectáculo propriamente dito, a segunda parte do Portugal-Bélgica fez acontecer no dia anterior o que todos desejávamos que acontecesse)

3.23.2007

PLAYTIME













Novo blogue impulsionado pelo João Lopes onde passo a colaborar. Até que o final do ano nos separe.

3.22.2007

Antecipando a escuridão


















_o__ie __i__e _i___ _o _a_i_e _ia 5 _e A__i_.
_i__e_es à _e__a _ _a__i_ _a __ó_i_a _e_u__a-_ei_a.

Desculpem o mau jeito mas eu vi primeiro.

3.21.2007

Retrato de uma senhora




















Fur, Uma Biografia Imaginária de Diane Arbus, é (perdoem a violência da expressão) uma piroseira que primeiro veste casaco de peles, para no final passar a usar casaco de pêlos. Eu explico. No início do filme, após ficar estabelecida a promessa da nudez de Nicole Kidman (deficitariamente cumprida; de que é que estavam à espera?), a ficção recua cerca de três meses para dar a ver a vida frustrada de Diane Arbus, filha de um rico lojista que vende casacos de luxo limitada aos papéis de fada do lar e de assistente do marido, o fotógrafo Allan Arbus. Tudo se altera quando a "bela" Arbus conhece o vizinho de cima, "monstro" hirsuto que lhe abrirá as portas do submundo de freaks amplamente documentado na obra da fotógrafa, por quem Diane se irá apaixonar e que a mesma irá tosquiar, de cima (por todos os lados e) a baixo, longos momentos antes de os dois se deitarem. Da montanha de cabelo daí resultante, o outrora "monstro" (onde passamos a reconhecer o actor Robert Downey Jr.) produz inovadora peça de vestuário, um casaco de pêlo, que deixará à Diane amada antes de avançar mar adentro - em registo de poético suicídio. Já é suficientemente mau, ou querem mais? É que Diane Arbus, decididamente, não fica bem nesta biografia imaginária. A senhora e a artista mereciam muito melhor.

3.20.2007

A morte fica-lhe tão bem

















Just before our love got lost you said / "I am as constant as a northern star" /And I said, "Constant in the darkness / Where's that at? / If you want me I'll be in the bar" // On the back of a cartoon coaster / In the blue TV screen light / I drew a map of Canada / Oh Canada / And I sketched your face on it twice // Oh you are in my blood like holy wine / Oh and you taste so bitter but you taste so sweet / Oh I could drink a case of you / I could drink a case of you darling / Still I'd be on my feet / I'd still be on my feet // Oh I am a lonely painter / I live in a box of paints / I'm frightened by the devil / And I'm drawn to those ones that ain't afraid / I remember that time that you told me, you said / "Love is touching souls" / Surely you touched mine / "Cause part of you pours out of me / In these lines from time to time" // (refrão) // I met a woman / She had a mouth like yours / She knew your life / She knew your devils and your deeds / And she said / "Go to him, stay with him if you can / Oh but be prepared to bleed" / Oh but you are in my blood you're my holy wine / Oh and you taste so bitter but you taste so sweet / I could drink a case of you darling / Still I'd be on my feet / Still I'd be on my feetI'd still be on my feet (A Case of You, Joni Mitchell)


