3.20.2007

A morte fica-lhe tão bem

















Just before our love got lost you said / "I am as constant as a northern star" /And I said, "Constant in the darkness / Where's that at? / If you want me I'll be in the bar" // On the back of a cartoon coaster / In the blue TV screen light / I drew a map of Canada / Oh Canada / And I sketched your face on it twice // Oh you are in my blood like holy wine / Oh and you taste so bitter but you taste so sweet / Oh I could drink a case of you / I could drink a case of you darling / Still I'd be on my feet / I'd still be on my feet // Oh I am a lonely painter / I live in a box of paints / I'm frightened by the devil / And I'm drawn to those ones that ain't afraid / I remember that time that you told me, you said / "Love is touching souls" / Surely you touched mine / "Cause part of you pours out of me / In these lines from time to time" // (refrão) // I met a woman / She had a mouth like yours / She knew your life / She knew your devils and your deeds / And she said / "Go to him, stay with him if you can / Oh but be prepared to bleed" / Oh but you are in my blood you're my holy wine / Oh and you taste so bitter but you taste so sweet / I could drink a case of you darling / Still I'd be on my feet / Still I'd be on my feetI'd still be on my feet (A Case of You, Joni Mitchell)


A canção foi incluída na banda-sonora do filme Waking the Dead, o que é revelador do bom gosto do realizador Keith Gordon: desconhecido por cá, uma vez que nenhum dos seus filmes estreou em salas portuguesas. A Case of You é por assim dizer o seu tema "romântico". A canção do par Fielding (Billy Crudup) e Sarah (Jennifer Connelly). De um romantismo agridoce, como a história que o filme conta: o final abrupto da relação entre um rapaz que que fazer carreira política e a namorada que morre num carro armadilhado onde viajavam dois activistas políticos chilenos pró-Allende. A acção decorre em sucessivos flashbacks da década de 80 para a década anterior. Waking the Dead é um filme de amor e de fantasmas que pode ombrear com as melhores referências no género. A partir de certa altura Fielding pensa que é Sarah quem lhe aparece em determinados momentos, e começa a desconfiar que ela afinal poderá não ter morrido... Isto que o filme não explica em definitivo (o que muito me agrada), pode ser encarado como a figuração em tom surreal da impossibilidade de duas pessoas se manterem juntas quando sentem vocações que irremediavelmente as separam, ou então como a projecção do que sobrevive daquele que morre naquele que ama e que condicionará as opções deste como se fossem ainda decisões "a dois". Gordon não é propriamente um Autor, mas o seu cinema é adulto e sério (e o material literário que está habitualmente na origem dos seus projectos é de primeiríssima água - dois exemplos: Kurt Vonnegut e Dennis Potter). E depois a música é muito boa - Joni Mitchell, o apropriadíssimo My Life in the Bush of Ghosts, os instrumentais da dupla tomandandy -, a estilização visual de Gordon - que sugere a influência de Kubrick e DePalma - adequa-se bem aos temas tratados, a fotografia de Tom Richmond é magnífica (e sabe tirar bom partido dramático da neve e da noite) e o par protagonista gera uma intimidade genuína em que apetece acreditar. E ainda por cima, Waking the Dead fez-me pensar em The Way We Were (de Sydney Pollack) e as afinidades que se estabelecem quando vemos um filme, decidem por nós qual a sua importância. Jonathan Rosenbaum, em texto que muito merece ser lido, respeita e descarta Waking the Dead. E dá-se por rendido face à presença de Jennifer Connely no mesmo. Eu digo mais. Podendo bebia uma caixa inteirinha de Jennifer Connelly. Mas terei de me contentar com a de Quinta da Fonte do Ouro.

[Dominó: Joni Mitchell, que já não gravava material original há nove anos, anunciou para breve o lançamento do seu disco novo. A isto chamo eu, muito narcisicamente, de efeito dominó.]

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