3.26.2007

Sublinhados da entrevista com Robert Dessaix

Às vezes quem parte sabe antes o que é melhor para quem fica. Acredita nisso?
Acredito. E temos que aprender a jogar com as cartas que temos na mão. Se não temos um rei ou uma rainha não faz sentido ficar a desejar um rei ou uma rainha, e eu precisava de aprender a jogar com as minhas cartas.
(...)
É uma espécie de "énnui" com a vida. A sensação de que a vida é só sofrimento e não tem sentido. De que os seres humanos são estúpidos, cruéis. É o que sinto, quando leio os jornais. Nem só George Bush é estúpido, toda a gente é. E há uma espécie de "banalisation" de tudo. E uma vez que a provámos é difícil esquecê-la. Há momentos em que vamos a um concerto maravilhoso, ouvimos uma canção de amor de Cole Porter ou apaixonamo-nos, ou vemos um belo lago ao pôr-do-sol, e esquecemos por cinco minutos.
Mas isso tem a ver com o crepúsculo do amor?
Não é bem a mesma coisa. Se o amor fosse possível claro que poderíamos esquecer este "énnui"... Talvez para mim ainda seja possível, mas para a maior parte das pessoas no Ocidente é impossível. Talvez seja possível na Índia ou...
(...)
Eu não acredito em presenças reais às três da manhã mas posso acreditar às três da tarde... E amo diferentes pessoas de maneiras diferentes, estou disposto a correr riscos, então, é talvez possível ainda amar.
(...)
Esse é outros dos nossos problemas. Somos muito bons no sexo, sabemos todas as posições, e se nos tivermos esquecido podemos ver na Net. Mas na amizade - especialmente os homens - não somos tão bons. É uma arte muito especial. "L'amitié" - em inglês não é uma boa palavra, é só uma, muito aborrecida [friendship]. Tenho amizades muito intensas. E na verdade, essa é a principal alegria da minha vida.

[Entrevista por Alexandra Lucas Coelho no Ípsilon, sex. 23/3/07; O Crepúsculo do Amor saiu na editora Oceanos]

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