A canção foi incluída na banda-sonora do filme Waking the Dead, o que é revelador do bom gosto do realizador Keith Gordon: desconhecido por cá, uma vez que nenhum dos seus filmes estreou em salas portuguesas. A Case of You é por assim dizer o seu tema "romântico". A canção do par Fielding (Billy Crudup) e Sarah (Jennifer Connelly). De um romantismo agridoce, como a história que o filme conta: o final abrupto da relação entre um rapaz que que fazer carreira política e a namorada que morre num carro armadilhado onde viajavam dois activistas políticos chilenos pró-Allende. A acção decorre em sucessivos flashbacks da década de 80 para a década anterior. Waking the Dead é um filme de amor e de fantasmas que pode ombrear com as melhores referências no género. A partir de certa altura Fielding pensa que é Sarah quem lhe aparece em determinados momentos, e começa a desconfiar que ela afinal poderá não ter morrido... Isto que o filme não explica em definitivo (o que muito me agrada), pode ser encarado como a figuração em tom surreal da impossibilidade de duas pessoas se manterem juntas quando sentem vocações que irremediavelmente as separam, ou então como a projecção do que sobrevive daquele que morre naquele que ama e que condicionará as opções deste como se fossem ainda decisões "a dois". Gordon não é propriamente um Autor, mas o seu cinema é adulto e sério (e o material literário que está habitualmente na origem dos seus projectos é de primeiríssima água - dois exemplos: Kurt Vonnegut e Dennis Potter). E depois a música é muito boa - Joni Mitchell, o apropriadíssimo My Life in the Bush of Ghosts, os instrumentais da dupla tomandandy -, a estilização visual de Gordon - que sugere a influência de Kubrick e DePalma - adequa-se bem aos temas tratados, a fotografia de Tom Richmond é magnífica (e sabe tirar bom partido dramático da neve e da noite) e o par protagonista gera uma intimidade genuína em que apetece acreditar. E ainda por cima, Waking the Dead fez-me pensar em The Way We Were (de Sydney Pollack) e as afinidades que se estabelecem quando vemos um filme, decidem por nós qual a sua importância. Jonathan Rosenbaum, em texto que muito merece ser lido, respeita e descarta Waking the Dead. E dá-se por rendido face à presença de Jennifer Connely no mesmo. Eu digo mais. Podendo bebia uma caixa inteirinha de Jennifer Connelly. Mas terei de me contentar com a de Quinta da Fonte do Ouro.

[Dominó: Joni Mitchell, que já não gravava material original há nove anos, anunciou para breve o lançamento do seu disco novo. A isto chamo eu, muito narcisicamente, de efeito dominó.]

3.19.2007

Reler coisas essenciais

As you begin to observe yourself, to watch yourself, to pick up those negative feelings, you'll find your own way of explaining it. And you'll notice the change. But then you'll have to deal with the big villain, and that villain is self-condemnation, self-hatred, self-dissatisfaction. (Anthony de Mello, Awareness, pág. 158)

Se pudesse injectar dentro de mim todas as páginas de um só livro, era este o livro que escolhia. O jeito é ler, e reler, e reler, e reler.

A fucking mess














(Ele, adúltero) - I don't know, how did things ever get so...
(Ela, adúltera com ele) - Because life is complicated. It's a funny world. People can't communicate. And you couldn't keep your erection.

A sátira que encara o boi da vida contemporânea pelos cornos das relações dos homens e das mulheres: Your Friends and Neighbors. Assina, Neil LaBute (na imagem com Jason Patric e Aaron Eckhart em foto de rodagem a p&b), que nessa altura ainda realizava projectos pessoais. E vem-nos à memória a frase de Nelson Rodrigues que diz: "Se cada um soubesse o que o outro faz dentro de quatro paredes, ninguém se cumprimentava". Assim é que é. O filme é tão bom assim? É mesmo.

Alemanha, Ano Zero Seis














O Bom Alemão é um anacronismo. Facto. Mas que belo anacronismo é o filme de Steven Soderbergh! História do romance irrecuperável entre um homem que quer recordar e uma mulher que quer esquecer. Assim, não faz sentido perguntarmo-nos que sentido faz, em 2006, a existência deste filme que pretende mimetizar algum do cinema produzido nas décadas de 40 e 50 do século passado: o film noir e suas variações melodramáticas (Casablanca, O Terceiro Homem, o Lang americano) com apontamentos circunstanciais do neo-realismo (Rossellini, circa Alemanha, Ano Zero). A Berlim do pós-guerra é o tempo da ficção que se faz nosso tempo psicológico, prendendo-nos até final. Play it again, Steven!

Desrespeitar o culto














Com Os Anjos Exterminadores Brisseau estatela-se na poça do pretensiosismo e da aldrabice, pois parece-me óbvio que o realizador francês se limita a fazer uma variação preguiçosa do filme anterior – Coisas Secretas, espécie de parente bastardo do Eyes Wide Shut de Kubrick – que resulta gratuita, inofensiva e formalmente desinteressante. Mas podia funcionar como prequela ao filme anterior, não fosse a pífia intencionalidade daquilo tudo: o sexo enfada (uma mulher toca-se; duas mulheres acariciam-se; três mulheres masturbam-se...), o verbo é pouco imaginativo e não se observa ali (auto-)ironia suficiente ou qualquer outro mecanismo de distanciação a que nos possamos agarrar. É obra que se pode ver de perna bem destraçada.

Lembrar coisas essenciais


3.16.2007

Ei-lo! Ei-las!




















«I've never looked for women. When I was a teenager, perhaps. But they are looking for us, and we must learn that very quickly. They decide. We just turn up. Never mind the superficialities - tall and handsome and all that. Just turn up. They will do the rest.» (O'Toole entrevistado por Stephen Garrett na Esquire, Jan. 2007)

A minha definição de filme de culto

















Aquele que tendo-nos fascinado da vez anterior que o vimos, podemos passar a detestar se voltarmos a vê-lo. O inverso também se aplica. Só num filme de culto os sentimentos extremos se tocam (e se cruzam também).

3.15.2007

__i__i Ao_a_a


A outra família

Experimentem colocar "Peter O'Toole Spectator" no motor de busca do Google e vejam se a primeira entrada não vai dar aqui. Imprimam (outra vez) e leiam (de novo).

Chill 7 (a verdadeira "Gran Riserva")

Um amigo pediu-me há semanas atrás uma selecção do género que levou a que eu percorresse a discoteca lá de casa, que após considerável sangria só guarda mesmo o indispensável (conceito que vamos revendo ao longo da vida). Por isso não há aqui Cafés "da tanga", Buddha bares e outras intrujices de fazer ambiente, inclusive em nome próprio, que vivem de duas faixas se tanto e onde o resto é lixo. Da enorme razia sobraram estes sete: não fiz de propósito mas acabou ficando um por quantos dias tem a semana. O amigo já agradeceu! Peace Orchestra (G-Stone), Fragile State - The Facts and the Dreams (Bar de Lune), Boards of Canada - The Campfire Headphase (Warp), Tosca - Suzuki (G-Stone), Jimpster - Domestic Science (Kudos), Boozoo Bajou - Satta (Stereo Deluxe) Dzihan & Kamien - Gran Riserva (Couch Records). O trabalhinho está feito: é só comprar, deitar e escutar.

3.13.2007

Pétalas negras




















Depois de tantos anos
ver-te
Queimando incenso num templo

Finjo não entender
O desaparecimento da luz
Que me era destinada
E regresso a casa por outro caminho.


Palavras de um amigo, Luís Falcão. Eu já tinha ouvido o Luís falar. Eu já tinha pressentido o poeta.

3.11.2007

O filho da Nação




















Nada é mais comovente no novo filme de Robert De Niro que a figura do seu protagonista, Edward Wilson (Matt Damon), alguém que trai a própria existência em favor das manobras políticas do país. O suicídio do pai de Edward (quando este era ainda criança) é fundamental para tentar entender de que modo a adopção de um jovem brilhante pela pátria, o pode condicionar o resto da vida. É o que Edward permitirá que lhe aconteça ao sacrificar aqueles que ama e que também o amam. Muitos anos mais tarde, ao ler finalmente a carta deixada por seu pai (carta que ele escondera de toda a gente), Edward perceberá que se limitou a reproduzir um equívoco. Tarde de mais, pois nesse momento também ele terá consciência de que as escolhas que foi fazendo trouxeram com elas inevitáveis traições - começando pela traição de quem ele próprio era originalmente. Edward colocou os Estados Unidos da América primeiro que Deus, primeiro que a família. A principal tragédia da sua vida é algo que ele progressivamente irá esquecendo: a susbtituição dos afectos pela natureza secreta e solitária do trabalho de agente da CIA. O Bom Pastor mostra o realizador De Niro a cultivar um registo de absoluto pessimismo. O filme ressente-se do desafio de procurar tornar-se tão cerebral e opaco quanto o seu protagonista. Matt Damon é, por outro lado, extraordinário. Uma parede de betão que não permite que ninguém atravesse para o lado das suas emoções. O filme é bom sem ser memorável. Tudo bastante circunspecto e sombrio, com o drama a ver-se sufocado por rituais que também nos excluem. As actividades de desinformação parecem querer ocultar-se do próprio espectador. Reconheça-se no entanto a solidez do seu academismo a que terá faltado algum do carisma e desembaraço que fez a "glória" do cinema liberal norte-americano dos anos 70. Até porque a Guerra Fria não terá que ser sinónimo de um cinema aparentemente liofilizado de tão elegíaco. De uma elegia que a própria música ajuda a estagnar. O olhar de Edward Wilson sobre o mundo acabou convertendo-se no de Robert De Niro, ou o inverso. A pessoa que há anos atrás filmou A Bronx Tale já não mora aqui. Isto não vem a ser positivo ou negativo. Apenas diferente.

Smoke and mirrors
















Pode evocar um conjunto de insuspeitas referências. O som de guitarra assemelha-se algumas vezes ao de Vinny Reilly (Durutti Column) - em particular nas músicas #4 e #5 -; as composições remetem para o universo de uns Arab Strap, menos sórdidos e mais sóbrios; a sonoridade para os discos a solo de Mark Eitzel, antes de este ter experimentado com as electrónicas; finalmente a voz que oscila entre o provável substituto de Richard Hawley num qualquer "salão de baile" e um émulo de Morrissey entorpecido. Tudo isto concentrado nos talentos de um único homem, Roger Quigley. Songwriter britânico, discreto, que edita agora em selo espanhol: a Green Ufos (que a Ananana distribui). Óptima descoberta onde há uma canção que bate mais cá no fundo que todas as outras: Wine destroys the memory. Hei-de ouvi-la muitas vezes. Vou escutar muitas outras vezes este Returning to the scene of the crime. Confesso.

3.09.2007

The barely-bloody drinkable




















«(...) Peter drank back when drinking was an accepted and expected practice, and he is well known for his drinking stories. He tells the story of carousing with actor Peter Finch, or Finchie. After working together and having a few, they decided to head in for the night and sleep it off at Finchie's. On the walk home, they passed a little hole-in-the-wall bar that called out their name. They went inside and remained till 4:00 AM. The bartender eventually told them they had enough and would have to go. Peter and Finchie muttered, "No no no . . . much more." The bartender was adamant. They had to go. But they didn't want to go. So Finchie and Peter . . . bought the bar. The next day they returned to the bar and met the bartender again. The bartender held the checks Peter and Finchie gave him the night before. The barkeep gave back the checks, which were quickly torn up. A year later, the bartender died. Finchie and Peter got to know him pretty well in that time and attended the funeral. At the cemetery, they joined the family who was sobbing by the gravesite. They got down on their knees and prayed beside them. A woman then tapped them on the shoulder. Peter says, "We were at the wrong grave."» (Peter O'Toole no The David Letterman Show, 10/01/07)

A última sessão




















É revendo filmes como The Howling (1981) na idade adulta que fica claro que a mutação do homem na besta animal é a projecção das nossas próprias inseguranças e de outros fantasmas sexuais, quer sejamos nós homens ou mulheres. Quando o homem se transforma no lobo-homem no filme de Joe Dante, trata-se da representação metafórica da monstruosa erecção. O sonho deles é o temor delas. Reparem (no filme) no modo como o focinho do bicho irrompe da face humana. O macho uiva de prazer antecipado; a fêmea grita antecipando a dor. A situação inversa diz já respeito à angústia masculina face ao que se supõe ser uma predadora sexual. É algo para sempre irreconciliável: a capacidade de harmonizar as dimensões primitiva e sofisticada do ser humano. Talvez só nos roubando a faculdade de fantasiar? Mas para isso teríamos também de deixar de ver cinema. Atentem por último na frase do cartaz e pensem: de que é que verdadeiramente nunca deixamos de ter medo? Da realidade...

3.08.2007

Sex pistol
























"My sister reckons I look like a bollock with measles."

3.07.2007

Multiplex



Para o amigo Eduardo que aprecia coisas destas. O homem é quem faz a maratona.

Arquivo do blogue